A Leitura



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A Leitura






Não te amo mais


Estarei mentindo dizendo que


Ainda te quero como sempre quis


Tenho certeza que


Nada foi em vão


Sinto dentro de mim que


Você não significa nada


Não poderia dizer mais que


Alimento um grande amor


Sinto cada vez mais que


Já te esqueci!


E jamais usarei a frase


Eu te amo!


Sinto, mas tenho que dizer a verdade


É tarde demais...


 


Ass: Não preciso dizer um nome que você precisa esquecer.


 


 


***


 


Hermione já não tinha mais lágrimas para derramar. Era a sexta vez que lia a carta e ainda não acreditava em seu conteúdo. Era demasiado doloroso.


 


- MALDITO!!! – gritou para as paredes novamente, sua única companhia naquele quarto escuro e frio. – DESGRAÇADO!!! – a voz rouca insistia em sair.


 


O quarto estava todo revirado, o verdadeiro caos de pernas para o ar, resultado de um acesso de fúria da mulher. Travesseiros, lençóis, edredom, tudo que lembrava a enorme cama de casal estava no chão, embolado e amassado junto ao tapete que cobria parte do piso.


 


Amassado como seu coração.


 


Pisando no algodão branco dos tecidos e dos travesseiros a mulher saiu do quarto em direção à sala na tentativa de se afastar do ambiente que mais lembrava os últimos meses mais felizes de sua vida.


 


- Maldito mentiroso... – as últimas forças que tinha perdeu-se no sussurro sofrido.


 


“Sinto dentro de mim que


Você não significa nada”


 


As palavras pareciam zombar de sua tristeza, reverberando incessantemente em seu ouvido e em sua mente cansada. Ele sabia exatamente quais eram seus dias de plantão no hospital e no Ministério e qual sua escala de folga, provavelmente por isso lhe enviara a carta naquela quarta-feira, sabendo que era o dia de descanso dela e ela não o encontraria no hospital.


 


# ON


- Isso não significa nada! Tudo muda, Granger! Uma hora a gente percebe o que realmente vale a pena. - ele falou raivoso antes de jogar a taça de vinho contra a parede.


- Não, Malfoy... – a voz baixa e triste não parecia da mesma mulher que chefiava o centro de pesquisas do Hospital, a profissional mais respeitada da sua área. – Você não mudou nada... – concluiu ao sentir uma lágrima rolar pelo rosto vermelho de raiva, assim como rolava a gota vermelha na parede em direção aos estilhaços do cristal.


# OFF


 


Trabalhara a noite toda no laboratório de pesquisas tentando a todo custo não pensar na briga que tiveram na noite anterior, durante o jantar, mas não imaginava que as freqüentes brigas das últimas três semanas terminariam com uma carta.


 


- Inútil tentativa... – ela disse para si mesma. Não imaginava que não vê-lo por perto pudesse ser tão esmagador. Que não tê-lo por perto causaria tamanho vazio.


 


A pequena casa de decoração simples e de bom-gosto requintado nunca lhe parecera tão sombria. Sob o aparador de vidro havia um porta-retratos com uma foto de sua infância, de quando ela e seus dois inseparáveis amigos tinham não mais do que doze anos de idade, abraçados e felizes, rindo para a câmera com seus cabelos e cachecóis balançando com a ventania do inverno.


 


“Quando ele ainda era um nada na minha vida”, pensou Hermione ao passar os dedos pela moldura metálica da foto onde a imagem se mexia.


 


Sob o mesmo aparador, outra foto bem mais recente: Gina não cabia em si de felicidade enquanto Hermione segurava um lindo bebê no colo, que pela beleza parecia um anjo de cabelos vermelhos e olhos verdes, mas pela agitação só podia ser um Weasley que se divertia no colo da madrinha que se dividia entre paparicar o afilhado e segurar o vestido florido que voava com o vento forte e quente.


 


Ao lado desse, havia outro porta-retratos com uma foto onde Hermione usava um longo vestido azul-turquesa, Draco num elegante smoking a abraçava de um lado e do outro lado da castanha estava o noivo da foto, Ronald Weasley e sua noiva, Victoria Bree, a artilheira do mesmo time de Rony. Foi um momento tão especial que até Draco sorria na foto.


 


Sinto cada vez mais que


Já te esqueci!”


