21 a 22 de Outubro

21 a 22 de Outubro



Capítulo 5
de 21 a 22 de Outubro


Dia 23, Quarta, continuação


“Isso é impossível. Os dois são impossíveis”, Snape podia ser ouvido dizendo algumas horas depois.


A comitiva se reunira novamente para discutir o ‘caso’ deles, mas dessa vez Draco e Potter não tinham sido convidados para a festa. Independente de terem atingido a maioridade legal, os demais decidiram que eles estavam muito envolvidos no elo para poderem tomar quaisquer decisões. Ao invés disso, os dois tiveram as varinhas confiscadas, foram remendados dos respectivos machucados e tomaram poções tranqüilizantes. E, agora, lá estavam eles, numa pequena sala de estar do lado de fora do escritório de Dumbledore enquanto a discussão continuava, Draco no sofá e Potter andando de um lado para o outro, ambos tentando ignorar os retratos cochichando sobre eles.


“Malfoy”, disse Potter hesitantemente, quebrando o silêncio. Draco o encarou. “Nós estamos encrencados, não estamos?”


“Brilhante poder de observação, Potter”, respondeu Draco. “O que te deu a dica?”. Ele centrou o olhar na mancha de sangue da camiseta de Potter, sabendo que a sua própria ainda estava marcada também. Pomfrey estava zangada demais com os dois para dar tempo de eles se trocarem ou se limparem depois de curar os machucados.


“O que-”, Potter parou e limpou a garganta. “O que você acha que eles vão decidir?”


“Não tenho idéia”.


“Eu… eu tenho a impressão de que não vou gostar”.


“Duvido que eu vá também”, disse Draco. “Mas acho que eles não podem decidir nada. Nós somos adultos”.


“Eles podem não ter como nos forçar a fazer nada, mas com certeza irão tornar as coisas difíceis se não obedecermos. Eles podem nos expulsar. Ou deserdar, no seu caso”.


“Meu pai não me deserdaria”.


“Não? E o que ele faria?”


Draco fez uma careta.


“Malfoy… o que ele poderia fazer que te faz ter tanto medo dele?”, Potter perguntou, meio vacilante.


“Eu não tenho medo dele”.


“Besteira”, respondeu Potter. “Você tem. Não está preocupado com o que Dumbledore ou qualquer outra pessoa da escola possa fazer, mas está aterrorizado pelo fato de que seu pai está lá com eles”.


“O elo inclui Legimancia para você? Não? Então não tente me dizer como eu estou me sentindo e por quê”.


“Eu não preciso de Legimancia. Sei como você está se sentindo e é da mesma forma que você se sentiu naquele dia em que o contrariou em público, no hospital. Você quase teve um ataque cardíaco”.


“Nós tínhamos acabado de passar por um stress muito grande-”


“Não era nada disso. Você estava com medo dele”, o olhar de Potter era direto.


Draco mordeu o lábio. Sim, sabia há anos que os seus sentimentos pelo pai, o respeito, a admiração e o amor, também eram tingidos por uma nada saudável quantidade de medo. Sabia que nenhum de seus amigos sentia o mesmo terror do pai que Draco. Talvez os pais deles não os ameaçassem regularmente com expulsão da família ou os lembrasse que, se eles não correspondessem às expectativas, teriam uma vida miserável, ou os azarassem regularmente como parte do ‘método disciplinar’.


Sim, é claro que tinha medo do pai, e com muitas razões para tanto. Mas nunca admitiria isso a Potter.


Por outro lado, era idiotice fingir que Potter não sabia do que estava falando. Porque ele estava certo; a presença de Lucius naquela sala o aterrorizava. Não tinha idéia do que seu pai faria, porque há muito tempo desistira de imaginar as coisas que Lucius podia inventar. Seus piores medos às vezes não eram nada perto do que ele podia fazer.


Engoliu a seco. “Você está falando isso por algum motivo, Potter?”


“Eu só não quero ter que fazer o que eles decidirem”.


“Nem eu. Mas nós não temos escolha, não é mesmo?”


Potter respirou fundo. “Nós não estamos lidando com isso muito bem”.


“Novamente, seus poderes de identificar o óbvio-”


“Fique quieto. Estamos sob a pressão do mundo todo e de nós mesmos e, ainda que você esteja tomando a poção de paciência, não é o bastante para lidar com o que você pensa de mim ou dos meus amigos e com o trabalho da escola, além de todo o resto”.


“Obrigado, Potter. Eu nunca chegaria a essas conclusões sozinho-”


“E eu não consigo lidar com o que penso sobre você. Odeio o jeito que você trata meus amigos e como sua visão de mundo é deturpada, e estou cansado de ser motivo de fofoca para a escola inteira, e…” Potter engoliu algumas vezes e continuou, “E estou aterrorizado com a idéia de deixar você se aproximar de mim ou de me deixar aproximar de você”.


Draco ficou boquiaberto. Houve um longo silêncio enquanto ele digeria o fato de que Potter tinha dito o que ele tinha dito.


Finalmente, limpou a garganta. “Certo”, disse devagar. “Imagino que você tenha um motivo para dizer tudo isso. Qual é?”


“Nós precisamos acertas as coisas entre nós dois”.


“Nós tentamos”


“Não, não tentamos. Nós apenas estivemos existindo perto um do outro e tentamos sobreviver, aceitando um conselho ou outro. Mas não conversamos sobre isso”.


“Conversamos hoje de manhã”.


“E fizemos um bom trabalho”.


Draco sorriu, e não percebeu o que fazia até Potter lhe lançar um pequeno sorriso em resposta. “Sim, nós fizemos”.


“Então, é possível. Podemos fazer as coisas darem certo”.


“Eu acho que sim”.


“Então vamos tentar. Você quer desistir das aulas?”


“Não”. Ele parou. Certo, se Potter iria colocar suas cartas na mesa, ele deveria fazer o mesmo. Isso ia contra todos os instintos sonserinos que possuía, mas… a alternativa poderia não ser muito atraente, dependendo do que se resolvesse na sala de Dumbledore. “Eu não quero. Mas não estamos conseguindo aprender nada. Mal posso me concentrar o suficiente para escrever meu nome num pergaminho”.


Potter sorriu. “Eu sei como é. Parece que tenho que limpar minha mente o tempo todo, porque, se não fizer isso-”, ele se interrompeu e corou. “Bem, você pode imaginar no que acabo pensando”.


