21 a 23 de Janeiro

21 a 23 de Janeiro



Capítulo 15
de 21 a 23 de Janeiro


Dia 115, Quinta (continuação)


"O quê? Quem-"


"Eu não sei, nunca ouvi falar dele, mas, de algum jeito, meu pai o encontrou. Ele foi preso e levado para o Ministério para ser interrogado, mas amanhã estará aqui. Ele vai desfazer o feitiço". Malfoy engoliu em seco. "Nós… nós vamos ficar livres".


Harry o encarou, surpreso. "A-amanhã?"


"É".


Os dois se olharam, e Harry considerou com uma parte do cérebro que não seria capaz de descrever o que qualquer um deles estava sentindo naquele momento, nem se sua vida dependesse disso.


"Isso é… incrível", ele disse.


"Sim". Malfoy abaixou o olhar, e Harry percebeu que estava tremendo, seus nervos à flor da pele. Os dois estavam assim. Ele tocou no ombro de Malfoy, sem saber por quê — para questionar, celebrar, confortá-lo ou ser confortado — mas decidiu que o motivo não importava quando Malfoy acolheu seu abraço sem hesitar, o apertando forte por um longo momento antes de se afastar um pouco, sorrindo de leve. "Você parece estar sentindo o mesmo que eu há cinco minutos", disse ele, um pouco instável.


Harry engoliu em seco. "Então… o que aconteceu?"


"Isso é tudo que sei. E que o nome dele é Parnassus McKay, o que não me diz nada. Não reconheço o nome como um dos Comensais da Morte, mas, mesmo assim, não conheço todos eles-", Malfoy fechou a boca de repente, seu corpo estremecendo um pouco, uma sensação de alarme vindo dele. Harry soltou o ar pelo nariz, impaciente.


"Não, não- não me deixe de fora desde já-", ele disse de uma vez, o coração batendo rápido.


Malfoy lhe lançou um olhar atravessado, mas respirou fundo e se obrigou a relaxar, sua testa contra a de Harry. Eles mergulharam no silêncio de novo.


Livre, Harry pensou, ainda bastante surpreso. Nada mais de elo. Nada mais de proximidade forçada, de ter que ficar perto de sonserinos, nada mais de distância de seus próprios amigos e da sua casa, nada mais de silêncios estranhos quando o assunto política surgisse. Sem ter que se incomodar com o medo de ser ferido caso algo acontecesse com Malfoy, nada mais de precisar fazer algo com tantos pontos contras dar certo…


Livre para ir onde quisesse. Livre para jogar Quadribol, para ficar com seus amigos, para pensar em se tornar um auror, para dividir um apartamento com Ron sem se preocupar com que Malfoy fosse pensar. Livre para ser solteiro e ter 17 anos de novo.


Livre.


"O que nós fazemos agora?", Harry perguntou em voz baixa quando conseguiu pensar semi claramente de novo.


"Eu não sei", Malfoy respondeu no mesmo tom. "Acho melhor voltarmos para lá, explicar o que aconteceu. Você está bem para voltar?"


Harry concordou com a cabeça.


"E então… depois disso, acho que… que nós deveríamos nos aprontar ou algo assim — realmente não sei como, mas…"


Harry balançou a cabeça, a mente ainda a mil enquanto eles caminhavam de volta para o Grande Salão.


"O que foi?", perguntou Parkinson quando eles voltaram para o grupo de estudo. "Qual era a mensagem do seu pai?"


Eles se encararam hesitantemente e então voltaram a olhar o grupo.


"Harry?", disse Hermione, preocupada. "O que foi?"


Malfoy lançou um pequeno sorriso para Harry e então limpou a garganta. "Oh, não tem nada de errado. Meu pai pegou quem lançou o feitiço do elo, só isso".


"O quê!" várias vozes gritaram ao mesmo tempo, e Harry teve que rir das expressões surpresas dos outros. Ele e Malfoy trocaram um olhar de divertimento e voltaram a sentar, percebendo que a sessão de estudos provavelmente não aconteceria mais.


ooooooo


"Qual é mesmo o contra-feitiço para aquele feitiço de fixar?", Harry perguntou naquela noite.


"Parietibus Dehaerent", Malfoy disse de modo distraído, e Harry concordou com a cabeça e repetiu as palavras, desgrudando seu pôster dos Pegas de Montrose da parede. Ele o enrolou e olhou ao redor do quarto, tentando decidir o que o deixara mais desorientado: o que estava acontecendo agora ou o que tinha acontecido em setembro. Tinha que ser o lançamento do feitiço do elo, que fora completamente inesperado, mas, por alguma razão, o grifinório se sentia mais atordoado agora do que naquela época.


"Você esqueceu um jogador", Malfoy disse, acenando a varinha para desgrudar seu pôster do Vespas de Winbourne antes de enrolá-lo e guardá-lo no malão escolar, ao lado do quadro com o emblema da Sonserina e da pequena fotografia de um pôr do sol no Oráculo de Delphi. Com outro aceno da varinha, ele se livrou da garrafa de cerveja amanteigada, trazida da festa da qual eles tinham saído há vinte minutos.


Os seus amigos ficaram radiantes com a notícia. Entre risadas e comemorações, decidiram dar uma “festa de divórcio” improvisada, que Zabini declarou que deveria acontecer na Sala-Precisa, pois não seria justo se fosse na Sonserina ou na Grifinória.


"Genial, cara", Ron concordou entusiasmadamente. "Eles não tiveram aquele lance tradicional, sabe, com festas separadas antes da cerimônia e então a grande festa de casamento, então vamos fazer o contrário. Vamos fazer uma festa pré-divórcio hoje à noite, com os dois, e então duas festas separadas amanhã!"


Tinha sido uma boa idéia. E eles tinham se divertido. Mesmo não tendo nada mais forte do que cerveja amanteigada para beber, todo mundo ficou meio alegre, contando histórias engraçadas sobre as coisas idiotas que eles tinham feito nos últimos meses, os problemas causados pela proximidade forçada ganhando contornos bem-humorados agora que essa proximidade estava prestes a acabar. Parkinson e Ron tinham se divertido ao contar sobre quando haviam encontrado os dois bêbados durante a suspensão, e Harry ficou admirado por Parkinson conseguir deixar de fora a questão de por que não tinha penalizado Malfoy.


Tinha sido uma festa legal. E divertida. Grifinórios e sonserinos, e alguns corvinais e lufas-lufas, todos rindo juntos e envolvidos no clima de celebração. Felizes por eles, pelo tempo forçado de união entre eles estar acabando.


"Você quer esvaziar o guarda-roupa primeiro ou vou eu?", perguntou Harry, deixando de lado uma pilha de livros.


"Vai você primeiro", Malfoy se sentou, olhando pela janela.


"No que você está pensando?", Harry perguntou enquanto dobrava as camisas e as colocava dentro do malão.


"Em McKay. Em como será conhecê-lo". Ele franziu a testa. "É realmente perturbador que eu não saiba nada sobre ele. Eu não sei nem se ele tem alguma ligação com alguém da escola. Quer dizer, eu quase enlouqueci durante esses últimos meses tentando entender quem e como… eu pensava que se um dia essa pessoa fosse encontrada, eu diria ‘oh, faz sentido, como é que eu não suspeitei antes’ — mas não faz".


