Pequeno Engano



 Lílian acordou assustada, tivera um sonho estranho, mais um pesadelo do que sonho. Tudo acontecera muito rápido, em um momento ela estava sorrindo em uma casa, brincando com um garotinho e com um homem. Sim, ela os amava. No instante seguinte, o homem sacou a varinha e mandou-a correr e salvar-se, junto com o pequeno garotinho de cabelos bagunçados. Algo atingiu o homem no peito, uma luz verde, naquele momento a ruiva sabia que nunca mais estaria perto de seu amado. Lílian correu até o quarto do pequeno e se trancou lá dentro, colocou-o no berço e ficou de frente para a porta, esperando o intruso chegar. As lágrimas escorriam pelo seu rosto, enquanto o garotinho, que tinha os olhos idênticos aos seus, olhava-a com curiosidade; a porta do quarto caiu com um estrondo, fazendo Lílian chorar de desespero e implorar por algo, o homem pediu para ela sair de sua frente, o que a ruiva não fez. Então um lampejo de luz verde saiu da varinha desse homem sombrio, atingindo-a no peito e fazendo-a acordar, sem ar.

 A ruiva sabia que tudo estava bem, mas algo em seu peito parecia querer explodir, então, Lílian começou à chorar; chorar e soluçar, como uma criança que acaba de cair de sua vassoura de treino.

 - Lily? Você está bem? - Anne questionou, colocando um braço por trás das costas da amiga e esperando. Anne Delazare era uma das melhores amigas de Lílian Evans; morena, com lindos olhos azuis, conseguia muitas coisas que estariam fora do alcance de garotas normais. Ambas estavam no dormitório feminino do 7º ano, em Hogwarts, junto de Jessie Lohana, uma linda loira de olhos castanho claros que também cursava o 7º ano; aquela era a primeira noite das garotas em Hogwarts naquele ano, haviam acabado de voltar do banquete de boas vindas e estavam dormindo, quando Lílian acordou depois de um terrível pesadelo. - Jessie, me ajude com a Lílian!

 - Lily, o que aconteceu? - falou Jessie, ajoelhando à sua frente, com as mãos em seus joelhos.

 - Eu tive um sonho... - as crises de choro e os soluços faziam Lílian parar seu relato. - Não, foi um pesadelo! Eu...

 - Ok, pare de chorar, foi só um sonho ruim! - Jessie tirou os cabelos intensamente vermelhos  do rosto de Lílian e limpou seus olhos verdes, cheio de lágrimas. - Agora nos conte, sobre o que era o sonho?

 - Uma criança... e um homem! - Lily encarou as amigas, principalmente Jessie, que era viciada em assuntos espirituais. - Eu os amava. Mais do que minha própria vida!

 - E então? O que aconteceu? - Anne era a curiosa do trio, sempre querendo ir direto ao assunto, sem rodeios.

 -  Nós estávamos bem, acho que brincando, então o homem sacou a varinha e mandou eu me salvar, junto com a criança! - Lily soluçou, mas prosseguiu. - Então eu corri para as escadas com o menininho no colo, mas um clarão verde acertou o homem e eu senti como se algo fosse arrancado de mim. Então me escondi no quarto do bebê, mas o estranho chegou e me mandou sair, mas eu não fiz isso porque, de algum modo, eu sabia que ele queria a criança! Então ele me lançou a mesma luz verde que havia lançado no homem, então eu acordei!

 - Hm, interessante...! - Jessie ficou com o olhar perdido, que só foi trazido de volta quando Lílian completou:

 - Mas, mesmo acordando, eu sabia o que ele iria fazer! Ele ia matar o menino! - a ruiva recomeçou à chorar.

 - Calma, Lily! - Anne implorou ajuda para Jessie com o olhar.

 - Anne está certa! - Jessie encarou Lílian. - Isso pode ter sido apenas um sonho!

 - E se não foi?

 - Bem, então você teve uma espécie de 'premonição' , como se soubesse que isso iria acontecer, mas numa realidade distante. - Jessie pensou por um momento. - Descreva o garoto e o homem.

 - Bom, - Lílian buscou em seu íntimo as imagens daquele terrível pesadelo. - O homem era muito bonito, tinha olhos castanho esverdeados e cabelos pretos, bagunçados; o garoto era idêntico à ele, tirando os olhos, que eram iguais aos meus!

 Anne e Jessie se encararam, então a loira sentou-se ao lado de Lílian e falou, cautelosamente:

 - Pelo que parece, estamos falando de seu marido e seu filho!

