Ciúmes



— O quê? — exclamou Ginny.


— É isso mesmo que você ouviu.


— Mas... mas você não pode ainda querer casar comigo depois... Ele sorriu. A raiva já tinha passado.


— Eu continuo desejando você, e tenho que convencer Neville Longbotton de que estou muito mais interessado na minha mulher do que na dele. Meu pedido de casamento continua de pé. — Apertou com força os braços de Ginny. — Mas se eu a encontrar com outro homem depois de nos casarmos eu mato você... Depois de ter feito o mesmo com ele, é claro.


— Está bem — respondeu Ginny.


Harry levantou-se e passou a mão pelo cabelo.


— Ajeite a sua roupa! — disse ele e saiu do quarto.


Ginny tirou a blusa rasgada e pôs uma camiseta amarela. Saiu do quarto e reclamou:


— Não se esqueça de que foi você quem estragou a minha blusa, como... como...


— Um animal? — completou Harry, com um copo de uísque na mão. Ginny havia comprado a garrafa para ele, pois ela mesma não bebia.


— E! — respondeu, com os olhos brilhando de raiva. — E depois tem a coragem de vir falando comigo como se eu fosse uma...


— Uma devassa?


— Isso! — concordou ela com veemência.


— Então combinamos bem! Reparei que guardou o presente que Angie lhe deu — comentou ele de repente.


— Não entendi — disse Ginny.


— O meu retrato, lá no seu quarto.


— Oh, aquilo! Eu tinha que ficar com ele, seria falta de educação não aceitar.


— Mas tinha que pôr no seu quarto?


— A sala não me parecia um bom lugar. Não queria ver você olhando feio para as minhas visitas.


Harry engoliu o resto da bebida de uma só vez.


— Por isso mesmo estou muito mais surpreso por ter escolhido o seu quarto.


— Ora, seu...


— O quê? Será que não suporta ouvir a verdade?


— Como você a vê? Não há motivo para você suspeitar de mim. Só porque forçou a entrada no meu quarto algumas, vezes, não quer dizer que eu tenha dormido com outros homens! — Arrancou o anel do dedo e acrescentou: — Tome e dê o fora daqui!


— Nós vamos nos casar — disse ele, sem se alterar.


— Eu não me casaria com você em nenhuma hipótese! — mentiu Ginny.


Harry aproximou-se dela e perguntou com voz macia:


— Tem certeza disso?


— Tenho — respondeu, firme. — E desta vez não vai adiantar tentar fazer amor comigo. Você não é tão bom amante como pensa, Harry. David é igualzinho a você, e com muito menos prática, devo dizer.


— Você acha? — perguntou ele, segurando-lhe o queixo. — Então as coisas foram mais longe do que eu pensei. Há quanto tempo ele vem aqui?


— Sempre que pode.


Harry pegou a jaqueta de couro.


— Sua descarada! Fique com o anel, pois David nunca vai poder comprar um assim.


— Oh, mas a gente não pretende se casar.


— Então já trataram do assunto?


— Nós falamos sobre o casamento, sim, mas não o casamento de um com o outro. — Como é que podia falar desse jeito quando tudo o que queria era se atirar nos braços de Harry?


— Então você seria capaz de se casar comigo tendo um caso com o meu irmão?


— Será que eu tenho que relembrar mais uma vez que nunca prometi me casar com você? Mas, mesmo que eu tivesse, você não pretendia também continuar com seu caso com Luna?


— Mas isso é...


— Diferente? — interrompeu ela. — Você pode achar que é diferente, mas eu jamais aceitaria.


— Então resolveu ter um caso com meu irmão!


— É — respondeu ela, porque era isso que ele queria ouvir.


— Eu disse uma vez que você era surpreendente, mas não sabia quanto...


— Adeus, Harry.


— Adeus — respondeu ele, batendo a porta com violência.


Ginny tinha conseguido o que queria. Era a única saída, já que ele a via desse jeito. Nunca poderia se casar com um homem que a desprezava. O fim de semana seria certamente sombrio.


Acordou no sábado de manhã já irritada, pensando no que a noite lhe reservava. Seus amigos costumavam sair e todos eles já deveriam ter programa.


Já à tarde começou a se sentir presa em seu apartamento, como se as paredes estivessem se fechando sobre ela. Tinha que sair, ir a algum lugar, qualquer um...


Telefonou para duas amigas e soube que um grupo ia se reunir numa boate naquela noite. Ficaram felizes quando Ginny manifestou vontade de ir também.


Debbie e Lynette passaram para pegá-la de táxi, pois não queriam voltar guiando depois de beberem. As duas estavam muito ansiosas para saber o que havia acontecido com Harry. Nenhuma das duas o conhecia pessoalmente, apenas por fotografias nas colunas sociais.


