A Familia



Ginny levou a mão ao rosto.


— Oh, não!


— É a pura verdade — confirmou Harry.


— Mas com certeza ninguém...


— Pode acreditar no que eu disse.


— Oh, Deus! — E agora, o que ela tinha feito? As coisas pareciam caminhar de mal a pior e tudo por sua culpa!


— Pensei que um noivado bastasse, mas agora as coisas mudaram. Não se escapa tão facilmente de uma promessa de casamento.


— Mas eu não vou me casar com você!


— Mas talvez seja necessário!


Ginny arrancou o anel do dedo e atirou-o no painel do carro.


— Eu não faço nada contra a minha vontade! Você estava me usando para encobrir o seu caso com Luna, eu sei, mas não me importo mais com isso. Provavelmente a raiva dela ao saber do nosso casamento logo passará e você poderá levar o caso adiante.


— Então está convencida disso?


— Oh, sim. Afinal era com ela aquele seu encontro importante, lembra-se? Imagino que naquela ocasião você tenha lhe contado que nosso noivado era falso. Foi por isso que ela se assustou tanto quando falei em casamento. Pode ficar com o seu anel e explicar à sua amante que era um golpe, que eu queria apenas agredi-la.


Harry pegou o anel e entregou-o a ela de novo.


— Ponha-o no dedo. O noivado ainda está de pé, nada mudou.


— Para mim mudou muita coisa. Descobri o seu caso com Luna e não vou ajudá-los a enganar o coitado do marido!


— Você vai fazer o que eu disser! Ponha o anel no dedo — ordenou de novo.


— Não quero. Você nem me perguntou se eu gostei do anel — recolocando-o quando viu que ele insistia.


— E você gostou?


— Bem, gostei, mas...  Ora, isso não vem ao caso!  Você não se incomodou em saber antes.


— Perguntei agora e fiquei satisfeito com a sua resposta.


— Sr. Potter, eu...


— Pelo amor de Deus, me chame de Harry!


— Mas por que está sempre zangado? — perguntou Ginny. — Pensa que é fácil ficarmos íntimos assim de repente, quando até agora o senhor era apenas o meu chefe? Ainda não consigo chamá-lo de Harry.


— Quer saber de uma coisa, Ginny? Até hoje cedo eu achava que era um homem paciente, mas você conseguiu me mudar. Tudo em você me irrita: sua teimosia, sua impetuosidade, seu descontrole. Até há pouco imaginei que estava tudo bem, mas não agüento mais ouvir as suas bobagens. Espero que durante o fim de semana você se comporte melhor.


— Fim de semana? — perguntou Ginny, surpresa.


— Meus pais nos convidaram para passar o fim de semana em nossa casa de campo.


— Eu não sabia que você tinha uma família.


— Claro. Tenho um irmão de vinte e dois anos e uma irmã de dezoito. Não preciso dizer que estão todos ansiosos para conhecê-la.


Sua voz provocante a irritava.


— E por que você contou para eles? Não era preciso envolver a sua família.


Harry parou o carro em frente ao prédio onde Ginny morava e virou-se para ela.


— Não fui eu quem contou a eles, foi você.


— Eu, não...


— Eles descobriram do mesmo modo que eu, Ginny. A única diferença é que eles gostaram da notícia.


Ginny de repente ficou meio sem ar com a proximidade de Harry. Era cínico e arrogante, mas mesmo assim se sentia terrivelmente atraída por ele. Queria ser possuída por ele, estar em seus braços! Mas Harry nunca a havia notado, até aquela manhã, e assim mesmo não do jeito que ela gostaria...


Provavelmente nunca despertaria a atenção dele, que vivia cercado de mulheres tão belas como Luna. Não, ela conhecia as suas limitações, embora isso não a impedisse de se sentir atraída por ele. Devia, isso sim, ter resistido e não ter ficado com o anel. Mas, casar-se com ele, jamais! Jamais se entregaria e a um homem que já tinha uma amante!


Desviou os olhos dele e perguntou:


— Sua família quer que você se case?