 


- Já te esqueci... – repetiu ela em voz baixa caminhando pela sala até escorar-se no local onde ainda possuía uma marca colorida por vinho tinto impregnada no papel de parede verde claro da sala. Escorregou pela parede descrevendo o mesmo caminho que outrora as gotas do líquido tinto também fizeram, acomodando-se no piso de carpete de madeira.


 


O telefone tocava.


 


- Olá, Hermione Granger falando, mas não te ouvindo. Deixe seu recado que retornarei assim que possível. – a voz metálica saiu da secretária eletrônica e Hermione nem se incomodou em levantar a cabeça pra ver onde o telefone estava.


- Oi Mione... sou eu... Olha, você sabe que eu odeio falar nesse aparelho ridículo e ainda por cima falar pro nada sendo que eu não estou te vendo, mas será que dá pra você aparecer? – a voz sempre alegre de Gina Weasley não perdia o brilho nem quando estava nervosa. – Estou ficando preocupada, poxa. Desbloqueie sua lareira pelo menos, por favor. Mione... por favor, atende essa coisa aí... Achei que você viria almoçar conosco hoje. Eu sei que você deve estar aí trabalhando... Mioneeeee... Hum, está bem, você sabe onde me encontrar, certo? Beijinhos.


 


A castanha ouviu a mensagem e quase sorriu, mas o movimento de seus lábios estava lento, seu raciocínio estava lento, até seu coração parecia estar lento.


 


# ON


- Eu não posso viver assim, Hermione. PARE COM ISSO! – Draco elevou a voz mais uma vez.


- E eu posso, Draco? Eu não vou me esconder de ninguém! Eu já enfrentei muita coisa nessa vida pra me esconder agora.


- Não é se esconder, é se salvar!Você não entende?


- Não, Draco. Eu não entendo. Seu pai está tentando reerguer as Trevas sozinho dessa vez! Não há tanto perigo como antes. É a quarta vez que mudamos de casa. Por que você sempre tem que fugir de tudo. Sempre te...


- FUGIR? Haha... Não... deixa pra lá. Você não entenderia...


- É SUA ESPECIALIDADE, NÃO É? Tente explicar, então. VOCÊ SEMPRE FOGE QUANDO A SITUAÇÃO APERTA, MALFOY! Está sempre cheio de segredos, de sussurros, de esconderijos. FOGE SIM! Foge da vida, da morte, sei lá, mas fog...


- CALE A BOCA, GRANGER. VOCÊ NÃO SABE DE NADA!


- ENTÃO ME DIGA! O QUE HÁ PRA EU SABER. DIGA DE UMA VEZ. Fala comigo, Draco.


# OFF


 


 


***


 


 


“Caro Sr. Manfred,


Lamento lhe enviar essa coruja, mas era a forma mais rápida de lhe informar.


Precisei viajar em caráter de urgência por motivos pessoais e retornarei em dois ou três dias. Prometo que compensarei minhas faltas assim que eu voltar.


Lamento mesmo.


Dra. Hermione Granger”


 


Hermione releu o pergaminho e em seguida o prendeu à pata da coruja do hospital que ficava ao seu dispor. Precisava de um tempo para organizar os pensamentos e a única forma era se afastar do trabalho, pois se afastava também de Draco Malfoy, que trabalhava com ela no laboratório todos os dias no período matutino.


 


Realizou alguns feitiços bloqueadores e desilusórios em sua casa. Como vivia em um pequeno bairro bruxo no subúrbio norte de Londres não havia necessidade de proteger contra os trouxas, mas era justamente de seus amigos bruxos que ela queria se esconder. Os feitiços indicavam que a casa estava vazia e ninguém conseguiria entrar de forma alguma.


 


A casa já estava em ordem novamente, pois Hermione Granger deixava tudo em ordem, só não conseguia organizar seus sentimentos.


 


 


O telefone tocava novamente.


 


- Oi Mione, sou eu de novo. Aquela sua amiga ruiva, chata, linda e que você adora, lembra? O Luke não para de perguntar de você. Você prometeu a ele que viria aqui no domingo vê-lo estrear a vassoura e não veio. Aliás, prometeu em um bilhetezinho que você mandou ao cancelar nosso jantar de quinta passada, lembra? Jantar este que nós combinamos no aniversário do Colin no sábado e que vocês mal ficaram quarenta minutos! Viria almoçar conosco hoje e até agora nada! Hoje é quarta, sabia? Dia de você trazer a sobremesa. Hermione, qual é? O que está acontecendo?... A única forma de falar com você é por esse aparelho aqui, e você sabe como eu acho isso esquisito. Apareça, está bem? Ou sei lá... me liga... Beijinhos.


