24 de Outubro

24 de Outubro



Capítulo 8
24 de Outubro


Dia 26, Sábado


“-te falei, não é nada”, disse Malfoy, e Harry se virou, assustado, quando as cortinas abriram. Pomfrey o encarava, uma expressão indecifrável no rosto.


“...pois não?”, ele perguntou quando ela já o estava encarando há tempo suficiente para deixá-lo desconfortável.


“Madame Pomfrey, está tudo bem”, Malfoy disse, aparecendo de detrás da repartição do hospital, com a camisa na mão, extremamente aborrecido. “Ele não me machucou”.


“O quê?”, Harry perguntou, perdido. “Te machucar?”


“Ela está preocupada por causa das marcas”, Malfoy murmurou.


“Que mar- oh. Oh”. Harry sentiu seu rosto corar. Era incrível, pensou, como quando parecia que a situação não poderia ficar mais constrangedora, ela ficava.


“Sim, oh”, Pomfrey disse de modo neutro. “O sr. Malfoy insiste que nada sério aconteceu. Mesmo assim, eu vou chamar a Esposito”.


“Por causa de alguns chupões?”, Malfoy estava incrédulo.


Harry se remexeu na cadeira. Na luz clara da enfermaria, o pescoço de Malfoy parecia meio… violentado.


“Não apenas alguns chupões. Suas costas estão de um jeito que parece que você brigou com uma Veela raivosa”.


“O quê?”, Harry estava confuso. “Eu não arranhei as costas dele-”.


“Não você, Potter, mas a maldita árvore contra a qual você me empurrou ontem”, Malfoy respondeu. “Ela está toda preocupada porque-”


“Porque nós precisamos monitorar vocês e nos certificarmos que não machuquem um ao outro, sr. Malfoy”, disse Pomfrey bruscamente.


“As coisas ficaram meio agressivas, mas foi tudo consensual-”


“E, se esse fosse um relacionamento comum, não seria da conta de mais ninguém. No entanto, com o histórico de vocês, nós temos nossas reservas quanto a permitir que vocês abusem um do outro-”


“Ele não abusou de mim-”


“Eu não-”, Harry começou, e Pomfrey acenou para ele fosse para trás de Malfoy. Harry olhou para as costas do sonserino e se assustou.


“Oh meu deus-”, disse. “Eu não tinha idéia… Malfoy, por que você não disse-”


“Porque eu não me importei, seu idiota. Nem senti. Não sou uma garota, Potter, você não precisa agir como se eu fosse quebrar. Acredite, se não gostar do que você fizer, eu direi”.


“Mas-”


“Irei chamar Esposito”, disse Pomfrey firmemente. Ela começou a caminhar para fora da sala, mas depois se virou, obviamente em dúvida se deveria deixá-los sozinhos juntos.


“Oh, pelo amor de deus”, Malfoy resmungou, “Nós não vamos pular no pescoço um do outro enquanto você chama a curandeira. Olha, o Potter irá manter suas mãos de trasgo para si mesmo naquela cama, e eu vou ficar sentado aqui no meu cantinho, quietinho e longe do Grifinório grande e assustador¹”.


Harry abaixou a cabeça, profundamente envergonhado, e Pomfrey lançou a eles outro olhar severo antes de entrar no escritório.


“Por Merlin, isso é ridículo”, Malfoy murmurou.


Harry mordeu o lábio, se perguntando se era possível conseguir uma queimadura de pele por corar forte demais.


“Oh, que diabos, Potter, você não está mesmo pensando que… sim, você está”, Malfoy passou a camisa pelos braços e começou a abotoá-la. “Você não me machucou, seu imbecil”, disse ele, irritado.


“Mas Pomfrey-”


“Pomfrey provavelmente não fica com ninguém há um milhão de anos”, disse Malfoy. “Você acha que Pansy nunca me deixou nenhuma marca? Ou Helen ou qualquer outra garota que eu-”


“Mas eu, não é… eu queria te machucar, estava com raiva de você, te empurrei-”


“E eu quis que você fizesse isso”.


Harry recuou um pouco. “Você quer dizer… você gosta daqueles… daquele tipo de… hmm


“Daquele tipo de quê?”, Malfoy olhou para ele, confuso. “Você quer dizer… tipo, sadomasoquismo?


Harry abaixou a cabeça de novo, e Malfoy riu. “Você é inacreditável, Potter. Isso…”, ele acenou para as costas e o pescoço, “não é sadomasoquismo. Nem por um segundo. Isso é só… não se conter. E nós dois precisávamos de algo assim ontem”.


