Gosto?



O dia clareava lentamente lá fora, o céu mesclado de azul e rosa, os raios de sol entrando pela janela. A garota adormecera tarde da noite. Foi para o quarto após uma briga com a mãe.
- Você tem que pαrαr com isso ! - Suα mãe prαticαmente sussurrαvα, olhando fixαmente pαrα αs xícαrαs quebrαdαs no chão de mármore frio.
- E-eu não consigo ! - Elα soluçαvα, com as mãos tampando o rosto, os cabelos ondulados e castanhos caindo-lhe como cascatas sobre sua face.
- Você faz coisas desaparecerem, quebrarem, faz chover e fazer sol quando quer, e agora xícaras que se movam sozinhas ?! O que está acontecendo Emilly ? - Perguntou, alterando a voz.
- E-eu ... - Hesitou um pouco. Ela tinha uma idéia, mas seria impossível. Queria acreditar que simplesmente estava lendo livros demais. Se contasse para alguém seria levada para a agência secreta do F.B.I. para ser estudada e tratada como um ET. - Eu não sei.
- Sabe, as vezes eu acho que você GOSTA disso.
No mesmo momento ela tentou abrir a boca para concertar o que havia dito, mas já era tarde demais. Os olhos azuis de Emilly estavam vermelhos e inchados, e no momento estavam levantados e aparentemente lotados de ira, fitando sua mãe. A mulher percebera o perigo e se virou para continuar a catar os pedaços de porcelana dispersos no piso. Mas fora obrigada a se levantar e se virar novamente, encarando a própria filha que já estava de pé, fazendo o mesmo.
- GOSTO ? Você acha que eu gosto de fazer coisa estranhas ? Acha que eu gosto ? Você gostaria ? - Seus lábios tremiam a cada palavra, suas mãos suavam e seu corpo fora tomado por uma raiva incontrolável. Parecia que todos os malditos incidentes da semana tinham se reunido ali. Na pior hora. Por mais que ela tivesse acabado de ter a oportunidade de reproduzir uma das falas de seu maior ídolo, do livro que não cansava de ler e reler. Mas isso não trazia a felicidade que ela queria ter sentido. - Se papai estivesse aqui ele me entenderia.
Sua mãe abria e fechava os lábios , tentando balbuciar pelo menos algumas palavras que retirassem o ódio do rosto da filha. Mas o chão já começara a tremer. O fogo da lareira à sala crescia rapidamente e tiritava quando faíscas se soltavam e reuniam-se ao carvão, chamuscando uma pequena parte do tapete indiano vermelho, que cobria boa parte do aposento.
Foi quando outra garota irrompeu a sala cantarolando e parou num pulo  ao observar mãe e irmã frente a frente, como se fossem duas crianças brigando por um brinquedo. A menina tinha os cabelos castanhos, longos e lisos, que caiam-lhe sobre os ombros e o rosto, compondo uma enorme franja jogada de lado que lhe cobria um dos olhos. Ela tentou distrair o olhar com outras coisas na sala. O cômodo era espaçoso, com uma lareira toda vermelha e de tijolos, sofás macios e brancos em volta do tapete vermelho e desenhado. Ao meio, uma mesinha de centro de vidro, com a borda dourada, que parecia uma moldura dava a impressão de um porta retrato sem a foto. A sala fora decorada em boa parte por Emilly, que, com o dourado sobre o vermelho dava um ar à la Grifinória, a casa que ela particularmente mais gostava. Mas no momento os olhos de Katie recaíram sobre a xícara quebrada que sua mão segurava, a mesma cheia de sangue.
- Mãe, vamos lavar sua mão, rápido !
Pela primeira vez a mãe tirou os olhos de Emilly e se dirigiu ao banheiro, acompanhada de Kátia. Emilly se largou na poltrona e se debulhou em lágrimas. Se sentia mesmo uma ET. E então ouviu Katie conversar alto com sua mãe, de propósito :
- O que quê essa anormalzinha fez com você dessa vez em ? - Perguntou, enquanto envolvia a mão de sua mãe com bandagens.
- Por favor, não fale assim de sua irmã ! - Pedia, com o olhar culpado. - Já tivemos problemas demais por hoje. - Completou, abaixando os olhos e encarando o próprio colo.
- Anormal sim ! A-N-O-L-M-A-L ! Monstrinho !
- CALA BOCA ! - Emilly  havia se levantado e gritado. Então, batendo os pés e soluçando, subiu a escada e bateu a porta de seu quarto, os olhos de sua mãe e irmã a acompanhando até onde a perderiam de vista.
Lá de cima, só o que podia ouvir era Katie cantarolando :
-Te, pê, emí ♪

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