28 de Novembro

28 de Novembro



Capítulo 13
28 de Novembro


Dia 61, Sábado


Draco se esticou preguiçosamente, estalando alguns ossos das costas. Ele e Potter estavam na biblioteca e já tinham cumprido cerca de metade das três horas programadas para estudar e revisar anotações, que seriam seguidas por um jantar em Hogsmeade. Jantar este que ele estava começando a ansiar com uma vontade alarmante.


Não devia precisar tanto daquilo, mas precisava. Precisava de um tempo longe da Sonserina e da tensão e hostilidade de lá. Tempo longe da Grifinória e do seu protecionismo excessivo e irritante, especialmente na maneira como o tratavam ultimamente. Os idiotas ignorantes pensavam que estavam lhe fazendo um enorme favor por incluí-lo em seu círculo social. Sentindo-se mal por ele pelo que os sonserinos estavam fazendo. Acolhendo-no de braços abertos, com uma expressão convencida de “Olhe Como Nós Somos Nobres” e um requinte nauseante de “Você Não Está Agradecido Por Nós Te Ajudarmos Quando Você Precisa?”.


Draco queria azará-los até que todos eles perdessem a consciência.


Ao menos não estava mais constrangido perto dos grifinórios que participaram do círculo. McGonagall e Snape não eram problema; professores salvando a vida de alunos tinha se tornado normal durante seus anos de Hogwarts, e ele não precisava estar perto dos dois em ocasiões sociais, de qualquer forma. Blaise e Pansy apenas tinham observado que Draco estaria para sempre em débito com eles, não apenas pelo feitiço do círculo, mas por ambos manterem-se leais a ele apesar da queda de status da sua família com o Lorde das Trevas. Mas por semanas o sonserino se sentira completamente exposto — e desconfortável pelo peso da gratidão — ao redor de Weasley, Granger e Longbottom. Ficar perto deles por um segundo que fosse era extremamente incômodo.


Draco finalmente tinha se acostumado com aquilo, mas a Grifinória ainda era bem irritante. A única coisa legal na Torre da Grifinória era Seamus Finnigan, com seu divertido constrangimento sobre todo o “lance gay”. Ele ainda desviava o olhar com nojo quando via Draco e Potter na mesma cama, não conseguia ficar no quarto quando eles se tocavam e até tinha resmungado algo como “vocês não podiam fazer isso em outro lugar?” uma vez que Potter deu um beijo em Draco, o que fez com que os outros garotos começassem a tirar com cara dele constantemente — era bem engraçado.


Pelo menos aquela homofobia exagerada era honesta. Idiota e induzida por motivos trouxas, mas honesta.


Bem... por razões não totalmente trouxas. Muitos dos sonserinos puro-sangue tinham demonstrado que também apoiariam homofobia se isso ajudasse a denegrir Draco e Potter.


"Malfoy, pare com isso", disse Potter, colocando a mão no pescoço de Draco sem levantar o olhar das anotações de Aritmancia.


"Parar com o quê?"


"De ranger os dentes. Relaxe". Potter começou a esfregar firmemente a junção entre seu pescoço e seu ombro. "Como você está tenso", ele murmurou, ainda sem levantar o olhar.


Draco inclinou a cabeça para baixo, surpreso por como aquela esfregação no seu pescoço era boa enquanto a mão de Potter se movia para a base da sua nuca. "O que você está fazendo?", perguntou, curioso.


"Como?"


"Isso com a sua mão. Não parece ser um feitiço normal…", comentou, inclinando a cabeça para o lado, dando melhor acesso para Potter.


Potter olhou para ele, sorrindo, sua mão ainda fazendo aquele feitiço. "Não é feitiço nenhum, é só uma massagem. Você nunca tinha recebido uma massagem antes?"


"Mm, acho que não. Não é mesmo magia?" Ele fechou os olhos.


"Não, não mesmo". Dava perceber pela voz de Potter que ele estava rindo.


"Mm. É bom...", ele ficou quieto, se permitindo aproveitar aquela sensação de contentamento, de ser mimado. Potter se inclinou para mais perto, esfregando seu ombro com as duas mãos agora, e Draco vagamente desejou que ninguém estivesse vendo aquilo e fazendo comentários. Mas então considerou que eles podiam comentar o quanto quisessem. Aquilo era bom demais para parar. E, quem sabe, talvez uma das “fontes anônimas” diria ao Profeta que tinha certeza que ele e Potter não se odiavam. O sonserino suspirou, debruçando em cima da mesa, e só abriu os olhos quando Potter deu uma última esfregada nas suas costas e limpou a garganta.