 


Escutou a mensagem de sua amiga e se sentiu um tanto culpada por ter descumprido suas promessas, mas precisava ficar sozinha.


 


“Você é muito mala, Gina, mas é por isso que eu te amo tanto”, pensou como se falasse para sua melhor amiga, mas a batida aguda do bico da coruja contra a janela chamou sua atenção.


 


“Dra. Granger,


Compreendo sua ausência e agradeço pelo aviso.


Sei que é uma profissional responsável e eu não ousaria imaginar que a senhorita pudesse faltar por algum motivo tolo. Espero que não seja problema de saúde em sua família. Se precisar de algo, o Departamento está à sua disposição.”


Leonard Manfred


(Diretor do Departamento de Pesquisas para Doenças Graves)


 


- Motivo tolo? – resmungou para o pergaminho. – Lamento Manfred, mas é um motivo tolo! Um motivo tolo, ridículo e idiota. Tão tolo e ridículo como o idiota do Malfoy. – falou irritada consigo mesma e com a situação.


 


Não chorava mais como de manhã logo após ler a carta, pois agora era o momento de sentir raiva.


 


Muita raiva.


 


Muita raiva e frustração por segundo.


 


Tanta raiva que sua magia involuntária fez com que suas mãos expelissem faíscas quentes contra o pergaminho que acabara de colocar sobre a mesa, chamuscando as pontas rapidamente.


 


 


O telefone tocara mais uma vez.


 


- Ah, Gina, de novo não! – Hermione reclamou ao primeiro toque sem nenhuma intenção de atender. – Eu bloqueei a lareira pra ficar sozinha, não deu pra entender não? – resmungou para o telefone enquanto ouvia sua voz eletrônica atendendo a ligação.


 


- Oi tia Hemi. – a voz meiga e infantil do pequeno Luke fez o coração de Hermione derreter no mesmo instante. – Vem aqui em casa bincar comigu quando a senhora terminar seu trabalhio. E traz aquele bigadeiro...


 


- Luke! – ouviu-se a voz de Gina ao fundo. – Tenha modos!


 


- Liga não, tia Hemi. Mamãe sabe que aquele bigadeiro só a senhora sabe fazer. Nem vovó Molly sabe! Não trabalha muito não, tá? Bejo do seu filhado peferido. Peraí mamãe! – um barulho estranho e a voz de Gina apareceu em primeiro plano. – Desculpe, Mione, mas quando cheguei na sala ele já estava com o tefeloni na orelha conversando com você.


 


- É telefone, mamãe.


 


- Ah, certo. Era só o que faltava... Viu Hermione? Seu afilhado mal completou três anos e já está me corrigindo. Humphft! Amiga, escute. Aproveitando que já estou aqui... Eu sei que você some de vez em quando por trabalhar demais, ou quando tem alguma urgência, algum problema no hospital, alguma coisa do laboratório, já estou acostumada com seus furos. Mas tem alguma coisa errada agora. Eu sinto isso. – sua voz saiu baixa para não assustar seu filho que ainda estava na sala. Hermione mal respirava ouvindo a mensagem como se Gina pudesse sentir sua respiração pesada. – Somos bruxas, Mione, eu sei quando há algo errado. E como sua amiga, eu sinto quando há algo errado acontecendo com você. Já que você bloqueou nosso contato por pó-de-flu e enfeitiçou sua casa para não vermos que você está aí, que eu sei porque o Harry passou aí depois do almoço e viu o feitiço, mande alguma notícia só pra me acalmar, ok? Espero mesmo que você esteja trabalhando concentrada, trancada na sua casa finalizando a descoberta para a cura da contaminação por algum veneno de algum fungo mortal... Estamos preocupados com você. Amiga, eu sei que você está aí. Pare de me fazer de besta, por favooooor. Eu odeio falar nessa coisa aqui. Vem aqui em casa hoje, qualquer horário, não importa, mas venha, por favor. Ou deixe-me entrar aí. – sua voz já estava aflita. Suas emoções eram tão transparentes que apareciam em segundos em sua voz. Talvez Hermione não suportasse deixar sua amiga e seu afilhado tão aflitos. – Mione, eu vou até atrás do Malfoy pra ter notícias suas, ouviu bem? Você tem noção do que eu faço com ele se eu souber que ele te fez algum mal, não tem?


