Meu Número da Sorte: Dois.



Meu número da sorte, dois.




Dois meses. Aquelas duas palavras ressoaram em minha mente, obrigando meu cérebro a parar de funcionar e se concentrar apenas nelas; dois meses. Ecoou em minha mente, em meu corpo, em meu coração.


Dois meses, era tudo o que eu tinha, era apenas o que eu tinha. Dois meses para eu nunca mais poder vê-la todos os dias; apenas dois meses para conseguir vê-la todos os dias. Dois meses para me formar em Hogwarts, para ela se formar em Hogwarts, para nossas vidas nunca mais se cruzarem!


Eu tinha dois meses para tentar concertar a maior burrada da minha vida, para tentar fazê-la me olhar, para tentar fazê-la conversar comigo, para me amar.


Eu tinha duas opções, apenas duas! Esbocei um sorriso como há muito não fazia ao ver como minha vida conciliava com o numero dois. Há tempos eu era o segundo melhor aluno da escola; minha família teve uma segunda chance na sociedade; eu tinha apenas dois meses para escolher o que eu realmente queria; tinha apenas duas opções e em uma delas eu poderia conseguir a minha segunda chance.


Minha primeira opção era o mais certo a se fazer, deixar tudo como está, e ela ter um futuro com alguém que realmente a mereça, alguém a família dela aprove, alguém que ela possa amar sem medo de se machucar.


Minha segunda opção era a mais egoísta, ir atrás dela e fazê-la voltar comigo, mesmo sabendo que eu só a estaria fazendo mal, por não ser o príncipe perfeito que ela merecia – mas eu já não aguentava a minha tristeza, a minha depressão!


Por Mérlin, eu tinha apenas 17 anos e já estava em depressão, meio fraco por não comer e fazer intensivos treinos no quadribol, além de mal dormir à noite! Tomei minha decisão, podia ser por motivos egoístas, mas eu via que ela também sofria com o termino do nosso namoro. Eu não queria nem saber se teria de levar maldições, azarações, tapas, chutes, balaços ou o que quer que fosse que ela fizesse, eu lutaria por ela, eu lutaria pelo meu amor e minha felicidade, custasse o que fosse!


Com esse pensamento decidido eu dormi, no dia seguinte teria muitas coisas a resolver.


Eram seis e meia quando acordei, era sábado. Tomei o banho mais relaxante que já havia tomado há sete meses. Como era bom sentir a água caindo e relaxando seu corpo... saí do chuveiro e enrolei uma toalha em minha cintura, fitei-me no espelho que ia do chão ao teto. Surpreendi-me comigo mesmo. Há tempos eu não me olhava no espelho, há tempos eu havia parado de me preocupar com minha aparência. Aqueles intensivos treinos de quadribol até que valeram à pena, afinal, meus músculos havia aumentado, meu peitoral ficou ainda mais definido do que antes, meus ombros estavam largos. Tinha minhas olheiras, mas de resto estava bem, nem parecia que eu havia perdido quase cinco quilos desde o fim de outubro – só não perdi mais porque Alvo me obrigava a comer.


Arrumei-me caprichosamente, como sempre fiz até minha fase “depressão”, arrumei-me como um verdadeiro Malfoy, um príncipe negro; calça jeans, blusa social risca de giz, sapatos sociais. Com um feitiço fiz aquelas horrorosas olheiras desaparecerem, terminei de me arrumar às sete e meia. “Você parece até uma noiva quando se arruma Scorpius!” Alvo disse-me certa vez.


Saí do salão comunal da Sonserina arregaçando a manga da blusa até os cotovelos e abrindo alguns botões. Ouvi vários burburinhos por onde passava de como eu havia mudado da noite para o dia literalmente, não me dei ao luxo nem de sorrir, só havia uma única pessoa que merecia um sorriso meu: Rose.


Entrei no Salão Principal e dei graças à Merlin por eu ter conseguido me arrumar e subir antes das oito, porque não estava lotado de estudantes conversando e brincando, tinha apenas umas dez pessoas por casa ou mais, e os professores. Sentei-me num lugar que tinha uma vista para a mesa da Corvinal e calmamente fui tomando meu desjejum enquanto o movimento no salão crescia sob meus olhos atentos.


