Capítulo Único



Era um sábado nublado, porém muito quente. Hogwarts fervilhava de emoção e expectativa diante do que seria o último jogo da copa de quidditch entre casas, Slytherin contra Gryffindor.


Mesmo depois de dois anos sofrendo os tormentos que antecediam cada uma das três partidas anuais de quidditch, em especial as partidas finais da copa, Scorpius Malfoy ainda se sentia nervoso e inquieto diante das expectativas tanto dos colegas de Slytherin quanto dos adversários, em especial quando era Gryffindor, sua rival declarada há tanto tempo.


Scorpius era um bom artilheiro, talvez o melhor artilheiro do time. Ele não tinha como negar isso, pois marcara vários gols na partida contra Ravenclaw e fora o principal responsável pela vitória contra Hufflepuff, já que marcara vinte dos vinte e cinco gols de Slytherin na partida. Além do mais, Albus Severus, o apanhador do time, perdera o pomo, o que fizera de Scorpius o herói de Slytherin daquela partida.


A tensão de Scorpius, entretanto, não era tão infundada, pois Slytherin não ganhava uma partida contra Gryffindor desde que ele entrara em Hogwarts, cinco anos antes, e todos diziam aquele era o melhor time formado em muitos anos. Além dele e Albus, havia o goleiro, Hugo Weasley, que poucas vezes deixava passar a goles pelos aros, e o batedor, Fred Weasley, era visto como a sensação do momento. Desde a época dos gêmeos Weasley, de Gryffindor, não se via um batedor tão bom e, mesmo estando apenas no segundo ano, era o melhor da escola.


Apesar do time de Slytherin ser muito bom, ainda havia o fato do time de Gryffindor ter tido vitórias muito mais espetaculares e também ser um time excelente. Havia o irmão mais velho de Albus, James, que nunca perdera nenhum pomo desde sua entrada para o time e era o principal responsável pelas vitórias do time. Ele era muito comparado com o pai, que também fora um grande apanhador em seus tempos de Hogwarts. Lily, irmã mais nova de Albus, era uma grande artilheira e, provavelmente, seria ela quem marcaria Scorpius, pois sua especialidade era marcar os bons jogadores adversários e não impedir que eles jogassem direito. Rose Weasley era a artilheira destaque do time por ter marcado ou auxiliado quase todos os gols.


- Pronto para a partida, Cop? – Perguntou Albus, pegando seu distintivo de capitão do time e colocando no peito.


O uniforme do time ficava muito bem em Albus, que tinha os olhos tão verdes quanto a grama naquela manhã de verão. O rapaz era muito magro e tinha os cabelos compridos, presos em um rabo de cavalo e levemente espetados no topo da cabeça. Era muito comparado com o irmão mais velho, que sempre fora considerado muito mais bonito e melhor jogador. James usava os cabelos curtos e espetados e tinha um porte atlético que Albus jamais possuiria. Além do mais, o mais velho era muito mais extrovertido e tinha mais jeito com as garotas. Mas, apesar disso, Scorpius ainda achava Albus muito melhor que o irmão mais velho e não conseguia entender porque as garotas preferiam uma pessoa tão arrogante.


Scorpius assentiu com um sorriso forçado nos lábios, seu nervosismo não permitia nada melhor que aquilo. Albus, que conhecia bem o melhor amigo, procurou algo na mochila e estendeu ao melhor amigo. Era uma laranja. Scorpius sorriu ao se lembrar de quando os dois se conheceram.


Eles se sentaram no mesmo vagão a caminho de Hogwarts em seu primeiro ano. Não trocaram palavras a princípio, mas quando Albus olhara cobiçoso para a laranja que Scorpius tirara da mochila em que guardara o lanche que a mãe fizera para ele no horário do almoço, Scorpius finalmente conseguiu um assunto para puxar conversa com o garoto e lhe perguntou se ele gostava de laranjas. Albus, que sempre amara laranjas, sorriu e começou a contar os casos de sua infância que envolviam a fruta. Algum tempo depois, Scorpius se lembrou da fruta. Cortou-a ao meio e dividiu com Albus, dizendo que aquela laranja simbolizava um pacto de amizade eterna entre eles. Gostara do garoto desde aquele primeiro momento.


Albus dividiu a laranja em dois e eles chuparam se lembrando daquela tarde, anos atrás, sem se falar. Scorpius sorria, então sinceramente, para o melhor amigo. Quando finalmente terminaram, o moreno voltou-se para encarar os demais companheiros de equipe, que o olhavam com determinação.


- Escutem! Todos dizem e eu reconheço que este é o melhor time de Slytherin em muitos anos, mas também sei algo que ninguém se atreve a dizer ainda, mas dirão muitas vezes nos próximos meses: nós somos o melhor time da escola! Vamos lá acabar com a raça da Gryffindor, sei que podemos!


