A Mentira



A MENTIRA


Com certeza aquilo havia sido um ato impensado, inconseqüente... É claro que eu tinha total consciência disso, mas eu simplesmente precisava desabafar...


A semana passou rápido e embora eu não parasse de pensar em Severus, estava tão atarefada que nem pude falar com ele de novo. Mas o fim da semana chegou logo e eu imediatamente encontrei uma oportunidade.


Sexta-feira, no horário de almoço, encontrei-o sozinho na grande mesa da Sonserina e decidi que era o momento certo.


Me aproximei devagar, e sem que ele percebesse, sentei-me ao seu lado. Ele olhou com cara de espanto, tentando ver quem era e deu conta de minha presença.


- O que você está fazendo aqui? – indagou, assustado. – Você deveria estar lá com os outros... – completou, apontando para a mesa dos grifinórios.


- Ah... É que eu ainda não agradeci por você ter salvo minha vida... – falei em tom amigável, enquanto ele ouvia e ao mesmo tempo olhava em direção à porta do salão para ver se alguém se aproximava. – E... Como seus amigos não estão por aqui, resolvi aproveitar a oportunidade...


- Humm... – murmurou, enquanto bebia um pouco de suco de abóbora. – Ótimo... Agora que já o fez, pode ir embora...


- Espere... Não seja tão precipitado... – falei com voz doce – Você ainda me deve uma explicação.


Suavemente, aproximei os dedos de sua nuca, e acariciei seus cabelos negros. Severus pareceu sentir um arrepio e se afastou ligeiramente.


- Eu salvei a sua vida... Não lhe devo nada... – e se levantou rapidamente.


Levantei-me também. Snape começou a percorrer, depressa, o corredor do grande salão e eu o segui.


- Você prometeu...


- Hermione... Você bateu com a cabeça... Não sabe do que está falando. Deixe-me em paz! – o tom de sua voz era cortante.


Então, perdi a calma e olhei para ele desafiadoramente, forçando-o a parar e me encarar.


- Não há nada de errado com a minha cabeça. Você sabe disso.


Ele sustentou o olhar.


- O que quer de mim, Hermione?


- Quero apenas saber a verdade... Por que você está mentindo pra mim?


- O que você acha que aconteceu?


A resposta saiu num jato.


- Tudo o que eu sei é que num instante você estava bem longe de mim e num piscar de olhos apareceu ao meu lado. Além disso... Severus... Você arrancou facilmente aquele ramo do Salgueiro e o jogou demasiadamente longe... – Pude perceber como aquilo soava estranho... Quase como uma maluquice e não consegui continuar. Estava tão irritada que as lágrimas começaram a emergir em minha face. Tentei obrigá-las a voltar, trincando os dentes.


Severus me encarava incrédulo, mas seu rosto estava tenso, na defensiva.


- Acha que eu arranquei aquele ramo? – sua voz questionava minha sanidade, mas só conseguiu me deixar mais desconfiada.


Revirei os olhos e assenti com segurança.


- Sabe que ninguém vai acreditar nisso... – seu tom era de desdém.


- Não vou contar a ninguém. – falei devagar, com calma, controlando minha raiva.


Ele não podia admitir de vez e me explicar o que fora aquilo? Tinha que fingir que eu era uma débil...


A surpresa passou rapidamente pelo rosto dele.


- Então por que isso importa?


- Importa para mim. – insisti – Eu detesto que mintam para mim... E se você persistir, saiba que vai ter que pagar caro...


- Não pode simplesmente me agradecer e acabar logo com isso?


- Obrigada. – eu esperei, furiosa e esperançosa.


- Você não vai deixar isso passar em branco, não é?


- Já disse que não.


- Neste caso... Espero que goste de se decepcionar.


Trocamos um olhar zangado em silêncio. Fui a primeira a falar, tentando me manter concentrada. Corria o risco de me distrair com o rosto lívido e glorioso de Severus. Era como tentar encarar um anjo exterminador.


- Por que se deu ao trabalho, então?


Ele estancou e por um breve momento, seu rosto pasmo ficou inesperadamente vulnerável.


- Não sei – sussurrou ele, e depois me deu as costas e se afastou.

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