Revelações



Revelações


 


O professor anão entrou no salão carregando um banquinho e um chapéu bem velho por levitação, atrás dele algumas dezenas de novatos curiosos e assustados. Meninos e meninas, ruivos, louros, morenos, ingleses, irlandeses, escoceses, e outros estrangeiros que ainda se espantavam com o que lhes acontecia. Haviam sangues-puros contados em uma mão, mestiços e trouxas.Todos os alunos entraram em fileira e esperaram ser chamados. Mas antes que pudessem ter suas dúvidas sanadas, a escola esperava como sempre o discurso-canção do chapéu seletor. Esse estava estranhamente quieto sobre a banqueta, e decididamente parecia cansado como nunca. Finalmente ele ergueu –se no ar, e deixou que o rasgo que usava como boca se movimentasse. A melodia era pausada, as palavras eram quase faladas, e inexplicavelmente, depois de anos de alegria, o silêncio dos alunos foi pesado.




“Por mais de mil anos aqui estive,


Por mais de anos decidi


Que casa teriam, que cores usariam


Por mais de mil anos coube a mim.


 


Mas não fui criado apenas


Para essa tarefa tão simples e pesada


Meus dons são muitos


Até agora pouco gastos na estrada


 


Essa noite peço desculpas


Não falarei sobre casas


Me cabe um destino maior


Palavras mais densas


 


Nossos dias de alegria estão contados


Alguns de nós já sabíamos


Alguns já se movimentaram


Exatamente como instruídos


 


Existem segredos maiores


Existem poderes ainda não imaginados


Existem exceções a se fazer


Existem vidas a serem mudadas


 


Esse ano nada será o que parece


Esse ano terão que provar seu valor


Pois começa aqui uma jornada


Sem volta.”


 


A mesa dos professores encarava o chapéu assustada. Minerva pensava e repensava as palavras do chapéu e não encontrava entendimento nelas, mas entre os alunos, algumas cabeças baixaram, algumas mãos se crisparam, e mentes fervilharam. O aviso havia sido dado, era hora de sair das sombras, o tempo se esgotara. Após alguns minutos de silêncio, em que Flitwick parecia zonzo e sem saber o que fazer, o pigarro da Diretora fora ouvido.


- Bem, comecemos a seleção.- ela anunciou tentando ofertar-lhes um sorriso.


- Allen, Faith


O pequeno professor começou sua chamada, mas a seleção parecia não chamar mais atenção. Scorpius havia estreitado seu olhar, ele não sabia o que estava acontecendo, mas sentira um pressentimento estranho, resolvera manter seus olhos mais atentos, e seus ouvidos mais aguçados. Rose também parecera perceber a mesma coisa, ela amaldiçoava o professor por tê-la feito deixar o livro de Hogwarts no aposento anterior, gostaria de estar folheando suas páginas com sofreguidão em busca de algo que explicasse aquele discurso. Albus engolira em seco, e procurara apoio na mesa da Grifinória. Ali, James estava concentrado e aos cochichos com um grupo de alunos, quando os olhares dos irmãos se cruzaram o jovem viu que o irmão suspirava de preocupação, aquilo só o deixara mais preocupado.


- Malfoy, Scorpius.


O salão se fez em silêncio novamente, os olhares pregados no loiro que caminhava até o banquinho. O chapéu fora levitado até a sua cabeça, seus olhos se fecharam, e ele escutou a voz do chapéu.


- Jovem Malfoy, achei que não teria o prazer.


- Conhece meu pai, sempre tradicional.- Scorpius deu um pequeno sorriso.


- Hum.. vejamos... Muito interessante, não vejo ambição em seu coração, de fato apesar de guardar rancor, tem uma consciência leve, e seu humor é, no mínimo, respeitável. Conhecendo sua mãe, me pergunto de onde teria saído características tão intrigante.


- Quer dizer que sou adotado?- ele perguntou cinicamente.


- Gostaria disso, não gostaria?- riu-se o chapéu.


- Imensamente.


- Perdoe por enviá-lo a um lugar que possa prejudicar-lhe mais, as pessoas estão presas a seus preconceitos, preciso de você lá para mudá-las.- o loiro riu com gosto.


- Você que escolhe, não é verdade?


- Você escolheu meu jovem, mas prometo, estar lá será mais útil que estar onde deveria. Só lhe peço um pequeno favor, quando a hora chegar, assuma o que lhe é devido.


- E o que seria?- pela primeira vez o jovem ficara sério.


- Você saberá... Logo meu jovem.- riu-se divertido o chapéu- Por hora tenha uma boa estadia... SONSERINA!


