A Noticia



Sentada à mesa de recepção, Ginny e virou-se para a moça atrás dela.


— Ele já chegou?


— Quem? — perguntou Jean, olhando para ela com fingida inocência. Ora, você sabe muito bem! Não me provoque hoje, Jean.


A outra estranhou e, levantando uma sobrancelha, perguntou: — O que foi? Teve uma noite daquelas?


— Na verdade foi uma manhã daquelas... Mas, afinal, ele já chegou?


— Se você está querendo saber sobre o Sr. Potter e, sim, ele chegou há uns dez minutos.


Oh, que droga!


— Por quê? Você não queria vê-lo?


— Não, não é isso... — Ginny comprimiu os lábios. — Eu... ele... de que jeito ele estava?


Jean estranhou e, antes de responder, atendeu a um chamado em sua mesa telefônica. O escritório abria às nove horas, mas invariavelmente antes disso já havia chamadas.


— Como é que você acha que ele estava? — disse por fim. — Como sempre... fabuloso! Alto, com aqueles cabelos maravilhosos e lindo como em todos os dias.


— Bem... e não havia nada de diferente? Jean sacudiu a cabeça.


— Ele está sempre do mesmo jeito, faz sempre as mesmas coisas. Chega aqui, dá um aceno meio arrogante com a cabeça e entra direto no elevador privativo. E faz o mesmo à tarde, só que ao contrário. É tão impessoal com os funcionários quanto com as máquinas que produz. Trabalho aqui há três anos e aposto que ele não me reconheceria se me encontrasse na rua.


Interromperam a conversa naquele ponto, quando os outros funcionários começaram a chegar. Ginny era recepcionista e esteve bastante ocupada, na meia hora seguinte, atendendo às pessoas que a procuravam.


Quando as coisas sossegaram um pouco, Ginny teve tempo de pensar. Era mesmo uma idiota, uma perfeita tola! Na certa ia acabar perdendo o emprego, depois do que tinha aprontado. E era um bom emprego, com um belo salário!


Tinha sido um ataque de loucura de sua parte pôr aquele anúncio no jornal. Quando o viu, pela manhã, sentiu-se mal. Pelo jeito, ninguém vira o jornal ainda, pois não tinha havido nenhum comentário...


Mas estava ali, no jornal da manhã, bem grande, para que todo mundo visse: o anúncio do noivado de Ginny Weasley e Harry Potter. Seu próprio noivado com o dono daquela próspera indústria de computadores! E, para piorar tudo, o coitado não sabia de nada!                                    


Atendeu o telefone interno assim que começou a tocar.


— Aqui é Ginny Weasley — disse automaticamente.


— Suba já aqui! — ordenou uma potente voz masculina.


Ela quase deixou cair o telefone, de tanto medo. Só podia ser Harry Potter! Limpou a garganta e respondeu:


— Como? Sinto muito, mas não entendi.


— E vai sentir muito mais depois que eu acabar com você... — disse ele. — Esteja aqui no meu escritório exatamente em cinco minutos. — E bateu o telefone.


Era óbvio que ele tinha lido o anúncio. O tom da voz já dizia tudo. Aliás, ele nunca tinha procurado falar com ela...


— Está tudo bem? — indagou Jean, notando a palidez dela.


Ginny caiu em si ao perceber que ainda segurava o fone na mão. Recolocou-o depressa no gancho e explicou:


— Eu... eu preciso ir até um dos escritórios. Será que pode tomar conta das minhas coisas um pouquinho?


— Claro.


Ginny subiu pelo elevador privativo e chegou ao décimo andar quase sem saber como. Havia feito aquele caminho apenas uma vez, nos seis meses em que trabalhava na firma, e isso há duas semanas, quando passou a quer se vingar de Harry Patter.


Tudo começou com a chegada de uma modelo que ia posar para fotografias comerciais. Na ocasião não havia mais ninguém disponível para levá-la aos escritórios da chefia e Ginny se ofereceu para isso. Tinha sido uma boa desculpa para ver o Sr. Potter. Como Jean dissera, ele subia pela manhã e descia todas as tardes, sem tomar o menor conhecimento de quem estava na recepção.