- Scorpius! – a voz de Alvo ressoou ao meu lado enquanto o dono da mesma sentava-se ao meu lado, pousei meu copo na mesa e me virei para fitá-lo – O que houve? Essa manhã eu acordei e você não estava mais lá! Achei que tinham te abduzido, já eu que sempre tenho de te acordar, afinal, você não tem vontade de fazer nada.


Alvo. Esse cara merecia algum prêmio, teve de me aturar enquanto eu estava na minha fase “down” até ontem, teve de me acordar, me ameaçar para levantar da cama e andar sem cair. Coitado, e mesmo assim não perdia o seu bom-humor, sempre fazia piadinhas para tentar me animar, ele foi o único que não desistiu de mim nesses meses, porque meus outros amigos e professores haviam desistido depois de algum tempo com a minha falta de vontade de fazer algo. Alvo não. E era por isso que eu o via como um irmão, ele cuidou de mim quando até eu mesmo havia parado de me cuidar, até eu mesmo havia desistido de mim. Nunca teria como agradecer ele, nada se compara ao que ele fez.


- Ih, olha!, a coisa ambulante loira voltou a ser a Barbie arrumada! – ele brincou, despertando-me de meus devaneios, ainda não havia respondido a ele; ri de leve.


- Bom dia para você também, Alvo! Sim, estou bem e você? Abduzido?! Alvo, pensei que seu cérebro funcionasse, francamente! E óbvio que eu estou arrumado, já me viu alguma vez na vida feio? – fui sarcástico, e o queixo dele caiu levemente, surpreso. Eu havia parado de responder as suas gracinhas ou perguntas muito complexas, respondia automaticamente algumas de suas perguntas – ele tinha de repetir pra eu prestar atenção nele.


- Você falou! – ele apontou, segurei minha língua para não caçoá-lo. – Não acredito!, você voltou! – fui pego de surpresa quando ele me abraçou, mas logo se afastou – Achei que você iria ficar naquele estado zumbi para sempre, achei que nunca mais iria ouvir uma resposta idiota, sarcástica ou irônica sua! É tão bom tê-lo de volta.


Alvo era o cara mais maluco que eu já havia conhecido, seu humor era sempre calmo, passivo. Só lembro-me de vê-lo sério em duas ocasiões: quando ele pediu Ashley Redryc em namoro e quando eu traí Rose; mas fora isso ele vivia calmo. Nunca se metia em brigas ou confusões, tinha sempre uma resposta na língua, fosse irônica ou não, tinha ideias malucas que sempre davam certo, era muito astuto e um visionário – em minha opinião ele poderia ser qualquer coisa que se sairia bem. Ele deve ter sentindo a falta do melhor amigo, já que todos planos malucos fazíamos juntos, e tínhamos as ideias mais absurdas de Hogwarts; não sei como ele me aguentou.


- É bom estar de volta, Alvo – afirmei para ele e logo olhei para a mesa da Corvinal. Devia estar com sorte depois daquela tempestade que fora a minha vida, pois Rose havia se sentado num lugar que dava para ver seu rosto perfeito. Alvo seguiu meu olhar e eu fiz um gesto de que lá fora lhe contaria o que estava acontecendo.


Levantei da mesa e andei até onde Leah estava, eu precisava que ela me desculpasse, precisava que ela realmente me perdoasse, precisava me desculpar novamente. Porque quando fiz isso há sete meses, não estava em condições de pedir nada, principalmente desculpas. No inicio ela se assustou quando me viu me aproximando dela, mas antes que ela pudesse sair segurei seu braço. Conversei em tom baixo com ela, dizendo a mais pura verdade a ela, afinal ela merecia depois de tudo que eu a havia feito. Pedi, olhando-a nos olhos, os meus mais sinceros pedidos de perdão, e quando ela aceitou não me segurei e a abracei. No começo ela ficou estática, com medo, mas eu lhe disse ao pé do ouvido, ainda abraçado a ela:


- Não se reocupe, Leah, você sabe que eu jamais tornaria a fazer aquele ato horroroso que fiz meses atrás – lhe assegurei – Você é minha amiga, por favor, não sinta medo de mim! – depois de uns segundos ela relaxou, me devolvendo o abraço.