"Não".


"É meio… é tão aleatório. Como se a próxima ameaça pudesse vir de qualquer lugar".


"Bem-vindo à minha vida", Harry disse distraidamente, analisando uma mancha em uma de suas camisas. "Mas, se seu pai o encontrou, ele provavelmente é o que todos pensavam, um Comensal da Morte".


"Talvez".


"Eu me perguntou como seu pai o pegou".


"Eu, não", Malfoy disse de modo seco.


Harry parou de arrumar as malas, hesitando por um momento antes de perguntar. "Você está pensando no que vai acontecer agora com seu pai?"


Malfoy ficou um pouco tenso. "É claro".


"O que você quer que aconteça?"


Malfoy o encarou de modo sério. "Você quer discutir por causa disso?"


"Não, não mesmo". Harry respirou fundo. "Mas o que você acha que vai acontecer?"


Malfoy deu de ombros, desviando o olhar.


"Eu não consigo imaginar tudo voltando a ser como era antes". Harry percebeu enquanto falava que não estava se referindo apenas a Lucius. E, julgando pela reação de Malfoy, nem ele.


O sonserino continuou sem olhar para ele.


"Você consegue?"


"Por que não?" Malfoy perguntou em voz baixa.


"Você viu o que eu vi hoje, não viu? Grifinórios e sonserinos se divertindo juntos?"


"Eu vi, sim. E sonserinos só conversando entre si. Amanhã serão festas separadas. Eu acho que logo, logo tudo vai voltar a ser como era antes".


Harry franziu a testa. "Não tem que ser assim. Muitas amizades foram criadas nesse tempo, como Ron e Blaise. E Dean e Tracey Davis estão quase namorando. E, mesmo antes disso, Lavender e Blaise saíram juntos algumas vezes-"


"Não deu certo entre Lavender e Blaise, você sabe disso. E também não vai dar certo entre Thomas e Tracey". Ele balançou a cabeça, ainda olhando pela janela. "Grifinórios e sonserinos juntos não dá certo, Harry", disse ele, a voz baixa.


"Pode dar certo. Já deu".


"Nós?", Malfoy negou com a cabeça. "Nós passamos seis anos nos odiando. Esse tipo de coisa não desaparece em quatro meses".


"Leia o Profeta um dia desses", Harry disse amargamente. "Seu pai parece acreditar que sim. Pelo menos, é isso que ele tem dito para todo mundo. Ele apoiava as pessoas que mataram meus pais e meu padrinho — ele próprio tentou me matar algumas vezes e eu quase o matei e o coloquei em Azkaban — e, mesmo assim, ouvindo-o falar, são apenas águas passadas".


"E, se você acredita mesmo nisso, é mais ingênuo do que-"


"Não, não acredito nisso!", retrucou Harry. "Não da parte dele! Mas você-"


"Por que comigo seria diferente?"


"Você não pode mentir para o seu marido com um elo recente, Draco. Você mesmo me disse isso".


"E o elo não é mais tão recente assim, Harry". Malfoy levantou, sua raiva começando a se manifestar. "Você lembra alguma coisa do feitiço do círculo? Você lembra quanto ódio havia lá? Que a coisa toda quase deu errado porque mesmo as pessoas que mais se importavam conosco quase deixaram que o ódio delas nos matasse?"


"Quase. Você se lembra por que nós sobrevivemos? E como? Hermione e sua mãe, e Pansy e Neville, e Ron e seu pai — todos eles se odeiam, mas deixaram isso de lado e nos trouxeram de volta. E Pansy e Snape e Ron — todos eles tinham boas lembranças sobre nós, para nos mostrar que nós não precisávamos continuar odiando um ao outro só porque sempre tinha sido assim".


Malfoy desviou o olhar de novo.


"Nossa… amizade é real. A amizade entre Blaise e Ron — não vai simplesmente desaparecer".


"A família de Blaise não tem nenhum compromisso com o Lorde das Trevas. Mas eles podem se comprometer a qualquer momento. E, se eles o fizerem-"


"Draco… a família do Neville poderia decidir se comprometer com Voldemort. Isso não significa que ela vá. Ou que ele o seguiria, se isso acontecesse".


Silêncio.


Harry engoliu em seco. "Depois de tudo que nós passamos juntos… por que você quer voltar a ser como era antes?"


"Que outra escolha nós temos? Nós não estamos do mesmo lado".


"Mas nós também não precisamos estar em lados opostos".


"Eu não acredito no que você acredita".


"Eu não me importo!", disse Harry, frustrado.


"Eu me importo!"


"Há mais coisas entre nós dois do que nossas posições políticas!"


"Sim, há um elo!", Malfoy respondeu com raiva. "E amanhã não haverá mais!"


"E é só isso que existe para você?"


"Sim!"


"Minta para si mesmo se quiser, mas não para mim!"


"Vai pro inferno!", Malfoy começou a se afastar.


"Draco!", Harry segurou seu braço, e Malfoy se desvencilhou.


"Merda, não faça isso comigo, não-", disse o sonserino, a voz tensa.


"Eu não vou deixar que termine assim", Harry disse, com raiva.


"Ótimo, então vamos voltar para a festa, dizer para eles separarem as comemorações mais cedo-"


"Que se foda a festa, eu não quero-"


"E eu não quero-" Malfoy se virou de costas, e Harry de repente percebeu que ele estava no limite, mantendo-se composto graças a muita força de vontade.


Ele deu um passo para trás. "Eu… me desculpe". Ele soltou o sonserino. "Vá, se quiser. Mas…", ele engoliu em seco. "Essa é a última noite que…", ele se interrompeu. "Não precisa ser desse jeito".


Malfoy continuou de pé, olhando para o chão, e Harry pôde perceber uma dúzia de impulsos conflitantes vindos dele, antes que o loiro de repente se voltasse para o grifinório e o abraçasse.


"Merda, me desculpe-", ele murmurou no pescoço de Harry.


"Não, eu-"


"Fique quieto". Ele cobriu a boca de Harry com a sua, e o grifinório respondeu com entusiasmo à única coisa entre eles que não requeria nenhum esforço. A única coisa entre eles que sempre os trazia de volta de qualquer limite em que estivessem.


"Oh, por deus, sim", ele sussurrou enquanto Malfoy o empurrava para a cama e se jogava em cima dele, seus dedos já ocupados com botões e zíperes.


"Por Merlin, sim", Malfoy disse contra seu cabelo, removendo as roupas de Harry afobadamente.


"Você-"


"Anda logo-" Malfoy levantou, tirou sua última peça de roupa e voltou a deitar, prendendo Harry abaixo de si. Ele pegou o pequeno frasco de óleo e o entregou para o grifinório antes de tomar sua boca em outro beijo, ofegando com o contato do óleo na sua pele, ajudando Harry com entusiasmo e o incentivando a ir em frente. "Não, eu estou pronto, eu quero você-". Harry gemeu quando Malfoy se acomodou em cima de si rapidamente, fechando os olhos e enterrando a cabeça no travesseiro. Abriu os olhos de novo para ver Malfoy jogar a cabeça para trás e se mover sensualmente. O grifinório mordeu os lábios. Por deus, Malfoy era tão maravilhoso quando fazia aquilo. Harry achava que podia chegar ao ápice só de assistir a Malfoy se mover em cima dele, independente das sensações físicas que isso causava.