Além do mais, coincidiu de a secretária dele ter saído para almoçar e de sua assistente faltar, por estar doente. Ginny mal podia acreditar na sorte ao encontrar a ante-sala deserta. Isso significava que teria de falar diretamente com Harry Potter. Desde o dia em que começou a trabalhar ali e o viu pela primeira vez, tinha ficado caída por ele.


Harry parecia um artista de cinema. Era muito alto, mais de um metro e oitenta, corpo atlético e pele bronzeada. Usava o cabelo meio comprido, os olhos verdes eram profundos e enigmáticos.


Bonito e distante, ele nem a notou. Ginny sabia que não era uma beldade, mas também não era feia. Tinha cabelos castanhos e lisos, que chegavam até os ombros, olhos azuis sombreados por longas pestanas, nariz arrebitado e feições miúdas. Mas, infelizmente, nunca chamou a atenção de Harry Potter.


Sabia que ele havia tido muitas mulheres na vida e seu jeito arrogante demonstrava que suas relações com elas não deviam ter sido nada platônicas...


De certo modo foi sua fama de grande conquistador que despertou em Ginny o desejo de vingar-se. Havia deixado a modelo na ante-sala, dirigindo-se para a sala dele.  Ao se aproximar, ouviu o murmúrio de masculinas e percebeu que ele não estava sozinho.


A porta estava entreaberta e ela ia bater quando ouviu Harry dizer, em tom divertido:


— Para mim, as mulheres têm apenas uma utilidade, e não me refiro aos trabalhos domésticos...


Ginny deu um passo atrás, revoltada. Que desaforo! Que atrevimento! Percebeu imediatamente o significado real das palavras e aguardou o que o outro responderia. Sabia que devia bater na porta, fazê-los saber de sua presença ali, mas estava imobilizada diante da arrogância das palavras que acabara de escutar.


— Ora, Harry, você gosta das mulheres tanto quanto eu — retrucou o outro homem, cuja voz parecia mais jovem.


— Eu as aprecio, isso sim — admitiu Harry. — Que eu saiba, nunca gostei mesmo de nenhuma. Já as desejei, sim, e prefiro-as mesmo como companheiras de cama!


— Se uma delas pudesse escutar o que você está dizendo...


Mas eu pude, quis gritar Ginny. Jamais havia se sentido tão revoltada. Como um homem tão atraente e bem-sucedido como Harry Potter podia julgar todas as mulheres pelo padrão de suas amiguinhas? Era o homem mais atraente que conhecera e, no entanto, tinha aquele conceito mesquinho sobre as mulheres. Será que a beleza e o charme o haviam tornado cínico?


— E por que haveriam de se incomodar? — disse ele. — Geralmente são muito bem recompensadas pelos seus... como direi... seus favores, com jóias e roupas caras. Nenhuma vai conseguir que eu caia na armadilha do casamento enquanto houver mulheres desse tipo dando sopa por aí. E nenhuma delas pode me acusar de sovina.


— Tenho certeza... — respondeu o outro, rindo.


Ginny decidiu que já ouvira o bastante daquela conversa desagradável e bateu com energia na porta; entrou quando ele mandou,


— Sim? — disse Harry Potter, levantando uma sobrancelha e olhando interrogativamente para ela.


Ginny estacou, sentindo que toda a sua raiva se esvaía. Prendeu a respiração ao ver o modo como ele sorria para ela. Quando conseguiu falar, sua voz soou estranha para si mesma:


— Eu... Bem, eu... trouxe a modelo que vai fazer os comerciais. Ela está esperando aí fora.


— Obrigado — disse ele, sorrindo. — Será que você poderia mandá-la entrar? Sinto muito, mas minha secretária está almoçando.


— Claro — respondeu ela, meio sem fôlego.


Harry aparentava ser exatamente o que era: um empresário bem-sucedido, sentado atrás de sua mesa imponente. Ginny virou-se, confusa, para sair da sala. Hesitou um instante do lado de fora da porta ao escutar seu chefe dar uma risada.