Nos jardins expliquei ao Alvo o que de fato aconteceu comigo, desde a minha não-vontade de viver até o estalo dos dois meses. Contei-lhe também que eu pretendia lutar por Rose e que faria isso a partir de hoje. Para a minha surpresa ele respondeu:


- Finalmente! – disse-me sorrindo – Já não era sem tempo, já estava achando que você desistiria assim de minha prima, porque você sabe, ela não merece a desistência e, sim, o maior e melhor esforço de alguém.


 


Esperava pacientemente atrás de uma pilastra perto da torre de astronomia, Alvo me disse que nesse horário ela passava por esse caminho para a torre da Corvinal, o por quê? Nem Alvo sabia.


Ouvi passos e logo a avistei, perfeita. Mesmo sendo sábado, usava a blusa do colégio, só que está completamente mudada, a manga cumprida foi cortada um pouco depois do ombro, estava para fora da saia preta de pregas dela, com seus famosos All Star velho e surrado. Tinha fones no ouvido e segurava seu iPod, enquanto andava e sussurrava a letra. Seus lábios perfeitos se movimentavam suavemente enquanto ela sussurrava a letra, os olhos fechados, seus cabelos castanhos e sedosos balançavam seguindo o movimento do corpo que apenas caminhava por aquele corredor deserto – exceto por nós –, seu corpo parecia relaxado, ela aproveitava a musica gostosamente.


Eu não queria interromper essa visão: dela caminhando, seus cabelos balançando e seus lábios se movimentando suavemente; mas era necessário, era preciso. Saí detrás da pilastra e me posicionei em sua frente, parei-a antes que ela se chocasse em mim. Ela, meio atordoada por parar de repente, tirou os fones e abriu os olhos, que logo arregalaram assim que me viram e sua boca entreabriu.


- Ma-Mafoy?! – gaguejou confusa, atordoada – O que faz aqui? – ela levantou uma sobrancelha, enquanto eu tirava as mãos de seus ombros.


- O mesmo que você, eu suponho – respondi sereno, ela continuava confusa e com a sobrancelha levantada – Podemos conversar, Weasley? – fiz um esforço descomunal para falar seu sobrenome ao invés de seu nome, eu nunca havia a chamado assim, sempre foi Rose e não Weasley, assim como ela sempre me chamou de Scorpius e não de Malfoy.


- Não temos nenhum assunto a tratar, Malfoy – ela disse com a testa franzida, tê-la chamado pelo sobrenome deixou-a tão transtornada como eu fiquei quando ela disse Malfoy – Se era apenas isso, com licença. – seu tom era casual, eu poderia dizer até indiferente, e passou por mim.


Segurei se braço por reflexo, não iria deixá-la ir embora, não dessa vez, dessa vez seria diferente, eu lutaria, ela não iria escapar de mim, não deixaria minha ultima chance de ser feliz ir embora sem brigar. Por reflexo ela virou o rosto para me olhar, mas antes de nossos olhares se encontrarem ela desviou e pediu-me para soltá-la.


- Desculpe, mas antes terá de me ouvir, Weasley!


- E se eu não quiser? – desafiou-me, levantando uma sobrancelha, com minha outra mão tomei a dela.


- Terá de me ouvir – eu a afirmei seguro. Não era um pedido, ela teria que me ouvir, vendo isso ela bufou.


- Tudo bem, mandão – ela debochou – Mas não aqui e nem agora. Torre de Astronomia, quinta-feira ao pôr-do-sol! – ela disse firmemente, e, aproveitando meu momento de distração, desvencilhou seu braço de minha mão – Adeus.


Fiquei parado, feito um idiota, olhando-a ir embora.


 


Estava nervoso, suava frio, batucava os dedos no criado-mudo, olhava o relógio a cada minuto. Quinta-feira. Quatro horas. Eu não aguentava mais esperar, invejava a santa paciência de Alvo, que lia tranquilamente um livro deitado em sua cama. Argh! Levantei-me da cama, sem paciência, entrei no banho para ver se relaxava. Não funcionou. Bufei e me arrumei, não aguentava a ansiedade, finamente iria conversar com ela, dizer tudo o que eu queria!