 


- Ok, Gina. – a castanha pegou o telefone em uma fração de segundos. – Eu quero ter o prazer de socar o Malfoy, está bem?


 


- Ah, Mione... – Gina respirou aliviada e comovida do outro lado da linha. – Nem acredito...


 


- Vem aqui em casa mais tarde, está bem? Pode ser? Vou fazer o brigadeiro pro Luke e enquanto ele se diverte nós conversamos.


 


- Claro, claro. Se preferir, o Harry chega mais cedo hoje e pode ficar com o Luke. Daqui uma hora ele chega.


 


- Melhor então.


 


- Você está bem? – Gina perguntou preocupada.


 


- Já estive melhor e já estive pior, então não há com o que se preocupar. Te espero daqui uma hora então.


 


- Tudo bem. Até mais.


 


- Até...


 


Hermione desligou o telefone e nem sequer parou pra pensar porque atendeu o telefone daquela maneira tão abrupta, como se temesse o que Gina pudesse realmente fazer com Malfoy.


 


Sinto, mas tenho que dizer a verdade


É tarde demais...


 


A castanha parecia ouvir a voz arrastada e melodiosa dele recitando essa frase odiosa em seu ouvido.


 


# ON


- É tarde demais, Granger... Eu já estou amarrado.


- Pare, Malfoy. Estamos numa boa agora, mas mesmo depois de tudo que aconteceu depois de Hogwarts eu não posso esquecer do que você me fazia na escola.


- Ah, Granger, quanto rancor no seu coração. Nós tínhamos treze ou catorze anos... – ele se aproximou lentamente e enrolou uma mecha do cabelo dela em seus dedos.


- Trabalhamos juntos já há um ano... – ela começou a falar sentindo o arrepio na pele começar a embaralhar seus sentidos. - Eu chefio o Laboratório e você dirige o Centro de Poções. Não há a menor possibilidade de existir algo entr...


- Shiiii... – colocou a ponta do indicador sobre os lábios dela. – Às vezes você fala demais. – beijou-a nos lábios novamente, mas não foi um beijo roubado como da noite anterior, e sim o primeiro de muitos beijos apaixonados do mais novo casal.  


# OFF


 


- Maldita seja sua tal verdade, Malfoy. – Hermione resmungou a caminho do chuveiro. Queria ficar sozinha, mas também queria conversar com alguém, então foi relaxar um pouco pra poder receber sua amiga em casa.


 


Tudo na casa lembrava ele... o tapete que compraram juntos, as flores de cristal que ele deu a ela quando se mudaram pra casa atual, a cama onde fizeram amor pela primeira vez e tantas outras mais, o livro de poções na escrivaninha com inúmeras anotações com a letra pequena e inclinada, o jornal de Quadribol sobre a poltrona do quarto, a toalha que tinha o cheiro dele, a camisa pendurada no gancho do banheiro.


 


- QUE INFERNO!!! – Hermione gritou consigo mesma passando a mão na pia do banheiro jogando tudo ao chão.  


 


Péssima ideia! O frasco do perfume que ela deu a ele no dia dos Namorados quebrou-se e inundou o quarto com o aroma que ela tanto gostava.


 


# ON


- Seu presente!!! – disse ela ainda de camisola pulando na cama despertando o loiro dorminhoco com um pequeno embrulho nas mãos.


- Ãhn... Presente?


- Sim. Presente! Pouco me importa se você se importa com essa comemoração ou não. Entrei numa loja, escolhi o mais gostoso, pra combinar com você, comprei e aqui está! – ela falou confiante e alegre, passando a ponta dos dedos no abdômen dele como se fossem perninhas a caminhar sobre os músculos definidos.


Fazendo-se de mais sonolento do que realmente estava Draco enrugou a testa, fez cara de sono e perguntou com cara de bobo:


- Mas que comemoração? Que dia é hoje? – pegou a varinha sobre o criado-mudo como se fosse conjurar um calendário como fazia de vez em quando enquanto a castanha respondia impaciente.


- Dia dos Namorados seu bobo! Abra! – ele espreguiçou-se na cama, virou pra um lado, depois pro outro só pra fazer charme e deixá-la mais impaciente, que era exatamente o que ele queria, até que ela falou: – Ahhh! Seu enrolado. Eu abro pra você.