— Está vendo o que eu quis dizer? — disse Harr.


— O quê? — perguntou Simas Finigam, um dos sócios das Empresas Potter.


— Um sorriso e algumas palavras suaves e qualquer mulher faz exatamente o que você quer, até aquela coitadinha. Ela sabe muito bem, pois não é sua obrigação trazer pessoas aqui para cima, mas ainda assim foi isso o que fez.


— E então?


— Então que esse é um exemplo perfeito do que eu dizia antes. Não, Simas, enquanto houver garotas como ela por aí, nenhuma mulher vai conseguir me fazer casar. Não é preciso isso se você pode conseguir o que quer sem ficar preso a nada.


“Coitadinha"!  Ginny ainda se irritava ao lembrar-se das palavras, mas raiva não era motivo suficiente para levá-la a agir daquele jeito.  Só depois, quando o viu escoltando cheio de confiança a modelo que ia levar para almoçar, foi que Ginny sentiu necessidade de se vingar e bolou a idéia maluca de anunciar o seu noivado com ele.


E agora tinha de enfrentá-lo! Gostaria de demonstrar mais autoconfiança do que sentia. Provavelmente ele a reduziria a frangalhos e era isso mesmo o que ela merecia.


Naquele dia a ante-sala não estava vazia: a secretária, Parvati Patil, e sua assistente trabalhavam quando Ginny chegou.


Parvati olhou para ela de alto a baixo e perguntou:


— Sim?


O Sr. Potter está me esperando. Meu nome é Ginny Weasley. A secretária encarou-a meio incrédula, mas ligou o interfone e perguntou:


— Está aqui uma tal srta. Weasley para vê-lo, Sr. Potter.


— Mande-a entrar imediatamente — disse ele, em voz alta, demonstrando estar ainda muito irritado.


A bela secretária levantou-se, curiosa para saber o motivo de seu chefe querer ver uma mera recepcionista.


Eu sei o caminho — disse Ginny, apavorada com a idéia de que Parvati pudesse testemunhar a sua humilhação, caso Harry Potter começasse a destratá-la assim que entrasse na sala.


Ela atravessou a saleta de recepção, hesitando em confrontar-se com Harry Potter. Mas seria muito pior se ele viesse procurá-la e a encontrasse ali, apavorada.


Tão logo bateu à porta, ele ordenou secamente que entrasse. Desta vez não ostentava aquele sorriso charmoso; seus olhos brilhavam de raiva. Ele levantou-se e caminhou vagarosamente em direção a ela. Parou na frente da mesa e cruzou os braços na altura do peito. Mesmo em sua confusão, Ginny reparou em como ele estava elegante: a camisa, imaculada, o terno azul com um caimento perfeito.


— Então você é Ginny Weasley — disse com suavidade.


— Sim. — Será que ele tinha que falar assim? A roupa simples, mas elegante que ela usava não se comparava, claro, ao guarda-roupa caro das moças que ele costumava acompanhar quando saía do edifício; mas, também, não precisava olhar para ela daquele jeito.


— A moça de quem estou noivo... — continuou ele, ainda mais suave.


— Eu... Eu posso explicar... — disse, assustada. Harry lançou-lhe um sorriso gelado.


— Será que pode? Será que pode explicar como é que aconteceu de eu ter ficado noivo de uma estranha? Espero que seja uma explicação bem convincente!


Ginny queria sumir dali.


— Não é muito, mas é a única que tenho. O problema é que acho que não vai gostar nada dela.


Ele fez um gesto de impaciência e sentou-se à sua mesa.


— E quem é que disse que eu gosto de estar noivo de uma garota completamente desconhecida?


— Oh, mas isso não é verdade! — afirmou, assustada. — Eu trabalho aqui, já vi o senhor centenas de vezes.


— Ver não é o mesmo que conhecer. Já vi centenas de pessoas muitas vezes e isso não quer dizer que eu as conheça.


— Mas nós já nos encontramos antes... Eu trouxe uma modelo aqui, há umas duas semanas.


Harry Potter estudou-a por alguns instantes.


