Açúcar & Canela






“Preciso fazer as unhas.”, foi o que concluí. Não que eu me importasse com essas frescuras, mas elas tinham que estar limpas e aparadas, é claro. Cheguei ao sessenta, o que significava que já havia se passado cinco minutos. Eu estava usando meus dedos para contar silenciosamente quanto tempo eu iria esperar antes de ir atrás dela. Eu estava encostada na porta examinando e sei que ela estava grudada ao outro lado da porta esperando que eu fizesse contato. Sim, eu sabia disso e ela sabia que eu estava só esperando. Cinco minutos. O tempo médio. O fato é que não estava disposta a deixar tudo acabar assim tão fácil dessa vez, então esperei mais um pouco antes de finalmente ceder.




- O que você quer? - perguntou ela naquele tom falsamente bravo.




- Abra a porta.




-Ué, você não disse que ia embora?






[Guess this means you're sorry
You're standing at my door
Guess this means you take back
All you said before
Like how much you wanted
Anyone but me
Said you'd never come back
But here you are again]


Acho que isso significa que você quer pedir desculpas


Você está parado na minha porta


Acho que isso significa que você retira tudo o que disse antes


Como por exemplo o quanto você queria


Qualquer uma, menos eu


E que você nunca mais iria voltar


Mas aqui está você novamente






- É, eu tinha dito.




- Será que você não vê que é absurdo você brigar comigo por algo que saiu da SUA cabeça?




- Como você pode provar que não é verdade?




- Simplesmente porque não é real, Gina! Se fossemos seguir todos os sonhos ou pensamentos que já tivemos na vida, imagine onde estaríamos!




- Então você admite que tem pensado em me deixar!




- Eu desisto. Eu decididamente desisto de você! Para de ser uma louca ciumenta psicopata!




- Ah, então eu sou uma louca psicopata? Tudo bem, Lorelai Stewart, então você pode deixar essa psicopata agora mesmo porque ela NÃO se importa. Só não tente ME culpar por isso. Se você quer ir, vá!”




- Eu fui. - respondi me lembrando de ter batido a porta e ter fumado um cigarro na escada do prédio.




- Então o que você está fazendo aqui?




- Deixa de ser boba – sorri – Você sabe que eu te amo.







[Maybe I was stupid for telling you goodbye
Maybe I was wrong for trying to pick a fight
I know that I've got issues
But you're pretty messed up too
Either way, I found out I'm nothing without you ]


Talvez eu tenha sido burra por te dizer adeus


Talvez eu estivesse errada por tentar arranjar briga


Eu sei que tenho problema


Mas você é bastante enrolado também


De qualquer forma, eu descobri que não sou nada sem você






Ela ficou em silêncio e depois de dois segundos abriu a porta e me encarou.




- Se você me amasse, não estaria prestes a me deixar.




- Eu não estou prestes a te deixar.




-Luly, sonhos não mentem.




- Não? E quando você sonhou que estava casando com o Potter? Então isso significa que você tem um caso com ele e irão se casar depois que eu fugir para o Caribe?



Ela fez uma careta e pensou por um instante, logo depois liberou o caminho.




- Tá, pode entrar.






[Because we belong together now
Forever united here somehow
You got a piece of me
And honestly
My life would suck without you]


Porque nós pertencemos um ao outro


Eternamente unidos aqui de alguma maneira


Você tem um pedaço de mim


E honestamente


Minha vida seria um saco sem você







- Comida chinesa, mexicana ou pizza? - perguntou ela pegando o telefone.




- Pizza – respondi me jogando na cama. Obviamente nenhuma de nós duas sabia fritar um ovo, então comida delivery e congelada costumavam ser nossa fonte de energia mais usual.




Ela saiu buscar o telefone da pizzaria e eu encarei o teto, feliz pela confusão ter acabado. Eu sabia que era assim, era sempre assim. Era o nosso jeito. Eu não conheço nenhum casal que tenha sido mais idiota ou maluco como nós. Começamos em uma brincadeira, evoluímos como meninas e continuamos garotas até hoje. Não que tenha passado tanto tempo assim, mas ainda é divertido lembrar de como éramos novas e como continuamos garotinhas.




Eu escutei Gina dar o endereço do outro lado e gritei “PEDE CINCO QUEIJOS PRA MIM” e, hm, me lembrei que esqueci de avisar o Brian que ia dormir aqui, mas aposto como ele não só não vai se preocupar, como também vai ligar pra alguma daquelas vadias fazer companhia pra ele. Whatever.