— Meu irmão e minha irmã já tinham desistido de me ver casado. Você, que tem mais ou menos a idade deles, também deve achar que já estou muito velho para isso — respondeu, pensativo.


— É meio difícil você pensar em casamento, amando uma mulher casada...


— É verdade — concordou ele. — Mas acho que minha família vai gostar de você. Minha mãe pensa como você, preto no branco. O cinza é o preto um pouquinho mais claro!


— Eu não o considero cinza, Sr. Potter. Acho que é preto mesmo.


— Como o diabo, não é? — brincou ele.


— O próprio!


— Minha mãe vai adorar você. Ela sempre reprovou o meu comportamento.


— Estou achando que vou gostar muito dela também...


— Sabe que você não é nem um pouco como eu imaginava?


— Imaginava? — Ginny surpreendeu-se. — Pensei que nem soubesse da minha existência.


— Oh, sim. — Ele se sentou mais à vontade no carro, esticando as pernas. — Já me viu não reparar numa moça bonita? Você sempre me parecia uma coisinha linda, sentada atrás daquela mesa imensa.


— Não sou pequena! Por que diz isso?


— E que você me parece baixinha, o que posso lazer? Uma baixinha furiosa e surpreendente!


— Tenho gênio, mas não sou furiosa...


— É, sim. Eu nunca desconfiaria, olhando para esses olhos azuis. Será que não está na hora de você desaparecer, como Cinderela?


— Não tenho nada de Cinderela, mas não devo privá-lo de... dos seus amigos. Ainda são onze e meia e tenho a certeza de que não pretende ir para a cama tão cedo, pelo menos sozinho!


- Está vendo porque eu acho você surpreendente? — disse ele, sem se zangar com as palavras de Ginny. — Eu achava que uma garotinha doce como você não podia pensar nessas coisas. Neville Longbotton pode estar viajando, mas eu não tenho a intenção de partilhar o leito dele durante a sua ausência.


Ginny virou-se para abrir a porta do carro.


— Então deve ser a sua cama que você compartilha com alguém...


— Eu nunca durmo sozinho — disse ele calmamente. — Tenho um enorme gato como companheiro. — Acabou rindo diante da indignação de Ginny. — Você não deveria tirar conclusões precipitadas, garotinha.


— Será que pode parar de me chamar assim? Harry sacudiu a cabeça devagar.


— Acho que vou continuar, para não me esquecer de que é isso esmo o que você é. Você fica muito atraente quando está zangada, mas eu não costumo brincar com garotinhas.


Ginny abriu a porta para sair.


— Boa noite, Sr. Potter!


— Ginny! Amanhã pego você às duas e meia, assim chegaremos a tempo para o chá.


— Ótimo! Tem certeza de que vou saber usar os talheres certos durante o jantar?


Harry veio até ela, agarrando-a com força.


— Você pode me detestar quanto quiser, Ginny, mas deixe a minha família fora disso. Jamais vou admitir esse tipo de agressão e nenhuma outra, está certo? Já é tempo de você deixar de lado essa mania de vingança e de perseguição. Pare de imaginar que todo mundo está querendo destruí-la!


— Ora, seu... — Levantou a mão para esbofeteá-lo, mas Harry foi mais rápido e segurou-lhe o pulso com firmeza. — Seu filho da...


— Não se atreva, Brooke — ameaçou ele. — Não há pior palavrão do que esse!


— Então serve perfeitamente para você!


— Sua atrevida! Se você me odeia mesmo, é melhor eu dar um bom motivo para isso!


Puxou-a com violência contra seu corpo e, baixando a cabeça, beijou-a com fúria. Seus braços a apertavam como barras de ferro. Embora a contragosto, Ginny sentia que correspondia àquele beijo selvagem, que aos poucos se docilizava. Os lábios de Harry mais acariciavam do que exigiam.