“Provavelmente”.


Potter inspirou fundo de novo. “Como eu me sinto… como nós nos sentimos… é tão errado”.


“Por quê? É só atração sexual. Não me diga que nunca sentiu isso antes”.


“Não tão forte”.


Draco engoliu a seco. “Por que você acha que é tão errado?”


“Porque não quero sentir isso. Nós não nos amamos. Sequer gostamos um do outro. Eu não quero-”


Por deus, não de novo. “Potter, nós temos dezessete anos. Amar e gostar não têm de entrar na equação no que diz respeito a sexo”.


“Eu tenho medo”.


“Do que?”, Draco perguntou, sabendo que havia algo de muito errado em ouvir aquilo e não usar imediatamente contra Potter, mas seu pai estava na outra sala e só deus sabia o que estava sendo discutido lá. Ele e Potter tinham de trabalhar juntos e precisava ser agora.


“De me machucar”.


“Você está se machucando agora”, ele apontou para a camiseta manchada de sangue. “Eu quase te azarei há algumas horas. E não íamos fazer nada do gênero um feitiço de risadas ou deixar o outro verde; nós dois iríamos provocar danos sérios. Você está infeliz e eu também. Como é que fazer sexo pode ser pior que isso?”


Potter deu de ombros. “Medo do desconhecido, eu acho”.


Draco concordou com a cabeça. “Só por curiosidade, o que você acha que eles vão decidir lá dentro?”


“Me dar alguma poção ou algo do gênero… para que eu não lute mais contra isso”, Potter corou, desviando o rosto.


“Potter…”, Draco levantou e colocou a mão gentilmente em seu ombro. “Por que isso seria o final do mundo?”


“Porque… porque aí eu não teria controle de mais nada-”.


“Você não tem muito controle agora-”


“Eu não quero-”, Potter tentou se desvencilhar, mas Draco o segurou, mantendo seu toque tão gentil quanto possível.


“Eles podem não decidir isso”. Potter cruzou os braços com força e Draco percebeu que ele tremia.


“Potter. Você está se desesperando de novo”. Ele projetou calma e foi recompensado pelo sentimento de medo de Potter se dissipando.


Então Potter colocou a mão sobre a de Draco, e os olhares de ambos se encontraram. De repente, não era apenas nervosismo, medo ou raiva. As emoções deles ainda estavam intensas e voláteis, apesar das poções tranqüilizantes. Suas mãos se tocaram e a sempre presente atração voltou com força total. Draco não queria nada além de chegar mais perto — e Potter estava realmente fazendo isso, e havia tão pouco espaço entre eles. Mas Potter estava nervoso e Draco não queria assustá-lo quebrando a promessa de não pressioná-lo. O grifinório se aconchegou um pouco mais, perto o suficiente para que Draco sentisse sua respiração enquanto os dois olhavam para suas mãos entrelaçadas. E não havia mais espaço entre eles, seus corpos se tocavam e suas testas se apoiavam uma contra a outra. Draco arfou antes que pudesse se controlar.


Oh, por Merlin… aquilo era ridículo, eles estavam na sala do Diretor, deveriam estar falando sobre o que fazer. Mas ele estava extremamente excitado e podia dizer que Potter também estava. A outra mão de Potter tocou o ombro de Draco e subiu pelo seu pescoço, sua bochecha. Ele fechou os olhos e se inclinou para aquele toque, os joelhos fraquejando, era maravilhoso...


Passou os braços pelas costas de Potter, trazendo-o para mais perto. Potter tremia e Draco tentava manter a respiração sob controle, mas parecia ser impossível. Seu peito estava apertado e pequenos tremores se espalhavam pelo corpo todo. Sentiu a respiração de Potter se intensificar, como tinha acontecido naquela manhã enquanto ele sonhava. Levantou o rosto e o olhou nos olhos outra vez.


“Oh, deus”, disse Potter baixinho, uma mão ainda acariciando a bochecha de Draco e a outra mexendo em seu cabelo. Os olhares estavam começando a ficar desconfortáveis, mas Draco não tinha idéia do que fazer. Se Potter fosse uma garota, não haveria o que pensar, um beijo seria o próximo passo. Mas, com outro garoto… e um que ele não gostava… e nem tinha certeza se ele queria aquele tipo de coisa… o que deveria fazer?


Eles provavelmente pareciam um par de idiotas, Draco pensou, ambos excitados, mas sem terem idéia do que fazer. Potter deu um passo para frente e agora os dois estavam pressionados completamente juntos e tudo era intenso demais… ele podia sentir a ereção de Potter e sabia que o outro garoto podia sentir a dele e aquilo era… ele deu um passo para trás e Potter riu baixinho.


“Você não sabe o que fazer, não é?”


“Er… não”.


“E eu que achava que era o inexperiente aqui”. Potter deslizou a mão pela bochecha de Draco e o loiro suspirou. Oh, aquilo era tão, tão bom. Correu a mão pelos músculos macios das costas de Potter, parando na cintura dele, e sentiu o batimento cardíaco do outro acelerar.


Deu um passo para frente de novo, refletindo com uma pequena porção de seu cérebro que ainda conseguia formar pensamentos coerentes que o feitiço de ligação até que não era tão ruim. Um feitiço que podia transformar o ato de ficar de pé perto de outra pessoa e passar a mão no seu corpo inteiramente vestido, enquanto ela fazia o mesmo com você em algo tão intensamente prazeroso tinha que ter algum mérito. Não era de se estranhar que pessoas usavam esse feitiço mesmo quando já estavam apaixonadas.


Uma das mãos de Potter ainda acariciava sua bochecha e a outra agora tocava sua nuca gentilmente. Ele fechou os olhos e inclinou a cabeça para trás, suspirando.


“Está tudo bem?”, Potter perguntou e Draco estremeceu um pouco ao sentir a respiração de Potter em seu pescoço. Balançou a cabeça afirmativamente, tentando, sem conseguir, estabilizar a respiração, seu pulso acelerando tanto quanto o de Potter.