- Mas que droga, Luly! - ouvi Gina reclamar da sala – Tem que ficar largando essa pilha de coisa em qualquer lugar? ¬¬




Sorri. Acho que a Gina procura alguma coisa pra reclamar e eu procuro algo pra deixá-la irritada, a graça da nossa relação é que conosco nada nunca é de rotina, nada nunca é monótono e nós nem temos como enjoar uma da outra, já que estamos sempre separadas, brigando e etc. É incrível. Até a nossa primeira vez, imagine só, surgiu de uma briga e foi, no mínimo, excêntrica.



- Me ensine.




- Ahn?




Eu lembro até hoje. Devo ter feito a cara mais idiota do mundo. Eu estava em pleno Caldeirão Furado esperando o vagabundo do Brian pra encontrarmos um fornecedor da loja do papai – loja que eu passei a administrar no ano seguinte que deixei Hogwarts – tomando – não, não era uma velhota e brochante sopa de ervilha – um copo de suco de abóbora, quando uma garota ruiva e sardenta entra no salão e me diz “Me ensine”. Ela, desajeitadamente e apressadamente, explicou do que se tratava e cinco minutos depois estávamos num quarto alugado no bar-hospedaria.


- Deite-se – ordenei.




- Não! - protestou ela – Eu quero aprender a... de qualquer forma, você é quem tem que estar deitada.




- Gina – sorri para ela – Cala a boca e obedece, tá? Eu sou a professora, se lembra?




- Mas...!




- Deixa de ser teimosa e deita logo! – falei desabotoando minha calça e retirando minha calcinha – únicas peças que ainda estavam no corpo.”




Sorri com as lembranças. Acho que nós duas somos o casal com mais lembranças bobas do mundo. Como também todas aquelas brigas sem sentido que começam a partir de um “Eu te amo”. Eu sempre disse que mulheres são loucas, mas a Gina é completamente. Bom, eu também devo ser então a gente se equilibra.




Falando nisso, ela voltou para o quarto e se atirou na cama ao meu lado. Eu prontamente abracei seu pescoço e mordisquei sua orelha.




- Metade cinco queijos e metade pepperoni.




- Ótimo. Ah, eu posso saber como andam as ilustrações para o livro da Mione? - perguntei de repente me lembrando que dia quinze é o prazo de entrega para a edição.




- Estão quase prontas – informou Gina pulando da cama e pegando uma pasta de cima do guarda-roupa – Estão ficando ótimas. - falou observando seu próprio trabalho.



- Deixa eu ver! - pedi.



- Não, só quando estiverem prontas.



- Você me tortura com isso.




- E...?





Eu me levantei como quem não quer nada e corri em direção a ela tentando pegar o desenho.





- NÃO LULY! - ela gritou tentando pôr os desenhos para cima, mas nós éramos da mesma altura, então eu alcançava e ela também. - Não! Não! Não! - ela correu com a pasta na mão para a sala e eu consegui alcançá-la e jogá-la no sofá.



- E então, vai se render? - perguntei maliciosamente me sentando em sua barriga e me inclinando para ela que ainda mantinha os braços esticados e a pasta fora da minha vista



- Hmmm – fez ela e nesse momento ouvi o interfone tocar – Nunca! - então ela projetou a parte de baixo de seu corpo para cima me derrubando do outro lado do sofá, trocando as posições. - Acho bom se conformar! - ela me deu um selinho rápido e correu guardar a pasta e atender o interfone ao mesmo tempo - Pode mandar subir. Você viu minha carteira, bebê?



Wow. Bebê. Eu amo quando ela me chama assim.



- Não Gin, deixa que eu pago. - me inclinei para minha bolsa e tirei as libras – Quanto é?





Ela correu até a porta e a abriu, revelando um homem jovem e bonito – com seu cabelo molhado da trajetória da moto até o apartamento e um sorriso estúpido na cara. Então eu reparei que os trajes de Gina eram definitivamente roupas de usar em casa e longe de qualquer olhar masculino: um shorts curto e apertado, uma blusa de alcinha e duas trancinhas dando-lhe um ar de ninfeta. É, se o cara continuar sorrindo, ele vai perder um dente (Y)




- Pode ficar com o troco. - disse Gina pegando a pizza com um sorriso enorme.




- Não pode, não. - falei carrancuda.




- Er... - Gina ficou vermelha – É claro que pode, eu faço questão.




- Obrigado – falou o moço.



Eu caminhei furiosamente até a porta e sorri debochada.