 Lílian encarou-a, incrédula. Como poderia ser? Ela não pensara em se casar tão cedo, e já estava até com um filho no sonho. Será possível que seu sonho mostrara seu futuro? Era difícil de se acreditar, mas não impossível. Anne bocejou, e os olhos de Jessie começaram à lacrimejar. Já estava tarde, Lílian sabia, e não queria que suas amigas dormissem nas aulas do dia seguinte por sua culpa.

 - Acho que já estou melhor, podem ir dormir!

 - Certeza? - Anne sabia que a amiga ainda iria pensar um pouco naquilo antes de dormir, mas não havia mais nada que elas pudessem fazer. - Ok, qualquer coisa, pode nos chamar! Boa noite.

 - Boa noite! - Lily sorriu para as amigas, que foram cada uma para sua cama e se deitaram, deixando os cortinados abertos.

 A noite não havia começado à muito tempo, mas a escuridão do céu já mostrava que aquela era hora para todos já estarem dormindo; Anne foi a primeira à dormir, sonhava com algo bom, que a fazia sentir-se bem, mas logo de manhã esqueceria todo o sonho, e esqueceria que havia sonhado. Jessie demorou um pouco mais para dormir; esses assuntos de premonição, espiritismo, sempre a fascinaram, ela gostaria de saber algo mais sobre aquilo, e esperava que suas aulas de adivinhação pudessem ser de alguma serventia naquele ano. Já Lílian, demorou muito para pegar no sono novamente, a ruiva temia que o pesadelo se repetisse. Ela sabia que aquilo não fora um simples sonho, sentia no fundo de sua alma que existia algo à mais escondido ali, mas ela não conseguia entender.

 Finalmente, a noite foi se despedindo suavemente, como se nem tivesse acontecido, dando espaço à um imenso sol, radiante e quente, que até dava vontade de pular no lago fresco da lula-gigante. Os alunos desceram para o Salão Principal para tomarem seu desjejum, antes das aulas terem início; Lílian já estava bem e quase não se lembrava mais daquele terrível sonho, algo lhe dizia que aquele dia seria bom. Pobre ruiva, não sabia como estava enganada.

 Tiago Potter, Sirius Black, Remo Lupin e Pedro Pettigrew, mais conhecidos como Os Marotos, chegaram fazendo o mesmo estardalhaço de sempre. Tiago e Sirius eram amigos inseparáveis, suas armações e detenções sempre  eram juntas; Remo era o mais comportado do grupo, provavelmente porque fora escolhido como monitor e, mais tarde, monitor chefe, se bem que, às vezes, Remo acabava encobrindo algumas brincadeiras de seus amigos; Pedro fora escolhido para ser o quarto maroto, mas ninguém sabia o por quê! Ele não era bonito, não era inteligente, só pensava em comer, não tinha grande senso de humor, não gostava das mesmas coisas que os amigos. Muitos diziam que ele era o ponto fraco do grupo, por isso fora escolhido, mas Pedro não se importava com o que os outros diziam, ele sabia que os amigos fariam qualquer coisa por ele, como fariam para qualquer um dos outros marotos. Os quatro sentaram-se próximos à Lílian, Anne e Jessie, que não gostavam muito da companhia deles desde... sempre!

 - Bom dia, garotas! - falou Sirius, sentando ao lado de Jessie e sorrindo para a loira, que fechou a cara. - Nossa, que expressão de desagrado é essa?

 - Almofadinhas, acho que somos nós o motivo dessa expressão! - falou Pedro, esboçando um sorriso.

 - Ah, Rabicho, não seja idiota! - exclamou Tiago, encarando Lílian. - Todos sabem que essas três nos amam! Não é mesmo, Lily?

 - Você quer mesmo minha opinião, Potter? - todos que estavam por perto pararam para ver a reação de Lílian Evans ao falar com Tiago Potter. Digamos que, desde o primeiro ano, Tiago nutria um prazer imenso em aborrecer a monitora.

 - Claro, Lílian! Você ainda não percebeu que sua opinião é de grande valor? - Tiago sorriu, mostrando lindos dentes branquíssimos. - Eu tento mostrar isso desde o primeiro ano, mas você sempre me manda para a detenção! - Ser sarcástico era um dom de Tiago.