Mas essas sensações eram maravilhosas também. Ele se empurrou para cima, agarrando a cabeceira da cama, os olhos fechados de novo, ouvindo os gritos ofegantes dos dois — era como poesia quando Malfoy o cavalgava daquele jeito, era como o paraíso na terra, tão perfeito. E então ele sentou e puxou Malfoy para perto, seus lábios se encontrando enquanto os movimentos ficavam mais urgentes.


E então lá estavam eles. Abraçados com força, ofegando na boca um do outro. Os olhos fechados, quase derretendo juntos, tão sintonizados entre si.


Tão perfeito.


E aquilo iria acabar no dia seguinte.


Eles se abraçaram com mais força, a respiração voltando ao normal, e, por fim, Malfoy respirou fundo e cuidadosamente saiu de cima dele. Os dois deitaram lado a lado, Harry correndo os dedos distraidamente pelo cabelo de Malfoy, Malfoy traçando formas no peito de Harry, ambos perdidos nos próprios pensamentos. Tentando com muita força não pensar no fato de que aquela seria a última vez que fariam aquilo juntos.


Havia muitas coisas pelas quais ansiar com o fim do elo, Harry disse para si mesmo. Não ter que tentar manter sua área de estudo em ordem para não aborrecer Malfoy; não teria que interferir entre Malfoy e Ron, que ocasionalmente ainda se estranhavam; não ter que lidar com sonserinos e suas agradáveis guerrinhas de poder; não ter que sentir falta de seus amigos…


Ele foi distraído dos próprios pensamentos por um suspiro leve vindo de Malfoy.


"O que foi?"


Malfoy balançou a cabeça de leve. "Sabe… não que eu não esteja feliz por o elo terminar, mas… vai ser estranho, não transar mais com essa regularidade".


Harry sorriu. "É. Essa parte não é tão ruim".


"Você não se sente meio idiota agora, por nos fazer esperar por mais de um mês?"


Harry riu. "Um pouco, sim".


Malfoy limpou a garganta. "Da próxima vez que você estiver envolvido com alguém, tente pular a fase de florzinha desabrochando e corra para a parte boa, sim?"


Harry engoliu em seco, se forçando a ignorar a contradição entre o tom casual de Malfoy e suas emoções turbulentas. "Eu vou tentar".


"É engraçado", Malfoy analisou. "Eu sabia que nós eventualmente poderíamos ficar com outras pessoas… mas não esperava por isso tão cedo. Quer dizer, pensei que aconteceria daqui um mês, mais ou menos, mas eu não iria ficar com ninguém, não até depois que nós saíssemos da escola. E não só porque meu pai engoliria a própria língua se alguma coisa assim fosse publicada no Profeta".


Harry sorriu pela imagem mental.


"Ginny Weasley tem uma queda por você há anos, não tem?"


Harry riu. "Você está perguntando se eu vou tentar dormir com ela, agora que nós não precisamos nos preocupar em… como foi que você chamou… ser os mais infiéis possíveis?"


Malfoy riu. "Por deus, a cara dela quando eu disse isso, lembra? Como se ela tivesse acabado de engolir um explosivim".


"Foi bem grosseiro".


"Só porque ela é a fim de você desde sempre?"


"Ginny não é a fim de mim desde o primeiro ano".


"Pansy jura que ela pensa em você enquanto está com… bem, com todo mundo. Ela é uma garota ocupada, pelo que eu ouvi".


"Se você quiser viver a vida perigosamente, repita isso em algum lugar que Ron possa escutar".


Malfoy riu com desdém. "Mas você dormiria com ela, se ela quisesse?"


Harry balançou a cabeça. "Eu acho que não. Ela é irmã de Ron. Não acho que daria certo a longo prazo".


Malfoy rodou os olhos. "Sabe, não é para você querer arranjar sua vida na nossa idade. É ridículo, querer ser casado com 17 anos".


"É mais ridículo do que ser divorciado com 17 anos?"


Malfoy fez uma careta. "É um ponto. Bem, de qualquer modo, eu não pretendo me resguardar. Provavelmente verei se posso convencer Pansy a… me tentar".


Harry fez uma careta, firmemente ignorando a parte do seu cérebro que se enfureceu com a idéia, esperando que Malfoy não estivesse prestando atenção às suas emoções. É claro que agora ele sentia ciúmes, mas aquilo iria acabar com o fim do elo. Ele esperava. "Você não tem que se preocupar em encontrar ninguém permanente mesmo. Seus pais farão isso, certo?"


"Oh. Sim", Malfoy disse, e corou um pouco. "Sim, nós dois vamos conseguir o que queríamos. Eu fico com a aliança política e você com a coisa trouxa de corações, flores e crianças. E vai ser fácil para a gente", ele riu. "Se conseguimos fazer com que nosso casamento desse certo, com certeza podemos fazer dar certo com qualquer outra pessoa".


Harry sorriu, apesar da conversa bizarra.


"Você pode até conseguir fazer sexo com uma garota, algum dia".


"É muito diferente?"


"Bem, falando só pelo meu lado — que está meio dolorido, aliás — sim, um pouco". Ele pensou por um momento. "Tirando isso, bem… sim. Elas são… eu não sei, mais frágeis. Mais sensíveis, também. Tudo demora muito mais tempo. O que não é necessariamente uma coisa ruim".


"Não, nem sempre". Harry bocejou enquanto os dedos de Malfoy penteavam seu cabelo.


"Mas… provavelmente vai ser estranho, no começo", disse Malfoy, e Harry podia sentir a hesitação em sua voz.


"Sim".


Malfoy parecia estar para falar alguma coisa — e então suspirou e deu de ombros. "Só temos que nos acostumar e tudo ficará bem".


Harry o abraçou com mais força. Não, nada vai ficar bem, ele quis dizer de repente. Afastou esse pensamento e se concentrou na sensação daquele abraço. Era bom mesmo, aquela era a última vez que ele o sentiria.


Malfoy estava acariciando sua bochecha, seu toque gentil e bastante familiar agora. Como seria, não sentir mais aquilo? Dormir sozinho? Ele entrelaçou seus dedos nos de Malfoy, traçando beijos pelo pescoço do outro. Riu quando sentiu o sonserino começar a ficar excitado novamente.


"Você está brincando", disse.


Malfoy sorriu, meio envergonhado, e então deu de ombros. "Por que não? Você sabe, última chance e esse tipo de coisa". Harry fechou os olhos, não querendo pensar em como a voz de Malfoy soaria casual e descompromissada para qualquer um que não pudesse sentir seu conflito interno. Como Harry não poderia, a partir de amanhã.


"Por que não?", Harry disse, retribuindo o sorriso e o beijando. Malfoy moveu os lábios para o seu pescoço e peito, indo mais para baixo. "Draco…", ele sussurrou, fechando os olhos para se concentrar nos lábios e língua de Malfoy pelo seu tórax. "Você pode… você quer ficar por cima?"