"Hmm?"


"Estamos indo embora", Potter anunciou.


"O quê? Achei que quisesse terminar sua revisão de Defesa Contra as Artes das Trevas".


"Com você rangendo os dentes e suas costas duras como pedra? Não, obrigado. Vamos sair para voar, e depois podemos ir mais cedo para Hogsmeade".


"Mas-", a objeção sem muita vontade morreu rapidamente quando Potter guardou os livros e levantou.


Certo. Por que não? Eles não tinham voado muito ultimamente, com aquela montanha de coisas para estudar e as chateações na Sonserina, mas a tarde estava bonita, eles estavam quase em dia com os deveres escolares e mais do que mereciam uma boa pausa.


E aquilo certamente se qualificava como uma boa pausa, ele decidiu quando começou a perseguir o Pomo de Ouro, alguns minutos depois, todos os pensamentos sobre os sonserinos, os jornais e os estudos ficando para trás com a sensação do vento batendo no seu rosto. O sexo era bom, e se eles fossem obrigados a escolher entre um dos dois obviamente prefeririam fazer sexo a voar, mas não podiam fazer sexo o tempo todo. E havia algo extremamente gratificante no jogo de apanhadores. Especialmente em um jogo de apanhadores que acabava tão bem para ele.


"Como é que você continua vencendo?", perguntou Potter com raiva depois que Draco apanhou o pomo mais uma vez, ganhando o último jogo. "Você não é bom desse jeito nas partidas".


"Você não é tão bom sozinho como é voando junto dos seus seis adorados fãs do time da Grifinória", respondeu.


"E que diferença isso faz?"


"Eu sempre te sigo durante as partidas", disse Draco. "Eu sou muito bom em considerar o outro apanhador. Mas, para você, é sempre só você e o pomo de ouro, e mais nada existe. Você deixa as outras pessoas do seu time lidaram com o outro apanhador".


"Mas é isso que se tem que fazer nas partidas", disse Potter quando eles começaram a descer.


"Partidas, talvez. Não no jogo de apanhadores".


Potter concordou com a cabeça. "Eu me pergunto se os sonserinos ainda estão apostando em você".


Draco deu de ombros, não querendo pensar muito naquilo.


"Olha, eu sinto muito por eles estarem-"


"Não, não me diga que você sente muito de novo", Draco se irritou quando pousaram. "Acredite ou não, não é nada reconfortante".


"Certo, não vou mais falar isso".


"Anda, Potter, vamos para Hogsmeade", disse o loiro, guardando o pomo de ouro.


"Harry", disse Potter depois de alguns instantes.


"Como?"


"Não que eu queira tornar as coisas mais fáceis para os seus pais, mas eles estão certos a respeito disso. É uma idiotice que a gente ainda chame o outro pelo sobrenome".


"Eu não vou usar o seu primeiro nome em público só para efeitos publicitários".


"Nós não estamos em público agora", respondeu Potter, e Draco desviou o olhar, tirando as luvas. "Olha, se você for contra por algum motivo particular-"


"Não, não é nada disso-"


"Então pare de se referir a mim como se eu fosse apenas um conhecido. Pelo menos quando estivermos sozinhos. Você pode me chamar de Potty quando estiver com seus amigos que eu não dou a mínima".


Draco riu. "Está bem".


"Anda. Vamos para Hogsmeade, para que você possa reclamar de como o serviço deles ruim, como a comida é de péssima qualidade e se vangloriar de como tudo é bem melhor onde vocês, Malfoys, normalmente jantam".


Draco continuou a rir. "E, depois do jantar, vamos para casa", disse impulsivamente.


"Não vamos para a Sonserina?" perguntou Potter, meio surpreso, tirando a proteção do queixo. Eles não passavam a noite no dormitório próprio há mais de uma semana. "O que aconteceu com o obediente herdeiro dos Malfoy?"


"Ele ainda está aqui, só meio irritado e precisando de uma folga dos seus patéticos colegas de casa".


