Único



Não me deixe em toda essa dor
Não me deixe na chuva
Volte e traga de volta meu sorriso


         Já fazia algumas horas que eu me revirava na cama, sem conseguir dormir. Os trovões ecoavam pelo céu escuro, enquanto raios riscavam o céu, iluminando o dormitório feminino da Grifinória, onde eu estava.


         Com mais um clarão iluminando minha cama, que tinha os cortinados fechados, sentei-me, jogando as cobertas para longe, colocando a cabeça entre os joelhos. Se não fosse pela chuva, as minhas companheiras de quarto ouviriam meus soluços ecoando pelo quarto. Havia sido assim por noites e dias seguidos, todas as vezes que o via, pensava nele, lembrava de seus lábios beijando os de outra garota.


         Naquele momento, podia dizer que a dor já estava se tornando insuportável. Eu não queria, não podia parar de pensar em Sirius, em como seus olhos me acalmavam, em como era bom o seu abraço, o toque de seus lábios nos meus, das poucas vezes que pudemos ficar, e eu tinha a esperança que ele me amava de verdade. Doces sonhos. Sirius nunca iria olhar pra mim diferente das outras, e eu idiota me deixei levar por seus encantos, me apaixonando perdidamente por ele, embora não gostasse de admitir isso para os outros.


Pulei da cama, secando as lágrimas na manga do pijama. Não sabia direito o que fazer, parecia que minha mente se recusava a funcionar, travando batalhas sangrentas dentro de mim. Olhei as camas das meninas, mas todas dormiam no mais profundo sono. Tive vontade de chamar Emmeline, a única que me ouvia nesses momentos de sofrimento, mas balancei a cabeça e desci as escadas. Água seria bom para aliviar o choro. Foi quando o vi sentado em uma poltrona, com o rosto iluminado pela luz do fogo na lareira, olhando pela janela.


 


Venha e leve essas lágrimas embora
Eu preciso que seus braços
Me abracem agora


         Fiquei estática, olhando sua silhueta distraída. Por um lado, meu coração queria tocá-lo, pedir que me abraçasse mesmo se fosse me desprezar no dia seguinte. Sentia que só ele agora podia tirar a dor que eu estava sentindo. E aquilo doía demais, era como uma tortura pra mim. Mas por outro lado, meu orgulho falou mais alto, trancando meu sentimento bem fundo no peito, me angustiando ainda mais. Virei-me para subir as escadas, quando ouvi sua voz atrás de mim.


      -Acordada há essa hora Lene? - Sua voz rouca e pesada causou calafrios em minha coluna, e eu parei o pé no primeiro degrau.


         -Você também está acordado. - Me virei tentando colocar um sorriso no rosto, embora eu soubesse que ele soaria mais falso do que se estivesse com a cara de fossa de antes. Fui até a garrafa de água, enchendo o copo, tomando em goles pequenos, torcendo para que ele não notasse o inchaço visível em meus olhos azuis.


         Sentei-me ao seu lado, mantendo uma distância segura, olhando o fogo na lareira. O fogo ardia em meu coração, ardendo pelas beiradas, como se tivesse prazer em me ver sofrer, me ver cair no chão, e ter algo para pisar em cima, me humilhando ainda mais. Olhei para Sirius e ele mantinha um semblante sério, desviando os olhos da janela para mim de momentos em momentos. Engoli o resto da água que tinha no copo, colocando ela no chão, ao lado do sofá em que estava.


 


As noites são cruéis
Traga de volta aquelas noites
Em que eu tinha você ao meu lado


         Ele soltou uma risada fraca pelo nariz, desviando os olhos para a janela novamente. Encarei-o, confusa. Nunca havia visto Sirius de mau humor, muito menos pensativo pelos cantos. Ele sempre fora animado, brincalhão, contente, com dezenas de garotas idolatrando o chão que ele passava, beijando seus pés. E ele se gabando por isso. O maior galinha do sexto ano de toda Hogwarts.


         Desviei o olhar para o fogo novamente. Vi pelo canto dos olhos que ele estava inquieto, travando uma batalha interior. Quando já estava com os olhos ardendo de tanto olhar o fogo, Sirius finalmente conseguiu abrir a boca para falar.