Malfoy ficou paralisado, o rosto apoiado no seu tórax, e houve um longo silêncio.


"Você está brincando".


"Não".


Malfoy soltou uma exclamação pela garganta e se moveu para cima, abraçando Harry e enterrando o rosto no cabelo do grifinório.


"O que foi?", Harry perguntou, nervoso.


"É só… seu… seu idiota", disse ele, a voz abafada. "É a última noite que nós- e você…", ele balançou a cabeça devagar. "E… por deus, vai se foder, Harry".


"Essa é a idéia", disse Harry, meio hesitante, e Malfoy sorriu. "Você não quer?"


"Eu quero. É que… por que agora?"


"Eu… eu achei que nós teríamos mais tempo. Eu queria, antes, mas…"


Malfoy concordou com a cabeça e limpou a garganta. "Você tem certeza?"


"Tenho".


"Eu não quero te machucar".


"Você não vai".


Malfoy o encarou, e Harry considerou que, antes do elo, ele juraria que as únicas emoções que o sonserino era capaz de sentir eram desprezo, humor maldoso e medo covarde. Mas tinha visto tantos outros lados dele. Tinha visto Malfoy nervoso, pensativo, excitado, divertido, cansado, afetuoso, alegre… e carinhoso e sério, como estava agora. Havia muito mais em Malfoy do que ele suspeitaria, mesmo depois de vê-lo quase todos os dias por seis anos.


Harry suspirou e deitou de costas, deixando Malfoy conduzir, a excitação crescendo conforme eles se tocavam. Tão familiar. Eles já tinham feito aquilo tantas vezes, aprendendo o que o outro gostava. Ele sabia exatamente o ponto no pescoço que fazia Malfoy se revirar. As investidas fortes que o faziam chegar no limite rapidamente. A exclamação que ele soltava quando estava perto do ápice. E Malfoy sabia tanto sobre ele; a maneira de abraçá-lo, como ele preferia ser beijado, como ele gostava quando às vezes Malfoy segurava sua mão com força enquanto eles se moviam juntos, limitando seus movimentos…


Malfoy levantou as sobrancelhas, acenando para o óleo, e Harry concordou com a cabeça, fechando os olhos. Malfoy juntou seus lábios nos dele em um beijo, e Harry se perdeu nas sensações, os lábios de Malfoy quentes e macios contra os seus, uma mão acariciando seu rosto enquanto a outra o tocava com o óleo, e ele estava começando a sentir um pouco de tontura. Lábios e língua e dedos estavam fazendo com que ele relaxasse completamente, estavam fazendo-no tremer, querendo tanto sentir Malfoy…


Ele ofegou, com um pouco de dor, e sentiu a preocupação do loiro. Voltou a juntar os lábios nos dele quando o sonserino se afastou um pouco. E ofegou novamente quando os dedos de Malfoy se moveram dentro de si.


"Por deus, isso é bom", ele murmurou, um pouco surpreso. Malfoy riu.


"Você achava que eu estava fingindo quando você fazia isso?"


"Não, mas… ohdeus". Ele sufocou um gemido, sua excitação crescendo mais e mais rápido. "Isso… caramba, por que eu não fiz isso antes?"


"Não diga isso até ter acabado", disse Malfoy. "Isso é… eu vou… vai doer, você sabe disso, certo?"


"Eu não me importo". Ele puxou Malfoy para outro beijo. "A única coisa que dói nesse momento é que eu preciso desesperadamente gozar, e você com certeza vai querer levar um tempo com isso", ele disse, frustrado.


"Paciência", Malfoy riu.


"Que se dane a paciência", disse Harry, puxando Malfoy para cima dele e envolvendo a cintura do loiro com suas pernas. "Eu não tenho a noite inteira, Draco", ele completou, e Malfoy riu debochadamente.


"Afobado você, não?"


"Por favor, por deus, se mexa, por favor", ele sussurrou, tão hiper-sensível que estava enlouquecendo. Malfoy estava provocando tanto que era quase de dar raiva, e ele não parecia ter pressa para acelerar as coisas.


"Eu estou… eu não quero te machucar", Malfoy admitiu suavemente e o beijou de novo, suas mãos e lábios levando a excitação de Harry a um estado febril, até que ele não conseguia parar de gemer continuamente. "Harry... você tem certeza?"


"Que droga, sim, por favor, eu já disse que sim, por favor…", ele sussurrou, e uma parte de seu cérebro se perguntou como ele podia sentir-se ao mesmo tempo tão desesperado para acabar com aquilo e tão desesperado para fazer aquilo durar tanto quanto possível.


Malfoy respirou fundo e se moveu, e Harry fechou os olhos e mordeu o lábio. Malfoy estava certo, aquilo doía, bastante, na verdade. Mas isso não importava, porque ele e Malfoy estavam — finalmente — fazendo algo tão íntimo que o grifinório morreria só de pensar em fazer com outra pessoa. Tudo que ele podia pensar, além da dor que diminuía progressivamente e da excitação estonteante, era que ele era um idiota por não ter feito aquilo antes. E que podia entender por que Malfoy não tinha se importado, nem um pouco, em não ser o ativo.


Era tão estranho, se sentir tão poderoso enquanto essencialmente não se tinha poder algum. O corpo de outra pessoa estava no dele, outra pessoa estava no controle do que estava acontecendo — e, mesmo assim, ele não se sentia usado ou com medo ou com raiva ou qualquer outra das coisas que achou que sentiria. Era como se a sensação que sempre sentia quando estava por cima, de que Malfoy estava lhe concedendo um incrível privilégio, se voltasse para ele. Harry podia perceber como Malfoy se sentia maravilhado por poder fazer o que estava fazendo. Sua concentração intensa, o cuidado que estava tomando para se certificar que Harry aproveitasse pelo menos tanto quanto ele.


E o senso de entrega era inacreditável. Algo que não estava presente quando Harry era o ativo, porque ele sempre ficava um pouco nervoso por pensar que podia machucar Malfoy acidentalmente. Entregar-se e deixar que Malfoy conduzisse, sentindo o outro tremer enquanto investia contra ele, segurando Harry firme, tomando conta dele.


Harry jogou a cabeça para trás, gemendo de prazer quando Malfoy entrelaçou os dedos nos seus, prendendo as mãos do grifinório ao lado dos corpos dos dois, o apertando com mais força antes de finalmente, finalmente investir mais forte… e ambos gritaram juntos quando atingiram o orgasmo.


ooooooo


Dia 116, Sexta


Draco checou sua mesa uma última vez. Não tinha esquecido nada. Abriu as gavetas do criado mudo da sala. Nada lá também. Potter estava checando as malas, se certificando que tinha pegado todas suas roupas e nenhuma de Draco.


"Erm… Draco…", Draco se virou. Potter estava segurando um jogo de vestes. "Eu não sei o que manda a etiqueta… quer dizer, sobre os presentes de natal. Não sei, você quer que eu devolva ou-"


"Eu tenho vestes formais o suficiente", disse Draco, divertido. "Além disso, essa cor não fica bem em mim. Por que, você quer o destilador de volta?"