Ginny abraçou o pescoço dele. Era incrível! Harry Potter a beijava e isso era bom demais! Estava completamente dominada por ele. Ele se afastou tão de repente como tinha se aproximado dela. — Entre! — ordenou, rouco. — Pego você amanhã.


Ginny caminhou vagarosamente até o apartamento, ainda meio atordoada com aquele beijo inesperado. Nenhum homem a excitara daquele jeito e sua raiva foi aos poucos se transformando em algo muito diferente. Estava apaixonada por ele! Foi dormir nervosa!


Mas não havia motivo, pois no dia seguinte Harry agia como se não tivesse acontecido nada entre eles. Estava até mesmo mais distante. Quase não falou com ela no caminho para a casa dos pais dele. Ginny também ficou calada, mas mais do que nunca consciente da grande atração que ele exercia sobre ela.


— No que está pensando? — perguntou ele de repente.


— Estava pensando em sua família — mentiu.   — Seus irmãos trabalham?


— Minha irmã faz um curso de artes, e David, meu irmão, estuda medicina e faz estágio num hospital.


— Qual é o nome de sua irmã? — Era melhor perguntar qualquer coisa do que ficar calada.


— Angie.


— E ela tem talento? — insistiu, tentando continuar a conversa.


— Ela acha que tem.


— E tem mesmo?


— Penso que sim, mas não se preocupe, você vai poder julgar por si mesma. Sem dúvida, Angie vai convidá-la para conhecer seu estúdio. David vai lhe fazer um verdadeiro questionário e é melhor não contar nada a ele. Angie e David são incorrigíveis, mas você vai descobrir isso sozinha.


— Estou ficando com medo... — E isso era verdade, pois, além de ser filha única, Ginny tinha sido criada pela tia, e sempre se sentiu retraída com gente da mesma idade dela já que Rony nãopecisou ficar aos cuidados de tia Muriel por ser maior de idade.


Harry acabou rindo.


— Não precisa ficar assustada. Eles não metem medo a ninguém.


— E o que fez com o seu gato neste fim de semana? — perguntou ela.


— Deixei com a empregada...


— Oh, claro, eu devia ter desconfiado.


— Eu cozinho muito mal — confessou harry. — Sei apenas fritar ovos, além disso é mais prático ter uma empregada do que uma esposa.


— Quer dizer, a sua própria... — disse ela baixinho.


— Olhe, não quero comentários desse tipo na frente dos meus pais — advertiu-a, zangado. — Eles não iriam entender esse seu tipo de humor.


— Mas se você entende, já basta.


— Tudo bem, mas nada disso em frente à minha família, certo?


— Está combinado. Não quero piorar as coisas, provocando a ira de lua família. Posso poupar-me isso.


— Também acho. E se você puder representar um pouco, acho que estaria bem melhor. Disse a eles que ficaríamos até amanhã depois do almoço.


Ginny ficou apreensiva.


— O que quer dizer com "representar"?


— Mais ou menos o que você fez ontem para a minha secretária. Minha família saberia apreciar mais do que ela...


— Mas... mas eu não iria conseguir. Eu fiz aquilo ontem por que... Por que...


— Porque queria me agredir, não é?


— É verdade — Ginny achou melhor concordar com ele. Harry entrou com o carro por um caminho de pedregulhos que dava numa bela casa de tijolos vermelhos no meio de um gramado. A porta da frente estava aberta e uma garota saiu correndo para recebê-los, assim que Harry parou o carro.


— Harry! — gritou ela. — Que bom que você veio! — E se atirou nos braços dele.


Devia ser Angie, uma bela garota de cabelos negros. Usava jeans e uma camisa xadrez. Depois de cumprimentar o irmão, encarou Ginny. Não era um olhar de desaprovação, mas Ginny ficou satisfeita por estar bem-arrumada. Tinha saído pela manhã e comprado um vestido novo. Além desse, trouxera um outro, mais sofisticado. Sentia-se bem nele e encarou a garota sem baixar os olhos. Respirou aliviada quando Angie lhe sorriu e estendeu a mão, dando-lhe boas-vindas.