Como já era de costume, as palmas foram pequenas, algumas mais por educação que por prazer. O loiro saltou rapidamente da banqueta e andou descontraído até a casa verde e prata, de fato nenhuma novidade para ele, embora o pedido do chapéu lhe intrigasse. Ainda haveria muito a se intrigar naquela noite. Duas pessoas foram selecionadas antes que o principal nome da noite fosse anunciado.


- Potter, Albus Severus.


- Precisava do nome inteiro?- guinchou baixinho o menino que se dirigia ao chapéu, o salão continuava silencioso, mas o interesse era menos ameaçador.


- Ora, ora... Se não é nosso pequeno prodígio. Difícil meu rapaz, será uma jornada bastante difícil para você.


- Mais um pra me amedrontar?- questionou o menino nervoso, suas mãos estavam presas à beirada do banco para não mais tremerem.


- Estranho... Nunca vi alguém com tanto medo, nem mesmo seu pai. Vejo que você precisa desesperadamente ir para a Grifinória, mas sua coragem se esvai, a maior qualidade da casa.- o chapéu parecia bem preocupado.


- Mas... Mas... Eu sou corajoso. Eu posso ser... Por favor... Meu pai disse...


- Normalmente eu permito a escolha, quando há uma vocação entre duas casas ou mais, mas o senhor... Não há ambição que honre o nome Severus, não há sabedoria que honre seu nome Albus, e não há coragem que honre seu sobrenome Potter. É de fato... Intrigante.


- Por favor, me ponha na Grifinória, eu imploro.- o menino parecia à beira do pranto.


- Deveria ouvir seu irmão, ele sabe do que fala. O julgamento que faço, é o julgamento que todos farão a você. Ele vai precisar de ti, mas sabe que ainda tens muito a aprender. Talvez a tarefa dele se torne mais difícil afinal.


- Mas, meu pai disse... Ele não me enganaria. Você tem que me colocar na Grifinória.- lágrimas já escorriam pelo seu rosto.


- Aí está a graça meu jovem, eu tenho que pô-lo onde o senhor pertence, sinto muito... Sua casa é a LUFA-LUFA!


A casa amarela eclodiu em palmas, para eles era mais que uma honra terem um Potter entre eles, mal perceberam que o restante do silêncio havia ficado em silêncio, em choque. James encarava o irmão desapontado, ele temia que Albus ficasse em outra casa, um lugar onde não poderia ser protegido. O irmão mais velho deixou sua cabeça cair sobre a mesa, e repetiu a cena ainda algumas vezes. Albus havia entrado em choque e soluçava, levara um minuto para tirar o chapéu da sua cabeça, enquanto esperava que aquilo fosse um engano, então desceu da banqueta, depositou o chapéu sobre ela, e andou devagar enquanto limpava as lágrimas que corriam. Aquilo não podia estar acontecendo, não com ele.


- Robertson, Gale.


Mais um experimentava o chapéu, enquanto Rose começava a ficar ansiosa. Como esperava era a última da fila, e tinha medo do que aconteceria. Não poderia ir para a casa que queria, mas se queria, porque o chapéu não a colocaria lá? Talvez a mãe a entendesse no fundo, mas o pai não. Seria tolice acreditar que Ronald a perdoaria pelo que estava prestes a fazer, mas será que teria coragem?


- Weasley, Rose.


As mãos da pequena morena tremeram, ela cerrou o punho, deu um profundo suspiro, e se dirigiu de olhos fixos até o chapéu seletor. O chapéu flutuou por magia do professor Flitwick enquanto ela se sentava de olhos fechados, respirava fundo, sua cabeça borbulhava com todas as informações que tinha sobre o chapéu, e foi assim que ele tocou sua cabeça, vendo sua existência ser desmembrada.


- Ora, ora... Igualzinha à mãe. Embora sinta um pouco mais de astúcia, deveria ir para a Corvinal como sua mãe, embora ela estivesse extremamente ansiosa para se juntar aos amigos, os quais estava certa irem para a Grifinória.- Rose não dizia nada, estava apenas absorvendo as informações- Vejo que não está disposta a me contrariar, mas não vejo tanto desejo pela casa vermelha, e seria impossível pô-la junto ao seu primo, você não pertence à Lufa-Lufa.


- Posso... Fazer uma pergunta?- ela se pronunciou finalmente.


- Controlada, e ávida por respostas, não estou surpreso. Fique à vontade.


- O que é realmente necessário para ir à Sonserina?- ela mordeu os lábios.