Harry levantou as sobrancelhas.


“Nós estávamos com raiva um do outro, não é? E, ao invés de transformar isso em uma briga e causar sérios danos, tivemos uma quase-transa fantástica, e eu acabei com alguns arranhões, que estão deixando nossa idosa enfermeira um pouco nervosa”.


Visto por esse ângulo, não parecia tão ruim. Harry respirou mais aliviado.


“Ela não é tão velha”, ele disse.


“Potter”. Malfoy pôs a mão na perna de Harry. “Você não fez nada de errado. Esposito provavelmente vai rir de Pomfrey por chamá-la por causa disso”.


ooooooo


“Tomara que ela não caia”, Harry disse enquanto ele e Malfoy observavam Esposito voar na direção deles.


Pomfrey os informara que a curandeira viria vê-los, mas os dois não quiseram desperdiçar o belo dia lá fora esperando por ela. Foram então aconselhados a seguirem com as atividades normais que haviam planejado. Esposito saberia onde encontrá-los por causa dos feitiços de localização e monitoramento lançados nas chaves de portais que eles carregavam. E agora lá estava ela, pouco depois do horário de almoço, voando na direção deles.


Harry fechou o livro, nervoso com a visita da curandeira e se sentindo bastante desconfortável com o fato de Pomfrey e Esposito pensarem que ele era uma ameaça para Malfoy. Era uma sensação horrível, saber que alguém o considerava perigoso… e se perguntar se esse alguém estava certo. Uma das piores sensações que ele conhecia — e que vivia lhe assaltando. Como quando temia ser o Herdeiro de Slytherin, petrificando trouxas a torto e a direito. Ou quando fez sua tia inflar. E quando estivera dentro da mente da cobra que quase matou o sr. Weasley. E agora, se perguntando se era uma ameaça à pessoa com quem estava ligado, misturando sua tendência à violência com sexo de um jeito perturbador.


Não importava muito que Malfoy, sua suposta vítima, achava tudo aquilo uma piada. Considerando o tipo de comportamento que Malfoy e sua família consideravam aceitável, Harry estava começando a acreditar que a aceitação casual do sonserino para o que tinha ocorrido não significava muita coisa.


“Bem”, disse Esposito quando atingiu o chão, “isso me fez lembrar dos bons tempos”. Ela desceu da vassoura, o rosto corado. “Toda vez que vôo, prometo a mim mesma que irei fazer isso mais freqüentemente. Costumava voar todos os dias quando era uma mais nova. Fui apanhadora por quatro anos nos meus tempos de escola”. Ela sorriu para Malfoy. “E, sim, ‘nos meus tempos’ significa alguns anos antes da Idade Média, sr. Malfoy”, disse ela, bem-humorada. “Então, é aqui que vocês têm passado seus dias?”


“Sim, a maior parte do tempo”.


“É muito legal. Boa escolha, garotos”. Ela sentou no chão, acenando para que eles a imitassem. “Certo. Acho que é hora de discutirmos o que está acontecendo aqui”, começou, em tom sério.


Malfoy limpou a garganta enquanto sentava. “Eu disse para Madame Pomfrey que não-”


“Não, não, não”, ela cortou com simpatia. “Eu não quis dizer as marcas e arranhões, embora ela estivesse certa em me contatar por causa disso. E eu prefiro que vocês não repitam esse tipo de comportamento, pelo bem dos nervos da Madame Pomfrey. Mas essa não é a razão principal de eu ter vindo”.


“Então… por que motivo?”, perguntou Harry, um pouco aliviado.


“Dois motivos, na verdade. Parece que vocês estão ficando confortáveis um com o outro, sexualmente falando?”


“Er, sim”.


“Excelente. Vocês já pensaram em ter relações sexuais?”


Houve um silêncio constrangedor, durante o qual Harry se viu fascinado por uma formiguinha escalando seu tênis e Malfoy desenvolveu um interesse súbito pelas suas unhas, antes de os dois acenarem positivamente.


“Eu entenderei isso como um entusiasmando sim!”, disse a curandeira. “Bem, isso é maravilhoso, espero que vocês aproveitem a descoberta um do outro e tudo mais, só que, diante dos relatórios da Madame Pomfrey, eu vou interferir um pouco. Certo?”


Eles concordaram, em dúvida.