Parei bruscamente de andar na escada da Torre. Estava tão ansioso de finalmente poder conversar com ela que nem sabia o que eu iria falar. O que eu iria falar? Não fazia nem ideia do que falar, merda, pensei. Tentei me acalmar e voltei a subir. Idiota? Eu sei, estava quase umas duas horas adiantado, mas fazer o que? Era minha única oportunidade, não poderia me dar ao luxo de me atrasar.


Estava sentado na beirada da torre, os pés para fora, balançando no ar – dava para me jogar de lá. O pôr-do-sol estava começando, esbocei um sorriso triste ao pensar que ela não viria, que eu tomei um bolo. Suspirei. Talvez eu merecesse.


Conjurei uma pena, um pergaminho, um envelope e uma rosa vermelha. Não sei o que deu em mim, comecei a escrever, escrevia rápido, porem calmo. O pôr-do-sol estava acabando e eu já havia escrito o pergaminho inteiro, estava grande, mas não me importei. Dobrei e coloquei dentro do envelope, não o enderecei. Com pesar peguei a rosa e a beijei levemente enquanto olhava o fim do pôr-do-sol, depois a coloquei em cima da carta, talvez Rose aparecesse ali, talvez não. Pra mim não fazia diferença, deixei a torre naquele instante, deixando para trás a carta e a rosa vermelha.


Virei num corredor, enquanto sentia um vulto correndo em direção a torre, não sabia quem era, não me importei. Bom, ela iria me ouvir, esse mês ainda.


Quando Alvo entrou no quarto um pouco antes do jantar, disse-me que Rose havia falado com ele, dei de ombros, não queria ouvir o motivo por ela não ter ido ao encontro, para mim já estava bom ela simplesmente não ter ido por falta de interesse.


Peguei a mania de ir naquela torre todos os dias ao pôr-do-sol, mas eu já tinha recuperado a vontade de fazer as coisas, não parecia mais aquele zumbi, agora eu tinha um motivo forte para levantar todos os dias de bom-humor: lutar por ela. Meu tempo era corrido, agora eu estudava feito um condenado, precisava tirar O em todos os NIEMs, afinal se queria namorar Rose Weasley teria de ser bom o suficiente para ela. Lia todos os tipos de livro, desde as matérias dos NIEMs até livros normais, que aumentavam minha cultura e conhecimento. Eu sabia o que eu queria ser, iria cuidar das empresas Malfoy, mas isso só depois que meu pai não estiver em condições. Até lá eu tinha dois sonhos: trabalhar no Departamento Internacional de Cooperação Mágica e virar jogador profissional de quadribol; preferia mais o Ministério.


No último sábado do mês, quando eu estava vendo o por do sol, na torre de Astronomia, ouvi passos atrás de mim. Imediatamente senti o perfume Chanel nº 5: Rose. Eu dei a ela esse perfume quando havíamos completado um ano de namoro. Virei meu rosto na direção e lá estava ela, perfeita. Parada uns poucos passo atrás de mim, o rosto impassível. Um silencio reinou entre nós por uns minutos, até que eu quebrei.


- Acho que mereci aquele bolo – comentei calmo, a vi mexer as mãos desconfortavelmente.


- Quem sabe. – falou, e eu me encostei na parede, ainda sentado no chão. A face dela estava indecifrável, logo a dela, que sempre decifrei com apenas um olhar. Suspirei. – Não te dei um bolo exatamente, apenas me atrasei – explicou-se. Levantei uma sobrancelha.


- Atrasou? – repeti – Eu vi o crepúsculo do começo ao fim e você não apareceu. Se o seu atraso for de sei lá, dias, aí eu entendo. – eu disse, sem sarcasmos nenhum. Ela franziu a testa.


- Eu vim aqui aquele dia. – ela afirmou, segura – Me atrasei, admito, cheguei aqui alguns minutos depois do crepúsculo acabar. Mas eu vim, e você não estava aqui. – ela acusou – A única coisa que achei foi uma carta com a sua letra e uma Rosa vermelha! – disse por fim e estendeu a carta em minha direção.


A minha carta, a carta que eu expressei tudo o que eu sentia, tudo o que fiz ao lado dela, como me sentia, e a causa da minha traição. Expliquei exatamente tudo a ela, meus sentimentos, meus medos, minhas decisões, meus receios, meus pensamentos. Tudo.