"Eu não saberia o que fazer com ele", Potter observou.


"Você poderia usar para destilar as coisas, sabe".


"Não. Pode ficar, é seu". Potter guardou as vestes no malão. "Você quer ficar com isso?", ele perguntou, apontando para o jogo de bolas de Quadribol que eles tinham comprado para não terem que ir ao depósito de Quadribol todas as vezes que voavam.


"Não, pode ficar".


"Obrigado", disse Potter, e trancou o malão. Draco abotoou a camisa, olhando ao redor do dormitório distraidamente.


"Oh, obrigado", ele disse quando Harry entregou sua gravata a caminho do banheiro. Ele a colocou, assistindo enquanto Potter guardou a escova de dentes e a poção de barbear e começou a pentear o cabelo. Ele notou o olhar de Harry pelo espelho por cima dos ombros e tomou a escova de cabelo da mão dele, penteando o cabelo do outro para trás. Harry sorriu pelo espelho e deixou o banheiro. Draco terminou sua rotina matinal e acabou de arrumar as coisas, hesitando brevemente antes de jogar fora o frasco meio vazio da poção de paciência. Não a usava desde pouco antes da última hospitalização deles, três meses atrás, percebeu. Obviamente, não precisava mais dela.


Mas talvez tivesse jogado fora a poção rápido demais, pensou quando entrou na sala e notou que Potter não tinha acabado de guardar tudo. E parecia que estava procurando por um de seus livros, que, não era de se surpreender, estava debaixo de uma pilha de papéis na escrivaninha. Draco organizou os papéis e jogou o livro para Potter.


"Essa é a última vez que eu limpo sua mesa para você", disse ELE, fazendo uma careta assim que as palavras saíram de sua boca. Potter concordou com a cabeça.


Uma última checada nos cômodos. Tudo desmontado. Tudo que tinha tornado aquele dormitório deles, os livros, as roupas, as fotos e os enfeites, tudo se fora e agora aquilo eram apenas cômodos vazios com duas pequenas pilhas de objetos pessoais próximos da porta. Os elfos levariam as coisas deles de volta para os dormitórios enquanto o elo estivesse sendo desfeito, e aquilo seria tudo.


Caminharam para a porta. No último minuto, o sonserino fez Potter parar, sem saber como dizer o que precisava dizer, mas sabendo que não podia simplesmente não dizer nada.


"Harry". Potter o encarou de modo questionador. Draco limpou a garganta. "É… bem… as coisas podem ficar feias. Com- com a minha família, eu quero dizer, depois que nós- depois que o elo for desfeito. Eu não quero que seja assim, mas…"


"O que você quer dizer?"


"Meu pai…", ele se interrompeu, incerto do que dizer.


"Seu pai falou com você sobre o que ele faria se encontrasse quem lançou o elo?"


Ele concordou com a cabeça devagar.


"Isso vai envolver colocar alguém em perigo?"


"Não. Só pode ficar… feio".


"Eu não esperaria menos do seu pai", disse Potter bruscamente, e Draco tentou se ofender pelo pai, mas não conseguiu. Ele desviou o olhar, e Potter suspirou e tocou seu ombro. "Desculpe".


Draco engoliu em seco. "Se alguma coisa acontecer… não… não terá vindo de mim". Ele limpou a garganta de novo. "Tente lembrar disso, sim?"


"Vou tentar", disse Potter, os olhos nublados, e gentilmente o conduziu para a saída.


ooooooo


Então esse era Parnassus McKay, Draco pensou uma hora mais tarde, enquanto eles esperavam tudo ficar pronto. Muita gente estava no escritório de Pomfrey na ala hospitalar: ele e Potter, seu pai, McGonagall, Pomfrey, um representante do Ministério, um medibruxo de St. Mungus e Parnassus McKay, com algemas de luz prendendo-no a dois aurores. Aparentemente, os procedimentos para aquele evento tinham sido detalhados de modo exaustivo, a julgar pelo número de pessoas presentes, pela quantidade de pergaminhos envolvidos e pela formalidade das ações.


O sonserino desejou pela décima vez que eles não tivessem sido instruídos a falar com McKay apenas durante o rompimento do elo. Porque isso significava que não poderiam perguntar a questão que mais queriam ver respondida: por que McKay tinha feito aquilo em primeiro lugar. Não que eles não fizessem idéia, mas seria bom ter uma confirmação do próprio McKay.


"Tudo bem, acho que estamos prontos", o representante do Ministério disse e gesticulou para Draco e Potter se aproximarem, desenrolando um longo pergaminho com as palavras "Dissolução de Elo de Casamento" escritas no topo. "Nós precisamos que vocês escrevam seus nomes aqui e assinem embaixo, indicando que concordam em dissolver o elo". Draco pegou a pena, escreveu e assinou seu nome e a entregou para Potter.


"Nós tivemos que inventar um novo tipo de documento para vocês, sabe", o homem disse enquanto Potter escrevia seu nome. "Todos os outros diziam coisas como ‘Adultério’, ‘Diferenças Irreconciliáveis’ e ‘Abandono’ como causa da dissolução. Tivemos que inventar um com ‘Elo Involuntário’. Nossa representante mais antiga no cargo disse que já tinha visto algo assim quando era jovem. Eu não quis perguntar há quanto tempo foi isso". Potter terminou de assinar.


"Certo", o representante do Ministério disse. "É só esse documento por enquanto. A professora McGonagall será uma testemunha, e Madame Pomfrey pode ser outra", ele disse, e acenou para McKay e os dois aurores se aproximarem. "Agora, fiquem de frente um para o outro e dêem as mãos", ele disse, se movendo de modo que McKay pudesse ficar de pé de frente para eles.


Draco olhou curiosamente para McKay enquanto a mão direita do homem foi liberada e lhe entregaram uma varinha. Sua mão esquerda ainda estava algemada a um auror.


McKay não os olhou no rosto. Ele parecia estar meio verde. Não deveria ser um Comensal da Morte, parecia ter medo da própria sombra. Embora, por algum motivo, Draco teve a sensação de que ele não era uma pessoa tímida por natureza. Apenas um homem que estava morrendo de medo de Lucius Malfoy, que passara o tempo todo olhando para ele fixamente.


Draco olhou para Potter, nervoso, de pé na sua frente.


McKay apontou a varinha para as mãos dadas dos dois e gaguejou, "L-lux Vinculum". Draco e Potter olharam para baixo. Uma linha de luz, similar a uma pulseira céltica, estava ao redor dos pulsos deles. Draco tentou mover a mão, mas notou que ela estava presa no lugar.


"Vo-vocês desejam romper o elo um com o outro?", perguntou McKay.


"Sim", os dois responderam.


"Vocês desejam isso de livre e espontânea vontade?"


"Sim".


"Então não mais vocês são um só, mas duas pessoas livres, livres uma da outra e livres para deixarem os caminhos de suas vidas divergirem. Finite Matrimonium".


A linha de luz brilhou mais forte por um instante, e então se dissolveu aos poucos até desaparecer.


McKay parecia se encolher ao redor de si mesmo, mordendo os lábios e olhando nervosamente para Lucius.


"É… isso?", Draco perguntou.