— Olá, eu sou Angie. — Olhou maliciosa para Harry e continuou: — Meu querido irmão parece mudo... Deve estar mesmo apaixonado!


— Isso não vem ao caso. O problema é que você não parou de falar desde que saiu de casa — brincou Harry.


— Espero que ele não a provoque desse jeito — disse Angie.


— Ele faz isso comigo o tempo todo, mas eu já me acostumei — respondeu Ginny, sorrindo.


— Não pode ser, senão como é que ele arranjaria tempo para pedi-la em casamento? — Angie passou o braço pelo de Ginny e disse: — Posso ver o seu anel?


Ginny evitou o olhar de Harry, que ficou cuidando da bagagem, e acompanhou Angie até a sala, onde estava reunido o resto da família.


Ginny parou na porta e chegou à conclusão de que Harry merecia alguém melhor do que ela para apresentar como noiva, ali o fato de ser um noivado falso não a tranqüilizava, pois eles não sabiam.


— Covarde! — sussurrou harry em seu ouvido, enquanto a levava para dentro da sala.


A provocação deu-lhe coragem e ela permaneceu calma a seu lado, enquanto ele fazia as apresentações. Primeiro foi a mãe, uma senhora baixinha, bem menor do que as outras pessoas da família.


— Pelo menos não vou ficar com dor no pescoço quando falar com você! — disse, rindo para Ginny. — Aqui é como se eu vivesse numa terra de gigantes.


Sua simpatia e amabilidade deixaram Ginny logo à vontade. Não podia, porém, esquecer-se de que era uma situação temporária e que não devia se envolver demais.


Depois chegou a vez do pai, e Ginny viu então de quem Harry tinha herdado seus belos traços. James Potter tinha cabelos castanhos, ligeiramente grisalhos nas têmporas. Devia ter mais de sessenta anos, mas ainda era muito atraente.


— Muito prazer em conhecê-la, minha querida — disse ele, baixando a cabeça para beijá-la. — Estou feliz por ver que meu filho acertou na escolha!


— Você não é nem um pouco como a gente imaginava... — disse David. — Harry geralmente sai com um tipo bem diferente de... Bem, você não é como a gente supunha.


— David! — o pai repreendeu-o com severidade.


— Diferente como? — quis saber Ginny.


— Oh, você sabe... mulheres bonitas demais para serem de verdade e, além disso, muito sofisticadas... — respondeu David.


Ginny olhou para Harry com ironia e comentou:


— É, o gosto dele deve ter mudado.


— Graças a Deus, para melhor — disse o rapaz. — Você ganhou um grande prêmio, Harry. O que não sei é se você a merece...


— Tenho certeza de que Ginny acha que sim — respondeu ele de bom humor.


— Mas é claro — confirmou Ginny, vendo que a família não percebia o duplo sentido da conversa.


— Harry, será que não quer acompanhar Ginny até o quarto dela? — geriu a mãe. — Eu preparei para ela aquele pegado ao seu.


— Ótimo. Vamos, querida?


— Sim — concordou ela, pouco à vontade com o tratamento carinhoso.


Uma vez no quarto, Harry colocou a mala sobre a cama e sentou-se numa poltrona. Ginny limpou a garganta, meio nervosa, e disse: — Você tem uma bela família.


— E isso a surpreende?


— Um pouco.


— Eles gostaram muito de você, como eu tinha previsto. Só tenho uma reclamação.


— Reclamação?


— É. Você tem que mudar a sua atitude comigo. Quase deu um pulo quando a chamei de querida e continua evitando me chamar de Harry.


— Eu já lhe expliquei por quê.


— Eu sei, mas vai ter que se acostumar. Acho mais fácil assim. Ele se levantou e, antes de sair, observou:


- Fique praticando enquanto eu me arrumo. Quando estiver pronta, pode me chamar para descermos para o chá.


Ginny desfez as malas, lavou o rosto e retocou a pintura. Hesitou antes de bater na porta do quarto de Harry, mas entrou assim que ele respondeu.