— É verdade...


— E foi por isso que eu pus o anúncio no jornal.


— Porque trouxe uma modelo ao meu escritório? — indagou, atônito.


— Não seja ridículo! — Ginny já estava cansada das provocações dele. Claro que Harry devia estar zangado com o que ela fizera, mas também não era para tanto.


— Fiz isso porque escutei a sua conversa naquele dia, escutei o que dizia sobre as mulheres.


— O quê? — perguntou, incrédulo. — Resolveu anunciar o seu noivado comigo depois de escutar o que eu achava sobre o honesto sexo frágil?


— Exatamente! Eu queria fazer com que o senhor engolisse as suas palavras! Queria mostrar que o senhor pode cair na armadilha do casamento como qualquer outro homem. Mas... a coisa toda não funcionou como eu pretendia. Assim que li a notícia, percebi que tinha sido um erro; mas, na hora, eu queria apenas me vingar do senhor pelo que pensava a respeito das mulheres. Queria atingi-lo...


— Oh, mas me atingiu sim, e muito! Agora cedo, não faz nem meia hora, Simas Finigam me telefonou dando os parabéns. Eu não tinha a menor idéia do que dizer a ele — afirmou Harry, zangado. — Eu me senti como um tolo, mas consegui disfarçar. Já imaginou o que é escutar a notícia de que se está noivo da boca de uma terceira pessoa? Eu nem mesmo sabia quem era Ginny Weasley... O nome parecia conhecido e depois eu me lembrei de que a via todos os dias quando entrava no prédio.


— O senhor me chamou de coitadinha no dia em que vim aqui — reclamou ela.


— E por causa disso você arranjou toda essa encrenca?


Ginny jogou o cabelo para trás.


— Podemos dar um jeito. Podemos colocar um desmentido na próxima edição.


— Você pensa mesmo que é tão fácil assim? Que menina ridícula! Será que não percebe que, pelo fato de ter aceitado as congratulações de Simas, praticamente fiquei comprometido? E ele também nos convidou para uma festa hoje à noite.


— Mas... mas o senhor não aceitou, não é? — perguntou, nervosa.


— Claro que aceitei, o que é que eu podia fazer? Todo mundo quer conhecer você e não tive tempo de arranjar uma boa desculpa para não ir.


— O senhor podia... ter dito a ele que hoje queríamos ficar a sós... para celebrar...


— Nem todos têm a mente tão tortuosa quanto a sua.


— Mas o senhor... o senhor não vai querer que esse noivado continue, não é? — Sua voz soava mais alto, de tanta aflição.


— Ah, vou querer, sim. Eu tenho um nome a zelar. Não posso aparecer noivo num dia e desmanchar tudo no dia seguinte. Isso estragaria a minha reputação até no mundo dos negócios. Oh, não, Ginny, você começou isso e vai ter que agüentar até o amargo fim...


— Amargo fim?


Harry Potter sacudiu os ombros.


— É um jeito de falar.


Ginny não tinha tanta certeza. Harry parecia inflexível, demonstrando claramente que não gostava de ser enganado. Pena que ela não tivesse reparado nisso antes...


— Mas eu não quero continuar como sua noiva — afirmou, convicta.


— Que infelicidade não ter pensado nisso há mais tempo. Tenho certeza de que você percebe que eu sinto a mesma coisa.


— É verdade.


— Bem, agora que o fato já é de conhecimento público, acho bom você começar a representar. Vamos nos encontrar para o almoço às doze e trinta.


— Mas... mas eu não posso ir almoçar com o senhor! O que é que todo mundo ia pensar?


— Podem pensar o que quiser — resmungou ele.


— Acho que tudo isso foi longe demais — disse Ginny, com raiva. — Admito que fiz uma bobagem e pedirei demissão imediatamente, se o senhor quiser, mas não vou permitir que me faça de boba. — Não tinha, porém, a menor idéia de como iria se sustentar se saísse do emprego.


— Acho que você já conseguiu isso sozinha, sem a minha ajuda!


— O senhor não tem o direito...