“Minha primeira preocupação é sobre essa exaustão que vocês sentem logo depois da atividade sexual. Pelos relatórios, acontece todas as vezes e não está melhorando”.


“Eu… isso já aconteceu comigo antes-”, Malfoy interrompeu.


“Todas as vezes?”


“Bem, não, mas…”


“Estou desconfiada que há algum tipo de ciclo de perda de energia. Porque algo parece estar… exaurindo os dois”.


“O que você quer dizer?”


“Vocês parecem estar muito mais relaxados do que há alguns dias, mas também bastante cansados”.


Harry olhou para Malfoy, notando que ele parecia mesmo um pouco abatido. Um pouco menos aprumado, os olhos não tão astutos quanto o normal. Soltou um bocejo, percebendo que ele próprio estava meio cansado.


“Bem… isso também pode ser porque… erm... nós também…”, o olhar de Malfoy o advertiu para que não dissesse mais nada.


“Se quer dizer que é porque vocês dois estão de ressaca, não, não é isso”. Eles ficaram surpresos. “Sim, nós duas deduzimos essa parte sozinhas. Curandeiras tendem a notar essas coisas, sabe. Mas eu presumo que vocês já tomaram uma poção para cuidar disso. E vocês disseram que dormiram bem na noite passada e, mesmo assim, estão se sentindo tão cansados como se fosse o final do dia, certo?”, eles concordaram com a cabeça. “Isso é preocupante. Se é o sexo que está fazendo isso com vocês, a sugestão mais simples seria falar para que vocês parassem com as atividades sexuais. Só que essa não é uma boa idéia, considerando o que um feitiço de ligação frustrado faz com as pessoas em geral e com vocês dois em particular”. Ela pegou um bloco de anotações e uma pena enquanto falava e lançou um feitiço simples de repetição na pena.


“Vamos começar. Quando que o cansaço acontece — durante, logo depois ou um pouco depois do orgasmo?”


“Logo depois, na maioria das vezes…”, disse Harry, e Malfoy concordou.


“Vocês se sentem aborrecidos depois?”


“Não”, os dois disseram.


“Com que freqüência vocês têm atividades sexuais por dia?”


“Er...”, os dois se olharam incertos, e Harry chutou, “Quatro ou cinco vezes?”, ao mesmo tempo em que Malfoy disse, “Acho que três ou quatro”.


“Oh, a juventude!”, a curandeira suspirou. “De três a cinco vezes. E imagino que isso dependa do que vocês classifiquem como atividade sexual”, ela comentou e passou para a questão seguinte. E para a seguinte e para a seguinte, até que Harry e Malfoy tinham superado o constrangimento e ficaram entediados. Os dois se surpreenderam quando ela colocou a pena de lado abruptamente e disse, “Certo. Isso é tudo”.


“Isso é tudo o quê?”, Malfoy perguntou.


“Isso é tudo o que eu tenho a perguntar sobre a minha primeira preocupação. Eu tenho que preparar um relatório e gostaria de fazê-lo enquanto as informações estão recentes na minha cabeça. Por que vocês dois não vão voar enquanto eu faço isso? Eu os chamo de volta quando estiver pronta para discutir os outros assuntos”.


“O quê?”


“Eu vou escrever um relatório”, disse ela, pegando uma pena diferente. “Se vocês não querem ficar aqui me vendo escrever, vão voar. Eu ouvi dizer que os Jogos de Apanhadores entre vocês se tornaram bastante populares”.


“Populares?”, Harry estranhou.


“Sim, alguns alunos notaram ontem que vocês estavam jogando. Dois deles estavam na ala hospitalar sendo tratados por exposição ao grito da mandrágora quando eu estive lá, mais cedo. Eles estavam discutindo os jogos de vocês, fazendo apostas em quem iria ganhar a próxima partida. Vocês têm fãs”.


Harry e Malfoy trocaram um olhar de surpresa. Eles tinham jogado algumas vezes durante os dois últimos dias, mas não imaginaram que ninguém estaria prestando atenção. Que… lisonjeador, ainda que inesperado, que outros alunos tivessem percebido.


“Vão. Joguem um pouco. Eu assobio quando tiver acabado, e aí nós poderemos conversar sobre o outro motivo da minha visita”.


“Que motivo?”, Malfoy perguntou.