"É uma boa noite para escapar, mesmo, porque os sonserinos provavelmente vão concluir que nós vamos para nosso quarto depois de Hogsmeade para transar feito loucos".


"E quem disse que nós não vamos?", ele disse, e Potter sorriu. Draco se inclinou para um beijo, e Potter respondeu com vontade, puxando-o para mais perto. "Mm...", o sonserino sussurrou no ouvido de Potter. "Talvez a gente possa ir para Hogsmeade mais tarde..."


"Erm... eu estou com fome...", disse Potter suavemente, traçando uma linha de beijos pelo pescoço de Draco.


"Eu também", respondeu Draco com malícia, correndo a mão pelas costas do grifinório.


"Com fome de comida", riu Potter.


"Ah, a gente sempre pode conseguir comida com os elfos domésticos..."


Ele inclinou a cabeça para trás e fechou os olhos em contentamento enquanto Potter continuava suas atividades, os dois ainda aquecidos e com cheiro de vento, exercícios e pele de dragão do uniforme de Quadribol, a excitação suave apenas uma recompensa prazerosa de tocar e ser tocado, dos dedos correndo pelo seu cabelo-


Um leve limpar de garganta vindo de trás o assustou. Potter relutantemente levantou a cabeça — e então ficou imóvel e prendeu a respiração. Antes que Draco pudesse se virar para ver quem os estava ameaçando, congelou ao ouvir uma voz familiar.


"Eu espero não estar… interrompendo alguma coisa?"


Draco sentiu seu estômago revirar.


"Pai". Ele respirou fundo, se obrigou a juntar o que sobrara da sua compostura, desvencilhou-se de Potter e se virou.


"Draco. Sr. Potter", seu pai disse educadamente. Houve um curto silêncio, durante o qual Draco tentou regularizar sua respiração e reprimir seu crescente desconforto. Não havia motivo nenhum para aquilo. Aquele era apenas seu pai, e Draco não estava fazendo nada de errado; por que ele estava sentindo aquela estranha… culpa?


"Me disseram que você ficaria na biblioteca até bem tarde hoje. Severus mencionou algo sobre uma detenção? Um dever não entregue?"


"Eu… eu já terminei", disse Draco rapidamente, amaldiçoando a hesitação na sua voz e o calor nas suas bochechas.


"Eu espero que sim. Não seria nada bom ficar atrasado nas suas tarefas escolares", seu pai disse. Houve outra pausa curta. "Sr. Potter, eu gostaria de falar com o meu filho em particular por alguns momentos. O Grande Salão está quase vazio agora, talvez nós possamos sentar em uma mesa e você possa ficar estudando em uma mesa diferente. Madame Pomfrey disse que o elo amenizou ao ponto que vocês podem ficar fisicamente separados por alguns minutos, certo?"


Potter lançou um olhar questionador para Draco, que assentiu com a cabeça. "Claro", respondeu, e gesticulou para que Lucius os acompanhasse até o interior do castelo.


"Erm– quando você chegou?", o sonserino perguntou para seu pai quando eles começaram a caminhar.


"Há pouco tempo. Espero que não seja inconveniente para você que eu apareça assim, sem avisar; tinha alguns negócios a resolver em Hogsmeade".


"Não, não, nada inconveniente", disse Draco, conduzindo a conversa amena com extrema dificuldade e odiando a habilidade de seu pai de, como sempre, aparentar estar perfeitamente composto e calmo.


Eles encontraram um lugar próximo da lareira na mesa praticamente vazia da Sonserina, e Potter se acomodou com seus livros na mesa da Lufa-Lufa, tão longe quanto o elo permitia que ele ficasse. Draco franziu a testa quando seu pai sentou em uma cadeira de frente para a mesa da Lufa-Lufa, forçando o loiro a sentar de costas para Potter.


Fazendo com que Draco se sentisse desconfortável desde o início. Ótimo.


"Como você está, Draco?", seu pai perguntou, depois de pedir que um elfo doméstico trouxesse chá para eles.


"Bem, obrigado, pai", respondeu educadamente, e os dois conversaram sobre coisas sem importância por alguns minutos, esperando que o chá chegasse. Draco estava ficando progressivamente mais desconfortável a cada minuto.