— Tenho todo o direito! Pense no ridículo que eu teria de passar se negasse que a conhecia. Pense no que os jornais iriam dizer!


Era verdade, ele tinha razão. O problema é que ela não havia pensado nas conseqüências quando cometeu aquele gesto de loucura, e, agora, Harry Potter iria fazê-la pagar. O que, aliás, era de se esperar, mesmo. Ele era uma pessoa muito conhecida e não suportaria a onda de publicidade em torno do rompimento de um noivado. E ela também não!


Por outro lado, não conseguia se imaginar noiva dele: só de olhá-lo ficava apavorada. Como é que podia ter pensado, um dia, estar apaixonada por ele? Devia estar louca!


— Ginny? — ele a chamou, interrompendo-lhe os pensamentos.


— Não me chame assim!


— E como é que prefere ser chamada? Queridinha? Docinho? Meu amor?


— Claro que não!


— Então vai ser Ginny, mesmo. É o seu nome e você é minha noiva. — O tom de ironia tinha desaparecido e ele agora caçoava.


— Não sou!


— Oh, mas é, sim... até que eu diga o contrário, Ginny arregalou os olhos azuis.


— E por quanto tempo?


— Talvez quatro, cinco meses... — Ele parecia não dar importância a isso.


— O quê?! — Ginny deu um passo à frente e apoiou-se na mesa. — Agora tenho certeza de que está brincando!


— Eu raramente brinco com alguma coisa assim tão séria.


— Então está me dizendo que tenho de ser sua noiva por quatro meses?


— No mínimo.


— Mas será que isso não vai atrapalhar a sua vida?


— Um pouco, mas posso suportar, assim como você também pode. Suponho que não exista nenhum namorado... É claro que não; ele não ficaria nada feliz com a notícia do noivado. E agora me diga: existe alguém com quem eu precise falar?


— E para quê?


— Para pedir o consentimento, Ginny. Considera-se de boa educação que se peça aos pais a mão de uma moça.


Ginny empalideceu ainda mais; a coisa parecia real demais com ele falando daquele jeito.


— Meus pais e irmão mais velhos estão mortos e eu meu irmão fomos criadas por uma tia solteirona.


— Então tenho que falar com ela ou com seu irmão?— Ela morreu no ano passado. Mas eu não tinha muito a ver com ela... já há uns quatro anos, desde que ela deixou perfeitamente claro que nunca aprovou o casamento da minha mãe com o meu pai. E meu irmão Rony mora na França com minha cunhada e suas filhas.


— E há quatro anos você tinha...


— Dezesseis anos — respondeu baixinho, lembrando-se com tristeza das coisas terríveis que a tia havia dito sobre o seu pai.


— Então agora tem vinte anos. Meu Deus, vão achar que fiquei maluco! Eu tenho trinta e sete!


— E nunca se casou? — Ginny se espantou: achava meio estranho que um homem daquela idade ainda fosse solteiro.


Então pela primeira vez naquele dia Jarrod sorriu; e Ginny sentiu que parte da tensão desaparecia.


— Quando tinha pouco mais que a sua idade, cheguei a pensar no assunto, mas graças a Deus ela me deu o fora.


— Oh!


— É verdade... Bem, acho que você já tomou bastante do meu tempo por esta manhã — disse ele. — Vejo-a ao meio-dia e meia, e dê um jeito de tirar duas horas para o almoço.


— Não posso fazer isso. Tenho muito serviço,


— E eu sou seu patrão. Peça à pessoa que a substitui quando fica doente para tomar o seu lugar. Outra coisa: não espero uma enorme demonstração de emoção quando for buscá-la, mas pelo menos fique menos tensa do que agora.


— Menos tensa? Como é que posso ficar ‘a vontade? Nunca havia falado com o senhor até hoje!                                                                      


— Que pena! — ele retrucou, irônico. Agora vou acompanhá-la até o elevador.


— Não é preciso


— Mas eu insisto — afirmou ele, abrindo-lhe a porta. — Preciso demonstrar toda a consideração pela minha noiva..


— Por favor, Sr. Potter...