“Nós vamos discutir o futuro imediato da vida sexual de vocês em detalhes muito, muito íntimos. Não vai ser divertido?”


ooooooo


Que dia longo, pensou Harry quando ele e Malfoy entraram no dormitório aquela noite. Entre as sessões com Esposito, duas partidas de Jogo de Apanhadores e a quantidade de leitura que eles fizeram, sem mencionar duas sessões furtivas, mas acaloradas, de amassos na Floresta Proibida, Harry se sentia como se tivesse lutado sozinho contra um bando de acromântulas.


“Potter, não na minha mesa”, disse Malfoy, cansado, e Harry recolheu a capa que tinha acabado de colocar sobre a mesa de Malfoy para jogá-la sobre a sua.


“Acho que é melhor pedir para os elfos domésticos trazerem o jantar para cá”, disse Malfoy.


“Sim, não vou agüentar ir para Hogsmeade, desculpe”, disse Harry, indo para o banheiro. “Eu só… eu passo na cozinha, só me dê um minuto”. Ele fechou a porta, tentando entender se todo o seu cansaço era devido ao dia cheio. Saiu do banheiro e teve a feliz surpresa de encontrar o jantar esperando por ele na sala.


“Oh. Você foi até a-”


“Não, Dobby apareceu enquanto você estava no banheiro”, disse Malfoy, cortando um pedaço de torta.


“Ótimo”. Harry sentou, notando que os movimentos de Malfoy estavam devagar, preguiçosos. “Você está bem?”


“Sim, só meio cansado. Foi um dia longo”.


“É”, Harry começou a comer. “O que você acha-”


“Eu acho que não quero pensar em por que estou cansado”, Malfoy o interrompeu, desanimado, e Harry se viu desejando que o outro voltasse a ser sarcástico. Esse Malfoy estranhamente submisso era meio desconcertante. Malfoy levantou o rosto e viu o olhar preocupado de Harry.


“Prefiro pensar no outro assunto que conversamos com Esposito”, disse, sua boca formando um sorriso enquanto Harry automaticamente engoliu a seco.


“Dá para acreditar que… quer dizer, dá para acreditar nisso?”


“Em que? Que eu realmente discuti posições, feitiços, ser ativo ou passivo com uma bruxa velha o suficiente para ser minha avó?”, Malfoy perguntou. “Eu adoraria acreditar que isso foi apenas um delírio da minha imaginação, mas isso significaria que eu inventei essas coisas, o que é ainda mais perturbador”.


Harry riu. “Eu nem sabia que metade das coisas que ela disse eram possíveis”, ele admitiu. “Ficava me perguntando se ela não estava inventando”.


“Você deveria ter visto a sua cara quando ela sugeriu que nossa primeira vez fosse no hospital. Você é ingênuo demais, Potter”.


Harry continuou a rir, pegando mais comida. Foi uma discussão interessante, tirando a bizarrice. Esposito tinha um jeito de fazer tudo soar tão normal que era difícil ficar constrangido o tempo todo. O senso de humor dela ajudava também. E ele imaginou que era melhor ter informação demais do que de menos no que se referia a manter o precário equilíbrio da relação deles durante a primeira vez dos dois.


Malfoy deixou a comida de lado, pensativo. “Sabe… esse cansaço…”


“Achei que não quisesse falar nesse assunto”.


“Ela disse que iria consultar especialistas nesse tipo de coisa. Mas…”


“Eu sei. Ela é uma especialista”.


“Sim”.


“Você ouviu o que ela disse”, Harry lembrou. “Ela é especialista em elos. Não em feitiços deliberadamente lançados errados”.


“É”.


Eles comeram em silêncio por alguns minutos. “O que muda completamente a situação, não é?”, Harry disse. “Se isso for verdade”.


“Já era ruim imaginar que nós fomos azarados por um amador. Agora, essa alternativa…”


“… que o feitiço foi lançado errado de propósito”, Harry fez uma pausa. “Por que alguém faria isso?”


“E por que com nós dois?”


“Nós não sabemos se foi direcionado para nós”, Harry disse. “Era para qualquer um que passasse por aquela porta discutindo”.


“Só havia sete pessoas lá aquele dia, e todo mundo se dava bem, exceto eu e você”.


“Mas-”


“Todo mundo sabia sobre aquela reunião. O novo regulamento de Quadribol era manchete do Profeta, todo mundo sabia que os capitães e os apanhadores iriam se reunir para discuti-lo com a Madame Hooch…”


Havia sete pessoas na reunião. Ele e Malfoy, os dois como capitães e apanhadores. Os capitães e apanhadores dos times da Lufa-Lufa e da Corvinal. E Madame Hooch. Todos, como Malfoy dissera, se davam bem, exceto os dois, porque Malfoy não discutiu com mais ninguém além de Harry. E eles eram os únicos com opiniões incisivas e contraditórias sobre como adotar o novo regulamento; os outros presentes pareciam estar pouco se importando com o assunto.