"Eu lancei um feitiço embaralhador ao nosso redor, então creio que podemos conversar livremente", disse seu pai, por fim. "Obviamente eu preferiria fazer isso noutro lugar, mas o Ministério ainda está um pouco hesitante sobre a minha presença em qualquer ambiente perto de Potter…", o leve sorriso de seu pai mostrava como ele achava divertido que o Ministério pensasse que ele fosse tolo o suficiente para tentar agredir Potter.


"Imagino que você esteja acompanhando os jornais", ele começou, e Draco concordou com a cabeça, consciente de que não estava. Ele tinha a intenção de fazê-lo, mas-


"Mesmo?", seu pai perguntou, e Draco amaldiçoou-se internamente. Seu pai sempre, sempre sabia quando ele estava mentindo. Como é que ele fazia aquilo?


"Não... não sempre, pai. Eu… eu tentei, mas com as aulas-"


"Então me deixe resumir para você", seu pai o interrompeu com aquele tom de impaciente condescendência que sempre afetava Draco. "Há uma grande incerteza de onde minha lealdade está. Também há muita incerteza sobre quando e onde será o próximo ataque dos seguidores do Lorde das Trevas. Há rumores sobre o aumento das atividades dos Comensais da Morte nos últimos tempos, alguns desaparecimentos, algumas invasões de casas importantes, roubos de certos artefatos ligados às artes das trevas".


Draco assentiu. Blaise e Pansy comentaram sobre aquilo — e havia sido extremamente difícil ouvir sobre o assunto como alguém de fora, sabendo que pedir mais detalhes para seus pais não adiantaria nada, porque provavelmente eles sabiam tanto quanto Draco.


"Eu não preciso te dizer que estamos passando por uma situação delicada", Draco concordou com a cabeça. "Você sabia que existiam… certos planos em andamento antes que o feitiço de ligação fosse lançado em você". Draco continuou a balançar a cabeça positivamente. "Você não sabia dos detalhes então, e não precisa saber deles agora. Tudo o que precisa saber é que certos planos programados para o outono foram adiados, por causa do elo, em um gesto de boa vontade do Lorde das Trevas com a nossa família. Ele não prometeu adiar seus planos para sempre — e eu nem esperava por isso — mas foi generoso o suficiente para nos dar tempo para tentar lidar com o elo antes de seguir com o planejado. Eu não tenho palavras para dizer o quanto foi feito em nosso benefício, Draco", os olhos de seus pais estavam carregados de seriedade. "Também não tenho palavras para dizer como foi difícil obter tal indulgência do Lorde das Trevas".


Draco engoliu a seco com dificuldade e concordou novamente.


"Como você deve imaginar, o feitiço do círculo prejudicou o equilíbrio precário entre os seguidores do Lorde das Trevas", ele tomou um gole de chá. "Eu tentei fazer tudo o possível para manter uma boa relação com o Lorde das Trevas, à distância. Não me apresentei diante dele, não me presumo importante o suficiente para não ser punido por ele devido ao meu envolvimento no círculo, como forma de disciplina. Se fosse eu no lugar dele, faria o mesmo".


"Sim, senhor".


"Estamos fazendo o possível para não fechar todas as portas caso seja possível voltar ao lado certo em algum ponto do futuro. Mas, se fizermos isso, vamos precisar de algo com que retornar — alguma mostra da nossa lealdade que servirá como compensação adequada pelas minhas ações. Informações sobre o outro lado, armas que eles possam ter, defesas e como ultrapassá-las, identidade dos membros da Ordem da Fênix".


Draco continuou a concordar, se obrigando a ignorar a sensação de náusea que começava a se formar no seu estômago. Se aquilo era pela desorientante distância de Potter ou pelo que seu pai estava dizendo, não importava. Ele se concentrou nas palavras de seu pai.


"Isso é exatamente o que o outro lado suspeita e por que eles não confiam em mim, com bons motivos. Eu estou, é claro, doando dinheiro para as causas e pessoas apropriadas. Nós queremos mostrar que seu elo com o herói deles é bem-sucedido e certamente permanente. Qualquer coisa para podermos ficar no lado poderoso da estrutura social deles, independente de ser possível voltarmos para o Lorde das Trevas ou não". Ele fez uma pausa e mexeu seu chá.


"Ainda estamos procurando por quem lançou o elo. Porque, mesmo depois que o elo enfraquecer e vocês poderem seguir caminhos separados, você ainda ficará muito vulnerável por um bom tempo caso Potter seja ferido de alguma maneira. Eu não sei quanto tempo você terá antes de Potter ser atacado — como eu disse, os planos estavam pensados para acontecer esse ano, agora".