- É, o cheiro está bom. Pode ficar com o troco, afinal, quem vai nos proporcionar um jantar romântico, porém moderno pra comemorar nossa volta, realmente merece. Não é mesmo, minha gata? - eu enlacei a cintura de Gina e a beijei de um modo obsceno, até mesmo para mim. Abri os olhos e dei um tchauzinho silencioso com a mão para o rapaz estupefato enquanto chutei a porta.







[Being with you is so dysfunctional
I really shouldn't miss you but I can't let you go
Oh yeah]


Estar com você é tão disfuncional


Eu realmente não devia sentir sua falta


Mas não consigo evitar


Oh yeah






- Se você queria me fazer ciúme, parabéns, conseguiu. Alias – eu tomei a pizza da mão dela – Você deveria ter um roupão ou qualquer coisa assim. - depositei a pizza na mesa e me sentei no chão, retirando um suculento pedaço transbordando queijo.




- Eu adoro quando você dá uma de ciumentinha. - ela se sentou ao meu lado, seus olhos brilhavam. - Significa que você ainda me ama o suficiente pra se importar.


- É claro que eu te amo, sua boba. - falei em uma luta com o queijo que não queria ficar nem na pizza e nem vir comigo na dentada.




Gina me observou por um minuto, então literalmente roubou o pedaço da minha mão e saiu correndo com ele pela casa.


- Cinco queijos faz mal pra saúde e engorda!




- Então você não me amaria se eu ganhasse uns quilinhos? - perguntei falsamente ofendida.




- Er... não! - ela mordeu o meu pedaço de queijo.




- Ah, é? Então me devolve essa pizza! - pulei na cama.


- Não, não, Luly! - ela ria e tentava não sujar a cama quando nós duas disputávamos o pedaço de pizza até que... a cama não suportou duas mulheres adultas numa briga por um pedaço de pizza e eu ouvi o vizinho do apartamento nos amaldiçoar pela bagunça terça-feira às onze da noite. Eu e Gina nos olhamos e percebemos que o pedaço de pizza já estava no carpete.


- É, acho que teremos que dormir no chão.




- Eu gosto de uma moda naturalista.




- ...? - A encarei com um -Q e depois ela pousou a cabeça no meu peito e nós caímos na gargalhada. -Nós somos o único casal do universo que quebra a cama disputando um pedaço de pizza!




- Se você quiser... podemos terminar de quebrá-la por outro motivo!




- :O Desavergonhada!




- Bem que você gosta (66'




- Bem que eu gosto! (66' - confirmei puxando-a para perto e esquecendo completamente da pizza, pois embora meu estômago roncasse, outra parte do meu corpo sentiu uma necessidade mais imediata.





[ … ]






- Hmm, descobri o segredo do sucesso - disse Gina de boca cheia - Não importa as calorias de seja quantos pedaços de pizza você comer, desde que esteja com fome por ter feito exercício antes.




- Vamos pôr isso num livro e ficar milionárias. E podemos pôr na capa uma foto nossa agora. Ia vender bem mais.





Ow, definitivamente ia: Duas loucas nuas e belas sentadas no chão da sala compartilhando uma pizza fria.



- Ahan e sem tarja.




- Sem tarja.




- Nós devíamos era abrir uma conta no wizardtube(q) para maiores e cobrar por vídeo.




- Gina, ninguém mais paga pra ver pornográfia na internet.






- Ninguém paga pra ver pornografia ruim na internet. - disse ela com um olhar malicioso. - Nós não precisamos de truques ruins.




- Você não precisa. - beijei seu rosto sujo de farinha – Você fica linda ao natural. Já te disse que minha vida ia ser um saco sem você?





[...]




Eu pousei o celular na mesa e o encarei pensativa. Aquela era a milésima vez que eu ligava para ela no dia e ninguém atendia. Estranho, no mínimo. Peguei o celular novamente e re-disquei os números, ninguém atendeu.




Bebê, é a Lils. Onde você está?


Vamos nos ver hoje?


Me ligue.


Te amo.





Respirei fundo e tentei não me preocupar. Peguei minha chave e meu celular e subi para a cafeteria onde eu havia marcado com Hermione e talvez Sammy viesse também. Quando cheguei, elas já estavam me esperando. Elas estavam sorrindo e conversando harmoniosamente. Como elas conseguiam um relacionamento tão calmo?




- Olá – cumprimentei – Mione, você viu a Gina?




- Boa tarde, Luly. - cumprimentou Hermione – E não, eu não vi a Gina.




- Hey Lils – disse Sammy – Vocês brigaram de novo?




Suspirei.




