Gesto Singelo



Capítulo 19
Gesto Singelo


 


Esses dois últimos meses tem sido difíceis. Depois de descobrir do desaparecimento de meus pais e minha irmã dois dias se passaram e toda a escola já sabia do acontecido. Viver com todos os alunos te olhando uns com dó, outros não, é difícil. Naquele mesmo dia Minerva descobriu que havia ido a sua sala e após o jantar pediu para que eu e Luan fossemos até lá. 


A professora brigou comigo por ter entrado na sala sem sua permissão e por ter mexido em suas coisas, mas depois disse que nos ajudaria a encontrar Harry e Hermione. Pediu para que tivéssemos força e tudo daria certo. 


Há duas semanas recebi uma carta da senhora Weasley lamentando por termos descoberto assim, tão de repente. Certamente Fernanda contou tudo, pelo menos, tudo o que ela soube. Ela também ofereceu sua casa para que passássemos as férias lá, se não fosse por Luan não aceitaria, até porque, Amanda também me convidou para passar as férias na sua casa. 


- É a senhora Weasley Melissa, não podemos dizer não. Vamos ficar pelo menos algumas semanas. – Disse assim que falei com ele. E então, aceitei. 


A solidão era a minha melhor amiga agora. Os corredores pareciam maiores e os cômodos ficavam mais vazios. Quando Demétria, Amanda e até mesmo Alexandra me chamava para estudarmos juntas ou simplesmente não fazermos nada juntas, eu não aceitava. Preferia ficar sozinha, estudar sozinha e comer sozinha. Afastei-me até mesmo de Scorpius, talvez seja o modo como falei com ele da última vez que conversamos. 


- O que esta realmente aconteceu? – Perguntou. 


- O que você acha? Pergunte para qualquer um, e duvido que você já não saiba. 


E desde aquele dia, não nos falamos. Se dissesse que ele não me faz falta estaria mentindo. Sim, ele me faz falta. É como se um buraco abrisse no chão e eu pulasse na profunda escuridão, sem os seus olhos para me iluminar. Quando nos encontramos pelos corredores sinto uma enorme vontade de ir abraçá-lo e pedir desculpa, mas não. 


Agora o que restava era apenas arrumar minhas malas e esperar para o dia de amanhã. E mais uma vez não fui ao jantar, fiquei olhando todos pelo mapa, até mesmo aqueles que se arriscavam em usar os corredores mais desertos. Nada que realmente prendesse minha atenção. 


Puxei meu malão que estava debaixo da cama e o abri começando a guardar todos os meus pertences ali. Pelo menos minha cabeça ficaria ocupada com alguma coisa, por alguns minutos. E quando tudo estava pronto, mais uma vez me vi sozinha. A única coisa que poderia fazer era dormir. Deitei na cama e quando fechei os olhos, a escuridão tomou conta dos meus sonhos.


 


**


 


Minerva pediu para que todos estivessem no salão principal no café da manhã ela queria dizer algumas coisas antes que partíssemos para casa. E mais uma vez, eu não fui. Com certeza ela deve estar reforçando os cuidados que devemos ter ao voltar para casa, ao invés disso, preferi caminhar pelos corredores vazios e aproveitá-los sem ninguém me incomodando, até porque, todos estão no salão. 


Pelo menos era o que eu pensava. 


- Não sei você, mas não agüento mais essa situação. – A voz animada de Demétria ecoou pelo corredor. 


- Você diz sobre o que? – Perguntei. 


- Sabemos pelo que esta passando, mas queremos ajudar e você não deixa. – Pela primeira vez ela falava sério. – Deixe que ajudemos você. Por favor. 


- Tudo bem, queremos te ajudar, mas sem toda essa coisa ai da Demi. – Amanda falou.  


- Não começa Amanda. Não começa. – Disse brava. 


- Tudo bem. – Gritei antes que começassem mesmo uma briga. - Tudo bem. – Repeti. 


- É assim que se fala. – Demi me abraçou feliz. Apenas retribui. – Agora vai melhorar.   


- O que? – Amanda perguntou com a mesma curiosidade que eu. 


- Loiro de olhos azuis a caminho. – Sorriu. – Vamos Amanda. – Virei para trás e o vi caminhando em minha direção. 


- O que faz aqui? – Perguntei sem jeito.   


- Acho que o mesmo que você. – Suas palavras eram meio óbvias. 


- Então... – Sorri e acenei para ele como se estivesse indo embora, mas ele segurou meu braço. Não sei exatamente porque queria sair dali, mas não conseguia olhá-lo nos olhos.  


- Vai continuar assim até quando? – Perguntou. 


- Do que... 


- Não se faça de desentendida. Por favor. – Falou firme. 


- Não sei. Não sei o que esta acontecendo. – Meus olhos se encheram de lágrimas. Levantei o rosto olhando para o teto impedindo que elas caíssem. 


- Eu estou aqui. – Segurou meu rosto para encará-lo. – Vai mesmo me deixar ir embora? – Suas palavras estavam um tanto que confusas para mim, não estava entendendo sua real intenção, mas não quero deixar que vá embora. 


E mais uma vez ele me surpreendeu com um beijo. É engraçado como apenas o toque de seus lábios minhas pernas começam a tremer e o coração querer sair pela boca. 


- Venha, vamos juntos ao salão principal. – Interrompeu o beijo pegando em minha mão, o que me fez sorrir. 


- Acho melhor não. – Tentei protestar, mas ele não deu atenção e continuou a me puxar. 


E mais uma vez, eu havia cedido. 