"Mas os aurores tentaram encontrar-"


"Os aurores têm certos limites nos seus métodos".


Draco concordou. Claro: nada de Legimencia não-autorizada, nada de tortura seguida de Obliviate, nada ‘não-ético’. "Vocês fizeram algum progresso?"


Seu pai hesitou. "Não... não tanto quanto gostaríamos, mas já descartamos alguns suspeitos. Estamos nos concentrando nas pessoas com acesso aos estudantes de Hogwarts, principalmente, mas não exclusivamente, na Sonserina. Não encontramos nada contra seus amigos Pansy e Blaise – não que eu esperasse alguma coisa, já que eles passaram por um interrogatório com Veritaserum na noite do feitiço do círculo. No entanto, enganar Veritaserum não é impossível, especialmente se você estiver alerta, como todos nós estávamos naquela noite. Se não encontrarmos nada contra mais ninguém, eu devo pedir que você os interrogue de novo. Eles não estarão alertas contra você".


Draco se horrorizou com a idéia, mas concordou, obediente, mesmo assim.


"Nós também estamos considerando a possibilidade de o feitiço ter sido lançado por algum membro da Ordem da Fênix, descontente pelo status de estrela de Potter. Talvez esperando matar Potter e enfraquecer o nosso lado ao mesmo tempo".


Draco franziu a testa, cético. "Isso não me parece muito provável".


"Não é. Mas eu quero me certificar de cobrir todas as hipóteses".


"Obrigado, pai".


"Esse é um agradecimento genuíno, Draco?", seu pai perguntou casualmente, bebendo chá.


"Desculpe, como?"


"Você ainda quer que esse elo seja dissolvido?"


O estômago de Draco revirou novamente. O tom de seu pai era tão calmo e sereno como se eles estivessem discutindo o próximo Campeonato de Quadribol.


"É claro", ele respondeu, tentando soar confuso pela pergunta.


"Você tem certeza?"


"Por que eu não iria querer?" Draco disse, devolvendo a pergunta ao pai. Os olhos de Lucius mostraram uma certa aprovação pela sua evasiva antes de retornarem à casualidade de sempre.


"Você certamente não age como se esse relacionamento fosse um fardo desagradável, Draco".


"Nós não estamos mais lutando contra o elo. Isso não significa que eu não quero me livrar dele".


"Mesmo".


"Sim".


"Lembre-se que eu vi algumas de suas memórias, Draco", disse seu pai friamente, e Draco se remexeu um pouco na cadeira.


"Você viu que nosso relacionamento físico é intenso", ele forçou seu tom a se manter casual. "E você sabe que isso é inteiramente culpa do feitiço de ligação. Não há nada além disso, pai". Draco estava se sentindo mais e mais nauseado a cada minuto.


Seu pai inclinou a cabeça, concordando com o argumento. "De certo modo, eu estou satisfeito; há muitas pessoas prestando atenção em vocês aqui, e os relatos delas são positivos. Vocês estão se dando bem, o que certamente ajuda a tornar nossa posição mais crível e um pouco mais fácil de conseguirmos informações que podem ser úteis no futuro. E eu espero que você reúna as informações que puder, é claro".


"É claro".


"Aliás, consegui que uma jornalista com discretas relações conosco venha falar com você na segunda-feira".


"Como?"


"O Profeta quer te entrevistar".


"Sobre..."


"Sobre o elo, Draco", disse seu pai, impaciente como sempre pela sua lerdeza. "Potter, e como você se dá com ele. Você não precisa exagerar e fingir que está apaixonado por ele, apenas explique que vocês se conformaram com o elo, que houve problemas, mas vocês os superaram e isso será o suficiente. Ela vai saber sobre o que pode e não pode escrever". Ele entregou um pedaço de pergaminho para Draco. "Leia isso antes de se encontrar com ela. E, se eles desejarem tirar fotos, pelo menos tente parecer apresentável". O olhar de seu pai passou pelo seu cabelo bagunçado e pelas roupas amassadas devido ao recente jogo de apanhadores, e Draco corou.


"Pai, se… se é para parecer que nós estamos comprometidos com esse elo, como é que vão ficar as coisas se você achar quem lançou o elo e removê-lo?"