Levantou a mão para o rosto de Potter, para sua bochecha. O grifinório inclinou o rosto para o toque e pressionou a boca na palma da mão de Draco, fazendo um choque de prazer percorrer seu corpo. Ele se afastou automaticamente e então Potter começou a se afastar também, mas Draco murmurou. “Não, não pare, isso foi — hmm, não pare-”. Inclinou-se para frente e sentiu a respiração de Potter na sua bochecha. De repente, não importava se aquela era a coisa certa ou não, ele queria… mas… oh, diabos…


Seus lábios estavam tão pertos. Com certeza, se Potter não quisesse aquilo, já teria se afastado. Inclinou-se para frente tentadoramente e a respiração de Potter se intensificou, mas ele não se mexeu. De repente, Potter cobriu a distância que faltava entre eles e seus lábios se tocaram. E não importava mais o que era certo, porque os lábios de Potter eram tão macios. Aquilo não era tão diferente de mais ninguém que Draco já beijara, era sensual e excitante, só que muito mais intenso porque ele estava no limite fazia tanto tempo e queria aquilo há o que parecia uma eternidade. Ouviu uma pequena exclamação deliciada vinda de um deles dois, e não importava de quem-


“Oh”, esse definitivamente foi Potter, um som suave ecoando no espaço entre eles. Draco inclinou a cabeça para o lado e Potter entreabriu os lábios, as línguas se tocando provocativamente — oh, aquilo não era muito diferente de beijar uma garota, exceto que as garotas que Draco já tinha beijado nunca o tinham trazido para mais perto com uma força que se igualava à sua. O som que Potter fez em sua garganta era muito mais baixo e a resposta de Draco àquilo era diferente — mas se isso era porque Potter era homem ou por causa do elo era impossível de saber e nem um pouco relevante.


O fato de que ele estava começando se sentir um pouco tonto era relevante. Um pouco tonto e ansioso em não ser interrompido por um bando de pessoas saindo da sala de Dumbledore. Ele tinha vontade de acelerar o beijo para que eles pudessem… o que quer que fosse… antes que a interrupção acontecesse, ou diminuir a velocidade para que não fossem interrompidos em um momento mais inoportuno.


Mas, deus, o calor e a excitação dos lábios se acariciando e das línguas se tocando, menos provocativas agora, mais confiantes, mas exigentes… não, ele não podia acabar com aquilo…


“Um”, Potter se afastou por um momento. “Nós deveríamos… provavelmente-”, e ele beijou Draco de novo, deixando escapar um leve gemido, e Draco não se importou com o que ele iria dizer. Mas Potter deveria ter pensado que-


“Sim, nós deveríamos”, Draco se afastou o suficiente para sussurrar. “Nós deveríamos — hmm”, e ele beijou Potter de novo. “Nós precisamos par-” e Potter interrompeu suas palavras com outro beijo — aquilo não estava funcionando, era como mandar um homem faminto parar de comer depois de duas colheradas, simplesmente não iria acontecer.


“Não, não, nós temos que-”, Potter deu um passo para trás, arfando, e pôs a mão aberta no peito de Draco. Draco teria se sentido rejeitado e com raiva, mas não conseguia ficar desse jeito quando o outro braço de Potter o envolvia pela cintura, sua respiração estava intensa e ele ainda fazia pequenos movimentos contra Draco. Ele agora apoiou a cabeça no ombro de Draco e murmurou. “Por deus, eu não tinha idéia que parar seria tão... hmm... duro”, e então Draco riu e Potter também.


“Hm, é. Essa parte nunca é legal”.


“Oh, bom”, os dois pularam ao ouvir a voz do outro lado da sala, e a curandeira Esposito riu. “Achei que vocês nunca mais fossem parar para tomar ar”.


Eles começaram a se separar, mas Potter segurou Draco pelo braço e os dois ficaram parados enquanto a curandeira fechava a porta às suas costas e se aproximava.


“Achei que vocês iriam querer saber o que está — ou melhor, estava acontecendo lá dentro”, disse ela, se acomodando em uma poltrona. “O consenso geral era que, obviamente, isso não estava funcionando e nós precisávamos interferir. Mas um lado achava que o melhor a fazer era providenciar algumas poções bem fortes para você, sr. Potter…”, a respiração de Potter veio entrecortada e Draco esfregou suas costas para acalmá-lo. “… e o outro lado achava melhor providenciar uma total mudança de personalidade para você, sr. Malfoy. Havia algum apoio para a idéia de suspendê-los da escola por tempo indeterminado e enviá-los diretamente a mim no St. Mungus. Seu pai, se você estiver interessado em saber, sr. Malfoy, se declarou pronto para convencê-lo do contrário caso você não concordasse com essa idéia”.


Draco reprimiu um tremor, se perguntando se ele teria dito em voz alta o que queria dizer com aquilo, e deliberadamente evitou o olhar curioso de Potter.


“Bem”. Ela sorriu. “Foi isso, em resumo. Não que agora importe, mas eu achei que vocês gostariam de saber”.


“Por que… errr... por que agora não importa?”, a voz de Potter estava rouca e um pouco instável, e a curandeira lhe deu um sorriso que passava segurança.


“Porque quando eu senti o que estava acontecendo aqui, bati o pé e declarei uma moratória para qualquer outra sugestão”.


“Você sentiu-”, “Moratória, como?”, eles falaram ao mesmo tempo, e Esposito gesticulou para que se sentassem.


“Senti porque sou uma Especialista em Feitiços de Ligação, treinada para detectar sinais de avanços nos meus pacientes de uma razoável distância. Não que eu precisasse desse treinamento — provavelmente metade da escola percebeu o que estava acontecendo aqui”.


“O quê?”


“Ah, por favor, sr. Potter, eu estou exagerando. Eu senti, assim como Madame Pomfrey e o professor Dumbledore. E, por alguma estranha razão, o professor Snape”. Draco notou com certo divertimento que Potter empalideceu um pouco ao ouvir aquilo. “Qualquer ativação de feitiço forte desta maneira provoca algumas faíscas, mas, fiquem tranqüilos, não se preocupem com a escola inteira saber das atividades românticas de vocês. De forma alguma. A moratória: tenho como prática nunca interferir nas tentativas de um casal de salvar o próprio elo, se essas tentativas forem genuínas”.


“Que… que tentativas?”


“Obviamente, eu não sei como vocês terminaram assim”, ela acenou para eles e Draco se sentiu corar, “… mas imagino que isso tenha sido precedido por algum tipo de discussão, basicamente vocês concordando que queriam fazer isso dar certo — juntos?”


