Reviravolta



Um simples olhar foi o suficiente para eu saber que eu estaria aqui hoje, sentado nessa sala de espera da diretoria, escrevendo nesse diário. O que eu poderia ter feito para ser diferente? Não sei, sinceramente, não sei. O que me consola é que eu nunca acreditei que a vida é um mar de rosas, pois sempre há tempestades pelo caminho.


            Há dois dias, eu estava olhando uma gaveta na diretoria quando fiquei sem reação ao ver a diretora se aproximar de mim, engoli em seco e deixei as fotos que segurava caírem na gaveta que tinha aberto.


-Posso saber o que o senhor está fazendo?


-Eu... estou de partida...- foi então que percebi um olhar, um olhar penetrante- Sinto muito, eu vi a gaveta aberta e resolvi dar uma olhada...


-Sr. Potter, você não tem o direito de fazer o que fez! Menos 25 pontos da Grifinória e saia da minha sala!


            Saí sem olhar para trás e me arrependo de não ter falado nada sobre o que tinha na gaveta...


            Fui para a minha aula pensativo, um turbilhão de pensamentos passavam pela minha cabeça: Por que encontrei os meus pais na diretoria? Por que justo aquela gaveta estava aberta? Por que ainda estão de olho em mim?


            Durante o intervalo contei tudo para a minha namorada que não gostou muito do que eu fiz...


-James! Por Merlin! Você não devia ter aberto a gaveta!


-E eles não deviam me perseguir!


-Eu concordo Jay, mas é o que os meus pais sempre falam... Nunca dê o seu direito para os outros...


            Ela tinha razão, mas o tempo não volta. No dia seguinte fui para a aula do professor mais simpático de todos (é evidente que estou sendo irônico e estou falando do fantasma psicótico). O professor Bins entrou na sala, ele estava com uma fisionomia fora do normal e me fitava sinistramente (de tal forma que tive pesadelos com ele- estava assustador).


-Alguém, invadiu a sala da diretora e roubou os gabaritos das provas finais. Nesse instante, todos os professores estão conversando sobre isso com as suas turmas e como eles alerto que esse aluno se apresente a diretoria de forma espontânea e entregue de volta o que não lhe pertence.


            Fez-se um silêncio em que todos se olhavam.


            Foi instalado um clima tenso em Hogwarts que piorou  na hora do jantar.


-Caros aluno, há entre nós um aluno que desrespeitou as normas dessa escola, que foi contra à moral, à ética, aos valores desse prédio. Esse aluno não quis se apresentar de boa vontade e por isso, nesse instante os diretores da sua casa estão olhando os seus dormitórios e vocês só irão voltar quando for autorizado. Boa noite.


            Não teve um aluno que conseguiu jantar direito com essa notícia. Fitei o meu irmão e disse:


-Isso é tirania pura.


-Concordo, eles não podem fazer isso.


-Que loucura... Quem fez isso afinal?- disse Annabeth


-Só pode ser um covarde!- disse Hugo- Ele tem que assumir logo o que fez!


-Aposto que eles estão investigando dormitórios específicos- disse Rose pensativa - Ora, essa pessoa só deve ter roubado os gabaritos das suas provas, eles não vão demorar muito, eu espero... Tenho mais o que fazer...


            Rose tinha razão, os diretores das Casas não demoraram muito para autorizar a gente a subir para nossos dormitórios. Para minha surpresa, meu padrinho (Neville), colocou a sua mão no meu ombro e pediu para eu acompanhá-lo.


            Os alunos da Grifinória e da Sonserina, que se organizavam cada um em sua respectiva fila para sair do Salão Principal, olharam para mim curiosos. Dei de ombros e segui o meu padrinho até a diretoria.


-Por que estou aqui?


-Você já sabe- respondeu Neville seco e com um olhar de decepção- Sobe logo essas escadas!


            Foi então que caiu a ficha, o gabarito estava comigo. As minhas pernas bambearam com essa constatação. Kate estava certa, acabei dando sem saber, o meu direito para os outros, mas como esse gabarito foi acabar comigo? Quem armou para mim?!


-James suba a escada imediatamente!


            Acordei dos meus pensamentos e obedeci o meu padrinho. Andei até a porta da diretoria que foi aberta por ele, entrei na sala e fitei cada professor, mas foi o olhar do professor Bins que me chamou atenção, pois ele era o único que demonstrava uma certa satisfação.


-Professora MacGonagall, eu encontrei os gabaritos das provas do sétimo ano dentro do baú do Sr Potter.


-O que o senhor tem a dizer sobre isso?- questionou a diretora com um olhar de decepção que me espantou


-Sou inocente- disse firme, fazendo alguns professores rirem


-O seu comportamento na minha sala ontem, me faz crer no contrário. Você se aproveitou da minha boa vontade para roubar esses gabaritos.


-Sou inocente! Armaram para mim!


-Sr. Potter, amanhã me reunirei com seus pais e explicarei a gravidade da situação. Estamos numa encruzilhada e só vejo uma saída. Reflita sobre o que você fez e tenha, pelo menos, a decência de assumir o que fez.


-Eu sou inocente!