- Sim. Ela não atende mais meus telefonemas. Quero dizer, ainda é a mesma briga, mas acho que dessa vez ela está realmente brava.



- Você mexeu nas coisas dela. - argumentou Hermione.



- Eu precisava dar uma resposta a produtora. Ela não se decidia. Ela é extremamente atrasada.



- Mas isso significa que você não confia nela. - continuou Hermione.




- Foi exatamente o que ela disse. Garçom! O que vocês vão querer?



- Um café expresso. - respondeu Hermione.



- Tem energético? - perguntou Sammy.



- Você não vai tomar um energético a essa hora – ralhou Hermione – E ela tem razão né Lils. E vocês estão sem se falar há dois dias?



- É claro que eu vou tomar e – mas Sammy parou com o olhar mordaz que Hermione lançou a ela.



- Sim. -respondi – Um café expresso, uma Mocca e um...



- Dois cafés ¬¬' - concordou Sammy e eu vi Hermione reprimir um sorriso. Fucking yeah, como elas conseguem?



- Ela não me atende, hoje eu vou ao apartamento e vou obrigá-la a encarar os fatos.



- Vocês vão se resolver. Não se preocupe.



- Sim – suspirei – Mas enfim, vamos ao trabalho?





[...]





Eu descobri que o desprezo é dez vezes pior do que a raiva ou o ódio. Você pode suportar quem você ama te xingando, te odiando, reclamando de tudo, mas algo que te mata é o silêncio da pessoa: o desprezo.





Ela estava sentada no sofá com um livro na mão e eu sei que ela não estava prestando atenção, pois só se lembrava de virar a página de vez em quando. Eu permaneci encostada à parede encarando-a. Eu amo essa mulher, eu realmente amo, mas...







[ She's staring at me
I'm sitting wondering what she's thinking
Nobody's talking
'Cause talking just turns into screaming]


Ela está me encarando


Eu estou sentado me perguntando o que ela está pensando


Ninguém está falando


Porque falar se torna gritar






Eu não podia mais suportar: esse silêncio está mais do que me sufocando. Eu não suporto a idéia de que ela está tão magoada comigo a ponto de estar sem palavras.



- Gina... - eu disse – Por favor. Eu sei que eu te machuquei, mexi em coisas que não eram da minha conta e... Gih, nada vai justificar isso, mas por favor, eu preciso que você me perdoe.




Ela desviou os olhos do livro e me encarou, me arrepiei: eles estavam frios. Absurdamente frios.



- Gina! - exclamei vendo que ela não responderia – Por favor, não me ignora!




- Em nenhum momento você pensou que isso poderia não ter volta?



- Gina! - implorei – São só desenhos!




- NÃO SÃO SÓ DESENHOS! - ela gritou – São parte de mim! São arte! Você sabe quanto isso tira de mim e você me privou disso! Me arrancou essa magia!



- Eu já pedi desculpas!


- Desculpas não conserta o erro! Agora eles não serão terminados e você terá de arranjar outro Cartoonista!




- Eu não tenho tempo de arranjar outro Cartoonista! Os livros vão para a gráfica no fim de semana!




- Problema seu, Lorelai!



- Problema meu? Problema nosso! Alias, nós temos um contrato!



- Que se dane o contrato! Isso não é simplesmente sentar e fazer e você quebrou as pontes criador-criatura quando se intrometeu e viu os desenhos!



- Bah! Isso é frescura!



- Não é, Luly! Se você criasse algo iria entender!



- Não, eu não ia, Gina! Eu não ia não, sabe por quê? Eu não sou louca! Você é!




E nós recomeçamos a discussão. Ela gritava, eu também; ela falava de coisas do passado, eu também. O que isso significava? Que nenhuma de nós estava prestando atenção.





[And now is I'm yelling over her
She's yelling over me
All that means
Is neither of us is listening
And what's even worse
That we don't even remember
why were fighting ]


E agora eu estou gritando com ela


Ela está gritando comigo


E isso significa que nenhum de nós está ouvindo


E o que é pior


Nós nem lembramos por que estamos brigando







- Eu posso ver nos seus olhos isso tudo, Luly!




Eu de repente parei.




- Você REALMENTE está louca? Tá me acusando de que agora? Eu estou cansada das suas cobranças, ameaças e delírios, Gina. Eu faço tudo por você apenas pra te provar o quanto eu te amo e nunca é o suficiente. Você nunca acredita. Eu não posso mais com toda a sua insegurança!







[And it gets me upset,
girl when you're constantly accusing.