Draco e Potter concordaram com a cabeça, surpresos. “Então. Não é garantia de nada, mas é um passo na direção certa. Prefiro dar a chance para que essa tentativa funcione do que tomar o controle completamente. Seu pai…”, ela apontou para Draco, “não ficou muito feliz com isso e ameaçou exigir que o St. Mungus suspendesse minha licença. Mas o fato é que eu sou a curandeira no comando aqui e ele terá que seguir minhas recomendações, quer goste ou não. E minha recomendação é que vocês dois ganhem tempo para si mesmos, para continuar o que começaram aqui, desde que estejam genuinamente comprometidos em aproveitar bem esse tempo."


“O que isso quer dizer?”, Draco perguntou.


“Conheçam um ao outro, senhores. Parem com todas as aulas até a próxima segunda e se conheçam como cônjuges, ou mesmo como seres humanos, ao invés de como rivais de escola. Todos nós sugerimos isso no começo, mas é óbvio que não tínhamos razão nenhuma, não é mesmo? E é claro que vocês sabiam de tudo”.


“Mas-”


“Mas nada, sr. Potter. Fiquem no dormitório de vocês ou vão para os arredores da escola juntos. Perguntem um ao outro sobre suas vidas e suas infâncias, descubram quais sãos seus pratos favoritos, seus times de Quadribol — conversem sobre Quadribol e como vocês se sentem por não poderem mais jogar, se isso ajudar. E tornem-se confortáveis com a sexualidade um do outro. Não façam nada além disso pelos próximos dias”.


“Nós vamos acabar nos matando”, Draco disse.


“Não vão. Vocês provaram que podem coexistir, apesar do histórico de inimizade, apesar das diferenças de personalidades e do stress dessa situação. Vocês provaram que podem se dar bem desde que tenham apoio e não estejam estressados demais — vocês agiram assim durante seis dias depois que foram liberados do hospital”.


“Nós agredimos um ao outro. Quase nos azaramos”, Potter apontou.


“Foi apenas a tensão sexual do elo, combinada com a pressão da escola, que causou essa última crise”.


“Como você pode ter certeza?”


Ela deu de ombros. “Não posso ter cem por cento de certeza. Apenas dou minha opinião, baseada na observação de casais de diferentes personalidades trabalharem seus problemas com o elo durante vinte e cinco anos. Mas ouvi algumas evidências preocupantes que nenhum de vocês é muito bom em controlar o temperamento. E, aparentemente, esse tipo de coisa da sua mágica ficar fora de controle já aconteceu algumas vezes antes, sr. Potter?”


“Sim”.


“Mas não há anos. Acredito que hoje o fato de a raiva de um estar alimentando a do outro causou esse descontrole tão… espetacular”.


“Então, como é que nos deixar lutar contra isso sozinhos vai-”


“Oh, não, não, não, vocês não vão lutar contra nada. E não estarão sozinhos; eu irei monitorá-los freqüentemente e darei a cada um uma chave de portal diretamente para St. Mungus, que devem carregar junto de vocês o tempo todo e ativar no momento em que se sentirem inseguros na companhia um do outro”.


“Mas eu pensei que o motivo de voltar aos dormitórios seria que nós não ficássemos isolados-”


“E continuo dizendo isso. Vocês irão voltar para lá quando esse exercício de conhecer um ao outro terminar. Ninguém irá fazê-los viver em isolamento pelo resto do ano. Serão apenas quatro dias juntos, livres da escola e da pressão social, e vocês mostraram que podem fazer isso”.


Draco e Potter a encararam.


“Alguma pergunta?”, ela sorriu pelo rosto confuso dos dois. “Certo, então vamos voltar para o dormitório de vocês”.


“Mas e-”


“Não se preocupe com ninguém dentro daquela sala, sr. Malfoy. Apenas me siga. Ordens médicas”.


ooooooo


“Erm, sobre as camas…”, Potter disse nervosamente quando os dois entraram no quarto naquela noite.


“Sim, as camas”. Draco cruzou os braços e ficou de pé encarando as camas, que estavam exatamente como tinham deixado, bem próximas uma da outra. Potter engoliu a seco e Draco tentou afastar sua impaciência.


A curandeira finalmente os tinha deixado sozinhos na hora do jantar, com suas roupas, materiais escolares e uma lista de sugestões de como passar o tempo, além de reassegurá-los que tudo daria certo. Eles tinham passado a tarde organizando o dormitório de novo, jantando e estudando um pouco. Até conseguiram sobrepor a vergonha e dar uma olhada na lista, escolhendo dois itens fáceis para começar.


“Eu não acho que estou com humor para ‘discuta seu futuro juntos’ e nem ‘descreva seu pior medo’, obrigado”, disse Potter secamente e Draco teve de rir, porque de alguma forma ele sabia que os dois estavam pensando ‘especialmente porque uma coisa responde a outra’. “O que você acha de ‘diga ao outro qual é sua aula favorita e por quê’ e ‘descreva um dia feliz do seu passado’?”


“Está bem”, ele respondeu, e os dois se esforçaram para levar a tarefa a sério. Com Potter encarando a perspectiva de ser forçado a tomar poções de alteração de humor e Draco encarando a perspectiva de sabe-se lá deus o que seu pai faria, a idéia de falar sobre aulas favoritas e dias felizes parecia ridiculamente fácil.


Ambos superaram o constrangimento do que acontecera mais cedo naquele dia — no dia inteiro. As atividades matutinas, a briga, a quase-azaração e a conferência dos adultos. Mas ainda não tinham encarado o que estar juntos lá significava.


“Você está nervoso?”, perguntou Draco de repente.


Potter fez uma careta sem perceber. “Sim, um pouco”.


“Eu não vou-”


“Eu não estou com medo do que você vai fazer. Eu… hmmm… eu, eu…”, ele parou para se recompor. “Olha, eu estou tendo muitos sonhos. E não quero acordar e descobrir que durante a noite-”


“Você chegou perto demais de mim?”


Potter concordou com a cabeça.


“Mas e daí? Por que isso seria tão terrível?”


“Eu não estou pronto”.


“E você nunca estará se não relaxar um pouco”, murmurou Draco. Ele respirou fundo. “Olha, você é quem sabe. Separe as camas totalmente, deixe-as como estão ou as transforme em uma cama só. Eu não ligo. Vou me aprontar para dormir”. Ele virou de costas e andou até o banheiro, se lembrando que eles tinham, tinham, TINHAM que trabalhar juntos. E que insultar, machucar ou envergonhar Potter simplesmente não estava mais no cardápio de comportamentos aceitáveis.