Refaça meu coração
Diga que irá me amar de novo


         -"Eles dizem que é impossível encontrar o amor sem perder a razão, mas pra quem tem pensamento forte o impossível é só questão de opinião. E disso os loucos sabem." - Terminou a frase e suspirou pesadamente, enquanto eu piscava atordoada para ele, sem saber ao certo de onde ele havia tirado aquela frase. Ele olhou pra mim ao ver que eu estava sem reação.


 


         -Que foi Lene? Nunca encontrou um amor suficientemente forte para te fazer perder a cabeça? - Suas mãos passaram em seus cabelos, e ele encostou a testa na parede fria. Nunca em minha vida, imaginaria Sirius Black falando de amor, sentimentos, nem nada parecido. Como eu queria gritar para ele o que eu sentia, mas passaria de louca por ele, e no mínimo ele iria rir da minha cara.


       Dei uma risada sem graça, pra esconder o que passava em mim.  - Claro que já, não sou de pedra. Mas me surpreende você Six falando assim, como se algum dia na vida tivesse se apaixonado. - Revirei os olhos com um frio na boca do estomago.


         -Já me apaixonei Marlene, mas não sei se estou gostando muito da experiência. É estranho... Dói o coração, gelam as mãos, a gente fica bobo. - Ele riu, olhando para fora e vi seu rosto se avermelhar em alguns pontos. Minha mão suava frio, e eu não sabia se encontraria minha voz para poder responder.


- E quem é a sortuda?Porque pra fazer Sirius Black ficar bobo, tem que ser muito perfeita – Droga, eu engasguei pra falar. Eu estava doida pra saber quem seria a menina que me faria enlouquecer de vez, mas sem deixar transparecer meu desapontamento e meu medo.


         -Bem, é uma garota! - Ele sorriu vitorioso e eu rolei os olhos. O coração martelando contra as costelas. Óbvio que era uma garota. A não ser que ele jogasse no outro time, mas esse pensamento estava fora de cogitação.  Continuei o encarando, querendo saber mais. - Ela é linda, gentil, educada, carinhosa... E sou fascinado por ela.


       Meu coração tinha que parar de bater. Six estava afim de outra, então, por que eu continuava viva? Tinha que desfazer aquela cara de boba,  mas eu estava em pedaços. - Que ...que bom pra ela..e pra você. - Olhei pra baixo. Eu tinha que saber mais sobre ela. - Ela é daqui, de Hogwarts? - engoli em seco


         -Sim, é de Hogwarts. - Meu coração pulou ainda mais furioso no peito, visualisando em minha mente os rostos de todas as garotas que ele já havia ficado, praticamente todo o sexto e sétimo ano, mas não havia garotas assim tão estrondosamente belas para Sirius se apaixonar desse modo. Mas como dizem que o amor é cego, não deixei de pensar nas menos bonitas, me desesperando a cada novo rosto que minha mente se recordava.


 


         -Mas... É de que casa? Vai ficar mais fácil de eu saber quem é, há tantas meninas em Hogwarts não? - Sorri amarelo, vendo seu sorriso torto diminuir aos poucos. Parecia que ele não ia me compartilhar a casa da garota. Tive mais medo quando ele olhou para a janela, suspirando.   - Não seria da Sonserina não é? Não podia ser. Six odiava mais que qualquer outra pessoa todos de lá. Mas o irmão dele era da Sonserina. E se fosse alguma amiga dele? E se fosse a nojenta da Narcisa, que era meio prima dele... Ou Bellatrix, outra doida... Ou... Meu Deus, já saiba quem era!  - Amanda Stonebreaker, Sirius? - ele tinha um caso com ela, e eu era uma das poucas que sabia. Mas eu nunca achei que fosse tão sério.


         -Não, não. Nunca teria nada sério com aquela Sonserina. O que ela tem de bonitinha, ela tem de chatinha. - Ele riu pelo nariz de novo, e olhou pela janela no exato momento em que um relâmpago riscava o céu. - A garota que eu gosto é da Grifinória.


       - Me conta quem é Sirius. - Minha voz saiu de um jeito que eu acho que até a McGonnagal ficaria com dó de mim. Eu estava em pedaços, mas ficar sem saber parecia bem pior.


