Rua dos Alfeneiros



Capítulo Um - Rua dos Alfeneiros
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A Rua dos Alfeneiros sempre fora um lugar para qual Harry nunca quisera voltar depois de sua estadia em Hogwarts, no entanto naquele momento, mesmo com o sentimento de repulsa por sua mísera vida com a família Dursley pulsando em suas veias, o fato de aquela casa jazer o feitiço protetor de sua mãe lhe causava um certo conforto. Era sempre bom não precisar se preocupar com Voldemort por alguns instantes.
A noite estava fria o bastante para fazer seus dentes trincarem, de modo que ele logo começou a atravessar a rua mal iluminada com o objetivo de chegar à residência nº 4, onde provavelmente encontraria abrigo, mas não um amor fraternal, que era o que realmente necessitava. Sua mala de rodinhas se arrastava pelo paralelepípedo produzindo um zunido agonizante. Ele perpassava por uma porção de casas cujas luzes acesas e o cheiro de comida no forno indicavam que uma família feliz e normal residia em cada uma delas. Aquelas eram sensações das quais Harry nunca provara na vida, mas que o desejo insaciável de possuí-las ainda insidia em seu coração.
Quando se aproximou da residência de seus tios, logo percebeu a escuridão que lá dentro se pronunciava, além do fato de o carro não estar na garagem. Harry deu algumas batidas na porta só para certificar-se de que a casa estava vazia e assim que sua mão entrou em contato com a maçaneta, rapidamente notou que a mesma estava muito empoeirada. Ele retirou a capa de invisibilidade da mala e pousou-a sobre si no intuito de se proteger de qualquer eventualidade, afinal, enquanto muitos davam suas vidas para mantê-lo vivo, outros faziam de tudo para tê-lo como morto.
Agora mais do que nunca, Harry se sentia sem rumo. A grande maioria de seus passos até aquele ponto da vida haviam sido introduzidos e guiados por Dumbledore, porém as coisas haviam mudado tragicamente e agora seu grande tutor lhe havia deixado e rumado para um lugar ao qual se sentia destinado a ir se Voldemort continuasse conseguindo mais e mais poder. O cerco estava se fechando e apesar de ele saber que sua missão era procurar e destruir as horcruxes de Você-Sabe-Quem, Harry não via como isso poderia proteger aqueles que realmente importavam em sua vida. Todos eles estavam em perigo eminente o tempo todo.


A viagem de busca das horcruxes já estava pré-determinada para o início do sétimo ano em Hogwarts, só faltava decidir alguns detalhes com Rony e Hermione, os quais haviam decidido (por mais que ele não quisesse) acompanhá-lo. Dumbledore sempre dizia que acabar com as horcruxes era imprescindível para tornar Voldemort vulnerável e assim liquidá-lo de uma vez por todas. Só com o fim do Lorde das Trevas o mundo estaria seguro novamente, e era isso o que Harry mais desejava. Além do risco da companhia de Rony e Hermione à caçada, haviam outras pessoas que Harry estava deixando para trás, e isso incluía especialmente Gina. Ele ainda se lamentava por ter terminado com ela na noite passada, mas pelo menos tinha o consolo de que isso a salvaria de um destino pior do que o dele próprio, pois Harry, acima de todos, tinha conhecimento de que Voldemort usufruiria de todo o seu poder para chegar a ele e isso significava a morte e tortura das pessoas mais ligadas à sua vida. Pelo menos o confortava a ideia de que o Lorde não soubesse da existência de Gina e isso definitivamente deveria continuar assim.
Ele colocou a mão no bolso do jeans para certificar-se de que a varinha estava ali. Sua mão apalpou um pedaço de madeira fina, maleável e com 28 centímetros de comprimento que era a varinha de Galho de Azevinho com uma pena de cauda de Fênix. Ele começou a se lembrar das muitas vezes em que salvara a vida com a ajuda indispensável dela, até se lembrou de Olivaras retirando-a de seu estoque e entregando-a a ele. Mal sabia que fora a partir daquele momento que ele e sua varinha ficaram entrelaçados em um vínculo fortíssimo e quase impenetrável e agora, depois de eles terem passado por tantas situações complicadas juntos, essa ligação estava mais presente do que nunca. Em grande parte desses momentos difíceis, só existia Harry, sua varinha e a força do mal querendo derrotá-los. Eles sempre estiveram com a morte à espreita, esperando para abocanhá-los para o fim da vida e para a vitória das trevas.