"É isso", o representante do Ministério disse animadamente enquanto os dois aurores tomavam a varinha de McKay e o algemavam de novo.


O medibruxo se aproximou. Acenou a varinha na direção deles, murmurando alguns feitiços. "Como você se sente?", perguntou para Draco.


"Bem".


"Como ele se sente?", o medibruxo perguntou, acenando com a cabeça para Potter.


Draco abriu a boca para falar — e em seguida a fechou. Piscou. Olhou para Potter, que o encarava com uma expressão confusa.


Nada. Ele não podia sentir nada vindo de Potter. Potter estava de pé na sua frente, ainda segurando sua mão, mas Draco não sentia nenhuma emoção além das dele próprio. Ele engoliu em seco. Era como de repente perder sua capacidade de enxergar.


"Sr. Malfoy?", o medibruxo insistiu.


"Eu… eu não sei".


"Muito bom", o homem sorriu. "Vocês só precisam soltar as mãos e o rompimento do elo estará completo".


Potter estava piscando repetitivamente, a testa franzida de leve. Ele parecia estar tão desorientado quanto Draco, mas o sonserino não podia ter certeza. Não podia sentir nada vindo dele. Eles se encararam, procurando nos seus rostos por algum tipo de pista para o que o outro estava sentindo. Potter começou a soltar sua mão, mas então a apertou com força e se aproximou de Draco. Draco fez o mesmo, ignorando a parte de si que se sentia desconfortável por fazer aquilo na frente de seu pai.


Ele não podia não responder. Não podia sair de um casamento para nada de uma hora para outra. Potter hesitantemente correu a mão livre pelos ombros e bochecha de Draco, que levou sua mão até o rosto do grifinório, gentilmente arrumando uma mecha de cabelo atrás da orelha dele. Que se danasse seu pai, que provavelmente lhe lançava olhares cortantes pelas costas.


Eles se encararam por um momento, e então Potter gentilmente o soltou e deu um passo para trás.


"A desorientação é normal", o medibruxo assegurou-lhes. "Bem, nem tanto, já que a maioria dos casais que se divorciam estão unidos há bastante tempo e geralmente se afastaram, então o elo nunca é tão profundo quanto o de vocês. Mas casos de pessoas dissolvendo elos recentes mostram que é perfeitamente normal se sentir desorientado nos primeiros dias após o rompimento". Ele terminou de examinar Draco e se voltou para Potter. "Não se preocupem se vocês ainda tiverem sentimentos um pelo outro, eles também irão desaparecer. Pensem na necessidade de estarem juntos como um hábito; vocês só precisam rompê-lo". Ele deixou a varinha de lado, indicando que tinha acabado de examiná-los.


"Certo, bem, professora McGonagall, Madame Pomfrey, vocês só precisam assinar aqui-", o representante do Ministério deu espaço para elas assinarem o documento na parte das testemunhas.


"É uma boa coisa que isso tenha sido feito em uma sexta-feira", o medibruxo acrescentou. "Vocês não vão precisar manter contato até segunda, pelo menos. E também devem reexaminar a programação de aulas e ver se podem mudar algumas. O novo semestre acabou de começar, então não deve haver problemas com matérias diferentes".


"Si-sim, nós conversamos sobre isso", disse Draco, tentando recompor seu equilíbrio. "Eu provavelmente vou voltar para a aula de Feitiços com a Sonserina".


"Só isso?"


"Não dá para mudar as outras. Além disso, a maioria delas são aulas conjuntas".


"Ele vai ter Feitiços quando eu estiver almoçando, e então eu terei essa aula enquanto ele estiver almoçando", Potter acrescentou.


"Vocês têm algum período livre ao mesmo tempo?"


"Sim, um — não havia outras aulas para ocupá-lo".


"Não fiquem juntos", o medibruxo aconselhou. "Pelo menos, não pelas primeiras semanas. Isso só faria ser mais difícil para vocês se desvencilharem". Ele fez uma anotação em sua planilha. "Bem, da minha parte é isso. Vocês estão livres para ir, em termos médicos".


"E a parte legal está acabada", disse o representante do Ministério, animado. "Bem-vindos de volta à vida de solteiro, garotos".


O pai de Draco limpou a garganta. "Draco, nós temos muito que conversar", disse ele e olhou para Potter de modo impaciente, claramente querendo que o outro saísse da frente.


"Potter?", disse McGonagall gentilmente. Potter lhe lançou um pequeno sorriso e balançou a cabeça antes de sair do escritório. Draco o assistiu ir embora, de repente surpreso pelo fato de que, pela primeira vez em meses, não conseguia sentir Potter se afastar.


"Draco. Nós temos muito que conversar", seu pai repetiu, e Draco concordou com a cabeça, se obrigando a desviar o olhar da porta que tinha acabado de se fechar atrás de Potter.


"Obrigado, sr. Malfoy, pela sua ajuda em capturar McKay", um dos aurores falou secamente, e Draco podia sentir o desprezo que o homem sentia por seu pai. Provavelmente sabia ou suspeitava que o que quer que Lucius tinha feito para pegar McKay deveria colocá-lo de volta em Azkaban.


Lucius inclinou a cabeça educadamente, o desprezo pelo auror também claro no seu sorriso gracioso. "De nada", disse formalmente. "Sempre satisfeito em ajudar". Seu pai lançou um último olhar para McKay, e Draco estremeceu quando McKay se encolheu instintivamente. "Agora, se não há mais nada que nós possamos fazer…"


"Não, obrigado, senhor, vocês dois estão livres para ir", disse o auror, e Draco foi conduzido até o pátio pelo pai, que lançou um feitiço embaralhador ao redor deles assim que alcançaram o lugar.


Draco apertou o casaco ao redor de si, tremendo um pouco, com inveja da capa de pele que seu pai vestia.


"Muito bem, estou contente por ter acabado", Lucius disse e acenou impacientemente a varinha para o filho ao notar seu tremor. "Calorum. Eu não tenho muito tempo, então, preste atenção. Estou indo encontrar o Lorde das Trevas para dar as notícias do que aconteceu e de McKay".


Draco piscou. "McKay? Ele era um-"


"Sim", seu pai o cortou. "E esse é um dos motivos pelo qual devo encontrar o Lorde das Trevas o mais rápido possível. Eu providenciei que a entrega de McKay aos aurores não prejudique nossa causa, embora não tenha sido fácil fazê-lo". Ele fez uma pausa. "Eu também consegui encontrar uma… recompensa para oferecer ao Lorde das Trevas", Lucius disse, cauteloso. "Mas não tenho certeza se será o suficiente".


Draco o encarou, seu desconforto pelo fim do elo esquecido por um momento.


"O Lorde das Trevas não é um homem benevolente. Espero que o que eu tenho seja suficiente para ele perdoar minhas ações, mas, caso não seja, deixei cartas com os nossos advogados com instruções para eles — e para você e sua mãe — do que fazer caso eu… desapareça".


Draco engoliu em seco. Oh, Mordred.