E que, se ele um dia descobrisse quem tinha lançado aquele feitiço, iria usar pelo menos duas das três Maldições Imperdoáveis e se esforçaria ao máximo para inventar uma quarta.


Saiu do banheiro, poção de paciência já tomada e dentes escovados, e não fez um único comentário quando Potter passou por ele para ir ao banheiro e ele viu que as duas camas tinham sido transformadas numa só. Apenas se trocou e deitou, só percebendo quando sua cabeça encostou no travesseiro o quanto estava exausto.


Fechou os olhos e mal ouviu Potter voltar para o quarto, murmurando apenas um “noite’ antes de dormir.


ooooooo


Dia 24, Quinta


Harry bocejou e se espreguiçou lentamente, olhou para o relógio e sentou na cama tão rápido que sua cabeça girou.


“Droga! Transfiguração!”, gritou, se virando ao ouvir um som inesperado — risadas.


“Potter”, Malfoy estava recostado na cama, ainda usando as mesmas calças e camiseta com que tinha dormido, um livro no colo, rindo. “Nós estamos ‘voluntariamente suspensos’, lembra?”. Harry o encarou e Malfoy apontou para o criado mudo do lado da cama de Harry. “Os elfos domésticos trouxeram café da manhã. Relaxe e aproveite”.


Harry se jogou de costas na cama, aliviado. Por deus, a única coisa pior do que chegar atrasado para uma aula da McGonagall era chegar atrasado numa aula do Snape. Ficou deitado até a preguiça passar e então se sentou para inspecionar a bandeja de café da manhã, que parecia trazer todas suas opções favoritas.


“Dobby”, ele disse animado, e Malfoy desviou o olhar do livro.


“Dobby?”


“Elfo doméstico. Ele gosta de mim”.


“Nós tínhamos um elfo doméstico com esse nome… Ah. É”.


“Sim”.


“Isso explica por que minha torrada parecia ser de ontem e o suco de abóbora estava quente”.


Harry engasgou com o suco e tentou disfarçar, mas Malfoy não pareceu ficar com raiva — na verdade, ele parecia estar se divertindo.


“Potter, eu estava brincando. Nenhum elfo doméstico por vontade própria colocaria comida ruim em uma bandeja, não importa quem estivesse comendo. Minha torrada estava boa”. Ele voltou para o livro.


“O que você está lendo?”


“Poções”.


“Nós não deveríamos esquecer a escola?”


“Esquecer as aulas, não a escola. Além disso, essa não é nossa matéria”.


“Você lê Poções por vontade própria?”


“Que memória você tem! Lembra da nossa conversa sobre aula favorita e por quê, Potter? Ontem à noite?”


“Eu sei, só não imaginei que você gostasse tanto assim”.


“Eu gosto. Além disso, é com certeza um jeito melhor de começar o dia do que lendo o Profeta”.


Harry gemeu e fechou os olhos. “Oh, deus. O que você acha que eles estão falando sobre ontem?”


“Não tenho a mínima vontade de descobrir, mas tenho certeza que a Pansy vai recortar cada artigo e tentar me mostrar quando voltarmos. Terei que descobrir como lançar um feitiço na memória dela para fazê-la pensar que já me mostrou”.


Harry suspirou. “Quando você descobrir, me ensine. Dean Thomas faz a mesma coisa comigo”.


“Por Merlin, por que qualquer um iria querer ler coisas desse tipo a respeito de si mesmo?” Malfoy balançou a cabeça e virou a página do livro.


Harry considerou inúmeras respostas, mas decidiu que, ao invés de começar o dia brigando sobre como Malfoy sempre imaginara que Harry gostava de ler essas coisas a respeito de si mesmo, simplesmente não responderia. Apenas iria ao banheiro.


Dar o fora quando Malfoy o irritasse podia ser uma boa estratégia, o grifinório disse a si mesmo enquanto passava a poção barbeadora no rosto minutos depois. Tinham quatro dias para trabalharem juntos e construir algo que não desmoronasse no primeiro sinal de pressão. Uma briga não seria um bom começo, para dizer o mínimo. Malfoy parecia estar tentando não ser tão detestável; o mínimo que Harry podia fazer era não arruinar tudo mencionando como Malfoy tinha sido detestável no passado.


Harry terminou e voltou ao quarto, se sentindo bem menos irritado, mas faminto. Pegou a bandeja do café, sentou com as pernas cruzadas na cama e atacou a comida com entusiasmo, lançando olhares ocasionais a Malfoy.


Malfoy parecia bem mais relaxado do que normalmente. Sua camiseta cinza tinha algumas migalhas, o livro estava apoiado nos seus joelhos, a atenção focada na leitura, e um dedo corria distraidamente pelo cabelo. Ele não parecia um inimigo. Parecia um garoto adolescente normal, que não fazia nada mais ameaçador do que algumas brincadeiras na escola.


Era disso que Harry tinha tanto medo?


Então Malfoy levantou o rosto e Harry sentiu a torrada entalar na sua garganta.


“O que foi?”, Malfoy perguntou.


“Nada. Eu só estava pensando… espero que ninguém esteja preocupado com a gente”, Harry disse rapidamente.


Malfoy deu de ombros. “Tenho certeza que Snape e McGonagall explicaram tudo para os outros. Eles vão saber que nós não nos matamos e nem fomos expulsos”.


“Mas passamos perto”.


“Do que?”


“Dos dois”.


“Sim”, Malfoy marcou a página em que estava, fechou o livro e o colocou com cuidado antes de voltar a olhar para Harry.


Silêncio.


“Então”. Malfoy pausou. “O que vamos fazer agora?”


“Hm… eu, eu não sei… você quer… vamos dar uma olhada na lista-”.


“Esqueça a lista por um minuto”, disse Malfoy. Harry engoliu a seco, desejando que os dois pudessem pegar a lista e escolher um tópico aleatório, porque ele não tinha certeza se queria fazer o que Malfoy tinha em mente.


“Eu quero pedir desculpas”, disse Malfoy.


Harry demorou um momento processando aquilo. “O que?”


“Eu quero pedir desculpas, por ontem. Eu estava irritado e descontei em você. E na sang-errr, e na Granger”.


