Ninguém me segura



CAP4: NINGUÉM ME SEGURA


 


            Eu sou professor, isso é bizarro e curiosamente os estudantes estão gostando das minhas aulas- meus alunos dobraram... Quando refletia em como daria aula, eu pensei em como seria um professor ideal? O que ele faz? A resposta é óbvia: ele ensina.


            A minha aula é simples, para começar ela não é aula - para mim, o bom professor é aquele que os alunos não sentem que estão tendo aula. Na sala 1200, eu e os 24 estudantes do terceiro ano conversamos e nessa conversa eles aprendem História da Magia- as vezes eu incorporo um personagem e essa conversa fica bem animada.


            O fato das minhas aulas serem diferentes dos demais professores tem chamado atenção, é claro, e o chato que não é só dos alunos- Sério as vezes acho que o professor Bins me persegue- as vezes literalmente- e quando eu tenho aula com ele é o cão chupando manga- sim vou prestar NIEMS de História da Magia e sim sou louco, você ainda tem alguma dúvida?


            Achava que estava tudo as mil maravilhas, tinha passado três meses e os meus alunos dobraram. Evidentemente, a turma aumentou de forma gradual, na segunda semana chegou mais dois alunos, na terceira mais um e foi assim até ter o BOOM com a entrada de seis alunos- o BOOM foi conseqüência do resultado dos testes, meus alunos foram de 8 a 10 pontos.


            Voltando... eu achava que estava bem, botaria as minhas mãos no fogo por isso- ainda bem que não fiz isso- e não estava... Tive problemas com o quadribol, com os meus amigos, com os professores e por aí vai... Mas acredito que no fim acabei fazendo a escolha certa...


            Ao fazer uma reflexão de como cheguei no meu estado atual, acredito que os meus problemas começaram quando na segunda aula falei o seguinte: "Turma vocês se lembram de quando vocês chegaram em Hogwarts e o Neville falou que as casas de você são suas famílias? Então, hoje eu falo para vocês que todos nós somos uma família, cada um de nós temos que nos respeitar e ajudar, não só aqui nesse horário, mas fora dele também. Tanto que quem me procurou no decorrer dessa semana com dúvidas, não só de Historia da Magia, eu fiz o possível para ajudar..."- se pudesse voltar no tempo falaria tudo de novo. Você já deve estar imaginando o que aconteceu nesses três meses, não? Está curioso? Agüenta um pouquinho que eu já vou escrever...   


            Desde que me entendo por gente eu jogo quadribol, afinal eu sou um Potter, está no sangue. Quadribol sempre foi a única coisa que eu levava à sério em Hogwarts, mas isso foi mudando aos poucos... Eu não sei o que aconteceu comigo, de repente uma paixão avassaladora dominou o meu coração e mudou a minha vida, tanto que agora ela tem um sentido, um propósito maior, não faço idéia o que seja mas eu sinto... As vezes nós percorremos caminhos incertos que no final fazem sentido termos passado por eles.


            Então, no meu sétimo ano em Hogwarts, o quadribol foi deixando aos poucos de ser a minha prioridade. Isso aconteceu graças a uma única palavra, disponibilidade. Os meus horários foram sendo tomados pelos meus estudos (me tornei responsável, afinal não sou qualquer aluno agora, eu tenho que ser um exemplo- não posso ser faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço)  pelos grupos de estudo (lembra do que eu falei na segunda aula, então deu nisso aí- formamos grupos de estudo em salas vazias, pátio, bem, em qualquer lugar que dá para nos reunir) e a aula por si só interferiu bastante ( sábado de manhã só é o melhor horário para 99% do time se reunir para jogar).


            Acredito que você esteja entendendo agora a minha péssima situação e deve está se perguntando: Por que você não usou o vira tempo? Aí você estaria em dois lugares ao mesmo tempo e tudo se resolveria. Respondo que: primeiramente estou ofendido por você subestimar a minha inteligência, visto que sou um gênio ( e muito humilde, é claro), logo eu pensei nisso; você acha mesmo que a MacGonagall ia me dar essa regalia?