Seus olhos percorreram as extremidades escuras existentes nos jardins bem aparados das casas do bairro. De repente, a cena de um lobo negro e furioso saindo por de trás de um arbusto antes de o Noitibus chegar inundou seus pensamentos. Já faziam uns quase quatro anos desde que aquilo acontecera, porém a imagem ainda era muito nítida em sua mente. Ele sentia tanta falta de Sirius que conseguia até imaginar o mesmo lobo negro aparecendo em sua frente e se transformando na forma humana de seu padrinho para lhe dar um abraço apertado.
Harry continuou vigiando toda a área em que se encontrava, até que seu olhar parou no quintal de uma casa azul na frente de onde ele estava. Na grama havia algumas esculturas de pequenos gnomos coloridos que, para sua surpresa, abriram os olhos e começaram a fitá-lo, causando-lhe um pequeno susto. Ele ficou imaginando o que gnomos de jardim mágicos estariam fazendo no mundo dos Trouxas, mas então se lembrou de quem de fato morava na casa azul. Aqueles gnomos pertenciam a Arabella Figg, uma adorável senhora que o ajudara na noite em que ele e Duda foram atacados por dementadores. Ela era uma bruxa abortada e morava ali a mando de Dumbledore para vigiar os Dursley e Harry. O garoto se perguntou se a bruxa ainda residiria ali, afinal, Dumbledore se fora para sempre, o que significava que ela não precisava mais prestar serviços a ele.
Harry começou a caminhar em direção a casa, porém não provinha nenhuma luz das janelas e a porta da cerca estava aparentemente trancada. Ao contrário da maioria das residências daquela região, o quintal da senhora Figg estava bem mal cuidado, o que só reforçava a ideia de que não havia ninguém ali. Mesmo assim, ele pulou a cerca e continuou entrando na propriedade, até que chegou à entrada da casa e bateu na porta. Ninguém atendeu, mas Harry percebeu que a fechadura não estava trancada, resolvendo entrar logo em seguida. Ele ficou observando o estado deplorável em que se encontrava a casa: tudo estava quebrado, empoeirado e sujo. Decididamente ninguém residia ali. Deu mais um passo cauteloso em direção à sala, mas parou quando notou um pequeno murmúrio acompanhado de uma sombra vindo de trás do sofá arrebentado.
- Eu estava esperando por você. – disse uma voz grossa, porém trêmula, e que com certeza não pertencia à bondosa senhora que Harry procurava.


Aquela voz ecoou pela sala criando um ambiente ameaçador. Harry sentiu um frio na espinha e logo seu coração começou a bater aceleradamente. Seu olhar se fixou na sombra atrás do sofá, só esperando que a figura pérfida de Rabicho aparecesse. Aquela voz grossa e trêmula era do traidor de seus pais, ele não tinha dúvida disso. Mas porque ele estava ali? Será que estava mais forte e habilidoso? Voldemort deveria ter dado mais poder a ele. Harry tentou se focar, pois agora pouco importava as habilidades de Rabicho. O que estava em jogo era a sua sobrevivência, pois se fosse capturado, iria direto para as mãos do Lorde das Trevas, direto para as mãos frias e dolorosas da morte. Pensou um pouco e viu que havia duas alternativas: poderia correr em direção à casa dos Dursley para ser protegido pelo feitiço de sua mãe ou poderia travar um duelo com Rabicho. A ideia de tirar a vida insignificante daquele monstro não lhe causava repulsa alguma e lhe parecia até sensata, afinal, seus pais estavam mortos devido à infidelidade da criatura a sua frente. Além disso, Harry não era de fugir de seu destino. Ele nunca fizera isso e não seria naquele momento que as coisas iriam mudar. Respirou fundo e, com uma dignidade trêmula, perguntou:
- Onde está a senhora Figg? – Ele tentara ao máximo manter sua voz estável, porém era difícil tentar mostrar-se corajoso quando os próximos acontecimentos eram praticamente decisivos ao que dizia respeito à vida ou a morte.
- Creio que você esteja falando daquela senhora que eu encontrei aqui há alguns dias... – refletiu Rabicho enquanto aos poucos, ia se levantando por de trás do sofá e mostrando a criatura asquerosa que era.
- O que você fez com ela? – perguntou Harry enfurecido. A ideia de que outra pessoa inocente morrera por sua causa lhe causava desprezo, no entanto era difícil escapar da realidade dos fatos: a chance de Arabella Figg ainda respirar era mínima.