Enquanto ela abria o pacote concentrada não percebeu que a varinha que ele pegou ativou um feitiço transformador. Quando ela pegou o frasco e mostrou a ele é que se deu conta de que o quarto estava todo diferente.


- Ohh... voc... – não havia palavras suficientes para descrever seu contentamento.


- Você sabe que eu adoro esse perfume! – ele exclamou como se as pétalas de rosas vermelhas e rosa-claro caindo sobre eles não fosse nada demais, além do enorme pacote que surgiu sobre o travesseiro dela.


Em mais um feitiço não-verbal ele lançou o aroma do perfume que estava em suas mãos no ar, inebriando ainda mais os sentidos de ambos.


- Você ainda não me disse que me ama hoje... – ela falou manhosa, doce e sensual.


- Eu te amo hoje. – ele disse com a voz rouca e alegre, como dizia todos os dias nos últimos dois anos, desde que começaram a morar juntos.


# OFF


 


Raiva, medo, incerteza. Uma miscelânea de sentimentos, de objetos, cheiros, memórias, prazeres.


 


O alarme soou pela casa indicando que alguém havia passado pelo campo mágico do terreno e estava tentando aparatar. Hermione xingou-se sonoramente por ainda estar chorando de raiva e depois xingou-se mentalmente por ter se esquecido de permitir a entrada de Gina.


 


Olhou no relógio e ainda faltavam uns vinte minutos para o horário que Gina dissera, então correu, vestiu o primeiro vestido que viu pela frente e desativou o bloqueio de aparatação.


 


Algum tempo depois dos cumprimentos, abraços, broncas pelo sumiço, preparação de brigadeiro e detalhada explicação dos últimos dias Gina ainda estava de boca aberta sem saber ao certo o que dizer.


 


- Mas... mas... Mione... ele... vocês...


 


- É isso aí Gina. Se você não entende o que aconteceu, o que dirá eu?


 


- Mas vocês pareciam tão bem!!! Sempre juntos, alegres, em sintonia.


 


- Pula essa parte, ok?


 


- Não pulo não. Mione, você sabe o quanto eu te apoiei com esse namoro, mas confesso que no início eu fiquei com o pé atrás com ele. Mas depois que eu vi vocês juntos, não havia dúvida!!!


 


- Gina... não quero falar disso, está bem? Podemos ver hoje quanta dúvida existia.


 


- É...


 


- E o Luke e o Harry, como estão?


 


- Estão bem, mas não mude de assunto... Amiga, você não tem nenhuma ideia mesmo do que pode ter acontecido pra ele fazer isso?


 


- Ahhh.... se eu soubesse não teria chorado a manhã inteira ou destruído meu banheiro e a cozinha!!! – falou exasperada.


 


- Ok... ok...


 


- Ok, nada! Ele vivia reclamando que nós nos expúnhamos demais. Ele ainda tem medo do pai e eu não admitia vivermos escondidos. É um absurdo. Olhe quantos feitiços protetores temos em casa! Todos os cuidados pra irmos ao trabalho, pra sair num sábado a noite, pra passear num parque. Isso estava se tornando impraticável nos últimos meses.


 


- Mas Lucius ainda está por aí, Mione. Eu e Harry também nos preocupamos com isso, ainda mais depois que você e o Draco começaram a morar juntos. Lucius é perigoso.


 


- Ele está sozinho, Gina. Sete anos já se passaram depois da derrota de Voldemort, todos os Comensais foram presos ou mortos, e Draco ajudou um bocado nessa parte fazendo o possível e o impossível para um Malfoy, mas não vejo como o pai dele pode ser “perigoso”. Ele foi o único Comensal que sobreviveu e o único que não conseguiram prender. Ele não tem forças nem recursos pra tentar reerguer qualquer coisa. E o Draco nunca me ouviu nessa parte, ele insistia em dizer que isso ia mudar.


 


- E você também nunca o ouviu também.


 


- GINA! DE QUE LADO VOCÊ ESTÁ? Qual é, amiga?? Vai defender ele agora?


 


- Hermione, é o pai dele, tudo que ele sabia sobre Lucius era o quanto ele podia ser mau. Se ele desconfia de algo, nós devemos dar algum crédito. Pense nisso! E o Draco não imaginaria essas coisas, imaginaria? Não acha que pode mesmo ter algum propósito nesse medo?


 


- Aumentou nos últimos meses...