Depois de deixarem os casacos na chapelaria, acomodaram-se na mesa reservada. Harry não havia explicado por que estava sozinha e sabia que fatalmente as perguntas viriam.


— Afinal, o que aconteceu com o seu noivado? — indagou Debbie, quando viu que ela não usava mais o anel. — Claro que não mudou de idéia, não é?


Ginny deu um gole no seu martini e respondeu:


— Foi uma decisão mútua... Descobrimos que não ia dar certo.


Lynette arregalou os olhos.


— Meu Deus! Mas, se fosse eu, daria um jeito! Ele é um homem e tanto!


Ginny sorriu. Sabia que teria de responder àquele tipo de pergunta, principalmente na segunda-feira, quando voltasse ao trabalho, e isso aumentava a sua tristeza. Fosse qual fosse a explicação que desse para o rompimento, seria sempre uma mentira, pois ela amava Harry!


— Ele é mesmo muito atraente — concordou, fingindo um interesse muito grande no conjunto que tocava.


— Atraente! — exclamou Debbie. — Ele é fabuloso! Tem olhos lindos! Eu vi um retrato dele numa revista há algumas semanas e quase não acreditei quando soube de seu noivado.


— A propósito, obrigada pelo cartão que você me mandou — agradeceu Ginny. — Pois fique sabendo que aqueles belos olhos podem se tornar gelados e agressivos.


— Oh, não acredito! — exclamou Lynette, espantada.


— Você não acredita? Harry é um homem atraente, mas também muito cruel. Não sou a esposa ideal...


— Acho uma pena, mas já que você pensa assim... — Debbie olhou com pena para ela.


— E não podia ser diferente — disse Ginny. — Para que cometer um erro desses? Foi melhor descobrir agora do que depois de casada. Eu realmente não sou o tipo de mulher de que Harry precisa.


Os outros chegaram uns dez minutos depois, todos igualmente curiosos, mas tiveram que se conformar com as mesmas explicações que Ginny já tinha dado. Eram todos conhecidos dela e logo se viu rindo e brincando. Não pensou mais em Harry, até que Dino, um de seus amigos, perguntou:


— Você terminou mesmo com o tal de Potter? Ginny olhou séria para ele e confirmou:


— Não estou mais noiva dele.


— É permanente ou temporário?


— Não estou entendendo — disse ela.


Dino riu. Ele já havia saído algumas vezes com Ginny, depois continuaram apenas bons amigos.


— Você terminou de vez ou é apenas uma briga passageira?


— É definitivo.


— Ótimo! — exclamou Dino, satisfeito. — Desculpe, querida, mas é a opinião de um egoísta.


— Egoísta?


— É. — Tomou um gole de bebida. — Nós saímos algumas vezes antes de você se tornar noiva desse sujeito, e eu fiquei surpreso ao saber que ia se casar com ele. Sabe, eu estava muito interessado em você.


— Estava?


— Sim, estava, e ainda estou. Imagino que você ainda se sinta meio insegura, mas eu posso ajudá-la a esquecer mais depressa.


— É mesmo? — perguntou Ginny, com um sorriso nos lábios, Esse era o tipo de homem com quem ela estava acostumada a conviver e se sentia à vontade. Em compensação, os Potter a deixavam tensa.


— Claro, e para isso vamos começar dançando — disse ele, ajudando Ginny a levantar-se.


Antes que ela pudesse protestar, já estavam na pista de dança. Riram e conversaram o tempo todo e só voltaram para a mesa para matar a sede.


Quando a música terminou, Ginny caiu nos braços dele, cansada e feliz.


Exatamente nesse instante, quando ria para Dino, viu Harry e Luna Longbotton! Ele lançou-lhe um olhar de desprezo.


Ginny empalideceu de repente.


— Você não se incomoda se formos sentar um pouco? — pediu a Dino.


Dino passou o braço pelos ombros dela e comentou, rindo: — Essa última música deixou você cansada, não foi?


— Sim — respondeu com um sorriso trêmulo.


Deu um jeito de trocar de lugar com Dino, ficando de costas para a pista de dança. Como é que Harry se atrevia a vir até ali em companhia daquela mulher? Estava perturbada demais para ouvir o que Dino dizia.


— Ginny? — disse ele, tocando-lhe a mão.


— Sim? — respondeu, tristonha. — Estou começando a ficar com dor de cabeça.


— Quer que eu a leve para casa?


No fundo era o que queria, mas, se saísse, ia parecer que estava fugindo. Por isso resolveu ficar e fingir que nada havia acontecido. Sorriu para Dino e disse:


— Acho que um outro drinque ajudaria.


— Claro. — Ele chamou um garçom e fez o pedido. — Com mais um você vai ficar mais relaxada.