Era o quarto dele desde criança. Ainda havia pôsteres nas paredes, aeromodelos pendurados no teto e algumas fotografias dele quando menino. Harry estava apenas de calça, enxugando os cabelos com uma toalha felpuda. Tinha acabado de tomar um banho e Ginny sentiu que enrubescia por não conseguir desviar os olhos daquele peito e daqueles braços musculosos.


— Desculpe — acabou dizendo. — Não sabia que você...


- Ginny, eu não estou nu — provocou Harry. — Estou mais do que vestido.


— É, mas estamos sozinhos.


Ele atirou a toalha sobre a cama e vestiu a camisa, abotoando-a sem pressa.


— Meu pai e minha mãe subiriam correndo até aqui, se ouvissem o mais leve protesto seu, Ginny... São os mais leais guardiões que você podia ter encontrado.


— Desculpe, mas é que...


— Eu sei, você é muito puritana.  Ginny, eu estava apenas de peito nu! Mas que bobagem!


— Mas é que eu mal conheço você e levei um susto. — Ginny na verdade estava procurando desculpas para Justificar a atração física que sentia por ele.


— Vou procurar não fazer mais isso até que você me conheça melhor.


— Também não precisa caçoar!


— Então não seja tola! Você ficou tão apavorada como se eu estivesse nu! Você tem vinte anos e não é possível que durante todos esses anos não tenha visto o peito de um homem. Deve ter tido namorados, pelo menos.                                                                                                         


— Alguns, mas nenhum deles agia como você.                              


— Todos eles eram muito bem-educados, não é?


— Sim.


— E isso é algo que eu não sou, como você já me disse.


— É — ela respondeu, seca. — É melhor descermos, Sr. Potter...


Ele segurou-lhe o pulso com força e disse, furioso:


— Harry! Já lhe disse para me chamar de Harry. Se não consegue uma coisa tão simples assim, vai acabar estragando tudo. E agora diga! Mas ponha um pouco de sentimento. Ande, diga!


— Harry — disse, com voz estrangulada.


— Outra vez — ordenou ele. — E fale direito desta vez.


— Não posso. Está me machucando.


— Vamos, Ginny! —advertiu-a,


— Está bem, está bem, mas me solte, por favor! — Suspirou quando ele a largou, massageando o braço dolorido. — Você é um bruto.


— Você parece despertar esses sentimentos em mim.


— Harry — disse ela com suavidade.


Ele sorriu.


— Continue a me chamar assim e todos vão acreditar que você está apaixonada por mim.


— Harry — repetiu, um tanto constrangida por estarem ali a sós, mas para Angie, que se aproximou deles naquele instante, pareciam apenas um casal apaixonado.


— Estou atrapalhando? — perguntou ela.


— E você iria embora se disséssemos que estava? — respondeu Harry.


— Não. Eu vim procurar Ginny e, como não a encontrei no quarto, Imaginei que devia estar aqui com você... — Enrubesceu ao se dar conta de suas palavras. — Quero dizer...


Harry caiu na risada diante do embaraço da irmã.


— A gente sabe o que você queria dizer, Angie. E por que estava procurando Ginny?


— Para convidá-la a conhecer o meu estúdio e se afastar um pouco de vocês, coroas.


— Moleca! E o que mamãe disse?


— Pediu para eu esperar até depois do lanche. Ela está certa.


Angie olhou para Ginny e insinuou: - Será que você não...


— O lanche primeiro, Angie. Fizemos uma viagem longa e estamos com muita fome. — Ginny... — chamou-a, estendendo-lhe a mão.


Ginny segurou-a e Harry apertou-a com firmeza. Parecia muito diferente do severo homem de negócios com quem estava habituada. No seio da família, ele era alegre e extrovertido.


Eram todos muito unidos e, ao terminarem o chá, Ginny quase se sentia como um deles, como se fizesse parte daquele lar. Mas no fundo estava infeliz por enganar aquela boa gente, impingindo-lhes uma mentira. Ficou aliviada quando Angie a convidou novamente para ir ver seu estúdio.