Askin' questions
like you've already known
We're fighting this war, baby
When both of us are losing
This ain't the way that love
is supposed to go]


E me chateia quando você está constantemente me acusando


Perguntando coisas que você já sabe


Baby, estamos travando essa guerra quando nós dois estamos perdendo


Não é assim que o amor deveria ser






- O quê? Então você está terminando comigo?



- Não! - exclamei – Quer dizer... Eu não sei, Gina. Eu não consigo mais! Você é instável demais e nós sempre encaramos isso como brincadeira e sempre foi encantador, mas as coisas estão chegando a um ponto insuportável.



- Você realmente está terminando comigo! Viu? Eu disse que você só estava procurando uma desculpa pra se livrar de mim!




- Você vê? - perguntei sorrindo tristemente – Eu estou tentando salvar a nossa relação e tudo o que você faz é me acusar de não te amar. Tudo o que você faz... é continuar batendo em um problema que estou tentando resolver. Cansei de dar murro em ponta de faca.




- Ah, é? - ela bufou, vermelha – Então você já pode ir embora! Agora.






[Baby I know sometimes
It's gonna rain...
But baby, can we make up now
'Cause I can't sleep
Through the pain
Cant sleep through the pain]


Baby, eu sei que algumas vezes vai chover


Mas baby, nós podemos resolver isso agora


Porque eu não posso dormir com a dor


Eu não consigo dormir com dor





Eu a olhei. Eu amava aquela garota, amava mesmo, mas eu não conseguia mais tanta instabilidade. Eu tinha vinte e quatro anos, ela continuava com dezesseis.


 


Gina sentou-se novamente na poltrona e encarou a janela, emburrada. Eu me encostei na parede e com um suspiro passei a contemplar o teto.




Todas os momentos voltando a minha mente, tudo... as partes boas e as ruins. Eu amava Gina, mas ela era... louca. Sei que grande parte disso é minha culpa, eu não fácil. E digamos que quando um não quer, dois não brigam.




Eu só quero um pouco de... paz.




Suspirei.




Lancei outro olhar a Gina e ela permanecia cheia de ódio, eu não tinha chances contra sua própria ira. Caminhei até a porta e suspirei novamente. Não olhei para trás, mas a ouvi correr para o quarto e bater a porta atrás de si. Desci o elevador já ascendendo um cigarro.




Maldição, eu não quero me separar dela. Não mesmo. Mas eu tenho que seguir com minha vida, eu não posso ficar presa a Gina. É, o amor realmente é uma droga.





 
[What happened to working it out?
We've falled into this place
Where you ain't backin' down
And I ain't backin' down


So what the hell do we do now?
It's all for Nothing
Fighting for nothing
Crying for Nothing
But we won't let it go for nothin'
No not for nothin'
This should be nothing to a love like what we got]


O que aconteceu com "faremos isso dar certo"?


Nós chegamos a esse ponto


Em que você não vai recuar


E eu não vou recuar


Então o que diabos fazemos agora?


É tudo por nada
Brigando por nada


Chorando por nada


Mas nós não vamos deixar pra lá por nada


Não, nada


Isso não deveria ser nada para um amor como o nosso








DUAS SEMANAS DEPOIS...




Eu me olhei no espelho e me assustei com meu novo visual. Eu sou loira natural e nunca tinha pintado o cabelo. Isso meio que significava uma certa inocência, mas essa inocência simplesmente se esvaiu assim que ela se esvaiu... eu quero dizer, a Luly loira pertence à Gina e a Lorelai Stewart não pertence mais a Gina. Ponto final.




Saí do banheiro e rumei para a última mesinha do “terraço”, de onde eu poderia observar as coisas lá embaixo, mas parei a meio caminho para pedir algo no café.




- Um croissant de chocolate e uma mocca, por favor. - pedi educadamente.






A garota do balcão prontamente me deu o croissant com um sorriso bastante largo.




- Obrigada. - disse.




- A qualquer hora, o que quiser. - ela disse com um sorriso ainda mais largo.





Eu congelei por um momento encarando-a e depois fui para o lugar que planejara. O pequeno flerte da moça fora de longe a coisa mais bizarra do dia. Depois de oito anos com Gina, eu nem considerava olhar para outra pessoa... mas aparentemente as outras pessoas ainda consideravam olhar para mim.




Mas eu não estava nem remotamente perto de estar pronta para outra relação. Eu queria Gina mais do que qualquer outra coisa, eu só era orgulhosa demais para correr atrás, especialmente sabendo o quanto ela iria me humilhar se eu tentasse.




Gina, a minha ruiva.