“Oh”.


Silêncio.


“Essa é a parte em que você diz ‘Desculpas aceitas’ ou ‘Sem problemas’, Potter”.


“Oh. Certo… desculpas aceitas”.


Malfoy sorriu. “Isso não foi tão doloroso quanto eu esperava”, comentou.


“Heh, sim”, disse Harry desconfortável.


Malfoy fez uma careta. “Potter?”. Harry engoliu em seco. “Oh, deus”, Malfoy murmurou e sentou na cama, invadindo o espaço pessoal de Harry. O grifinório foi para trás automaticamente, e Malfoy rodou os olhos, mas voltou a se acomodar contra a cabeceira. “Olha, eu não estou tocando você. Não estou no seu espaço. Você pode relaxar?”


Harry balançou a cabeça, se sentindo bobo como só Malfoy sabia fazê-lo sentir. Tomou um gole do seu chocolate quente, e colocou a caneca de volta na bandeja, notando que suas mãos tremiam um pouco. Malfoy estava certo. Isso era idiotice.


Na verdade, era mais do que idiotice. Colocou a bandeja de volta no criado mudo, respirou fundo e olhou nos olhos de Malfoy, notando que a irritação mal-contida se transformava aos poucos em surpresa enquanto ele se aproximava.


“O que-?”


“Nós temos que ficar ‘confortáveis’ um com o outro”, Harry disse, “o que quer que isso signifique. E… e você disse que queria que eu liderasse… Então… eu estou liderando”.


Malfoy pareceu impressionado, e Harry sorriu apesar do seu desconforto com a situação. “Não me diga que você está nervoso agora”, ele riu.


“Eu? Não. Bem. Sim. Um pouco”. Malfoy começou a parecer irritado pelas risadas de Harry. “Pare com isso”.


“Você deveria ver a sua cara”, Harry riu. Malfoy notou que tinha passado da pose relaxada, encostado na cabeceira, para uma posição defensiva, abraçando os joelhos contra o peito. Ele revirou os olhos e se ajeitou, imitando a postura de pernas cruzadas de Harry, visivelmente se forçando a relaxar.


“Melhor assim?”, perguntou sarcasticamente.


“Por que está nervoso? É você que tem toda a experiência e nenhum ‘preconceito trouxa’”.


“Sim, bem…”, Malfoy desviou o olhar, o rosto corando. Harry abriu a boca para fazer um comentário maldoso, mas voltou a fechá-la.


‘Esse é um território novo para nós dois’, lembrou-se. E, se ele alfinetasse Malfoy, o sonserino provavelmente voltaria a fazer brincadeirinhas sarcásticas, o que não ajudaria em nada.


Mordeu o lábio, sem saber o que fazer. Decidiu seguir seu instinto. Foi um pouco para frente, de modo que seus joelhos se tocassem, e alcançou a mão de Malfoy. Malfoy respirou fundo, mas aceitou a mão de Harry.


“Do que você está com medo?”, Harry perguntou baixinho.


“Eu… eu não sei”, Malfoy soltou o ar dos pulmões. “De te assustar. De estragar isso. De brigar com você de novo”.


“Eu também não quero brigar”.


“Mas nós sempre acabamos brigando, mesmo assim”.


“Não agora”.


“Não”.


Harry entrelaçou os dedos de ambos e acariciou a mão de Malfoy com o polegar, refletindo que, embora já tivessem feito aquilo inúmeras vezes, essa era a primeira vez que os dois podiam fazê-lo sem medo de serem interrompidos. Olhou para cima e percebeu que os olhos de Malfoy estavam fechados e Malfoy respirava pesadamente.


“Malfoy?”


“Eu não… eu não achava que o elo fazia tanta diferença, achava que Pomfrey estava exagerando”.


“Sobre o quê?”


Ele abriu os olhos. “Ela disse que o feitiço aumentava a sensibilidade. E que os sentidos e as emoções ficavam mais intensos, esse tipo de coisa… acho que é verdade”.


“É mesmo?”


“Sim, você não… Oh, não teria como você saber”.


“Er, não”.


“Aumenta. Confie em mim”. Malfoy respirou fundo de novo. “É intenso… demais. Às vezes”.


“Não sou só eu que penso isso então?”


“Não”.


Harry gentilmente soltou a mão de Malfoy e tocou seu joelho, correndo os dedos pela sua perna. Ele se inclinou um pouco para mais perto, observando a perna do loiro, e riu.


“O que foi”.


“Eu posso sentir, mas não consigo ver. O pêlo da sua perna — é quase transparente”.


Malfoy deu um pequeno sorriso. “Nós estamos dormindo no mesmo quarto há semanas. Você ainda não tinha reparado?”


“Acho que não estava olhando”.


“Você nunca seria um bom espião, Potter”.


“Espero nunca ter de ser”, Harry respondeu bem-humorado, mas a temperatura do quarto pareceu cair alguns graus e os dois desviaram o olhar. Aquele era um território perigoso.


Então Malfoy limpou a garganta e balançou a cabeça, aparentemente determinado a não desistir de conversar. Ele correu os dedos pelo joelho de Harry, imitando suas ações. “Você é tão mais bronzeado do que eu”, ele observou. “Ninguém nunca te chamaria de Veela”.


“Já te chamaram de Veela?”


“Meu pai fica maluco com isso. Ninguém nunca falou sério, e nossa árvore genealógica de puro-sangue vai até vinte gerações para trás, mas é um bom jeito de irritá-lo”.


“Por quê? Isso não parecia irritar Fleur Delacour”.


“Fleur Delacour não é uma Malfoy. Nós temos orgulho de sermos puros-sangues. E puro-sangue não inclui sangue não-humano”.


“Seria melhor ou pior do que ter sangue trouxa?”


“Para o meu pai, quem sabe. Ele nunca foi acusado de ser parte trouxa. Mas eu ouvi uma história de que quando ele estava na escola, outro garoto começou com boatos de que ele era parte Veela. Meu pai o azarou com pêlos no corpo todo e odores corporais de cabra”. Harry começou a gargalhar. “Quase saiu ileso, mas um professor descobriu e ele levou detenção por duas semanas”.


“Não consigo imaginar seu pai em detenção”, Harry riu.


Malfoy de repente fez uma careta e se afastou, abraçando os joelhos de novo. “Eu consigo”.