- A car-carta – gaguejei, desconhecendo a razão. Quando deixei a carta nunca pensei que nos encontraríamos para falar cara-a-cara sobre – Leu? – o tom foi carinhoso, apesar de estar com medo de sua reação à carta.


Levantei-me e dei alguns passos em sua direção, ela continuou parada mas assentiu em resposta. Meu coração saltou, não sabia o que esperar. Temia minha rejeição. Ela abriu a carta e começou a ler:


“Querida Rose,


Sei que não quer mais me ver, senão viria aqui no nosso ‘encontro’ hoje. Chateado? Sim, profundamente, porém já esperava que você não viesse, afinal o que eu fiz com você não tem perdão.”


A voz dela falhou um pouco na última parte, mas ela fingiu que não, porém antes dela continuar eu peguei a carta e continuei a ler:


“Expresso aqui tudo o que eu senti enquanto estive ao seu lado, posso dizer que essa com certeza foi a época mais feliz de minha vida. Te observo desde aquela nossa primeira conversa no terceiro ano, desde aqueles breves minutos, não paro de pensar em você, seu sorriso doce, seus olhos fáceis de ler, seu rosto meigo, seus cabelos sedosos e seu jeito adorável. Impossível esquecer de você, nem por um minuto sequer. Minha vida se voltou apenas para você.


Meus anos longe de você foram dolorosos. Eu pensava em você, mas não podia, me reprimia a todo instante; namorei outras, dormi com outras, apenas para te esquecer. Infantil? Criancice? Eu sei, fui mesmo, mas o que posso fazer? Eu simplesmente não podia ter alguma coisa por você, nossas famílias não permitiriam. Você era a prima do meu melhor amigo, e era para ser assim, mas não foi. Quando tentei te esquecer, piorei tudo, porque meus pensamentos sobre você se intensificaram, comparava as outras com você, comparava tudo. Eu desconhecia o amor, até lhe conhecer. E mesmo não estando contigo, você me mudou, meu jeito de pensar e de agir.


Arrependo-me de muitas coisas, de não ter tido coragem para namorar você antes, de não ter assumido publicamente, mas o que mais me arrependo é de nunca ter falado ‘Eu te amo Rose Weasley’ para você, porque eu te amo e agora sofro por você nunca ter ouvido isso de minha boca. Fiz o que fiz, não há desculpas, muito menos perdão. Eu lhe traí. Confesso, não estava em meu melhor estado, estava mais bêbado do que cachaceiro em buteco. Estava morto de ciúmes, com um pouco de raiva de você por brigar comigo, e com muita raiva de mim. Confesso que isso não são desculpas pelo que fiz, só espero que você entenda.


Aquele havia sido um mal dia, havia levado duas detenções por culpa de Johnnatan Splayts, o mesmo que flertou com você e você negou veementemente – mas eu vi, mesmo você que não ache, eu via os olhares que ele te lançava. Ele sempre gostava de tentar me humilhar, dizendo que era melhor que eu, um filho bom, que todos gostavam dele, que ele não era um filhote de comensal, quando o vi te flertando, não aguentei. E depois você o defendeu, aquilo subiu minha cabeça. Enquanto virava copos e mais copos de Whisky de fogo, eu pensava que talvez você o tivesse defendido por gostar dele, então ele estaria certo, ele era melhor que eu, e ele roubaria você de mim, pensava desolado. Bebi ainda mais com medo de te perder.


Perdi do mesmo jeito. Sofri. Sofri ao te ver sofrer. Sofri por esses sete meses, não me permiti nem dar um sorriso, porque se eu te fiz sofrer, eu merecia sofrer também. Por sete meses eu vivi feito um zumbi, não tinha vontade de viver, porque minha vida era voltada pra você, e você era minha vontade de viver. Eu não tinha você, não tinha nada, porque eu só penso em você, sem poder te ter. Até eu ter um estalo, percebi que só restava dois meses para sairmos da escola, apenas dois meses para te ver, apenas dois meses para nossas vidas tomarem rumos diferentes. Dois meses para eu perder minha felicidade, perder a mulher que eu amo. Resolvi ‘voltar’ a vida, pra tentar te reconquistar.