É estranho, mas ele é o responsável pelas minhas mãos suarem, minhas pernas tremerem, a voz sumir, as maçãs do rosto corarem, minha respiração ficar ofegante e o coração bater mais forte. Se isto não é amor, o que mais pode ser?


 


**


 


- Por quanto tempo vai continuar a olhá-la sem fazer nada? – David me despertou. 


- Não sei. – Falei. Estávamos no salão. Minerva havia pedido que todos estivessem no café da manhã, mas não lembro exatamente do aviso que ela deu. Percebi também que Melissa não estava na mesa, mas ao longe observava Fernanda sozinha, até mesmo, de suas primas. 


- Você já conversou com Melissa, e ela acha que você deve falar com Fernanda, eu acho que você já deveria ter falado. – Continuou. 


- Eu sei, mas... – Encarei o prato a minha frente e voltei meu olhar para ela. 


- Mas o que? – Alterou a voz. 


- E se... – Não estava nem conseguindo terminar uma frase direito. 


- Hoje esta difícil. E se o que? Se ela não te ouvir? Se ela gritar? Se ela falar com o sogro Rony? E se ela te jogar uma azaração? E se ela não te ouvir? – Me encarava, como se estivesse errado, talvez esteja, mas não iria admitir. 


- Primeiro Rony não é mais meu sogro se você ainda não percebeu caro melhor amigo. Segundo ela não vai querer me ouvir e terceiro vamos continuar na mesma. – Disse cansado. 


- Detesto o seu pessimismo, e como homem não deveria dizer isso, mas desde que você começou a namorar ela você estava mais feliz, otimista, e quando aconteceu tudo aquilo você ficou todo acabado. Olhe para si mesmo, cadê a animação? – Apontou para mim dos pés a cabeça. – E não me lembro nem porque vocês se separaram, nossa do jeito que falo parece que estavam casados. – Disse pensativo. 


- Não esta ajudando fazendo me lembrar de tudo aquilo que nem sei por que aconteceu, porque alguém queria me separar dela? 


- Inveja, e digo mais, estou te ajudando sim. Assim você começa a pensar e vê se decide logo falar com ela. – Ele aparentava estar irritado com tudo aquilo. 


Meu olhar desviou de Fernanda no mesmo momento que Melissa entrou no salão ao lado de Malfoy. Eles estavam conversando, mas Melissa ainda aparentava estar triste. Ela sorriu e começou a caminhar de cabeça baixa para a mesa.  


- O que estava fazendo com Malfoy? – Alterei minha voz. Ela me repreendeu apenas com o olhar e sentou a nossa frente. 


- Conversando. – Falou como se fosse óbvio. – Não é porque ele seja um sonserino que não conversarei com ele. 


- Ignora ele Mel, é que ele quer falar com a Fernanda, mas esta com medo. – Ele realmente não precisava dizer isso. 


- Obrigado. – Falei irônico. 


- Nós vamos passar uma parte das férias na casa da avó dela, então, trate de falar logo porque se vocês se resolverem... 


- Chega Melissa. – Fechei os olhos e passei a mão no cabelo. – Acho que estou enlouquecendo. 


- Ele ainda acha. – David falou como se não estivesse ali. 


- Mas quando é a hora certa? – Perguntei inseguro.   


- Agora. – Falaram juntos.  


- Ela esta levantando e saindo do salão. – Melissa. 


- Vai logo, levanta e vai atrás dela. – A acompanhei passar por detrás de Melissa e sair do salão. 


- Esta esperando o que? – Melissa disse nervosa. 


Um sorriso se formou em meu rosto. Levantei e sai correndo atrás dela. Bem ao longe, no final do corredor ela estava caminhando sozinha. Seus longos cabelos loiros balançavam a cada passada que ela dava. Respirei fundo e corri ao seu alcance. 


- Fernanda. – Gritei seu nome. Ela parou de andar, mas continuou de costas. 


- O que você quer? – Continuou de costas. 


- Conversar. – Andei dois passos e virei para poder ficar de frente a ela. 


- Acho melhor não. – Ela virou o rosto para que não pudesse vê-lo. 


- Por favor. – Pedi. 


- Não. – Sua voz transmitia insegurança também. – Me deixa em paz. 


- Não, jamais te deixarei em paz. – Peguei sua mão, mas ela a puxou. 


- Será que me machucar não foi o bastante? Deixar meu coração em pedaços? Eu lhe disse que jamais perdoaria uma traição. Eu disse, mas você não ouviu. – Pude ver as lágrimas caírem sobre seu rosto. 


- Eu te amo. – Supliquei. 


E pela primeira vez ela levantou o rosto e olhou diretamente em meus olhos. A única coisa que podíamos escutar era o barulho de nossa respiração. Todo esse silêncio esta sendo mais uma tortura para mim. 


- E-Eu preciso ir. – Secou as lágrimas e continuou a caminhar. 


- Por favor. – Virei a olhando caminhar. 


Quando ela virou seus olhos estavam cheios de lágrimas e fez uma coisa que jamais esperaria naquele momento. Ela correu e me abraçou forte. Afundou seu rosto em meio peito. Não era exatamente um abraço dela que esperava naquele momento, mas retribui. Pensei que ela fosse gritar me bater, mas não, ela apenas me abraçou. Envolvi meus braços em seu corpo. Fechei os olhos sentindo o perfume de lírios, o xampu que ela mais gostava. 


Tudo que é bom dura pouco, nunca acreditei nessa frase, mas nesse momento ela se encaixava perfeitamente. Fernanda se afastou e olhou diretamente em meus olhos. 


- O que você quer afinal? – Disse chorando, e então, ela começou a correr. 


- Só Você. – Sussurrei, mas ela não estava mais ali.


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