Capítulo Único



Para a Eternidade


 


Aquela noite fora a pior de toda sua vida, não queria vê-la morrer, não queria, mas fora forçado a fazê-lo.


Mesmo depois de alguns meses ele continuava no castelo, mais especificamente nas Masmorras, e ninguém ousava perturbá-lo.


 


Era uma noite de [u]lua[/u] quando decidiu que iria por os pensamentos em ordem e assim sendo, rumou para a [u]Floresta Proibida[/u] onde tudo havia se passado - "só há uma forma de transpor seus medos, encarando-os de frente e vencendo-os" - isso era a filosofia de vida de Tonks. Sorriu sozinho, um sorriso triste e sem vida.


Andou para longe do castelo e queria permanecer eternamente ali, nunca retornar ao castelo e a sua solidão. Chegou a uma clareira criada ao acaso pela luta, havia sido lá toda a pior batalha.


Snape isolara toda e qualquer lembrança daquele lugar, mas agora elas dominavam-no e, pela primeira vez chorou por medo. Medo de nunca mais superar a dor e sucumbir nas lembranças ainda existentes. Ajoelhou-se no centro da clareira olhando para cada galho seco e retorcido: - Nulos resquícios de uma falsa verdade. - olhou para cada tronco noduloso das antigas e sábias árvores. - Sombras de um passado infeliz. - olhou para o céu estrelado. - Sombras de um passado inexistente. - soluçava e os soluços guiavam seus atos. Nada lhe pertencia, nada a não ser a dor e a solidão, nos últimos meses.


Por um momento o rosto jovem e belo de Tonks apoderou-lhe a razão e ele levou a mão à um dos bolsos de suas vestes, de lá ele tirou uma foto e uma mecha de cabelo. No verso da foto, que retravava uma Tonks alegre e sorridente abraçada à um Severus menos carrancudo, havia apenas uma palavra: - Eterno. - numa letra apertada e minúscula. O homem passou os dedos pela mecha de cabelo rosa-chiclete da mulher, lembrando-se de como o conseguiu.


 


»Flashback


 


Era fim de tarde, quase anoitecendo.


Estavam na sede da Ordem onde Snape estava escondido, os dois estavam às sós, ela tentado fazê-lo rir, ele, procurando meios de ler um livro.


Derrepente, ele se irritou com as atitudes infantis dela, que apenas fingiu certa mágoa. - Desculpe. - disse, preparando-se para sair.


_Espere... - segurando-a pelo pulso. O cabelo que havia se tornado castanho voltou a ficar rosa e ela sorriu; o sorriso infantil de uma criança brincalhona.


_Eu te amo. - ela o beijou, deixando-se levar pelos olhos negros que atraíram cada centímetro de sua alma para si.


A noite caíra, abençoando-os com seu manto negro de silêncio e quietude, submergindo-os no desejo que emanava dos corpos ávidos um pelo outro.


Pela manhã, por instinto Snape tateou ao seu redor, mas ela já se fora há muito, e encontrou apenas alguns fios róseos presos à trama do tecido do travesseiro, denunciando sua presença. - Eu também te amo. - ele disse, para o sol que não mais se importava em permanecer do lado de fora da Mui antiga e nobre casa dos Black.


 


«Fim do Flashback


 


A vida se encaminhava para fazê-lo feliz novamente, mas mais uma vez Voldemort ia a contrapartida, tirando-a de seus braços, que clamavam por atenção e um corpo junto a si, deixando em seu lugar um corpo inerte e um homem sem alma. Seria seu eterno martírio a solidão ou apenas uma peça do destino? - Ninguém sabia, nem mesmo ele próprio.


A noite já ia alta e insistia em soprar as folhas de forma constante sobre o rosto de Snape, fazendo com que seus cabelos balançassem, criando uma dança medonha. A morte estava presente consigo desde a mais tenra idade, mas nunca o ameaçara de tal forma.


A lua iluminava o rosto macilento e pálido, dando um ar austero e de certo modo, macabro, mas sua expressão era de completa desilusão; completa, contínua e eterna solidão. Seus olhos, antes negros, agora estavam vermelhos e ardiam, as lágrimas ainda corriam livremente pelo rosto e alojando-se no chão coberto de húmus da floresta: - Por quê?


Sentia um enorme vazio tomando posse de suas ações, logo não mais podia chorar. Lembrou-se da Pedra da Ressurreição e passou-a três vezes pelos dedos; a figura fria e pálida de Tonks surgiu sentada numa pedra próxima, ele apenas observou-a, admirado, buscando absorver cada pequeno detalhe feminino e guardando-os para si gravados em sua alma para a eternidade. Ela não sorria, era sóbria e fria como uma estátua marmórea.


As nuvens se alinharam, impedindo que a pouca luz banhasse a clareira. Dentro em pouco choveria.


Snape soergue-se e foi aos poucos até ela. - Eterno.


 


A chuva caiu forte e grossa, ele não se moveu. Após alguns minutos, ele falou: - Perdoa-me por ter sido sempre assim!* - ele buscou a mão dela, que não o impediu. - Perdoa-me por ter sido eu mesmo* e nunca admitido ou demonstrado tudo que sinto por você! - seus olhos ainda clamavam por lágrimas, mas não mais as tinha. A chuva se encarregava por fazer o caminho que as lágrimas não faziam. - Ou por não ter podido salvá-la.


A chuva tomava ainda mais força e logo começariam os trovões. - Nada poderia ter feito para me impedir. Que sempre estar contigo, não importando como e onde. - as mãos se separaram e ela sumiu na tempestade, a foto e os fios eram as únicas coisas verdadeiramente importantes para ele.


Já era manhã quando a chuva se foi, mostrando um lindo sol matinal, um homem saia do castelo levando consigo um frasco de uma poção analgésica. Foi em direção à mesma clareira, onde, há horas esteve. - Dê-me um frasco mortal e atraente para brincar, e ficarei contente. - tomou o conteúdo do frasco de uma vez e o arremessou à distância. Não havia tempo para se perder ou logo o efeito passaria. Pegou a pedra no mesmo bolso anterior e passou-a novamente pelos dedos, a mesma Tonks de horas atrás apareceu - Fria e pálida, mas ainda assim bela. - pegou uma adaga que reluzia à luz solar. - Não vou conseguir viver mais sem você. - o punhal feriu mortalmente o pescoço, fazendo com que tudo próximo à Snape adquirisse tons vermelho.


Logo os dois estariam juntos.


 


* - A Canção de Amor de Morte do Porta-Estandarte Cristóvão Rilke - Rilke.

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