Porque eu te amo, mesmo você não querendo.


Do sempre seu, Malfoy.”


Terminei de ler e a olhei, ela estava impassível, eu com medo, a cabeça baixa. Seria rejeitado, sabia. Ela deve ter sofrido muito mais, ela não deve me amar, deve me odiar, porque eu mesmo me odeio. Olhei-a, o silencio tomou conta novamente.


- O que exatamente pretende com isso? – ela me perguntou com voz dura, estava séria. Estendi a carta para ela, que a pegou rapidamente.


- Nesta carta – apontei – Eu contei tudo o que senti e vivi, com você, antes, quando e depois do namoro. Apenas queria que soubesse a verdade – passei a mão na nuca e suspirei – Já que nada consegui dizer quando você me xingou.


- Se era apenas isso, Malfoy, vou indo. – disse virou as costas, mas percebi, a mão estava agarrada a carta, como se quisesse que a carta nunca saísse de suas mãos.


- Espere! – chamei-a, e agarrei seu braço, de novo, ela se virou.


- Não temos mais assuntos a tratar, Malfoy – ela disse áspera – Nem nunca tivemos, eu apenas doei o meu tempo aquela quinta-feira para te encontrar, só isso. Agora com licença – disse soltando o braço e desaparecendo de novo de minha vista.


Suspirei e voltei à beirada da torre, pensando em como eu havia esquecido que a minha Rose era temperamental, o humor dela era mais frio do que um iceberg com quem ela não gostava, que não dava o braço a torcer e que era mais difícil do que congelar o inferno fazer ela acreditar numa coisa que ela não acreditava.


Suspirei – estava suspirando muito ultimamente – e olhei para o lago negro, já era de noite, os jardins estavam desertos, não ventava muito e nem fazia frio, pela época em que nos encontrávamos; fim de maio. Olhei mais atentamente para os jardins e vi, a principio, um vulto caminhando em direção ao lago, apertei um pouco minha vista e identifiquei o vulto, era uma menina, estatura mediana com cabelos castanhos. Quando apertei mais minha vista percebi que as roupas que a menina usava eram iguais as de... Rose!


Arregalei os olhos, o que diabos aquela doida iria fazer? Vi Rose tirar os sapatos e as meias, foi para a beira do lago e quando ela fez menção de pular no lago, eu me afastei um pouco, quando voltei a olhar a água se mexia, ela havia pulado! Contei até 10 segundos e ela não voltou à superfície, meu coração falhou, e eu saía correndo da torre de Astronomia. Corria, tropeçava e esbarrava em algumas poucas pessoas que não estavam jantando pelos corredores.


Cheguei perto do lago e nem sinal de que ela havia ido à superfície, e enquanto corria desesperado para o lago, desabotoava minha blusa. Eu não poderia ter demorado muito, não simplesmente não podia tê-la perdido pra sempre, senti medo. Tirei rapidamente os sapatos e a blusa e mergulhei no lago, nadei e nadei, até que a encontrei um pouco ao fundo, segurava um dos pés e prendia o ar. Nadei até ela e a peguei, com um pouco de dificuldade por ela estar segurando um dos pés. Cheguei à superfície, ambos ofegantes, ela tossia um pouco de água.


- Está bem? – perguntei menos ofegante, ela não respondeu, apenas assentiu.


Estávamos meio longe da borda, tínhamos que ficar boiando ali, o que era difícil para Rose, que não soltava o pé. Passei meus braços por ela, a segurando contra meu corpo.


- O que seu pé tem? – perguntei, nossos rostos meio próximos.


- Cãibra. – informou. O que eu sabia sobre cãibras?


- Respira, calma – tentei tranquilizá-la – Vamos lá, me de o seu pé com cãibra – ela se negou, rolei os olhos – Confie em mim, pelo menos agora, ok? – disse e sem esperar resposta peguei seu pé delicadamente e coloquei-o para cima, fora da água, Rose se desajeitou, mas logo se ajeitou em meus braços – segure ele assim, o pé tem que ficar elevado.