— Harry — corrigiu, seco. — Chame-me Harry.


Isso ela não ia conseguir!


— Por favor, não me faça continuar com isso. Já pedi desculpas, o que mais posso fazer?


— Desculpas não são suficientes — disse ele com crueldade. — Já lhe expus os meus motivos. Eu poderia tornar as coisas muito desagradáveis para você, se começasse a criar dificuldades.


— Eu poderia me demitir — insistiu ela. — Há muitas outras firmas em que eu posso trabalhar.


— Sei disso.  Mas sem uma carta de referência nossa, seria muito difícil.


— Mas...   mas não pode fazer isso!   Eu sempre fui uma boa funcionária.


— E uma boa funcionária faria o que você fez? Sabe que poderia parar na Justiça pela mentira que contou aos jornais? Eu poderia processá-la.


Ginny primeiro ficou pálida, depois enrubesceu.


— Mas... você teria coragem?


— Não, mas espero um mínimo de cooperação de sua parte. Além disso, a culpa foi toda sua.


— Está bem, está bem. Desculpe, desculpe, desculpe!


Harry Potter continuou, duro:


— Como eu disse antes, isso não é suficiente. — Abriu mais a porta e acrescentou: — Tenho um encontro importante dentro de cinco minutos.


— Está bem, eu... E o que é que eu digo para todo mundo? — perguntou, desesperada.


— Oh, diga que eu fiquei perdidamente apaixonado por você...


— Ah, por favor, não caçoe!


— Não sei o que espera que eu faça — disse ele, levantando-lhe o queixo. — Posso lhe assegurar que, se eu fizesse com você o que tenho mesmo vontade, acharia muito pior.


Ginny sentia-se hipnotizada por aqueles olhos verdes.


— E o que tem vontade de fazer?


Ginny agarrou-a pelos ombros e empurrou-a com firmeza para fora da sala, dizendo:


— De pô-la nos meus joelhos e lhe dar uma boa surra. Não sei afinal o que esperava conseguir com tudo isso, mas acho que vai acabar ficando interessante.


Fez com que ela ficasse em silêncio ao passarem pela sala da secretária. Na porta, ergueu-lhe novamente o queixo e disse, suave, mas alto o suficiente para que Parvati e a outra moça ouvissem:


— Até mais tarde, querida. Vamos almoçar no lugar de sempre.


Antes que Ginny pudesse responder, ele baixou a cabeça e beijou-a de leve nos lábios, fazendo-a estremecer e olhar sem jeito para as duas moças que aparentemente trabalhavam de cabeça baixa.


— Precisava fazer isso? — murmurou, com raiva.


— Você fala as coisas mais doces... —retrucou ele, rindo.


Harry estava obviamente representando e Ginny resolveu provocá-lo. Esticou-se e abraçou-o pelo pescoço, levantando o rosto de modo convidativo.


— E só para eu agüentar até a hora do almoço — pediu ela, deliciando-se intimamente com a raiva estampada nos olhos dele. — Ah, Querido...


Harry deu-lhe um apertão.


— Mais tarde, querida, mais tarde.


— Oh, Harry!


— Se você não se comportar, terei que lhe aplicar a surra que prometi, advertiu-a baixinho.


— Oh, Harry, que bom ouvir isso de você! — ela exclamou sorrindo, sem ligar para o perigo que corria. — Até logo, querido.


Ao entrar novamente na sala de recepção, seu rosto queimava. Não linha a menor idéia de como enfrentar os próximos meses.


Jean parecia atarantada, tendo que atender à mesa telefônica e à recepção também. Ginny não percebeu que havia ficado fora quase uma hora.


— O que aconteceu? — perguntou Jean, quando as coisas se acalmaram um pouco. — Primeiro você recebe um telefonema e parece que vai desmaiar; depois toma calmamente o elevador do chefe e some por uma hora?


— Desculpe, Jean, por ter demorado tanto. Não queria ter atrapalhado o seu serviço — disse Ginny, evitando uma resposta direta.


— Então, o que aconteceu? Alguém ficou doente?