            Se você acha que sim, você ficará frustrado assim que ler o que escreverei adiante. Lembro como se fosse ontem (tenho memória de elefante, modéstia a parte- mais um momento total humildade da minha parte...) era uma quinta- feira nebulosa e sombria (espero que você compreenda que tenho que dar drama à história) quando adentrei na sala da diretoria fazendo a minha melhor cara de piedade...


-Boa noite Sra MacGonagall.


-Sr Potter, a que devo a honra da sua visita espontânea ao meu aposento?


-Professora eu vim pedir ajuda à senhora.


-Interessante...


-Imagino que a senhora saiba que os jogos de quadribol estão para começar...


-Eu sou a diretora, Potter.


-Então, acontece que o horário da minha turma...


-Os horários das turmas de reforço são fixos no sábado.


-Eu sou professor, diretora.


            Nesse instante, a MacGonagall olhou nos meus olhos e sorriu. Na hora pensei que foi porque eu me referi como professor, mas depois eu entendi.


-Está fora de cogitação, Potter.


-É o único jeito!


-Sinto muito.


-Você emprestou o vira-tempo para minha tia, por que não pode emprestar para mim?


-Prefiro não responder- disse MacGonagall olhando para a janela


            Isso eu entendi na hora...


-Você não confia em mim.


-É que você não é tão responsável quanto a Srta Gran.., quer dizer Sra Weasley.


-Obrigado pela ajuda, desculpe o incômodo.


            Saí o mais rápido que pude dali. Posso resumir o meu estado emocional daquele dia em quatro letras: P-U-T-O, era exatamente assim que eu estava. Quando eu me encontro desse jeito, eu preciso extravasar as minhas energias e só faço isso num lugar, a Floresta Proibida.


            Na Floresta Proibida comecei a lançar feitiços de ataque na pedras e árvores. Eu estava tão concentrado que nem percebi um amigo se aproximar.


-O que você está fazendo? Desse jeito você vai acabar machucando alguém...


-Boa noite Scorp- ri- Só estou liberando a minha raiva e você?


            Sou vou abrir um parêntese antes de continuar. O Scorpius Malfoy é sim meu amigo e do meu irmão também, dá Rose chegou até ser bem mais que um amigo, fazendo o Hugo odiá-lo por um tempo- ele é um irmão bem ciumento e eu o entendo completamente- e os gêmeos Scamander também são amigos dele, ou seja, nós não temos nada haver com as divergências das nossas famílias, nós não o odiamos porque ele é um Malfoy, afinal o sobrenome não determina a pessoa.


-Eu estava treinando alguns feitiços de combate...


            Nós nos olhamos e sabíamos o que queríamos.


-Preparado James?


-Sempre.


            Depois de um duelo logo e intenso, em que eu, evidentemente, venci (modéstia a parte). Eu e o Scorpius voltamos juntos para o castelo e decidi tomar a decisão mais difícil da minha vida até agora. Reuni o time de quadribol logo após o jantar numa sala vazia.


-Bom, vocês já devem ter notado que eu não tenho comparecido nos treinos e imagino que todos saibam o motivo. Acontece que eu como capitão, tinha que está presente em todos os treinos...


-Calma, calma, nós sabemos e compreendemos porque você está faltando!- exclamou Lysander já imaginando a minha intenção


-Mais ainda, eu como capitão teria que estar presente nos jogos- o time compreendeu o que estava por vir e fitaram o chão- Galera eu sinto muito, é com muito pesar que...- eu queria falar mas as palavras não saiam da minha boca, eu tinha certeza que uma parte de mim morria naquela sala, meus olhos encheram de lágrimas e eu fui abraçado pelo meus amigos


            Passado um tempo, voltei a falar.