Seu pai deu de ombros, despreocupado. "Não importa o quanto o elo pareça estar indo bem, eu duvido muito que as pessoas esperem que o filho de 17 anos previamente heterossexual de uma família puro-sangue fique com qualquer pessoa que ele e sua família não tenham escolhido. Menos ainda um garoto mestiço, ainda que ele seja o grande Harry Potter". Seu pai deu mais um gole no chá. "E, claro, também temos aquele relatório médico".


"Relatório médico?"


"Os... ferimentos que você sofreu nas mãos dele. Durante a suspensão de vocês".


"O quê?"


"Draco", seu pai murmurou quando algumas pessoas se voltaram para eles. "Por favor, lembre-se de onde você está".


Draco concordou, sua boca de repente seca. "Pai... aquilo, aquilo não foi-"


"Eu estou consciente do que aquilo foi e não foi, Draco. Mas é um fato registrado de que em um momento a enfermeira da escola estava preocupada com a sua segurança física. E também é um fato que Potter é uma pessoa instável. Mesmo sem aquele relatório médico, houve literalmente centenas de testemunhas no incidente no Grande Salão. Nós iremos, obviamente, lembrar esses dois incidentes, e qualquer outro que surgir, caso consigamos dissolver o elo". Ele deu outro gole no chá. "Eu só fiquei curioso, no entanto, em por que você não mencionou isso para mim ou para sua mãe".


Draco foi alfinetado por aquele olhar frio enquanto seus pensamentos se atropelavam. Seu pai tinha conseguido sua ficha médica — como não tinha imaginado aquilo? E como ele tinha considerado, ainda que por um momento, fazer o que Potter lhe pedira e conversar com Pomfrey depois daquele incidente? Deixá-la saber que a única razão para Potter ter se tornando “violento” é que Draco o havia levado àquilo, porque ele precisava, porque não conseguia aceitar seus sentimentos cada vez maiores por Potter e tinha que substituí-los por algo familiar e seguro, como ódio?


Seu pai deixou o silêncio crescer, fazendo-no ver que, como sempre, ele tinha o controle e não havia nada que Draco pudesse fazer a respeito. Seu pai sabia o que ele estava sentido, tinha espiões em todos os lugares, tinha conseguido os registros médicos de Draco, poderia fazer qualquer coisa.


"Não… não me pareceu importante", Draco disse por fim, tentando dar um tom de não-importância à voz, mas se surpreendeu com o quanto soava nervoso. Lucius olhou por cima de seus ombros e terminou o feitiço embaralhador.


"Mal- er, Draco?", uma voz suave disse atrás dele, e a diminuição da náusea e da tontura o fez saber quem era muito antes que sentisse a mão de Potter em seu ombro. "Com licença… será que vocês podem parar por um momento?"


Draco se virou, notando o tom levemente pálido no rosto de Potter e cobriu a mão do grifinório com a sua.


"Me desculpem, eu volto para meus livros em um minuto", disse Potter, sua voz suave, "Eu só-"


"Não, está tudo bem", seu pai respondeu educadamente. "Eu não deveria exigir tanto do elo de vocês. Nós já estávamos acabando mesmo. Draco, há mais alguma coisa que você deseje pôr para fora?"


Além do meu almoço? Draco reprimiu o pensamento e forçou suas feições a assumirem um tom de respeitosa consideração. "Não, pai".


"Então estou indo. Por favor, continuem com o que vocês tinham programado para o dia". Seu pai levantou.


"Até logo, pai".


"Até logo, Draco. Não esqueça de ler o que eu lhe dei". E Lucius Malfoy se foi sem olhar para trás.


"Então, o que foi?", perguntou Potter, sentando, a cor no seu rosto voltando ao normal.


Draco balançou a cabeça. "Depois eu te falo. Vamos nos trocar para ir para Hogsmeade".


"Você está bem?"


"Sim. E você?"


"Sim".


"Você não precisava ter vindo. Eu não estava me sentindo tão mal". Ele estreitou os olhos. "E nem você".


"Não era só o elo que estava fazendo nós dois nos sentirmos mal", Potter ponderou.


Draco desviou o olhar. "Anda. Vamos para Hogsmeade", disse, e os dois levantaram e saíram do Grande Salão.

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