— Não. É que... — Não sabia como explicar o que havia acontecido. E não podia contar toda a verdade. — É que... Bem, é que fiquei noiva.


— Noiva? — a amiga perguntou. Seus olhos brilhavam de surpresa. — E de quem? Você não me contou que estava namorando...


— Não... Bem, é que tudo aconteceu muito de repente. Eu quase não tive tempo de pensar. — O que, sem dúvida, era verdade. Sabia apenas que se sentiu voando quando Harry a beijou e ela correspondeu, sem hesitar.


Jean continuava sem entender.


— Mas o que isso tem a ver com Harry Potter?


— Tudo.


— Como, tudo? — Jean franziu a testa e, de repente, fez um ar de espanto. — Não é possível que...


— E verdade. Estou noiva de Harry Potter.


— Deus do céu! Mas... como é que pôde? Eu nem percebi que vocês estavam namorando!


— É que foi tudo muito repentino. Eu...


— Por favor... — interrompeu uma voz sensual. — Estou procurando o escritório do Sr. Potter.


Ginny virou-se para ver quem falava. Era uma mulher linda! Alta, cabelos loiros até os ombros, olhos verdes, nariz delicado e boca bem-feita. Pareceu a Ginny muito sofisticada. Quem seria ela? Com certeza uma das mulheres de Harry Potter. Uma bela mulher, com seus trinta anos e elegantíssima!


— O escritório do Sr. Potter é no décimo andar — respondeu Ginny com educação. — Se quiser tomar o elevador privativo, eu telefonarei comunicando sua chegada.


— Obrigada, srta.... Ginny Weasley! — Seus olhos se apertaram ao reparar no nome escrito na placa sobre a mesa de Brooke. — Você é Ginny weasley?


— Sim — respondeu ela, franzindo a testa.


— Ora, ora, ora... Bem espertinho, o velho Harry — murmurou para si mesma.


— Como disse?


— Não tem importância — falou alto, sorrindo. — Foi ótimo tê-la conhecido. Isso ajuda a explicar um pouco as coisas...


— Mas eu não fiz nada! — Mas a mulher já estava prestes a tomar o elevador. — Que mal-educada! Quem é ela? — perguntou a Jean.


A outra arregalou os olhos.


— Quer dizer que não sabe?


— Nem tive chance de perguntar...


— E nem precisava. É Luna Longbotton.


— A esposa daquele multimilionário? — indagou Ginny, espantada.


— Essa mesma.


— E o que ela queria com Harry Potter? — Parecia haver apenas uma explicação. Mas não devia ser possível! Neville Longbotton era ainda mais conhecido do que Harry Potter e um dos homens mais ricos do mundo. Além do mais, muito atraente, apesar de bem mais velho que a esposa.


Ginny foi ficando cada vez mais nervosa ao se aproximar a hora em que Harry ia apanhá-la. Talvez ele apenas quisesse mostrar que ia sair com ela e logo depois se separariam. Esperava que fosse assim.


Quando ele chegou, pegou a jaqueta de couro e a bolsa e sorriu nervosa para a garota que a substituiria na hora do almoço. Harry não disse nada ao vê-la a seu lado, apenas segurou-lhe o cotovelo e levou-a porta afora.


Na rua ele largou o braço dela e virou à esquerda, em direção ao centro da cidade, andando a passos largos.


— Será que não pode andar um pouco mais devagar? — pediu Ginny, meio sem fôlego.


Harry virou-se para ela, como se apenas naquele momento se lembrasse de sua presença. Começou a andar mais devagar, mas ainda assim depressa demais para os passos curtos de Ginny.


— Para onde estamos indo? — perguntou ela.


— Imaginei que soubesse.


— Mas eu pensei... pensei que íamos almoçar. Deste lado da cidade existem apenas lojas.


— Vamos a uma loja em particular.


— Qual?


— A uma joalheria. Há uma muito boa aqui perto.


Ginny ficou em pânico.


— Uma joalheria? Para quê?


— Minha menina, se vamos continuar noivos, você vai precisar de anel. E é para lá que vamos, comprar um anel de noivado.

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