 


- Então... Ele poderia saber de algo, ou apenas sentir, e estava querendo te proteger.


 


Um bipe soou baixinho na sala e isso indicava que era uma pessoa autorizada tentando aparatar, o que provavelmente seria Harry. Hermione desativou o bloqueio anti-aparatação para que seu amigo pudesse entrar.


 


- Tia Hemiiiiii... – os cabelos vermelhos e lisos de Luke tamparam sua visão no instante que o pequeno garoto se jogou em seus braços em um abraço apertado e carinhoso.


 


- Oi meu amor... – respondeu ela retribuindo o abraço e afagando os cabelos macios do pequeno ruivinho. – Oi Harry. – ela disse sem ver o moreno, pois ainda estava com a cabeleira ruiva em volta de si. Como ela adorava aquela criança.


 


# ON


- Ele te adora. – Draco disse enquanto via Luke sair correndo depois de ter ficado grudado num abraço com Hermione por uns cinco minutos logo que eles chegaram.


- Ele sabe que eu o adoro também. – falou meiga observando o menino de pouco mais de dois anos de idade que corria no gramado com seus primos maiores.


- Nós não teremos filhos ruivos, então aproveita seu afilhado. – Draco falou naturalmente, assustando Hermione.


Ela olhou para ele com uma grande interrogação nos olhos.


- Filhos. Bebês. Crianças. Sabe, como aquilo ali que seu amigo tem com a ruiva... e o ruivo tem com a artilheira... Entende? Você sabe como eles são feitos... hahaha... Quer que eu desenhe?


- Cala a boca, Draco. Fi-filho?


- Filhos, Mione. Você quer, não é? Algum dia? – perguntou esperançoso com um brilho no olhar.


- C-clar-o... CLARO, Draco, é claro que eu quero. Algum dia, em breve, talvez.


Como resposta recebeu um demorado beijo pleno de amor e esperança.


- Mas eu não quero ruivinhos. – disse ela logo que se separaram do beijo. – Se quisesse...


- Não termine, por favor! Só de pensar que você e aquela Cenoura Ambulante estavam noivos eu fico... fico...sei lá...


- Como eu ia dizendo... – aproximou os lábios na orelha dele ignorando o comentário. – Eu não quero ruivinhos. Quero loirinhos, lindos como você, espertos como você, de olhos claros como os seus e com o seu sorriso arrogante. – sussurrava na orelha dele deixando-o arrepiado. – Mas com a minha inteligência, é claro. – sentenciou enfática, mudando o tom de voz de provocativa para mandona, jogando um balde de água fria no loiro. – Já pensou EU levando MEU filho para a Sonserina? Mas não meeeesmoooo. – falou rindo alto e se afastando rapidamente do namorado, pois sabia que o próximo passo dele seria jogá-la no lago próximo a eles.


# OFF


 


 


- Tia Hemi, eu tava com saudadis. – o menino disse carinhoso, despertando Hermione de suas lembranças.


 


- Ele ameaçou vir aqui de vassoura... – Harry disse com a voz culpada por ter interrompido as duas, mesmo depois de Gina ter sido tão enfática ao dizer que Hermione precisava dela e elas iriam conversar. – Ele queria ver a tia Hemi.


 


- Tudo bem, Harry. Eu estava com saudades de vocês também. – Hermione completou, ainda abraçada a Luke.


 


- E ele é filho da Gina, né! Pode-se esperar tudo desse aí. – disse bem-humorado. – Eu não duvido das ameaças dele.


 


- Ah, claro! E eu o fiz sozinha, né? Não tem nenhum gene maroto nesse menino?


 


Luke, não se importando com o que os adultos falavam, depois de dar o abraço demorado que tanto gostava já foi direto ao seu outro assunto preferido.


 


- E o bigadeiro, tia?


 


- Oh, sim, meu anjinho, está na cozinha. Pode pegar na panela, está em cima da mesa pra você, já está frio, pode comer.


 


Ela mal terminou de falar e o barulho na cozinha já se ouvia da sala.


 


Enquanto isso Gina se apressou em contar resumidamente para Harry o que Hermione havia lhe contado há pouco. Harry também não entendeu nada. Era uma carta sem sentido, pois tudo o que Draco mostrara nos últimos anos era que ele era de fato uma boa pessoa, e até Harry o aceitou como amigo depois de um tempo.


 


- Realmente não dá pra entender... – foi o que o moreno conseguiu dizer.