Harry piscou, confuso. Repassou a conversa mentalmente e bateu na boca com uma mão.


“Oh - oh, merda, não foi isso que eu quis dizer, me desculpe. Droga!”


Malfoy desviou o olhar, os lábios pressionados juntos com força.


“Malfoy, me desculpe. Eu não estava pensando”. Ele sentou com as costas na cabeceira, correndo uma mão pelo cabelo. “Droga, acabei com o clima”.


Malfoy deu uma pequena risada e depois voltou a ficar sério. Ele deu de ombros. “Sim, bem. Desculpas aceitas”.


Houve uma pausa desconfortável.


“Hm, o que você quer fazer agora?”, perguntou Harry.


Malfoy fez uma careta.


Harry passou a mão pelo cabelo e começou a levantar da cama.


“Aonde você vai?”


“Achar a maldita lista”, Harry murmurou.


“Esquece a lista. Eu não quero conversar”.


“Não tem só tópicos de conversa na lista”.


“Nós acabamos de tentar isso. E, como você disse, o clima acabou”.


“Talvez a gente deva conversar sobre isso, então”.


“Talvez a gente não deva”, Malfoy respondeu imediatamente. “Você quer mesmo conversar amigavelmente sobre o tempo em que meu pai ficou em Azkaban? Talvez a gente possa discutir os momentos mais legais e como exatamente você esteve envolvido nessa história, quem estava certo, o que tudo isso significa… você quer que a gente acabe quase se matando de novo?”


“Não. Mas não podemos ignorar isso para sempre”.


“Claro que podemos”.


“Não se te faz ficar tão bravo-”


“Não analise meus sentimentos, Potter! Você não pode dizer tudo o que eu estou sentindo só por causa do maldito elo!”


“Mesmo?”, Harry desafiou. “Você está bravo só de pensar nisso. Você está envergonhado porque seu pai foi preso como um criminoso comum. Está com medo de falar sobre isso e de ter que encarar os fatos. Está bravo comigo por ter tocado no assunto e com você — provavelmente porque eu não toquei no assunto, você só deduziu isso por algo que eu disse que não tem nenhuma relação com Azkaban. E eu aposto que essa não é a primeira vez que um comentário inocente te incomoda. Você está confuso e gostaria simplesmente de esquecer disso tudo”.


Malfoy o estava encarando, incrédulo. Harry estava surpreso com ele mesmo; não fazia idéia de que poderia ler os sentimentos de Malfoy tão bem, mas ali estavam eles.


“Cheguei perto?”


Malfoy não desviou o olhar.


“E agora você está irritado porque eu estou certo. Está preocupado por ser tão fácil de ler por qualquer um, mesmo por mim. Ou talvez especialmente por mim”. Malfoy desviou o olhar. Harry suspirou, sua raiva se diluindo. “Malfoy… você não é nada fácil de ler”, ele disse. “É só o elo. Você provavelmente conseguiria fazer o mesmo comigo”.


Malfoy olhou para ele especulativamente. “Certo, então”. Ele fechou os olhos e começou a falar devagar. “Você está se perguntando se nós vamos conseguir viver juntos sem nos irritarmos o tempo todo. Não consegue decidir se está mais chateado comigo ou com você mesmo. Está com raiva porque… você acha que deveria pedir desculpas por colocar meu pai na prisão. Está com medo de nós não conseguirmos nos acertar e você ser forçado a — por Merlin, Potter, você é obcecado com esse assunto de ‘falta de controle no sexo’”. Ele abriu os olhos e sorriu para Harry. “Sexo não é sobre ter controle o tempo todo, seu idiota. Na maior parte das vezes, é exatamente o oposto disso”.


“Como assim?”


“Não é sobre pensar, decidir e seguir os passos certos ou algo do gênero. É sobre deixar as coisas acontecerem e se sentir bem”.


“Se sentir bem? É só isso? E o que você me diz sobre sentir algo pela outra pessoa? Ou se importar em como ela se sente?”


“Não há motivos para você não fazer os dois. Você… você está pensando demais sobre isso”, Malfoy colocou a mão no joelho de Harry e ele quase recuou, mas Malfoy se inclinou para perto mesmo assim, o sorriso sumindo e uma expressão séria aparecendo no seu rosto. “Isso não é para se pensar, é para se sentir”.


Harry engoliu a seco. “Eu… eu sei, mas-”


“Mas você não gosta de não estar no controle. E você não está no controle agora”. Ele balançou a cabeça. “E… isso te assusta”.


“Você também não está no controle dos seus sentimentos — você ainda está bravo pelo que eu disse sobre o seu pai-”


“Eu não quero falar sobre ele”, Malfoy disse, determinado. “Eu gostaria de esquecê-lo completamente agora, se você não se importar. Ele não está aqui. Nós estamos”.


Harry engoliu, sua boca tinha secado.


“Você ainda está confuso, mas está excitado. E não sabe o que fazer a respeito”, Malfoy correu o dedo devagar até metade da coxa de Harry e depois recuou. “Potter, pelo menos isso é algo com que nós podemos lidar. O resto — nossas famílias e nossa história e tudo mais — nunca vamos fazer nada se ficarmos pensando nisso”.


Harry sentiu emoções que não eram bem-vindas emergindo — desejo, vontade de ficar mais perto, de não ter que falar… Ele parou a mão de Malfoy quando ela começou a se mover por sua perna de novo.


“Você tem certeza que quer que eu pare?”, Malfoy perguntou baixinho e Harry percebeu que não, ele não queria. Balançou a cabeça negativamente. Malfoy sorriu e voltou com os leves toques na perna de Harry. O grifinório se parabenizou mentalmente por estar usando roupas largas, que escondiam as reações do seu corpo ao que Malfoy estava fazendo. Ele deslizou a mão pelos braços de Malfoy e depois em seu pescoço, pelos cabelos e então olhou para o sonserino, que o encarava em antecipação, a mão parada no joelho de Harry.