Harry de repente percebeu que ele não tinha idéia do que fora decidido. Eles tinham iniciado uma discussão e começaram a sair da sala no meio da reunião… e o resto da história… bem.


A sala que tinham usado para a reunião quase não era freqüentada e ficava em uma parte isolada do castelo. Não seria difícil ajustar o feitiço na porta só para eles.


“Acha mesmo que foi direcionado para nós?”, Harry disse ceticamente.


“Por que não?”


“Isso é meio paranóico, não acha?”


“Você não é paranóico se há mesmo pessoas lá fora prontas para te pegar, Potter. Você Deveria saber disso”.


“Quem iria querer uma coisa dessas?”


“Nós dois temos inimigos”.


“Mas eles não são os mesmos. Quem iria querer atingir nós dois ao mesmo tempo?”


“Não sei”, Malfoy suspirou.


Eles comeram mais um pouco, até que Malfoy colocou o garfo de lado.


“Não quero mais comer. Vou para cama”.


Harry balançou a cabeça, deixando a torta de lado enquanto Malfoy foi escovar os dentes e se aprontar para a cama.


“Potter? Você vem?”, disse Malfoy de dentro do quarto.


Harry olhou para ele. Algo indefinido passou pelo olhar de Malfoy por trás de seu cansaço. Ele parecia casual, mas hesitante. Quase… vulnerável.


Harry sustentou o olhar de Malfoy, pensando. Desde que a atração entre eles recomeçara, os dois tinham parado de ir para a cama ao mesmo tempo, sem conversar a respeito. Nenhum deles queria ficar deitado ao lado do outro antes do sono tê-lo dominado por completo. Então, eles faziam turnos; um deitava enquanto o outro estudava, e esse último só ia para a cama quando o primeiro estivesse dormindo. A única exceção foi a noite anterior, quando os dois estavam bêbados demais para qualquer coisa acontecer entre eles, mesmo com Malfoy provocando Ron.


Agora, no entanto… não havia mais nada. Apenas eles. Nada de álcool, de amigos nem de desculpas para evitar a intimidade se eles quisessem.


E não havia motivos para Harry não querer. Ninguém iria pressioná-lo para o que ele não estivesse pronto, finalmente tinha aceitado isso.


Sem desviar os olhos de Malfoy, Harry levantou e se juntou a ele no quarto, se inclinando para um beijo antes de ir para o banheiro. Deixou que os atos mecânicos da sua rotina noturna apagassem as preocupações com o elo, com o cansaço, com o fato de que eles só tinham mais um dia antes de voltarem para suas vidas normais, com a pressão da escola, dos sonserinos, de Snape e das suas próprias personalidades.


Agora não era hora de lidar com nada daquilo.


Malfoy já vestira pijama quando Harry voltou para o quarto, e estava sentado na cama esperando por ele, assistindo em silêncio enquanto Harry se trocava. Ele estendeu a mão para o grifinório, deitou com as costas na cama e trouxe Harry consigo.


Aquilo era tão mais prazeroso do que falar ou derrubar barreiras emocionais, Harry pensou enquanto se aproximava de Malfoy e seus lábios se encontravam. Aquele tipo de barreira era tão mais fácil de derrubar e era tão melhor de ser derrubada.


Harry fechou os olhos enquanto Malfoy beijava a extensão do seu pescoço e sorriu quando o outro sussurrou, “Não se preocupe, nada de dentes”, antes de lamber o lóbulo da sua orelha e de fazer Harry se arrepiar. Ele se arqueou pelo toque de Malfoy, escorregando uma mão para baixo da camiseta do loiro. O sonserino parou apenas para tirar a camiseta, e Harry hesitou por um segundo antes fazer o mesmo, e seus lábios voltaram a se encontrar.


Mm, aquilo era bom, pensou Harry, se virando na cama e trazendo Malfoy junto. Da última vez que ele fizera aquilo tinha ficado nervoso por Malfoy estar em cima dele, mas agora não se importava. Na verdade, queria sentir o corpo todo do outro, e trouxe Malfoy para mais perto. Malfoy gentilmente tocou nas coxas de Harry com o joelho, e o grifinório entendeu a mensagem e separou as pernas. Ele inclinou a cabeça para trás, deixando escapar um suspiro feliz quando o loiro deitou por cima dele, as duas ereções pressionadas juntas, as bocas procurando uma a outra mais uma vez.