 


- Mas é isso mesmo, pessoal, não há nada para entender. Ele se cansou, só isso. Eu devia saber que uma isso iria acontecer. Pronto, caso encerrado.


 


Hermione estava irredutível em suas palavras. Nada que o casal de amigos lhe dissesse a faria mudar de ideia para que visse a história por outro ângulo. Ainda conversaram um pouco e enquanto Hermione brincava com Luke Harry pediu para ver a carta e Hermione a entregou para o amigo.


 


- Sei que há algo errado, Gina. – Harry sussurrou para Gina quando Hermione estava na cozinha com Luke. – Nunca gostei do Malfoy, mas não sou cego. Ele mudou completamente... se foi por ela eu não sei, mas ele mudou! Mas não é isso que essa carta diz.


 


- Também sinto que há algo errado, Harry, mas não tenho ideia do que poderia ser.


 


- Houve uma movimentação umas semanas atrás no departamento de Detecção de Magias. Foram sinais fracos e esparsos, mas o Draco apareceu por lá quase todos os dias nas duas semanas pra verificar de perto qualquer coisa que eles pudessem encontrar. Não encontraram nada e o Draco também não me falou absolutamente nada, mas fiquei preocupado. Deve ter algo que o preocupa também.


 


- E foi na época que eles começaram a brigar mais... – Gina constatou seguramente.


 


- Deve ser. Espere um pouco, deixe-me ler essa carta uma vez.


 


Harry leu a carta em sussurros, como se assim as palavras lhe dissessem mais aos ouvidos do que aos olhos.


 


Não te amo mais


Estarei mentindo dizendo que


Ainda te quero como sempre quis


Tenho certeza que


...


Ainda te quero como sempre quis


...


Tenho certeza que


Nada foi em vão


Sinto dentro de mim que


...


Nada foi em vão


...


Você não significa nada


Não poderia dizer mais que


...


Não poderia dizer mais que


Você não significa nada


...


 


Conforme ele lia as frases pareciam se embaralhar em sua voz, saltando umas a frente das outras, atropelando-se. Mas ele prosseguiu.


 


Não poderia dizer mais que


Alimento um grande amor


Sinto cada vez mais que


...


Alimento um grande amor


...


Já te esqueci!


E jamais usarei a frase


...


E jamais usarei a frase


Já te esqueci!


...


Eu te amo!


Sinto, mas tenho que dizer a verdade


...


Eu te amo!


...


É tarde demais...


 


Gina estava sentada ao lado de Harry no sofá da sala e via Luke correr em volta da mesa da cozinha fugindo de Hermione numa sonora brincadeira e observava seu marido lendo atentamente a tal carta. Harry era considerado o melhor auror da nova geração. Gina também estava nessa seleta lista, mas o destaque dele era encontrar pistas.


 


Não precisou mais do que um olhar para sua esposa para que ela percebesse que ele encontrara alguma coisa. Poderia ser apenas uma ideia, mas já era alguma coisa e ele resolveu não expor agora, até que tivesse alguma certeza. Por isso fez uma cópia da carta através de um feitiço não-verbal e a guardou no bolso da calça.


 


Algum tempo depois Hermione se sentia bem melhor com a companhia de seus amigos e de seu afilhado para animá-la. Luke, de tão cansado, dormiu no colo de Hermione e Harry o tomou nos braços e recebeu um abraço apertado em sua amiga antes dela beijar a testa da criança.


 


- Obrigada por terem vindo, Gina. – Hermione disse para a amiga.


 


- Não agradeça ainda. Eu viria mesmo se você não me deixasse entrar. – as duas riram e se abraçaram. – Está melhor agora? Posso mesmo ir embora?


 


- Claro que sim. Estou bem, juro. Como disse, já estive melhor e já estive pior, então não há com o que se preocupar. “Pedi” uma folga do trabalho, então amanhã vou descansar um pouco, passo o fim de semana com vocês e só volto a pensar na minha rotina na segunda-feira. Não conseguiria olhar na cara dele amanhã. Só de pensar que posso vê-lo no laboratório a todo instan...


 


- Então não pense. Deixe pra segunda-feira.


 


- Tem razão. – deu um sorriso fraco aceitando a sugestão da ruiva.


 


- Então está bem. Vamos pra Toca no sábado, nos vemos lá, certo?


 


- Claro.


 


- Então boa noite amiga. Durma bem, ok?