Se havia algo que eu odiava mais do que estar separada dela, do que não sentir seu perfume, de não ouvir sua voz, de não brincar com ela, de não abraçá-la, de não dizer a ela o quanto eu a amo, era os olhares cuidadosos, cronometrados e piedosos das pessoas ao meu redor. Nesse momento, por exemplo, Jeremy – o atendente do café da editora – trazia a Mocca que eu pedira com um sorriso cuidadoso nos lábios.





- O atendente da Floreios e Borrões acabou de enviar a coruja de confirmação... - disse ele pousando a grande xícara na minha mesa.




- Obrigada. - respondi sem desviar os olhos dos papéis.




- Luly?



- Quê? - falei dando um gole na Mocca e depois voltando aos papéis que eu tinha que assinar.



- A Senhorita LeCompt e a Senhorita Granger estão no escritório.



- Estão? - levantei os olhos da papelada e o encarei com curiosidade – Por que elas não vieram até aqui?



- Elas preferem que a senhorita desça.



- Hmm – dei um gole na Mocca – Tudo bem.



Me levantei, juntei os papéis e desci para o escritório. O que será que Hermione e Sammy queriam? Eu quero dizer, não havia nada em relação ao livro de Hermione para hoje e até onde eu sei Sammy deveria estar no Ministério.




- Olá – disse – A que devo a honra?


- Luly – murmurou Sammy – Fica calma.





Meu sorriso forçado morreu na hora.






- O que aconteceu?



- Respira, ok? - pediu Sammy.


- O quê? O que aconteceu? Vocês estão me assustando!




- Luly, a Gina está internada.



[...]





Meus olhos ardiam e estavam pesados como nunca, eu lutava para manter minha consciência, porém o receio de que algo pudesse acontecer nesse meio tempo vinha me mantendo acordada há todo esse tempo e isso significava que eu estava exausta. Eu me mantive firme todo esse tempo, mas dessa vez eu decidi me permitir apenas fechá-los por um instante, talvez um pouquinho mais...




- Lils? - ouvi sua voz fraca murmurar e rapidamente pulei da cama indo em direção a ela.




-Você precisa de algo, meu amor?




-Eu... - continuou ela com dificuldade – Estou com sede.




-Espere um minuto – disse-lhe – Vou buscar uma enfermeira.




-Não! - ela agarrou minha mão fortemente. Quero dizer, seu toque não passava de uma mão fechada em torno de meu pulso, mas para ela, isso já era uma grande coisa. - Não me deixe sozinha, por favor!




-Eu preciso chamar alguém, meu amor. - eu sussurrei – Eu volto em um segundo, prometo!




Ela engoliu em seco e mordeu o lábios, fortes lágrimas vieram aos meus olhos. Seu rosto estava absurdamente magro e pálido, os olhos fundos, o cabelo opaco e sem vida, e os lábios que ela mordiscava como fizera tão provocativamente no passado, agora estavam sem cor, rachados e ressecados. Ela assentiu com a cabeça e eu saí do aposento, segurei-me na porta e respirei fundo, eu não podia mostrar fraqueza em sua frente, eu tinha que ser forte! Caminhei até o balcão das enfermeiras o mais rápido que pude.




-Você pode checar, por favor? Ela está com sede.




A enfermeira fechou o Profeta Diário – recém saído, creio eu, pelo horário – e voltou para o quarto comigo.




-Com sede, senhorita Weasley? - perguntou ela conferindo o soro. Eu me sentei ao lado de Gina e segurei sua mão. -Hm, sua prescrição ainda é de jejum absoluto. Vou trocar o tipo do seu soro, vamos ver se a sede passa, está bem?




-Mas... - a voz rouca de Gina saiu em um sussurro quase inaudível




– Se quiser, senhorita Stewart, você pode umedecer os lábios dela com um algodão molhado, apenas isso.




A mulher saiu de volta para seu posto e eu vi os olhos de Gina se encherem de água quando ela desviou o olhar.




-Gih... não fica assim. Tenho certeza que logo liberarão água pra você.




-É óbvio que não... você não vê, Lils? Eu estou morrendo.






[She got weaker every day
As the autumn leaves flew by
Until one day she told him
"This is when I die"]



Ela ficava mais fraca a cada dia


Enquanto as folhas do outono voavam


Até que um dia ela disse:


É agora que eu morro”






-Você não está morrendo, Gina! - eu aproveitei esse momento para ir até o banheiro arranjar água e algodão. Eu sabia, no fundo eu sabia, apesar de toda a esperança, que ela estava morrendo. Aos poucos. Cada segundo era um a menos. Eu enxuguei os meus olhos e voltei para junto dela com o algodão umedecido.