-Ele é mesmo um impetuoso- disse o professor Bins


            A minha vontade era de explodir aquele maldito fantasma, sem perceber coloquei a minha mão no bolso esquerdo, segurei firme a minha varinha e a minha raiva era tanta que nem percebi que queimava a minha própria coxa. Meu padrinho puxou o meu braço esquerdo e vi que a ponta da minha varinha estava vermelha escarlate.


-Você está com uma queimadura feia- disse o meu padrinho no caminho da enfermaria


-É só uma pequena circunferência e não estou sentido nada mesmo... Devolve a minha varinha!- eu estava com raiva, muita raiva, meu sangue fervia e acabei sendo grosseiro


-Você não está em posição de gritar com ninguém!


-Vamos ao que interessa! Você acredita em mim?!


            Silêncio.


-Devolve a minha varinha e me deixa em paz!!


-Está bem, mas não faça mais besteira!


-Isso já fizeram por mim!- eu praticamente tomei a minha varinha da mão dele e fui até a enfermaria bufando de raiva


            Por fim, tive que passar a noite na enfermaria, acordei no dia seguinte e fiquei surpreso por ver meus irmãos, meus primos, os gêmeos e minha namorada.


-Ei Jay, como está?- disse Lily


-Pior impossível...


-Eu não acredito que você seja o culpado...- disse Lysander


-Ninguém aqui- disse Rose


            Nós conversamos um pouco, eles tentaram me animar, mas não funcionou. Fomos tomar o café da manhã, mas os olhares das pessoas me julgando (inclusive aquelas que eu supunha serem minhas amigas) não me permitiram ficar por lá muito tempo.


            No mais, agora estou aqui nessa sala com o meu futuro jogado as traças. Sinceramente, acredito que a minha humilde vida acabou.


            Ao escrever aquelas últimas palavras, James fechou o seu diário e o guardou na sua mochila que o acompanhava desde que tinha saído do Salão Principal com o seu padrinho. Isso de algum modo o fez sorrir, pois naquele dia ele tinha acordado bem, acreditava que teria mais um dia qualquer naquela escola, que ele formaria no final do ano... Aqueles pensamentos o fizerem rir da fatalidade da vida, pois um dia você pode acordar bem, mas no outro você pode acordar mal; um dia você pode acordar cheio de esperanças, mas no outro você pode acordar por acordar, ou seja, sem esperanças, sonhos...


-Sr. Potter- chamou Filch   


            James olhou para o Filch e se levantou.


-Filch, acredito que essa é a última vez que nos veremos- sorriu James- Me desculpe por todas as vezes que eu te ofendi, eu sinto muito, de verdade


            Filch olhou para o James incrédulo e ao vê-lo conjurando um peixe para a Madame Norra II, achou que estava delirando.


-Esse é o mínimo que eu podia fazer por você- riu James acariciando a gata- Você está bem Filch?


-Estou e obrigado- disse um Filch totalmente confuso


            James sorriu e assim que entrou na sala da diretora o sorriso sumiu, ele não tinha mais motivo para sorrir, afinal de algum modo a sua vida já tinha acabado.


-Sr. Potter pode se sentar ao lado dos seus pais- disse a diretora


            James obedeceu e olhou nos olhos da diretora.


-Senhora, serei expulso? Sim ou Não? Vamos ser mais diretos, por favor


-Sr. Potter, conversei com seus pais e com os demais professores, nós decidimos só pela suspensão


            James ficou aliviado por um segundo.


-O senhor só deve assumir o que fez. Nessa escola valorizamos os jovens que assumem a responsabilidade dos seus atos. Além disso, reconhecemos o que o senhor tem feito ultimamente- sorriu MacGonagall


            James riu para a surpresa da diretora, dos seus pais e do seu padrinho, ele ria, simplesmente ria.


-Do que o senhor está rindo?- indignou-se MacGonagall- Era para o senhor nos agradecer...


-Agradecer?! Vocês estão me pedindo para assumir algo que eu não fiz! Eu dispenso essa sua bondade! Eu vou ficar com a única coisa que me resta agora- disse James se levantando- A minha dignidade! Foi um prazer estudar aqui e me desculpe pelos transtornos dos últimos seis anos. Vou arrumar a minha bagagem.


            James saiu da diretoria ignorando os seus pais, a diretora e o seu padrinho. Ele não ia assumir algo que não tinha feito, isso era contra à tudo que acreditava.


            Ao entrar no seu quarto, ele deu de cara com Alvo e Lysander.


-Então como foi?- questionou Alvo


            James relatou o que tinha acontecido e ao terminar, com um simples aceno de varinha guardou todas as suas coisas em seu malão.


            Alvo sentou-se perplexo em uma cama.


-Você é realmente muito corajoso- foi tudo que Lysander conseguiu falar


            James abraçou os dois e despediu-se.


-James, eu prometo que irei descobrir uma maneira de ajudá-lo- disse Alvo determinado


-Não esquenta comigo maninho. Irei seguir em frente ou melhor terei que seguir em frente, a vida não para


            Alvo olhava para o seu irmão e pela primeira vez em 16 anos viu os olhos do irmão sem brilho, ele só podia estar triste muito triste.

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