 - Ok, se minha opinião é tão importante assim...! - Lily havia decidido que falaria o que lhe desse vontade em relação ao Potter, não aguentava mais tentar ser a monitora exemplo de Hogwarts. - Na minha opinião, Pettigrew é um inútil, que não sabe fazer nada sem os três amiguinhos engraçadinhos dele; Lupin seria uma ótima pessoa, se não andasse com retardados feito você e o Black; já o Black tem que aprender que nem todas as garotas morrem de amores por ele e que, para nós três, ele não passa de um metidinho filhinho de papai; e você, Potter, é um riquinho mimado, que só sabe fazer besteira e não pensa no que realmente importa. Só serve para aborrecer as pessoas e fazê-las ir mal nas matérias. - gargalhadas puderam ser ouvidas, enquanto os marotos expressavam cara de quem 'comeu e não gostou'. - Pensando bem, você e Black poderiam ser a mesma pessoa, a única diferença entre vocês é a beleza... um não tem e o outro tem menos ainda! - dizendo isso, Lílian pegou sua mochila e foi embora, seguida pelas amigas.

 - Dessa vez ela se superou, não? - Sirius encarou Tiago, que lhe deu um imenso sorriso maroto.

 - Parece que irritar a Lílian esse ano será muito melhor que nos anos anteriores! - os quatro riram, então foram para sua aula de Poções, com o professor Slughorn.

 Como era de se esperar, as aulas de Poções eram feitas em duplas. Slughorn era daqueles professores que querem ser amigos dos alunos, então deixa-os tomarem algumas decisões que caberiam à ele, como escolher suas duplas; Lílian e Anne se juntaram, enquanto Jessie fez dupla com Karen Aguillar, uma garota da Corvinal. Tiago e Sirius ficaram juntos e Pedro e Remo formaram a outra dupla. Os alunos foram se dividindo conforme suas preferências, até que todos estivessem com alguém.

 - Bom, acho que já posso começar! - Slughorn distribuiu um frasco para cada dupla e começou uma explicação que, segundo Tiago, era a maior chatisse. Sirius estava jogando a varinha para o alto e pegando, até que Tiago se encheu da aula e começou à conversar com o amigo; os olhares do professor não foram o bastante para fazê-los parar, então Slughorn bateu um livro na mesa, fazendo a sala toda sobressaltar-se. - Senhores Potter e Black, posso saber o motivo da conversa?

 - Professor, o senhor tem que entender que nós chegamos ontem em Hogwarts, ainda temos muito assunto para colocar em dia. - falou Tiago, na maior cara de pau.

 - Ah, se esse é o motivo, acho que devo colocá-lo com alguém que preste atenção às aulas e não perca o tempo conversando com o senhor. - Slughorn passou os olhos pela sala de aula, então sorriu. - Senhor Potter, você será a nova dupla da senhorita Evans!

 - O quê? - exclamaram os dois, em uníssono. - Professor, não sei se sou a melhor dupla para o Potter! - argumentou Lílian, aflita.

 - Tenho certeza que é! - Slughorn pediu para Anne e Tiago trocarem de lugar. - Pronto, agora esses dois belos rapazes ficaram quietos e aprenderão com quem realmente sabe!

 Lílian e Tiago se encararam, mas o moreno continuava levando tudo na brincadeira, então Lílian chegou bem perto da sua orelha e disse, num cochicho de raiva:

 - Essa matéria é muito importante para mim, então faça tudo direito!

 - Posso parecer burro, mas sei muitas coisas que você não tem nem noção! - Tiago sorriu, fazendo Lílian se irritar profundamente.

 A aula acabou depois de longos minutos, os garotas saíram rapidamente da sala, querendo ficar o mais longe possível dos marotos, enquanto eles comentavam sobre o ocorrido na sala de aula de Poções.

 - A Lílian te odeia, Pontas! - falou Remo, sorrindo para o amigo.

 - E eu a amo! - exclamou Tiago, sarcástico. Todos que estavam no corredor começaram à cochichar sobre o que Tiago falara, eles estavam acreditando, realmente, que Tiago amava Lílian. - Eu não a amo, falei isso sendo sarcástico!

 - Claro, Potter! Você só falou isso porque não quer perder o posto de galã do colégio - falou um garoto da Lufa-Lufa que passava. - Incrível! Tiago Potter, o bagunceiro galã de Hogwarts está apaixonado por Lílian Evans, a monitora durona e que te odeia. Hilário!

 Em pouco tempo, a escola toda já falava sobre isso, mas ninguém parecia acreditar que alguém, finalmente, conseguira roubar o coração de Tiago. Como a fofoca é uma coisa que as pessoas amam fazer, essa história logo chegou aos ouvidos de Lílian, que ficou totalmente perplexa e tomou uma decisão: Iria tirar satisfação com Tiago o mais rápido possível. 

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