Oh, sim. Muito bom. Harry moveu o quadril um pouco, buscando fricção, uma pressão mais intensa, e sentiu Malfoy prender a respiração. E então Malfoy virou-se de forma que os dois se deitassem de lado, de frente um para o outro, e moveu devagar as mãos para a calça de Harry. Harry sorriu, fazendo o mesmo com Malfoy, as mãos passando pelos cós das calças, os dedos deslizando devagar, provocando-os mutuamente.


“Espera aí”, Harry murmurou, irritado pelo elástico da cueca de Malfoy apertando o seu pulso. “Você se importa de tirar?”


A risada ofegante de Malfoy ecoou entre eles. “Se me importo de tirar a roupa para que você possa me masturbar melhor? Hmmm… deixa eu pensar”, disse ele enquanto se despiu afobadamente, sorrindo ao ver que Harry fazia o mesmo, e os dois se encontraram em um beijo profundo.


Eles estavam completamente nus agora, Harry percebeu, e mesmo assim não era nada estranho. Era totalmente natural e bom, na verdade. Ele acariciou de leve as costas de Malfoy, sorrindo pelo arrepio que percorreu o corpo do outro, e gemeu quando Malfoy acelerou seu ritmo.


“Sem tronco de árvore também, não é legal?”, Malfoy murmurou no pescoço de Harry, e ele riu. Malfoy ofegou quando Harry também acelerou o ritmo.


“Oh, isso, um pouco mais rápido-”, Malfoy balbuciou, parecendo esquecer o que estava fazendo. Harry mordeu a orelha do outro de leve e Malfoy se inclinou para encará-lo.


“Esqueceu de mim?”, disse Harry, e apontou com a cabeça para a sua negligenciada ereção.


“Não morda, você vai assustar Madame Pomfrey”, Malfoy murmurou, começando a mover a mão de novo. “Eu… oh…”, e o que quer que ele tinha começado a dizer foi esquecido quando o sonserino mordeu o lábio e arqueou as costas, se perdendo nos movimentos de Harry. Eles estocaram contra a mão do outro com vontade, e não havia mais palavra conforme os dois se aproximavam da satisfação plena.


“Oh deus-” disse Malfoy baixinho, despejando seu orgasmo na mão de Harry. O grifinório esperou sem muita paciência para que o outro se recuperasse o suficiente para lidar com ele e foi incapaz de suprimir um gemido quando Malfoy começou a mover a mão de novo.


“Isso… oh, oh… sim, isso é-”, e era praticamente impossível sequer pensar em palavras enquanto o mundo saía de seu controle de um jeito tão profundo e prazeroso. Ele abraçou Malfoy com força enquanto os dois se acalmavam.


“Caramba”, disse o grifinório suavemente, sentindo o cansaço dominar cada fibra do seu corpo e o sono começar a tomá-lo.


“É… sim, foi… intenso demais”, disse Malfoy devagar. “Isso… nós estamos encrencados. O feitiço está nos enfraquecendo logo depois”.


“Sim. Mas não dá para fazer muito a respeito”, Harry murmurou enquanto sua consciência o abandonava. “Pomfrey vai descobrir o que fazer”.


“Ainda bem que já estamos na cama”.


“É...”


E ele sentiu o sono dominá-lo enquanto Malfoy murmurava preguiçosamente o feitiço de limpeza.


ooooooo


¹Nota explicativa da tradutora:


Essa era a frase dita pelo Draco nessa parte no original: “I’ll sit here on my tuffet eating curds and whey”, que é baseada em uma canção infantil que em português corresponde à musiquinha da Dona Aranha que subiu pela parede.


O diálogo traduzido ao pé da letra não teria muito sentido. Ao mesmo tempo, se eu fizesse o Draco dizer “o Potter irá manter suas mãos de trasgo para si mesmo naquela cama, e a Dona Aranha subiu pela parede”, vocês iriam achar que o coitado estava louco. Por isso, ao invés de traduzir os versos ou adotar a versão em português da música, eu adaptei o sentido o melhor que pude. Perdeu um pouco do encanto, mas acho que ficou melhor do que seria a tradução literal dessas frases (“Eu vou sentar no meu montinho, comendo coalhada e soro de leite”).

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