— Claro que Harry tem razão — disse a garota, enquanto subiam a escada — Não sou assim tão boa, mas o importante é que gosto muito de pintar e acho que poderia tentar a carreira publicitária. — Abriu então a porta do estúdio.


Pelas paredes viam-se diversas pinturas e alguns esboços muito bons.


No cavalete, um retrato ainda por terminar de James Potter. Ginny virou-se para a garota. Este aqui é muito bom!


— Obrigada. Só que é muito difícil conseguir que papai fique quieto. Ele é agitado demais! Quer ver alguns esboços que fiz de Harry?


Tirou-os de uma pasta. Reproduziam com traços firmes o rosto anguloso de Harry.


— Estes são ainda melhores — comentou Ginny.


— Harry se recusa a posar mais do que um minuto, mas gosto de desenhá-lo. Ele é muito bonito, não acha?


— Acho sim — concordou Ginny sem hesitação.


— Sabe que ele fez de você um grande segredo? Meus pais ficaram surpresos com a notícia no jornal de ontem. Telefonaram imediatamente para Harry. Queriam que ele confirmasse. Onde vocês se conheceram?


Ginny devia ter imaginado que a irmã de Harry faria esse tipo de perguntas, por isso se sentiu meio confusa, pois não estava preparada para isso.


— No serviço.


— E você o conhece há muito tempo?


— Seis meses.


— Eu sempre soube que Harry não era muito de falar sobre os amigos e a seu respeito não ouvimos absolutamente nada. Acho que isso prova como ele a levou a sério.


Ginny estava ficando com medo e procurou mudar de assunto.


O jantar transcorreu mais tranqüilo do que Ginny previra. Sentada perto de David, acabou se divertindo com as histórias que ele lhe contou sobre o curso de medicina.


Ginny gostou dele; tinha a sua idade e não era mundano e cínico como Harry. David tinha o cabelo negro e o físico do irmão, mas herdara os olhos azuis do pai.


Depois do jantar, Harry veio sentar-se ao lado dela no sofá, enquanto o café era servido.


— Pare de namorar o meu irmãozinho — brincou ele, mas com um brilho perigoso no olhar.


— Ele não é tão pequeno assim.


— Tire as suas garras de cima dele. Você conseguiu me fisgar com esse noivado falso, mas não tente nada com ele. Eu jamais permitiria que você se casasse com ele!


— Não acha que está sendo precipitado? Nós nos conhecemos apenas hoje.


— E nós nos conhecemos ontem... e já estamos noivos.


— Temporariamente...


— Por isso mesmo não comece a alimentar fantasias em relação a David. Ele está com a vida organizada para os próximos anos, e nela não há lugar para uma esposa.


— Não pretendo me casar nem com você nem com o seu irmão.


— Talvez seja preciso, se a data do casamento for divulgada demais.


— Isso não significa que eu tenha que me casar com você. Não me importo tanto com esse noivado falso, pois a culpada sou eu, mas casamento é uma coisa bem diferente. — Ginny colocou sua xícara sobre ma mesinha e acrescentou: — Eu gostaria de ir agora para meu quarto, a sua família não se incomoda?


- Não tem a menor importância. — Então pode ir — respondeu, seco.


Ginny levantou-se, pediu licença e saiu da sala. Harry acompanhou-a.


— O que foi? Será que pensa que vou fugir?


— Nada disso. E que, como um noivo apaixonado, quis me despedir mais demoradamente de você.


Ginny olhou séria para ele, antes de subir a escada. Quando chegou à porta de seu quarto, disse:


— Não precisa entrar.


— Está com medo de que se repita a cena de ontem à noite?


— De jeito nenhum! — respondeu, indignada.


— Lembre-se de que aquilo foi apenas um castigo.


— Não pensei que fosse outra coisa — disse Ginny, furiosa, entrando quarto e batendo a porta.


Seu coração batia acelerado! Como é que ele se atrevia a tratá-la assim?


 

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