Capítulo Único



Love Sucks 


Eu não estava nem ai se estava chovendo ou se o mundo estava caindo. Não me importava se eu pegasse resfriado ou pneumonia. Nada iria fazer diferença agora. Minha maquiagem mal feita – porque eu nunca aprendi muito bem como passava maquiagem – estava borrada. Eu consegui ouvir uma coruja piando alto, em direção ao Corujal. Deitei no banco da arquibancada da Corvinal, vendo a chuva molhar os bancos de madeira enfeitiçados, e a minha saia, que já estava encharcada mesmo antes que eu chegasse aqui. Soltei um soluço alto, e passei a mão pelo rosto inchado, tentando fazer desaparecer as lágrimas que escorriam pelo meu rosto e eram lavadas pela água da chuva. Deixar a lágrima escorrer seria a maior prova de que eu perdi.


Solucei mais duas vezes antes de me inclinar para os meus pés e tirar as botas abafadas que já estavam molhadas. A água da chuva refrescou meus pés em um instante.


Minha cabeça correu contra a minha vontade. Voltando milhares de vezes para aquela cena, como em um flashback. Nunca me imaginei assim. Era tão feliz sem paixão. Mesmo faltando um pedaço em mim, que era o amor de alguém de uma maneira mais profunda, eu era feliz. E pensei que poderia ser mais feliz quando o vi.


Eu já o vira caminhando muitas vezes. Esnobe, nojento e metido. Mas havia algo além de seus olhos cinzas, e do seu cabelo loiro que me fazia sentir um arrepio bom, que eu nunca sentira. Passava finais de semana treinando na frente do espelho para poder encarar aquele sorriso zombador de frente, sem rir, fugir ou chorar. Porque eu cogitava essas hipóteses. Porque eram muito prováveis. Só de treinar na frente da minha própria imagem eu tremia e gaguejava. Talvez porque eu via a quão ridícula eu ficava tentando convidá-lo para um encontro.


Eu me contentava em observá-lo, caminhando esnobe e metidamente pelo colégio. Como algo tão horrível como o que ele fazia parecia brilhar tão perfeitamente nele? E a cada segundo que eu olhava em seus olhos, ou o olhava de trás – mesmo depois de tanto tempo sem acreditar no amor – eu podia ver que o meu amor por esse ser, crescia incansavelmente, e a cada dia doía mais e mais ficar sem confessar para ele.


As lágrimas que eu derramava na pia, e as olheiras de sono por causa das noites que eu passava em claro pensando nele, começaram a arder mais a cada minuto. As lágrimas não escorriam simplesmente. Elas caiam todos os dias, e eram mais como queimaduras em meu rosto.


Visualizei minha roupa, e minha maquiagem milhares de vezes antes de sair do quarto. Repeti para eu mesma, o que eu tinha que dizer para ele. E – mesmo que eu estivesse tremendo – eu continuava a repetir as frases na minha cabeça.


Caminhei até ele, cutuquei seu ombro, e ele se virou impaciente para mim. Eu sorri desengonçada. As botas pareceram apertar mais no momento. A tiara parecia imobilizar meu cérebro, capaz de enviar a informação de que a minha boca tinha que se mexer. Meus olhos brilharam ao ver os deles, e o sorriso presunçoso dele me fez sentir vontade de chorar.


Eu sentia meu corpo esquentar, e em instante eu parecia suar insensatamente.


Eu soltei um soluço, e disse enquanto ouvia a chuva bater fora do salão.


-Draco Malfoy – ele continuava sorrindo e isso me assustava. As palavras que eu bolara enquanto devia prestar atenção na aula, e ensaiara milhares de vezes na minha cabeça e de frente ao espelho, simplesmente fugiram da minha mente no exato momento em que eu abrira a boca pra falar com ele. Não havia mais convite nenhum. Eu não conseguia encontrar as palavras certas sem gaguejar. Paralisada na frente da multidão e do cara que eu jurei amar pelo resto da minha vida, eu procurei em mim, as últimas palavras que poderiam fazer essa situação mais ridícula. – Eu te amo.


Ele riu. Eu esperava que ele gritasse, ignorasse, e até, subconscientemente - na minha parte confiante – eu até esperava que ele aceitasse, dizendo que na verdade, sem querer se apaixonara pelo meu jeito distraído.


Mas ele riu. Riu, e depois virou para um de seus amigos, e balançou a mão para mim.


Eu pedi para que ele esperasse, para que eu tentasse concertar as coisas. Mas as palavras fugiram de mim de novo.


-Ah, Lovegood, tenha dó. Você é a menina mais esquisita e maluca que eu já conheci. – ele disse, e a multidão que nos rondava riu, e se retirou junto dele.


Eu abaixei a cabeça, e antes que eu pudesse conscientizar, já estava correndo pelo salão, com a bota quente ecoando no piso de mármore. As lágrimas ainda não tinham começado a cair. Os meus olhos não tinham começado a arder. Minhas bochechas ainda não tinham começado a corar.


Eu só consegui sentir o frio me irromper de súbito, assim que sai do salão. Os ventos fortes e a chuva gélida que tocavam o meu corpo antes quente fizeram o mínimo de força que ainda me sobrava desaparecer.


Longe da multidão, as lágrimas escorriam, piorando o estrago que a chuva fizera na maquiagem. Joguei a tiara no chão e rasguei o babado da saia. Os soluços vinham diretamente.


Corri pelo jardim vazio e escorregadio até que os meus pulmões explodissem. Colocando a mão no joelho, e respirando para recuperar o fôlego, eu vi a escada que dava para a arquibancada da Corvinal. Subindo sem pausas, eu pensei que finalmente poderia respirar, quando soluços vieram diretamente em minha respiração. As lágrimas.


Eu olhei ao meu redor, sentando em um dos bancos molhados, e esperando encontrar algum motivo para estar lá. Mas nada veio.


Somente lembranças de noites em claro, e mais uma vez a lembrança dessa noite.


As risadas infantis ainda invadiam meus ouvidos.


Queria gritar desesperada, porque sabia que não tinha ninguém lá para ouvir.


Mas não tinha ar suficiente para isso.


Com a voz entalada na garganta, maquiagem borrada, descalça, e deitada no banco molhado enquanto a tempestade caia nos meus ombros nus eu esperei morrer.


Não ir pro caixão, e tudo mais. O simples fato de uma pessoa ter conseguido ferir um coração inteiro que sobrevivera a anos de isolamento social, acabara com a minha capacidade de sofrer sem ficar perturbada.


A única pessoa que eu amei a minha vida inteira, depois de quebrar meu coração em milhares de pedaços e sair.


-Luna, certo? – eu me virei. O rosto vermelho e inchado, a maquiagem borrada, e o meu corpo inteiramente molhado enquanto eu tremia.


-Eu já disse o quanto você é maluca? – ele perguntou, e eu reconheci, mesmo na escuridão de uma noite sem lua, o cabelo loiro e o aroma diferenciado dele. – E o quanto eu adoro isso?


Puxou um casaco da mala, e colocou-os sobre os meus ombros, me aquecendo novamente.


-Não, isso você nunca mencionou.


N/A: Oi, gente. Hm, foi minha prima D/L. Não me apedrejem por favor. (: Bem, espero que tenham gostado. Beijos sabor sorvete :* Larii.

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