Ela fez o que eu pedi, com minha mão, que outrora segurava seu pé, peguei minha varinha e conjurei uma compressa quente, coloquei a compressa em seu e voltei a segurá-lo. Era tão bom tocá-la de novo, ah, eu nunca havia me esquecido de como a pele dela era macia e quente.


- Relaxe. – disse e ela o fez, relaxou em meus braços, depois de uns minutos perguntei – Está passando? – ela assentiu e com pesar percebi que ela não queria falar comigo, mas eu não desistiria – Por que veio ao lago? Queria se afogar? – sabia que a deixaria irritada.


- Não que seja de sua conta, mas eu vim aqui para me refrescar. E, não idiota, eu não queria me afogar. – respondeu irritada, previsível.


- Ah sim – comentei – Mas veja só, mesmo você não querendo, quase se afogou. – eu apontei divertido – Só não se afogou porque eu te salvei – ela fechou a cara.


- Salvou porque quis – ela respondeu birrenta, ri de leve, a deixando mais irritada.


- Ah, claro, você queria que eu te deixasse morrer – disse ficando sério – Eu nunca deixaria você morrer, Rose, não se eu pudesse impedir.


- Não preciso de sua ajuda – ela sussurrou.


- Eu não disse que te ajudaria – estreitei meus olhos em sua direção, diminuindo a distancia entre os nossos rostos – Disse que não te deixarei morrer se pudesse impedir. Isso não é ajuda, é o que eu faria por ser a minha vontade, e não por obrigação de te ajudar. – parei e nossos olhares se cruzaram, ninguém ousou desviar. – Ouça, mesmo que você negue e não concorde, eu só quero o seu bem, que você seja feliz. Com quem quiser, não me importo, apenas viva, pra mim já o suficiente.


- Não diga asneiras. – ela sussurrou, embora desse para ver que ela queria acreditar em mim.


- Não estou dizendo, estaria dizendo uma asneira se eu falasse que não te amo. – disse olhando-a – Estou dizendo a verdade, se você apenas continuar viva, para mim está ótimo, porque se você morrer, eu não terei mais motivos para viver. – o silencio recaiu sobre nós, mas não ousamos desviar o olhar.


Larguei o pé dela, que afundou juntamente com a compressa, passei meu braço pela sua cintura, e com a outra mão fui subindo seu rosto, passando levemente o polegar pela sua bochecha.


- Você não sabe o susto que eu levei quando te vi pular no lago e não voltar – sussurrei aproximando meu rosto do dela – Pensei que nunca mais iria vê-la sorrindo – disse com os olhos vermelhos – Cheguei aqui e achei que demorei muito, que eu havia te perdido para sempre. – segurei o rosto dela – Nunca tive tanto medo na vida. – confessei.


Apertei meu braço em sua cintura, a trazendo para mais perto, colando nossos corpos. Aproximei mais meu rosto, os narizes se tocando. Beijei sua testa, desci e beijei seu queixo, depois suas bochechas, os olhos – que ela havia fechado assim que sentiu meus lábios em si. Por fim selei meus lábios aos seus, num beijo casto. Encostei nossas testas e afastei minimamente meus lábios dos seus.


- Eu te amo, Rose Weasley – disse abrindo os olhos, que nem havia percebido que os tinha fechado, para ver sua ração. Ela abriu os olhos lentamente, talvez acreditando ter sonhado, porém eu estava lá, sério como nunca, e feliz, dizendo aquelas palavras.


- Eu... – ela pausou e mordeu o lábio inferior, me torturando – Também te amo, Scorpius Malfoy. – lágrimas, que eu segurei desde a lembrança de talvez tê-la perdido para sempre, rolaram livremente pela minha face, enquanto eu abria o maior sorriso que já havia dado, fazendo-a sorrir também.


- Repete? – pedi, ainda sorrindo, ela sorriu divertida.


- Eu te amo, Scorpius Malfoy. – ela disse. Peguei sua mão e a segurei, nadando com ela até a parte rasa do lago. Nos coloquei de pé e, sem deixá-la falar, a beijei.


