Depois que Hermione fora embora, ele não parou sequer um minuto de pensar no delicado toque da menina. Estava irritado pelo que sentira. Pelo modo como ela ousou tocar-lhe o queixo. Mas afinal... Ela não tivera culpa alguma. Tocou-o como tocaria qualquer outro enfermo. Ele era o real culpado. Não sabia explicar a imponderável resposta que seu organismo dera àquele ato.

Enfim, resolveu esquecer tudo o que ocorrera. Tentou relaxar e encontrar uma posição agradável, mas já estava cheio daquela cama hospitalar. Queria poder sair dali... Caminhar à vontade... Mas ainda não se recuperara de sua cirurgia e suas pernas e braços exibiam milhares de pontos.

Enquanto isso... No dormitório das enfermeiras, Hermione não parava de pensar nele. Estava tristonha, cabisbaixa. Severo não imaginava o mal que lhe fazia a cada palavra que pronunciava. Agora que estavam sós, a dor parecia invadir-lhe mais fundo o peito. Era horrivelmente doloroso se preocupar com alguém que não lhe dava o mínimo respeito. Severo a tratava como um legítimo bicho, e isso ela não perdoava. Já estava acostumada com tal tratamento, mas mesmo assim, nada explicava tamanha grosseria com uma mulher.

Tamanha era sua tristeza, que mal reparara na mudança de atitude de Snape na ala hospitalar. Talvez, se a tivesse visto, não estaria tão deprimida, mas seus olhos vermelhos denunciavam a depressão que começava a lhe torturar. E não estava assim apenas por Snape.

Durante a guerra, Hermione perdera as pessoas mais especiais de sua vida. As únicas que amavam-na e se preocupavam com ela: Harry, Rony, sua mãe, seu pai... Todos os Weasley e grande parte dos colegas de Hogwarts haviam partido.

Cansada, Hermione despiu o traje de enfermeira e colocou sua camisola branca para dormir. Apagou os abajures e se deitou. Logo estava adormecida em seu leito.

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Uma dor começava a envolver seu estômago. Estava mergulhado num sono profundo. Um pesadelo, na verdade. Aquela dor... Agora envolvia-lhe o corpo todo. Desde a barriga até o último fio de cabelo.

De súbito... Ele acordou. A agonia que perpassava pelas mais profundas entranhas, cessou. Mas a dor no estômago era real. Snape precisava ir até o banheiro.

- Não faça absolutamente nada sem o auxílio de sua enfermeira! - lembrou-se das palavras determinadas do doutor.

O que faria ele agora? Ah... Não poderia acontecer algo tão ruim se ele desobedecesse os médicos...

Hesitou. Olhou para cima. A luzinha verde em formato de menininha incitava-o a chamar a enfermeira. Mas seu orgulho era mais forte. Mal podia pensar no quão humilhante seria depender de Hermione para ir ao banheiro. Castigar-se-ia a vida inteira se fosse obrigado a isso. De jeito algum! Ele podia ir até o banheiro sozinho. A barriga doeu mais forte... Não havia mais tempo... Ele precisava se levantar imediatamente.

Então, determinado, destapou-se. Com muito cuidado, levou a perna direita ao chão. A outra foi com facilidade. Levantou-se e deu o primeiro passo. Quase caiu no chão! Há dias não fazia sequer um movimento. E a perna ferida doía ardilosamente. Mais uma pontada no estômago. Snape apressou o passo, quando sentiu algo puxar seu braço.

Olhou para trás e lembrou-se do soro. Essa não... Apoiou-se nele e o carregou com sofrimento até o banheiro. Sentia o sangue esquentar sob os pontos da perna. Ela pulsava furiosamente, agora.

Severo abriu a tampa do vaso...

Sentou-se.

Em alguns minutos fazia força para se levantar.
Enfim, conseguiu.
Começou a andar lentamente até a cama. Agora estava tudo certo... Estava quase chegando na cama... Quando de repente... A perna direita falhou e o soro deslizou de suas mãos. Sem apoio, lamentavelmente, Severo caiu no chão, esmagando a perna em recuperação.