- Me prometa que você não vai acabar com a sua vida por causa disso.




-Se você parar de bancar a mórbida...




-É sério. Você está enfiada nesse hospital há semanas... eu estou perto. Você tem que seguir em frente depois, Lils. Eu estou preocupada.




-Você não tem que se preocupar com nada – eu me sentei na cama e comecei a umedecer os lábios dela – Você está se recuperando, logo estará de vol...




-Shh – ela me interrompeu segurando minha mão – Não se iluda mais, meu amor. Luly – ela continuou – Eu sei que eu vou morrer. Eu não posso mais negar isso e nem você.






["What was summer like for you?"
She asked him with a smile
"What's tomorrow without you?"
He silently replied ]


Como o verão foi pra você?”


Ela perguntou com um sorriso


O que será de amanhã sem você?”


Ele silenciosamente respondeu






Era verdade, eu sabia no fundo do meu coração. Gina estava definhando... Ela era Auror – desenhava somente as capas dos livros de Hermione – e em seu último dia de trabalho, havia apreendido artefatos infectados com magia negra, ela havia tocado-os... e ninguém sabia qual era o feitiço, consequentemente ninguém sabia a cura.




- Eu não posso acreditar nisso! - eu disse com o último resquício de calma que havia em mim – O que seria de mim se você me deixasse, Gih? Nada! Você tem que ficar comigo.




-Eu sempre te carregarei comigo.







[She said


"I will always be with you
I'm the anchor of your sorrow
There's no end to what I'll do
'Cause I love you, I love you to death"]


Eu sempre estarei com você


Eu sou âncora para seu sofrimento


Não há fim para o que eu irei fazer


Pois eu te amo, te amo até a morte







- Sempre. - sussurrou ela ainda segurando a minha mão e fechando os olhos com um sorriso – Eu te amo, Lorelai. Eu sempre irei.... Me beija?




Eu suspirei e limpei minhas lágrimas, afastei o algodão dela e me inclinei para meu amor e a beijei com cuidado, porém intensamente tentando mostrar ao menos um pouco de tudo que eu sentia por ela. Eu senti as lágrimas escorrerem mesmo contra minha força e vontade e me levantei do beijo também para enxugá-las, mas Gina não abriu os olhos e sua cabeça caiu para o lado, relaxada.




-Gina! Gina! - apertei sua mão – Gina, não! Não brinca comigo, abra os olhos, Gina!





Mas a aparelhagem começara a apitar e eu sabia que ela estava indo embora, eu chamei médicos, enfermeiras, tudo que eu pude e a agarrei em meus braços, mas ao sentir seu corpo mole, relaxado, caído em meus braços, eu soube que nada mais adiantaria. Eu havia perdido meu amor, minha vida, meu tudo.






[He said


"I will always be with you
By the anchor of my sorrow
All I know, or ever knew,
Is I love you, I love you to death


What's tomorrow without you?
Is this our last goodbye?"]


Ele disse


Eu sempre estarei com você"


Ao lado da âncora do meu sofrimento


E tudo que eu sei e que sempre saberei


É que eu te amo e sempre amarei


O que será de amanhã sem você?


Esse é o nosso último adeus?







UM MÊS DEPOIS...





Eu abri a porta de casa e como sempre segurei a onda de dor, tranquei a porta e deixei minha bolsa cair na entrada. Passei os olhos pelo lugar e respirei fundo. Caminhei até o sofá e deixei as memórias antigas – repletas de risadas, aliás – tomarem conta de mim... como sempre.




Quando abri meus olhos, minha visão estava encharcada e minha cabeça já doía. Me levantei e fui até a cozinha pegar uma xícara de chá. Me direcionei para seu quarto e sentei no chão em volta das fotos e recordações dela que estavam no chão. Apanhei a primeira foto e percebi como tudo tinha mudado. Essa era de logo quando ela saiu de Hogwarts, meu cabelo ainda era loiro e o dela era longo, nós éramos crianças. Alguns anos mais tarde, o meu ficou liso e o dela curto, agora o meu era médio, preto e o dela... em decomposição.




Continuei pegando as fotos. Essa era minha rotina agora. Eu havia comprado o apartamento em que ela morava e eu o manteria intacto, nenhum móvel, nenhuma cor, nada seria alterado... ela permaneceria comigo para sempre. Após analisar as fotos mais uma vez, me deitei na cama e peguei o livro de Hermione na cabeceira. A capa era dela. Toda a arte do livro era dela. O livro havia estourado, best-seller e ela não aproveitara o dinheiro que ganhara porque estava no hospital. Em pensar que quando ela descobriu sua maldição, eu não estava ao seu lado por ter mexido no rascunho dos desenhos...