-Vamos ao que interessa, quem será o próximo capitão!- disse eu em tom descontraído- Pensei muito e não consegui decidir, fiquei em dúvida entre dois nomes, então faremos uma votação, são eles: Lysander e Alvo.


            Ninguém se surpreendeu com a minha dúvida, os dois eram igualmente abeis para ser o capitão do time. A votação foi feita e o Alvo, por um voto de diferença, foi o escolhido.


            No conforto da minha cama, eu refletia sobre a minha vida: Por que eu queria ser o rei das detenções? Por que eu aprontava tanto? Será que na minha luta contra o sistema, eu na verdade, querendo ou não, eu fazia parte dele? Afinal, para ter detenções, para ter as regras, é necessário ter o infrator. Assim como, que para ter o médico, antes é necessário ter o doente; para ter o professor, antes é necessário ter o aluno... Será que a grande verdade é que eu, no fundo, queria é chamar a atenção das pessoas, só que da forma errada?


            Olhei para a janela e os meus olhos se encheram de lágrimas. Em todos aqueles anos, eu queria era, na verdade, chamar a atenção das pessoas para mim, mas não eram quaisquer pessoas... Eram os meus pais! Seguindo o mesmo raciocínio anterior, por que eu aprontaria se não fosse descoberto, punido? E por que eu ia querer chamar a atenção dos meus pais?


            Comecei a chorar, eu sabia a resposta. Os meus pais sempre foram repletos de elogios para os meus irmãos e para mim, tirando o quadribol, só xingamentos, certamente não fiz muito para mudar isso, gostava de ser o rebelde, a ovelha negra... Pelo menos era o que eu pensava...


            Então, meu amigo, acredito que cheguei numa triste conclusão: fui até hoje um péssimo filho por puro egoísmo. Se eu amasse mesmo os meus pais não teria feito eles passarem o que passaram por minha culpa!


            Deixei o diário de lado depois da triste conclusão que tinha chegado, peguei um pergaminho e comecei a escrever uma carta para os meus pais.


 


 Pai e Mãe,


 


Ontem à noite refleti muito sobre a minha vida e percebi que na minha ânsia de chamar a tenção de vocês, acabei magoando-os e os decepcionando.


Só quero que vocês saibam que amo bastante os dois e tenho muito orgulho de ser filho de vocês.


Peço desculpas por ter sido um péssimo filho e prometo compensá-los por todos esses anos,


James


 


            Enviei imediatamente a carta e enquanto admirava a minha coruja voar, refletia o quanto eu tinha mudado naqueles três meses. Eu refletia e questionava mais. Uma reflexão pode mover montanhas, afinal grandes idéias não vem de grandes reflexões?


            Essa minha nova forma de ver a vida, teve reflexo imediato na sala de aula, eu deixei de ser aquele aluno passivo que aceita imediatamente as respostas prontas, passei a questioná-las e esse foi um dos fatores que começaram a incomodar os professores, afinal em que turma é mais fácil de lecionar? Não é mais fácil dar aula para uma turma passiva que não questiona?


            A vida é irônica mesmo, no ano passado achava um porre quando alguém fazia uma pergunta, tachava-os como chatos que não deixam a aula tomar o seu rumo. Acredito que eu estava tão preso na passividade da vida que não enxergava que o verdadeiro aprendizado está nos debates, nos conflitos de idéias, nos diálogos como os que aconteciam na Grécia Antiga. Será que Sócrates, Platão e Aristóteles aplaudiriam as nossas escolas? O que eles iam achar das famosas decorebas?


            Para finalizar por enquanto, pois eu tenho aula daqui a pouco com o fantasma psicótico. Acredito que você já tenha imaginado que eu estou morando na biblioteca e a conheço tão bem quanto a minha casa... E que ao fundo dela encontrei uma estante empoeirada e esquecida repleta dos maiores tesouros da humanidade. Já sabe do que estou falando? Ora meu caro, ela está cheia de livros de Filosofia.

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