Harry se inclinou um pouco para frente, e Malfoy o imitou até que os dois estavam perto o suficiente. Fechou os olhos e tocou nos lábios do outro com os seus. Podia sentir a raiva e a frustração se esvaindo de Malfoy, misturadas com desejo e surpresa. Então Malfoy abriu os lábios e eles estavam se beijando profundamente, mas de um modo um pouco estranho por estarem sentados de pernas cruzadas. Malfoy ficou de joelhos e Harry descruzou uma perna e eles estavam mais próximos. Assim era melhor, muito melhor. As mãos de Malfoy começaram a acariciar o rosto de Harry, o seu cabelo, trazendo-o para mais perto. Então Malfoy empurrou Harry de leve para trás e os dois ficaram semi-deitados, apoiados contra a cabeceira, livres para explorarem um ao outro confortavelmente.


E o corpo de Harry estava respondendo cada vez com mais ânsia aos lábios e mãos que o tocavam. Frustração e raiva tinham derretido, tudo estava se esvaindo menos aquelas sensações, aquelas possibilidades. Ele se arrepiou quando os lábios de Malfoy deixaram os seus e se moveram por sua bochecha, sua orelha, espalhando uma onda de prazer que o fez arfar inconscientemente e apertar Malfoy com mais força.


“Está tudo bem?”. Malfoy murmurou por entre os pequenos movimentos de seus lábios na orelha de Harry, e o grifinório apenas balançou a cabeça positivamente, sem palavras. Então Malfoy desceu pelo pescoço de Harry, com mordidas leves na junção entre o pescoço e o ombro. Harry mordeu os lábios para não gritar, mas pôde ouvir pequenos choramingos escapando.


“Não acredito que você nunca fez isso antes”, Malfoy sussurrou, deliciado com as reações, e voltou para a boca dele. “Você nunca quis saber o que estava perdendo?”, perguntou, mas impediu Harry de responder cobrindo a boca dele com a sua.


“Sim”, Harry admitiu quando eles se soltaram para tomar ar. “Eu… queria”. Ele gemeu quando Malfoy voltou para seu pescoço e estremeceu um pouco. “Isso… isso já é demais-”. Malfoy se afastou enquanto Harry retomava o ar e tentava ignorar o fato de que seu batimento cardíaco estava mais acelerado do que ele já tinha sentido em toda sua vida e que cada nervo da sua pele estava sensível. Ele se sentia tão vivo…


Olhou para Malfoy e o viu mordendo o lábio, os olhos semi-fechados, uma mão agarrada aos lençóis. “Você… você está bem?”, sussurrou, e Malfoy balançou a cabeça devagar.


“Não, eu estou… foi um pouco demais para mim também. Eu… eu preciso… hmmm, não, eu…”, Malfoy disse sem fôlego e tomou a boca de Harry de novo, se afastando brevemente. Harry moveu sua boca para a orelha de Malfoy hesitante, tentando imitar o que ele tinha feito, lambendo o lóbulo e o espaço atrás da orelha. Se afastou rapidamente quando Malfoy gritou de surpresa. O loiro se virou para ele, uma mão acariciando seu cabelo, e sussurrou em tom de urgência, “Não, não pare, volte-”


Era uma sensação extremamente poderosa que um ato tão simples pudesse causar reações tão intensas. Ele tentou se lembrar do que Malfoy fizera com ele, como ele tinha beijado e lambido sua pele, onde e por quanto tempo. E logo não estava tentando se lembrar de nada, apenas reagia aos sons e movimentos de Malfoy e ao que ele sentia através do elo. Quase sentindo o que Malfoy sentia, os choques de sensações que arrancavam pequenos gritos da sua boca, a necessidade que queimava mais e mais até que Malfoy estava mordendo os lábios com força e se retorcendo em frustração.


Pressinou os dois tóraxes juntos, o peito de Malfoy pesando contra o dele, tão incrivelmente quente mesmo por entre as duas camisetas. O calor na virilha de Harry respondeu ao pensamento de que, se ele deitasse, iria sentir a ereção de Malfoy contra a sua, e ele precisava daquele toque, precisava-


Mas… pensando bem, aquilo era um pouco longe demais. Ainda que na noite anterior eles estivessem perto daquele jeito, havia mais roupas envolvidas e mais restrições, eles estavam na sala de estar de Dumbledore. Aqui havia apenas eles, em pijamas finos, no quarto próprio, sem nada nem ninguém para estabelecer limites, e aquilo já era demais…


“Potter…”, Malfoy murmurou. “Acho que… acho que nós vamos ter que parar-”, e ele gemeu quando Harry deixou seu pescoço e voltou para seus lábios. “Não, é sério”, ele foi interrompido pela boca de Potter na sua, e finalmente se afastou o suficiente para dizer, um pouco desesperado, “Potter, eu vou ter um orgasmo se você não parar agora”.


Harry parou. Afastou-se lentamente, olhando nos olhos de Malfoy, escuros de desejo. Engoliu a seco e depois voltou a se aproximar. “Vá em frente. Eu não vou te impedir”, disse ele e voltou à sua exploração no pescoço e nas orelhas de Malfoy, correndo uma mão pelas costas dele e parando na sua cintura, sorrindo enquanto Malfoy reprimia um palavrão e sua excitação aumentava. Ele podia sentir que Malfoy estava surpreso por tudo aquilo, que o lado racional da sua mente parecia ter desligado totalmente e sua consciência inteira fora tomada pelas sensações no seu corpo e pelas ações de Harry.


Malfoy tinha inclinado a cabeça para trás e fechado os olhos, e se agarrava a Harry com tanta força que era um pouco dolorido. Mas ele parecia meio frustrado enquanto se retorcia, e o grifinório tentava entender do que ele precisava.


Oh. Ele pegou a mão de Malfoy e a pressionou na frente das calças do loiro, e Malfoy rapidamente se esfregou uma, duas, três vezes, suas costas arqueando contra a cama. Ele gritou quando atingiu o orgasmo, e Harry, para sua surpresa, o seguiu alguns segundos depois sem sequer ter se tocado.


Eles deitaram juntos, sem fôlego. Harry sentiu um cansaço extremo dominá-lo. Rolou para deitar de costas e Malfoy emitiu um choramingo baixinho, que fez Harry abraçá-lo pelo tórax. Malfoy riu. Harry se manteve acordado tempo suficiente para murmurar um feitiço para limpar os lençóis e mergulhou no contentamento semi-acordado mais uma vez.


ooooooo


Nota da autora: aqui está um desenho do capítulo 5 de Bond:


http(doispontos)(barra)(barra)i9(ponto)photobucket(ponto)com(barra)albums(barra)a71(barra)AnnaFugazzi(barra)BondCh5(ponto)jpg

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