Houve uma explosão de aplausos. Scorpius deu um soco de leve no braço de Albus e lhe sorriu, gritando:


- É isso ai, garoto! Assim que se fala!


Assim que passou a agitação, os jogadores pegaram suas vassouras e se encaminharam para o campo, onde o time de Gryffindor já os esperava próximo ao juiz da partida.


“E entra o time de Slytherin! Malfoy, Williams, Reynolds, Richardson, Weasley, Weasley e Potter!” Quem irradiava o jogo era um aluno de Hufflepuff que estava no sétimo ano, Max Perkins.


Quando entrou, o rapaz percebeu seu pai olhando-o da arquibancada, onde estava sentado ao lado do professor Hagrid, com quem parecia estar conversando até o momento da entrada do filho no campo, quando Draco desviou a atenção da conversa para encarar o único filho.


Scorpius sabia que o pai estava chateado com ele por não ter escolhido ser apanhador, como ele fora em sua época de estudante. Desde dois anos antes, quando o rapaz loiro fora escolhido como artilheiro do time, Draco se recusava a conversar com o filho sobre quidditch, algo que antes era um dos assuntos favoritos dos dois. Sentiu que aquela partida era importante, também, para ele provar ao pai que ele podia se orgulhar do filho que tinha.


Scorpius viu Albus apertar a mão de seu irmão, James, o capitão do time da Gryffindor. Achou que os dois pareciam ainda mais diferentes lado a lado. Logo depois, o juiz marcou o início da partida com seu apito e Scorpius montou na vassoura e deu um impulso para ela sair do chão. Não ficou surpreso quando Lily o bloqueou, impedindo que pegasse a goles antes de Rose. Aquilo já estava nos planos de Albus e fazia parte do que ele e Scorpius haviam combinado antes da partida e a nova tática de treino que o capitão adquirira para derrotar Gryffindor seria posta em prática naquele momento.


Rose avançou livremente, ninguém se preocupou em pará-la. Ela lançou a goles que se encaminhava rapidamente para o aro do meio, mas a bola fez um desvio curvo para o aro direito, onde Hugo já se encontrava para defender a bola.


Aquela jogada fora ensinada a Rose por sua tia Ginny, mãe de Albus, que jogara profissionalmente como artilheira por um tempo, mas a garota raramente usava. Entretanto, Albus não duvidara que James pudesse pedir à prima que jogasse com tudo logo no começo e sabia que ela começaria logo com aquela jogada para assustar os adversários.


Hugo, para a surpresa de todos os espectadores, devolveu a bola para Rose em um desafio. Scorpius viu Albus sorrir para o primo. Rose parecia muito irritada e lançou a bola novamente em curva, dessa vez com mais em direção ao aro esquerdo, mas Hugo defendeu novamente.


Albus pedira à mãe que o ensinasse a jogada que ensinara a Rose nas férias de Natal sem que todos soubessem e Ginny, cansada de ver James irritando o irmão mais novo por suas vitórias no quidditch, concordara. Depois ensinara a Scorpius e os dois passaram muito tempo treinando Hugo em segredo contra aquela jogada.


Aquilo, com certeza, distrairia todos, inclusive Lily. Scorpius deixou Hugo defender seis goles de Rose sem que nenhum dos times tivesse reação alguma. O próprio James parecia impressionado com o desempenho dos primos e não se incomodava em reconduzir o resto do time ao jogo. Quando recebeu um sinal de Albus, Scorpius saiu da marcação da irmã mais nova dele e, assim que viu o loiro livre, Hugo lançou a goles para ele.


O loiro avançou rapidamente pelo campo antes que o time adversário tivesse tempo de reagir e lançou a goles com o mesmo efeito que Rose utilizara, impressionando o goleiro adversário, que a perdeu.


No mesmo instante em que a goles entrava no aro do meio sem que o goleiro adversário sequer se mexesse, ouviu-se o apito indicando que o jogo chegara ao fim. Albus sorria montado em sua vassoura e mostrando o pomo que repousava por entre seus dedos. Scorpius achou que nunca vira uma cena mais encantadora em toda a sua vida.


Os acontecimentos que se seguiram jamais seriam esquecidos por nenhum dos jogares, mas para Scorpius houve um que se destacou. Quando seu pai se aproximou sorrateiramente e colocou a mão sobre o ombro do filho, lhe sorrindo, e disse:


- Sou o homem mais feliz do mundo por possuir um filho tão talentoso. Está de parabéns pelo desempenho como artilheiro e pelo seu desempenho em sala de aula. Posso te garantir que os professores tem me falado muito bem de você, Cop. Sinto orgulho de você, meu filho.


Depois, deitado na sua cama enquanto observava Albus brincar com o pomo que capturara mais cedo, percebeu que seu pai não era o único que sentia orgulho de alguém. Ele se orgulhava de Albus, o menino inteligente e gentil que conhecera no Expresso de Hogwarts tantos anos atrás e que se transformava lentamente em um homem.

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