- Você quer vê-la? – A voz de Rabicho não lhe parecia muito sugestiva.
- Ela está viva? – voltou a questionar Harry, dessa vez mostrando um pouco mais de expectativa em sua voz.
- Você quer saber se Arabella Figg está viva? – retrucou Rabicho olhando interrogativamente para ele. Seus olhos negros e hostis emanavam malícia, deixando o menino confuso em relação ao seu próximo ato. – Creio que isso dependa do ponto de vista.
No instante seguinte, um cadáver pútrido foi arremessado para cima de Harry, que se esgueirou e caiu violentamente no chão. O assoalho de madeira sujo amorteceu um pouco a queda, mas não o bastante para que a dor não fizesse o menino urrar. Ao seu lado, o corpo sem vida da senhora que antes residia na casa estava pálido e gélido. Harry tentou se levantar, porém seu tornozelo parecia pegar fogo, talvez estivesse fraturado.
- Está com dor Harry? – perguntou Rabicho fitando a expressão dolorosa do menino. Seus lábios estavam alinhados em um sorriso torto, deixando amostra os poucos dentes que ainda lhe restavam. – Vá se acostumando, pois isso não é nada comparada a dor que o Lorde das Trevas proporcionará a você.
As palavras eram cruéis, porém verdadeiras. Era hora de Harry tomar alguma atitude se não quisesse ser morto, e foi com essa ideia fixa na cabeça que sacou sua varinha.- Expeliarmos – O feitiço quase atingira Rabicho.
- Você quer duelar comigo garoto estúpido? – zombou ele se aproximando.
- Estupefaça – O jato de luz vermelha proveio da varinha de Harry em questão de milésimos e logo atingiu Rabicho, o qual foi derrubado para cima da mesa de jantar. Harry não iria esperá-lo se levantar para salvar sua vida, de modo que, com muito esforço, se apoiou em uma estante de vidro e ficou de pé. Seu tornozelo começou a doer novamente, só que muito mais intensamente. Tentou cambalear até a porta de saída, porém ouviu Rabicho se levantar e conjurar um feitiço em sua direção, de modo que teve de se abaixar para não ser atingindo, e como conseqüência disso, acabou caindo no chão novamente.
- Achou que iria se livrar tão fácil assim de mim? – perguntou Rabicho raivoso. Harry nunca havia visto a fúria nos olhos daquele ser desprezível, porém naquele momento percebeu que Voldemort conseguira influenciá-lo o suficiente para que ele não tivesse mais medo de torturar e matar. – Acho que o Lorde das Trevas não se importará se eu machucar um pouco o seu menino tão precioso... Afinal, ele ainda terá muito tempo para acabar de vez com Harry Potter.
Rabicho apontou a varinha para a testa de Harry, de modo que a mesma quase roçasse na cicatriz. O menino por sua vez, tentou desarmar o inimigo, porém sua tentativa foi em vão, pois ele arrancou a varinha de sua mão com um movimento rápido e quase imperceptível.
- O Lorde das Trevas ficará muito satisfeito com seu fiel seguidor... – continuou a murmurar consigo mesmo. Harry tentou golpeá-lo com as mãos, mas não obteve sucesso. Naquele momento, um estampido invadiu a sala e ele foi arremessado para longe e acabou batendo a cabeça na mesa de jantar onde antes Rabicho havia caído. A dor que ele esperava começou a invadir seu corpo, porém não era a dor alucinante da maldição Cruciatus, mas sim uma espécie de inchaço na cabeça. Sua visão começou a ficar turva e os sentidos um pouco fracos. Sangue escorria por sua cabeça e pingava no assoalho sujo. Harry queria saber o que estava acontecendo a sua frente, mas não tinha forças para se manter acordado. Muitos barulhos se estendiam pela sala, barulhos de feitiços se chocando e da casa desmoronando. Parecia que aquilo nunca iria acabar, mas foi aí que ele ouviu um estouro e depois tudo ficou mais silencioso. Passos rápidos vieram em sua direção e uma voz masculina e reconfortante disse:
- Harry, – chamou em tom de preocupação – está tudo bem? Coma isso, vai se sentir melhor. Não se preocupe mais com Rabicho. – Só que o menino não conseguiu se manter acordado e acabou desmaiando antes mesmo de poder ingerir o chocolate que Remo Lupin lhe oferecera como medicamento.

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