         -Pra que você vai querer saber? - Ele deu de ombros parecendo indiferente. Se ele soubesse como estava meu coração naquele momento, não agiria assim. Em um átimo de inconsciência, corri até seu lado, sentando no braço da poltrona que ele estava, implorando com o olhar para que ele me contasse. - E nem vem fazendo essa carinha McKinnon, por favor.


         -Por favor, Six? - Usei o apelidinho fofo que sabia que ele nunca resistia. Tentei sorrir, embora meu coração martelasse com tanta força contra as costelas, que chegava a ser constrangedor. Ele rolou os olhos, bufando.


            -Não dá pra contar Marlene, não é assim tão simples. Eu não sei dos sentimentos dela. Eu não quero machucar ninguém, nem sair machucado nessa história. – Ele me olhou, e vi seu braço se levantando para tocar meu rosto, mas ele o parou na metade do caminho. Meu estômago deu uma reviravolta com isso.


            -Mas Sirius, se você não contar, nunca vai saber se ela nutre o mesmo amor por você. Se for isso que você realmente quer vê-la ao seu lado, tem que contar. Ela talvez possa estar chorando por você.


Desfaça essa dor que você causou
Quando você saiu pela porta
E saiu da minha vida


 


-Ninguém nunca choraria por mim Marlene. Eu sou um idiota. – Sirius remexeu a cabeça, bagunçando ainda mais os cabelos negros. Depois, colocou a cabeça nas minhas pernas, passando um dos braços por minha cintura. Aquilo já estava ficando realmente insuportável. Já não agüentava mais, então deixei as lágrimas caírem. Eu precisava dizer o que estava preso em minha garganta por meses, talvez anos.


-Eu estou chorando por você agora Sirius. – Ótimo, minha voz tremeu, e ele me olhou com cara de quem me achava louca. Só eu mesma para fazer aquilo. Quis me bater, mas passaria uma imagem de mais insana ainda, então fechei as mãos em punhos, deixando as lágrimas correrem livres pelo meu rosto.


Vi quando Sirius se levantou, quando me abraçou de verdade, enquanto meu corpo era sacudido pelos soluços que não queriam mais cessar. Retribuí o abraço sem conseguir falar nada, mas notei que naquele momento não eram necessárias palavras. Era de mim que ele gostava afinal. Afundei o rosto em seu peito, molhando a camisa de seu pijama, sem realmente me importar. Ele pegou meu rosto com as mãos, me beijando docemente, como nunca havia o visto beijar ninguém.  Retribuí ao beijo da mesma forma, não me importando se havia alguém nos olhando, se eu estava praticamente em cima dele, muito menos se quebrávamos as regras nos beijando em pleno salão comunal, no meio da madrugada. Eu simplesmente queria estar com ele.


Soltamos-nos sem ar, nos olhando, ambos com os olhos vermelhos, e trilhas de lágrimas nas faces. Não queria ver Sirius chorando, não mais. Se dependesse de mim, só iríamos ter espaço para sorrisos a partir de agora. As noites que passei chorando pareciam inexistentes agora que eu sabia que era de mim que ele gostava, apesar de não ter ouvido as três palavras diretamente da boca dele.


 


Não chore essas lágrimas
Eu chorei muitas noites
Refaça meu coração
Meu coração


-Marlene... – Ele sussurrou bem próximo ao meu ouvido, dando uma mordiscada em minha orelha. Meu corpo reagiu com arrepios involuntários, e eu sussurrei um “hum” como resposta. Ele sorriu torto e falou ainda mais baixo, como se isso fosse possível. – Eu amo você.


-Também amo você Sirius. Mais do que imagina. – Suspirei fundo, sentindo meu coração inteiro, como se nunca houvesse sido quebrado antes. Finalmente meu coração não ficaria mais sangrando pelos lugares em que passava, e tudo isso devia a Sirius, apenas a ele.


 


 


N/A: Créditos à minha amiga Dany Pattinson (que ainda não tem conta aqui), porque sem ela não havia história. Obrigada pelos comentários, e pela paciência de lerem a fic. É a minha primeira Sirius e Marlene, e não gostei do final. t.t Alguém se habilita a betar?

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