Agarrei o travesseiro e as lágrimas – as quais eu já havia tão amargamente me acostumado - vieram banhar meus sonhos. Eu sentia a falta dela, eu sentia muito, muito mesmo. Eu vivia meus dias esperando a hora de chegar em casa e ter mais um pouco dela, eu vivia meus dias esperando que o tempo passasse para que talvez eu pudesse encontrá-la, eu vivia minhas horas rezando para que à noite, em sonho, ela viesse me visitar e então pudéssemos dar mais um último beijo.





[But the sorrow went too deep
The mountain fell too steep
And the wounds would never heal
'Cause the pain of the loss
was more than he could feel]


Mas o sofrimento era muito profundo


A montanha, até à base, caiu


E as feridas nunca se curariam


Porque a dor da perda era maior do que ele podia sentir





Então meu cansaço me fez ceder e meus olhos se fecharam entre as lágrimas.


A Luly do sonho suspirou de felicidade, pois chamas vermelhas emolduravam um rosto de anjo, um anjo sorridente que vinha de encontro a morena com seus doces e rosados lábios para dar-lhe mais um último beijo, com gosto de açúcar e canela.


 


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Comentários (8)

  • DiLuaW7

    ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh eu AMEI muito lindooooooo !!!!!!!Estou sem palavras muito boa a fic triste e linda ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh OMG !!! NOSSA parabéns .....Luly/Gina amei casal vive em meu coração me conquistou  >.< 

    2013-08-05
  • DiLuaW7

    ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh eu AMEI muito lindooooooo !!!!!!!Estou sem palavras muito boa a fic triste e linda ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh OMG !!! NOSSA parabéns .....Luly/Gina amei casal vive em meu coração me conquistou  >.< 

    2013-08-05
  • DiLuaW7

    ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh eu AMEI muito lindooooooo !!!!!!!Estou sem palavras muito boa a fic triste e linda ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh OMG !!! NOSSA parabéns .....Luly/Gina amei casal vive em meu coração me conquistou  >.< 

    2013-08-05
  • randomfairytail

    Está bem. Eu não consegui. - Ah, então eu sou uma louca psicopata? Tudo bem, Lorelai Stewart, então você pode deixar essa psicopata agora mesmo porque ela NÃO se importa. Só não tente ME culpar por isso. Se você quer ir, vá!” I? Sério? Eu podia jurar que tinha visto com Y! o_o

    2011-11-28
  • randomfairytail

    "“Preciso fazer as unhas.”, foi o que concluí. Não que eu me importasse com essas frescuras, mas elas tinham que estar limpas e aparadas, é claro. Cheguei aos sessenta, o que significava que já havia se passado cinco minutos. Eu estava usando meus dedos para contar silenciosamente quanto tempo eu iria esperar antes de ir atrás dela. Eu estava encostada na porta examinando e sei que ela estava grudada ao outro lado da porta esperando que eu fizesse contato. Sim, eu sabia disso e ela sabia que eu estava só esperando. Cinco minutos. O tempo médio. O fato é que não estava disposta a deixar tudo acabar assim tão fácil dessa vez, então esperei mais um pouco antes de finalmente ceder." Estou falando sério. Quando eu passei por essas três palavras antes da vírgula na terceira frase, eu juro que eu pensei que a Gina tinha sessenta anos. Gente, não acredito que pensei nisso. Não posso acreditar... imagina uma femmeslash com duas velhinhas? Sei lá... acho que não consigo imaginar isso. Nunca parei para ler essa continuação. Para tudo tem a primeira vez mesmo ^-^ Vou continuar antes que eu comece a tagarelar.

    2011-11-28
  • Her_mione Granger

    Nossa!!! Estou chorando... e arrepiada!    Que história linda... linda mas triste... nossa!!! Acho que ainda estou zonza! Parabéns, você escreve bem demais. Pode depois me dar umas dicas, escrevi pela primeira vez na vida, e preciso de ajuda, sabe?   Beijos

    2011-08-13
  • Iza Greenleaf

    Gostei bastantee da escrita! Bem emocionante e tristee... =(

    2011-07-18
  • Rafa Sady

    Meldels, que lindo! E triste! Luly e Gina ganharam meu coração pra sempre, sério... Estou eternamente apaixonada por elas! *0* :*

    2011-03-08
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