Antes sempre era tão empolgante, quando seu pai ia encontrar o Lorde das Trevas, mas agora só podia sentir medo. Seu pai estava em perigo de encarar sabe-se lá deus o quê, e só deus sabia quando ou se ele retornaria. Draco tinha acabado de perder o marido, ele não podia perder seu pai também…


Ele abaixou os olhos, impacientemente afastando o impulso de mostrar seu desespero — gritar ou surtar de alguma maneira, agarrar seu pai e dizer para ele não ir — e então ouviu o pai limpar a garganta.


"Draco". Lucius tocou seu braço, e Draco levantou o olhar, assustado. Seu pai nunca o tocava. Ninguém tocava nele, a não ser Harry. "Você não precisa se preocupar. Eu não me colocaria em perigo levianamente". Ele sorriu de leve. "Creio que tudo ficará bem, estou apenas te avisando da possibilidade de as coisas derem errado porque acredito que você tem idade suficiente para não precisar ser poupado das hipóteses desagradáveis".


Draco concordou com a cabeça, engolindo com dificuldade, e hesitou por um momento antes de dizer, "Tenha cuidado". Ele se repreendeu mentalmente — que coisa idiota para se dizer, como se seu pai não fosse cuidadoso.


Mas Lucius não lhe lançou nenhum olhar desaprovador. Ele apenas concordou com a cabeça e sorriu. "Eu terei". Ele ajustou sua capa. "Agora, esqueça tudo isso. Concentre-se nos estudos. Tenho certeza que a situação será estranha a princípio, mas siga as recomendações do medibruxo e você ficará bem. Concentre-se em se comportar para o bem da nossa família, como você tem feito nos últimos meses".


Que droga, Draco pensou enquanto Lucius se afastava. Por que ele não podia simplesmente aproveitar a aprovação do seu pai, que era tão rara? Por que tinha que pensar nas conseqüências do que seu pai estava prestes a fazer?


ooooooo


Draco se espreguiçou e olhou para a mesa, onde um grupo de garotos do sexto ano levitava algumas garrafas de whiskey de fogo enquanto a festa prosseguia, e decidiu que já era tarde o suficiente para poder ir para a cama sem que os outros o provocassem sobre ir embora cedo da sua própria festa de divórcio. Duas festas em dois dias eram meio demais, e Draco não estava no clima de comemoração, não importava o que seus colegas pensassem. Só estava cansado e queria ir para cama.


Mas tinha sido uma festa legal. Apesar de ter se preocupado, quando entrou no salão comunal depois do fim do elo e pensou que, sem Potter e seus amigos grifinórios, aquela festa se transformaria na boa e velha difamação de Potter pela Sonserina. Felizmente, não houve nada daquilo. Muitas piadas sujas sobre Draco se aproveitar do seu novo status de solteiro, quase nenhuma referência a Potter.


"Você que é responsável por esse fato?", ele tinha perguntado para Pansy em algum momento da noite.


"Não. Mas eu posso ter mencionado que nenhum de nós sabe o que vai acontecer no futuro. Vago o suficiente para que ninguém pudesse contestar, mas claro o suficiente para que eles achassem outros temas para piadas".


"Por quê?"


"Querido", ela tinha lançado um sorriso malicioso para ele, "vamos apenas dizer que eu estou me certificando que a profundidade da sua dívida comigo não tenha limites".


"Estou começando a ficar nervoso com isso", ele brincou.


"E você deveria", dissera ela de forma convencida.


Ele olhou ao redor do salão comunal e a viu em um canto, discutindo com Queenie Greengrass e algumas de suas amigas do sexto ano. Draco estreitou os olhos, tentando entender a natureza dos murmúrios furiosos. Parecia uma briguinha normal entre garotas, mas, considerando as garotas envolvidas…


Queenie realmente era uma vadia, refletiu enquanto a assistiu retrucar para Pansy. Não que Pansy não fosse também, quando estava no humor, mas Queenie era implicante e cruel porque achava divertido. Não tinha nenhuma classe, elegância ou senso de humor.


Além de ser um pé no saco total quando estava para ficar ‘naqueles dias’, como agora, assim como as garotas que andavam com ela — todas faziam parte de um grupinho ilícito de sonserinas que praticavam Magia do Ciclo da Lua. Ele suspirou. Snape tentava tanto reprimir os encontros sobre Magia do Ciclo da Lua que eles aumentavam todos os anos. Não apenas por essa magia ser considerada das Trevas, mas também por ser terrível para os outros, que tinham que conviver com garotas adolescentes lidando com seus hormônios e com a volátil magia da lua afetando seu humor de modo imprevisível.


Hm... elas estavam de TPM, não estavam? E Queenie estava incomodando Pansy há bastante tempo, e era muito idiota da parte dela estar usando calça branca…


"Flumen Mensanguina", ele murmurou na direção dela, e foi recompensando pela expressão alarmada de Queenie. Ela balançou a cabeça rapidamente, analisando com o olhar todo o salão comunal, instruções sussurradas freneticamente para as amigas, e começou a ir embora, a capa enrolada na cintura e as amigas amontoadas ao seu redor.


Pansy as observou, confusa pelo fim repentino da briga. Ela olhou ao redor e notou o sorriso convencido de Draco do outro lado do cômodo. Aproximou-se, sentou ao lado dele e o abraçou forte, nem se preocupando em perguntar como o loiro tinha se livrado de Queenie e companhia. "Estou tão feliz por você estar de volta", ela suspirou, feliz.


"É. Eu também". Ele bocejou. "Mas nós deveríamos ir para a cama".


"Por deus, Draco, você vai ter que aprender a paquerar de novo se essa é a melhor cantada que consegue passar", disse Pansy, e Draco sorriu. "Mas você está certo, nós precisamos dormir. Acho que fui dormir muito tarde ontem por causa da sua festa pré-divórcio".


"Nós todos precisamos ir para a cama", Millicent gemeu. "Quadribol amanhã. Temos que nos preparar para o terror inevitável. Por que seu pai não encontrou McKay na semana passada…", ela suspirou e levantou para ir para o dormitório feminino, uma garrafa de cerveja amanteigada na mão.


"Você não vai estar bem para jogar amanhã", disse Draco em tom reprovador.


"Nem ligo", ela murmurou. "Nós estamos condenados, de qualquer jeito. Potter deveria ter feito o Inchaço Escrotal de Baddock ser permanente. Vamos, Pansy", disse ela, e Pansy deu um último abraço em Draco e a seguiu.


"É engraçado, ver só você aqui", disse Blaise enquanto eles entravam no dormitório, onde Crabbe e Goyle já estavam roncando. "É muito estranho, não ter mais ele por perto?"


Draco deu de ombros. "Um pouco. O medibruxo disse que tudo deve voltar ao normal na segunda".


"Vai ser tão diferente, não te ver mais sentado nas aulas com ele".


"Eu sentava longe dele antes. Vai voltar a ser assim, só isso".


"Você falou com o seu pai…"


"Não. Eu não sei de nada".


Blaise concordou com a cabeça. Bom. "Bem, boa noite".


"Boa noite", disse Draco, se ajeitando na cama, que de repente parecia ser muito grande e fria. Ele arrumou as cobertas, tentando se aquecer, precisando… sentindo-se apavorado por quanto e como desejava ter outro corpo ali. Não necessariamente Harry. Apenas alguém. Alguém para abraçar, para aquecê-lo. Para fazer-lhe companhia durante a noite.