 


Abraçaram-se mais uma vez e Gina partiu para sua casa.


 


Sentada na sala, Hermione tomava uma taça de vinho que Harry havia servido mas que nem se lembrou de provar. Esperava que o sono logo chegasse, mas seu estado inquieto não permitiria que seu corpo descansasse tão cedo. E para piorar a situação sempre que fechava os olhos se lembrava dos melhores momentos que passara com Draco nos últimos cinco anos. Quatro anos que namoravam e dois que moravam juntos.


 


Adormeceu enquanto se lembrava de um passeio no London Eye no dia do aniversário dela, dois anos atrás.


 


# ON


- Só você pra me trazer nessa altura e me fazer gostar... – ela disse agarrada à barra lateral da cabine.


- Só você pra me levar às alturas e me fazer ficar. – Draco falou com a voz baixa e grave próximo ao ouvido dela abraçando-a por trás. – Eu quero isso mais vezes, Granger...


- Claro, Malfoy, pode me raptar em todos os meus aniversários, mentir para o meu chefe, dar o bolo nos meus amigos e me levar pra onde quiser, exatamente como fez hoje.


- Posso mesmo? – perguntou virando-a para ele e olhando-a nos olhos com um sorriso torto nos lábios. – Posso mesmo estar com você em todos os seus aniversários?


- Se você quiser... eu já estou amarrada, não é mesmo? – falou lembrando-se do que ele disse no dia que a beijou pela segunda vez, que foi a primeira que ela correspondeu de verdade.


- Hummm... é... Tudo bem. Se for assim... eu quero estar com você em todos os seus aniversários, ou melhor... quero que todos os dias seja seu aniversário...


- Ahhh não... isso é sacanagem com minha juventude... – brincou ela sem perceber o que ele propunha.


- Presta atenção Granger. – ele pediu ainda olhando-a diretamente nos olhos.


“Quero você todos os dias.”


Não era incomum dividirem alguns pensamentos sem que um ou outro sequer tentasse, eles apenas viam os pensamentos.


- Tem certeza, Draco? – Hermione perguntou receosa.


“Todos os dias.” Ele repetiu em pensamento sorrindo amplamente e só então disse:


- Mando suas coisas agora mesmo pro meu apartamento e podemos terminar a noite por lá...


- E começar o amanhã por lá...


- Todos os dias.


- Muita coisa vai mudar, Draco...


- Claro que vai. Começando pelo seu endereço. – ele sorriu mais uma vez a abraçando com força e carinho.


Mentalmente ele conjurou uma pequena surpresa e uma faixa na sala da sua casa com dizeres de boas vindas à nova moradora que em alguns minutos estaria ali. Desceram da roda-gigante e às pressas e aos risos encontraram um lugar tranqüilo para desaparatar na noite que estava perfeita para os apaixonados.


- Eu te amo hoje. – o loiro murmurou no ouvido da castanha logo que chegaram em casa e o aroma delicado das flores preferidas de Hermione invadiram o ambiente. Dezenas de lírios de todas as cores enfeitavam a sala por todos os lados.


# OFF


 


 


- Muita coisa vai mudar... – ela murmurou em meio ao sono que tomou conta de si ainda no sofá da sala.


 


A taça de vinho jazia vazia na mesinha de centro ao lado de um porta-retratos que tinha a foto virada para baixo, escondendo os sorrisos contagiantes do casal que acenava com suas luvas de lã para a câmera no inverno da Dinamarca, onde passaram as últimas férias.


 


“Muita coisa vai mudar.” Ouvia a voz de Draco em sua mente como se sussurrasse velando seu sono. A voz arrastada, suave, distante.


 


Ainda distante ela ouvia:


 


Não te amo mais


Estarei mentindo dizendo que


Ainda te quero como sempre quis


Estarei mentindo dizendo que


Não te amo mais


Ainda te quero como sempre quis


Eu te amo hoje


Não te amo mais


 


Não te amo mais


 


Te amo mais


 


 


 


 


 


 


 


 


*****


 


N/A: Esse foi o primeiro capítulo. O que acharam?


O próximo será o ponto de vista do Draco ao escrever a carta e o que o motivou a isso, entre outras coisinhas mais... hehehehe...


Vocês vão perder?


 


Espero que não. Então comentem para eu saber pra quem devo avisar da atualização.


 


Espero que tenham gostado.


 


Bjins.


 


* Jacq Nasci

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Comentários (1)

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