Envolvi meus braços em sua cintura, colando seu corpo ao meu, senti os braços dela envolverem meu pescoço, eu aprofundei o beijo. Era tão bom sentir o gosto dela novamente, nossas línguas se mexiam em perfeita sincronia, eram velhas amigas, a boca dela se encaixava perfeitamente na minha. Ela era minha, eu tinha certeza, ela voltaria para mim. Aquele beijo, ah, como eu senti falta dele, de sua língua explorando minha boca, das mãos delas despenteando meu cabelo, de suas unhas arranhando minhas costas, de seu corpo colado ao meu, de seu calor, de sua pele, de seu cheiro. Eu senti tanta falta de Rose Weasley junto a mim.


Mas agora sentia falta de ar em meus pulmões.


Mordi seu lábio inferior antes do beijo acabar. Eu queria que aquele momento nunca acabasse, mas infelizmente eu necessitava de ar para viver, assim como eu necessitava de Rose para tal. Nos separamos ofegantes, as testas juntas, recuperando o mesmo ar, os olhos fechados. Abri os olhos devagar, Rose também abria os olhos devagar, como se quisesse que aquele momento durasse eternamente. Nossos olhares se encontraram, cinza e castanho. Ficamos assim por um tempo, pensamentos e mais pensamentos passavam pela cabeça dela.


- Promete? – ela perguntou de repente, olhei-a confuso.


- O que?


- Prometa-me que se eu aceitar você de volta, você nunca mais vai me trair! – ela esclareceu, em seu olhar eu notava o medo, tudo por minha culpa.


- Prometo, prometo que se você me aceitar de volta, nunca mais irei beber, prometo que lhe farei a mulher mais feliz do mundo, prometo que nunca mais lhe trairei, prometo que nunca mais lhe farei sofrer – não por minha culpa, prometo controlar meu ciúme, prometo te amar eternamente, prometo assumir nosso namoro, enfrentar tudo e todos e te lembrar todos os dias que só com você eu sou feliz – lágrimas caiam pelo delicado rosto de Rose – Me aceita de volta como seu namorado, meu amor?


- E como não poderia? – ela respondeu sorrindo e nos beijamos mais uma vez, interrompi o beijo.


- Dar-me-ia a honra de tê-la como meu par no baile de formatura? – perguntei formalmente, me curvando em sua direção.


- Sim, meu príncipe negro. – ela disse sorrindo.


Mais feliz do que isso? Impossível, apenas quando nos casarmos e tivermos nossos filhos. Porque minha vida sem o meu numero da sorte, dois, não teria graça; porque sem Rose Weasley eu não viveria, sem ela eu seria um homem vivo por fora e morto por dentro, com o coração estava destruído.


E às vezes temos que ter um estalo para nos reerguermos, porque senão seríamos fracos se ficássemos no chão. Eu me reergui, para ter Rose de volta. Agora eu poderia até ser deserdado pelo meu pai, mas eu nunca abriria a mão da minha Rose, por nada. Nada se compara ao que ela é para mim, para a minha vida.



______________________________________________

N/B:Weeeeee\õ/ Primeira N/B de minha pessoa!\õ/


Leeh,prima do meu coração,foi tão bom betar isso!*-*Voce não tem idéia!Sério,chorei!*O* Muito lindo o Scorp reconquistando a Rose,oin!*-*


Tipo,voce podia fazer a cont. da cont.*---------*Juro que não ia reclamar!xD


Bjooooooos,amiga!E espero sempre betar essas suas fics maravilhosas!  Beijão da sua prima,Kell,Rachel,Kellzitah,ou como quiserem me chamar=****

(A Ciça, q leu antes de todo mundo, corrigiu umas coisas pra mim antes!)

N/A: Oi gente,
Depois da maioria das pessoas pedirem a continuação da Fic, eu escrevi, maas tava com preguiça de postar antes xD  Mas em comemoração à minha amiga Larissa voltar, pq ela sumiu, ontem eu resolvi q era um bom presente de bem-vinda de volta! Espero que vocês q pediram gostem (Viu Ciça, postei :P) Ahhh e comentem ;D

Beijokkasss


Leeh

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Comentários (2)

  • Nikki W. Malfoy

    amei do começo ao fim...

    2012-05-08
  • Luana de Ameida.

    Lindoo!!! Cara, você tem o meu respeito. Gente acho que eue tô apaixonada pelo "Princípe Negro". aaah. Muito bom, bjss***

    2011-11-27
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