É um hábito, só isso, ele disse para si mesmo. Um hábito que eu posso romper.


Fechou os olhos e desejou dormir, afastando todos os pensamentos sobre Harry. Abraçou-se, tremendo um pouco, concentrando-se na paz, na serenidade e no descanso.


Não adiantou nada.


Ótimo, então. Ele pegou a varinha. Dormitas, murmurou, e sentiu-se mergulhar no sono.


ooooooo


Dia 117, Sábado


Harry manteve os olhos nos jogadores enquanto a multidão ao redor comemorava a manobra dos artilheiros da Corvinal. Ele não olharia para o outro lado do campo, para as arquibancadas da Sonserina. Não iria tentar localizar Draco no meio do mar de verde e prata. Iria manter os olhos nos jogadores e a mente no jogo. Iria pensar em estratégias, em treinar seu time, em pegar dicas com a Corvinal para usar contra a Lufa-Lufa na próxima partida da Grifinória e notar detalhes que poderiam ajudar a Grifinória no jogo contra a Sonserina no final do ano letivo.


Ele iria agradecer a deus por Draco não estar jogando aquele jogo, porque não sabia se conseguiria suportar aquilo. Não teria vindo, se Draco estivesse jogando. Na verdade, não tinha certeza se deveria ter vindo mesmo assim.


Não, que besteira. É claro que ele deveria ter vindo. Era Quadribol, e sua vida estava voltando ao normal. E "normal" incluía assistir a jogos de Quadribol.


"Normal" incluía que ele acabasse com alguns hábitos — como ter Draco constantemente a seu lado e em seus pensamentos. Hábitos podiam ser rompidos. Por exemplo, ele tinha adquirido o hábito de nunca tocar em ninguém e se sentia meio desconfortável no meio da multidão naquele momento, mas estava se forçando a se acostumar, e não estava sendo ruim. Hermione estava ajudando. Ela o cumprimentou com um caloroso abraço quando ele voltou para o salão comunal da Grifinória, e colocou a mão em seu ombro naquela manhã, o conduzindo para o Grande Salão. E, embora ele tivesse se encolhido pelo contato, estava reaprendendo a não fazê-lo.


As pessoas podiam se acostumar a tudo. Ele tinha se acostumado a estar casado, podia muito bem se acostumar a estar solteiro. Divorciado. O que quer que fosse que ele era agora.


Outra goles entrou para a Sonserina, e a torcida comemorou enquanto os corvinais reclamavam, frustrados. A Sonserina estava indo bem, 50-10. O goleiro da Corvinal iria afundar o time todo se não fosse substituído. O que eles provavelmente não fariam; substituir um jogador no meio do campeonato por algum motivo além de suspensão ou lesão grave não era comum, exceto na Sonserina.


Mais uma vez, Harry se perguntou como seria quando Draco fosse o apanhador da Sonserina, no jogo final contra a Grifinória. Desviou os pensamentos, porque não deveria estar pensando em Draco.


Mas não tinha problema, o fato de ainda estar pensando nele. Ou de que ainda se sentisse praticamente igual à antes do elo terminar, exceto por não poder sentir as emoções e pensamentos de Draco. Seria bizarro não pensar nele. Não sentir falta dele à noite, não acordar naquela manhã sentindo como se estivesse faltando alguma coisa. Eles tinham dividido a cama por quase quatro meses; quatro meses acordando com uma presença quente a seu lado, com a cabeça de Draco no seu ombro, as pernas misturadas, o braço de Draco na sua cintura. O cheiro de Draco ainda estava nos lençóis da cama de Harry na Grifinória. É claro que ele tinha acordado desorientado e frustrado, indo de um sonho vívido e da excitação matinal para uma cama vazia com ninguém para ajudá-lo a lidar com a situação. O que ele estava sentindo era perfeitamente natural e desapareceria com o tempo.


Ginny ofegou e agarrou seu braço porque os corvinais executaram outra manobra ousada, e ele fez uma careta quando os jogadores quase trombaram com as arquibancadas. Mas a goles entrou. Caramba, Harry estava ganhando um novo respeito por Ron não ter simplesmente fugido no jogo contra a Corvinal.


"Mais dez pontos para a Corvinal!", a voz de Smith se sobrepôs à comemoração da Corvinal e aos lamentos da Sonserina. "E a Corvinal - oh!" Smith não conseguiu acompanhar os acontecimentos quando uma artilheira da Corvinal foi acidentalmente lançada para fora da vassoura por um companheiro de time, que no mesmo segundo manobrou e a resgatou, foi atrás da vassoura dela, a ajudou a subir de volta e continuou a voar.


"Um Resgate de Travers!", Smith gritou quando a multidão soltou um suspirou de alívio e comemorou. "Lindamente executado — parece que alguém aprendeu com Potter e Malfoy, e que bom, considerando o estilo arriscado que os artilheiros da Corvinal estão voando este ano — e a batedora da Sonserina, Bulstrode-"


Harry não acompanhou mais os comentários de Smith, pois seus olhos se desviaram imediatamente para a cabeça loira do outro lado do campo. Ele e Draco sorriram um para o outro antes que desviassem deliberadamente o olhar.


Tinham se aperfeiçoado naquela manobra, eles dois, embora da primeira vez que a executaram foi por acidente; Draco tinha jogado Harry para fora da vassoura sem querer e então manobrou tão rapidamente que Harry mal teve tempo de registrar que estava caindo antes de estar na vassoura de Draco. Os dois voaram atrás da vassoura de Harry, que pulou para ela sem pensar em como era arriscado pular de uma vassoura para outra. Só então perceberam que tinham acabado de realizar um Resgate de Travers.


Tiveram que parar por alguns instantes, meio balançados por perceber que tinham acabado de escapar da morte, porque, se Harry se machucasse seriamente, o choque teria matado Draco, e Harry teria morrido também.


E, depois que se recuperaram um pouco, perceberam que tinha sido muito divertido e interromperam o Jogo de Apanhadores para praticar a manobra, para o caso de precisarem executá-la de novo. O que, considerando como eram os jogos entre eles, era bastante provável.


Tinham feito a manobra de novo. Muitas vezes. No meio dos Jogos de Apanhadores, durante os aquecimentos, ou só como diversão. Facilmente, lindamente e perfeitamente em sintonia.


E eles nunca fariam aquilo de novo.


É só um hábito, estar com ele, Harry disse a si mesmo. Um hábito que eu posso romper. Como não querer que ninguém me toque, ou sentir falta dele ou não querer dormir sozinho. Eu vou me acostumar e não vou mais pensar nessas coisas.


Ele se obrigou a comemorar com o resto dos grifinórios quando o apanhador da Corvinal capturou o Pomo de Ouro.


                                                                                  oooooo


Capítulo 4 — Lavando a roupa suja no Grande Salão:
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Capítulo 9 — A primeira vez (AVISO: cena NC-17. Não é mostrado nenhum detalhe anatômico mais comprometedor, mas o desenho deixa bastante óbvio o que eles estão fazendo):
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Capítulo 14 — Chegando muy animados no Baile de Inverno:
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