- Acho que a pergunta é, se o Scorpius foi para a Sonserina por se rum Malfoy, e você iria à Grifinória por ser uma Weasley.. A resposta é não. Scorpius está lá pois ele tem um papel a cumprir, e você...- ele hesitou por uns momentos enquanto a menina sentia seu coração disparar- Deseja aquela casa. Astúcia, determinação, conhecimento, desejo, ambição. Nem o medo que sente de seu pai mudam sua verdadeira escolha, espero que possa ajudar Scorpius em sua missão garota. Espero que ajude a mudar essa escola. Parabéns, SONSERINA!


Rose abriu os olhos assustada, estava ofegante, de fato estava com medo, mas também feliz. Observou a expressão de conformado de James, um certo desapontamento na Monitora da Corvinal, Victorie. Mas era a face de Albus que a fez se sentir culpada. Era uma tristeza imensa. Os olhos do garoto estavam vermelhos, ele havia caído em uma casa que não esperava, e sem nenhum amigo por perto. Para piorar, sua melhor amiga fora designada para a casa que menos gostava.


Rose engoliu em seco e se aproximou da mesa que seria sua dali em diante. Havia vários sorrisos, ela recebeu cumprimentos, abraços, foi dirigida rapidamente par aum lugar quase ao centro da mesa. Ali, em pé, aguardava um velho conhecido, ela corou.


- Bem vinda, estou feliz em te ver por aqui.- seu sorriso era sincero, ela sabia.


- Obrigada, eu... Eu também estou.- ela abaixou os olhos.


- Acho que já podemos ser amigos, e nossos pais vão se matar.


Rose riu, mas ficou muda quando sentiu o garoto abraçá-la. Meio sem jeito tentou retribuir aquele gesto tão espontâneo. Na mesa da Lufa-Lufa um certo novato sentiu que era a gota d’água, levantou-se e deixou o Salão Principal sem cerimônia. Seu irmão mais velho o observou com os olhos, mas não se mexeu, Hogwarts ainda era segura.


- Eu não esqueci aquele dia Rose.- ele sussurrou antes de soltá-la, sentando e apontando um lugar ao seu lado.


A menina não respondeu, apenas se juntou a ele olhando as próprias mãos, alheia da cerimônia no salão, e do discurso de Minerva.


- Eu também não...- ela sussurrou e deu um leve sorriso.


Fora das grandes portas do salão principal Albus apertava a varinha com força, ele queria azará-lo, torturá-lo, acabar com aquela banca de bom moço do Scorpius. Agora, além de ser quem era, ele também havia lhe roubado sua melhor amiga, Rose. Traidora. Como ela podia sequer pensar em ficar na Sonserina, como ela podia abraçá-lo.


- Jovem, o que está fazendo aqui fora?


Albus assustou-se com a voz tão próxima, finalmente pôde fitar seu interlocutor, era um homem alto, tinha cabelos pretos, caindo sutilmente por sobre as orelhas, seus olhos eram azuis, de um tom escuro. Tinha um semblante agradável, embora a voz tivesse soado rígida.


- Er... Eu... Só queria tomar um pouco de ar.- o homem arqueou a sobrancelha em tom de descrença.- Meu nome é Albus Severus Potter. Sou novato.- ele coçou a cabeça um pouco desconfortável.


- Potter...- o homem sibilou quase inaudível- Que varinha é essa Severus?


- Ah! Era do meu pai... Ele me deu quando a roubei dele no escritório, disse que comigo estaria segura. Ela funcionou muito bem comigo.- ele disse orgulhoso enquanto exibia a varinha.


- Ela é muito bonita, acho bom cuidar bem dela, seria uma pena se a perdesse.- os olhos do homem faiscaram por um breve momento antes que ele desse as costas ao jovem e adentrasse o Salão Principal. Albus acompanhou o percurso dele ainda de fora do salão. O homem caminhava decidido até a mesa dos professores, burburinhos eram ouvidos.


Longe dali... Harry Potter acabara de entrar em seu banho, Lilian ainda não voltara, o que deixara Giny preocupada, assim como ele. A ruiva estava tentando contatar o irmão naquele exato momento. O homem colocara a cabeça sob o chuveiro, quando sentiu sua visão ficar turva, apoiou-se na parede tentando focar algo em seu campo de visão. Um lapso de memória perpassou sua mente, os olhos de cobra vermelhos o fitaram enquanto gargalhadas podiam ser ouvidas. Sua cicatriz queimou como fogo. Ginevra Weasley o encontraria mais tarde, inconsciente no chão do banheiro.

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