Ela estava ótima, divertindo-se a valer, até que Harry apareceu. Oh, maldito Harry, e maldita a atração que sentia por ele!


— Tome o seu drinque — disse Dino, estendendo-lhe o copo.  — Logo, logo vai se esquecer de que estava com dor de cabeça.


E foi isso mesmo o que aconteceu. Dali para a frente Ginny voltou a se divertir e acabou ficando só com Dino quando os outros amigos decidiram ir embora. Debbie e Lynette ficaram um pouco preocupadas, mas Dino prometeu que levaria Ginny para casa.


— Puxa, pensei que elas não iam embora nunca — disse ele, levando-a de novo para a pista.


Dançaram durante horas! De vez em quando Ginny procurava Harry com os olhos, mas não o via. Talvez ele já tivesse ido embora.


À meia-noite e meia ela pediu licença a Dino e foi ao toalete, lavar o rosto e escovar os cabelos. Ao sair, sentiu que a seguravam pelo braço. Ao se voltar, deu de cara com Harry. Então ele não tinha ido embora!


— Até onde você pretende chegar? — perguntou rudemente. Ginny estava assustada.


— Não entendi.


— Não brinque comigo. Por que veio aqui com o seu namorado?


— Por quê? É proibido? — Quis se desvencilhar dele, mas não conseguiu. — E privilégio seu vir aqui?


— Sou um dos donos deste lugar.


— Eu deveria ter imaginado — retrucou, seca. — Está me pedindo para ir embora?


— De maneira nenhuma. Quero apenas conhecer o seu amigo.


— Você não tem esse direito.


— Acho que tenho — insistiu ele. — Ainda não oficializei o rompimento do noivado, e seria muito embaraçoso para nós dois se você fosse vista aqui com um homem que eu nem conheço.


Ginny ergueu a cabeça, ofendida.


— E por quem? Ninguém me conhece, a não ser a sua amante. Mas, mesmo que ela me visse, não faria a menor diferença; já deve estar farta de saber que o nosso noivado era falso.


— Minha amante? E quem é ela?


— Deixe as piadas para depois, Harry. Com licença, preciso ir. Dino já deve estar preocupado.


— Então o nome dele é Dino? Você o conhece há muito tempo?


— Bastante.


— Bastante para quê?


— Para qualquer coisa — respondeu, irritada.


— Sei. E será que podia me dizer qual é o meu papel nisso tudo?


— Você está com Luna Lonboton e acho que devia ficar preocupado em ser visto com ela, isso sim.


— Você fica aborrecida em me ver aqui com ela?


— E por que deveria? Ela sempre esteve em primeiro lugar em sua vida. Por que iria me incomodar?


— Diga você.


— Pois fique sabendo que não me incomodo! E desculpe, mas preciso ir falar com Dino. — Virou-se e foi saindo, esperando que ele ainda a segurasse. Mas isso não aconteceu e Ginny não soube dizer se ficou aliviada ou desapontada.


Dali para a frente resolveu não se importar mais. Dançou e bebeu à vontade, correspondendo plenamente às atenções de Dino. Harry podia desprezá-la, mas outros homens a queriam e Dino demonstrava isso claramente.


Depois do sétimo drinque, pediu a Dino:


— Vamos dançar de novo?


— Claro — ele concordou depressa.


A música era lenta e eles dançaram de rosto colado. Depois de algum tempo, Dino sussurrou-lhe ao ouvido:


— Vamos embora, amorzinho?


— Daqui a pouco. Ainda é cedo.


— Cedo? Já passa das duas da manhã!


— Deixe de ser chato, você não tem que se levantar cedo amanhã...


— Eu não estava pensando em amanhã. Só queria levar você para casa...


— Ainda temos muito tempo. Quero me divertir mais um pouco.


— Eu também. — Roçou de leve os lábios nos dela. — Mas sei de um jeito muito melhor!


— É mesmo?


— Eu sei, mas...


— Com licença — uma voz áspera interrompeu a conversa. Ginny virou-se e deu de encontro com Harry. Ela e Dino pararam de dançar e Ginny teve certeza de que ele tinha ouvido o final da conversa. E sabia perfeitamente o que Harry estava imaginando. Dino desafiou Harry com o olhar.


— Sim? Em que posso servi-lo? — perguntou o rapaz.


— Você, em nada — respondeu Harry, a voz fria como gelo. — Quero falar com Ginny.


— Ela está comigo! — Dino havia bebido muito e estava mais corajoso do que de hábito. — Por isso, o que quer que tenha para falar, pode ser dito na minha frente.


— Acho que não. O que tenho a dizer a ela é muito pessoal.


— Entre nós não há segredos.


Até mesmo Ginny olhou espantada para Dino. Na verdade, não eram assim tão íntimos!


— O que tenho a dizer a ela não é exatamente um segredo, acho até que todos aqui devem estar sabendo do que se trata.


— Não estou entendendo — disse Ginny com raiva.


— Será que podemos ir até a sua mesa? Estamos dando muito na vista em pé aqui.


Só então Ginny percebeu quanto deviam estar chamando a atenção, discutindo no meio da pista. Concordou em acompanhá-lo, embora contrariada.


— Olhe, você está dando um show de exibicionismo — disse Harry com frieza. — Tenho quase certeza de que está bêbada.


— Ora, seu...


— E quanto a você, eu o mato se não parar de agarrá-la!


Suas palavras foram convincentes demais! Não era possível que Harry estivesse com ciúme!


— Talvez a moça goste disso — observou Dino.


— Pode ser que ela goste, mas, se alguém tem que fazer isso, é melhor que seja eu, seu noivo!


Dino pareceu impressionado.


— Então você é Harry Potter!


— Isso mesmo. Então dá para entender por que eu não estou muito satisfeito em vê-la aqui com você...


— Claro que sim. Mas Ginny me disse que não é mais sua noiva, portanto, qual é o problema?


— Nós tivemos uma separação temporária, só isso — afirmou Harry. — Ela está aqui com você só para me agredir.


— E parece que conseguiu — disse Dino, rindo.


— Parece mesmo! Diante disso, espero que entenda por que eu quero levá-la para casa agora — disse educadamente.


— Eu não quero... — protestou Ginny.


— E nem eu, querida. — Dino não se deixou enganar pelas boas maneiras de Harry, nem se esqueceu da ameaça que ele fizera. — Ginny veio comigo — mentiu ele. —E vai voltar comigo.


— Tem certeza?


Dino levantou-se, levando Ginny junto.


— Tive muito prazer em conhecê-lo, Sr. Potter. Não precisa nos acompanhar até a porta, sabemos o caminho.


Ginny levantou-se para sair, mas Harry segurou-a pelo braço.


— Largue-me! — gritou.


— Quero falar com você, Ginny!


— Já dissemos tudo o que era preciso. — Mostrou-lhe a mão direita. — Olhe, não estou mais com o seu anel.


— Será que David sabe desse novo namorado?


— E por que deveria? Eu não pertenço a ninguém.


— Então, já está na hora de pertencer. Boa noite — disse, calmo.


— Boa noite — respondeu Ginny, espantada com a mudança de atitude de Harry.


Ele olhou novamente para Dino e disse:


— Imagino que não vá tentar dirigir.


— E se eu tentar? — respondeu Dino com insolência.


— Eu poderia ligar para a polícia e informá-la de seu estado de embriaguez — ameaçou Harry.


— Como eu não tenho carro, isso não vai ser necessário. Boa noite, Sr. Potter.


Harry não respondeu e foi embora. Ginny ainda tremia quando se aproximou de Dino, depois de pegar o seu casaco. Tomaram um táxi e Dino deu ao motorista o endereço dela.


— O seu Sr. Potter é um homem muito determinado, hein, Ginny?


— Ele não é o meu Sr. Potter!


— Ele não parece ter a mesma opinião.


— Ele só queria perturbar! Dino sacudiu a cabeça.


— Acho que não. Ele ficou louco da vida ao vê-la nos meus braços.


— Tenho certeza de que não foi por ciúme.


— Ei, Ginny, não precisa ficar agressiva comigo! Eu apenas disse que ele não gostou de ver você comigo. Se não estivéssemos num lugar público como aquele, ele provavelmente teria me agredido. Aquela ameaça não foi uma brincadeira.


Ginny sabia disso muito bem e, em vez de se sentir satisfeita, ficou mais deprimida. Precisava ficar sozinha!


— Acho que você preferiria que eu não subisse, não é? — perguntou Dino ao chegarem à casa dela.


Ginny ficou grata a ele pela compreensão.


— Obrigada, Dino. Uma outra vez, está bem? Telefone para mim.


— Claro. — Beijou-lhe suavemente os lábios. — Boa noite, querida. Ginny foi direto para o chuveiro quando chegou em casa. Voltou a sentir dor de cabeça. Na verdade, tinha bebido mais do que de hábito.


Sentiu-se melhor depois do banho. Não conseguia porém esquecer a humilhação que Harry a havia feito passar. Seu namoro com Dino ficou parecendo uma coisa barata. Mas, no fundo, não podia negar que Harry estava certo. Fizera o papel de boba!


Amarrou o cabelo com uma fita e, depois de se enrolar numa toalha, voltou para o quarto.


— Harry! — exclamou ao vê-lo deitado em sua cama. — O que está fazendo aí? Como entrou?


Ele sentou-se devagar e respondeu:


— Esperando por você, o que mais podia ser? Você até deixou a porta aberta...


 

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.