Mixed-up Memories



Marlene McKinnon. Um nome bonito de se falar e escrever, mas ainda mais bonito de se lembrar. Lene, como eu costumava chamá-la, foi a mulher mais forte, independente e confiante em si mesma que eu já conheci na minha vida. Qualquer um que convivesse com ela mais de 15 minutos ficava cativado com seu jeito de ser e era capaz de se apaixonar. Foi assim comigo, Sirius Black. Ainda me lembro a primeira vez que me deparei com ela e tenho certeza que fiquei completamente apaixonado e viciado por ela. Pena que só pude ter noção do que ela causava em mim quando já estávamos próximos do fim.


Flashback


- Vamos logo, Pontas. Eu ainda tenho que tomar banho pra sair com a Aspeth Madinson – eu disse enquanto Tiago guardava sua vassoura. Nós estávamos jogando Quadribol por diversão naquela época, já que eu era jovem demais pra entrar no time e Tiago precisava treinar pro jogo que se aproximava. Era nosso primeiro ano e eu reclamava de tudo. Dessa vez queria que Tiago andasse logo porque eu realmente não gostava de deixar minhas garotas esperando, apesar disso soar um tanto quando machista.

- A amiga da ruiva, uma menina chamada Marlene McKinnon, alguma coisa assim disse que vai me ajudar a sair com ela. Ela sentou comigo na aula de transfiguração – disse Tiago enquanto fechava a caixa com as bolas e guardava-as no armário. Tiago estava obcecado por Lily, mas ao mesmo tempo não deixava de sair com outras garotas e não se dava conta disso. Talvez tenha acontecido isso entre mim e Marlene, mas algo mais inexplicável que isso me unia a ela.

- Ela é bonita? Porque se for nós podíamos marcar um encontro a quatro – eu disse dando um soco no ombro de Tiago. Eu e a minha imbecil mania de querer marcar esse tipo de encontro às escuras. Se eu soubesse o quanto isso podia ser perigoso, digamos assim, teria evitado uma grande quantidade de garotas correndo atrás de mim.

Eu sabia que era bonito e segundo ela, eu tinha um poder de sedução com os meus olhos azuis que era algo impossível de se resistir. Óbvio que me usava disso para conseguir o maior número de garotas possíveis e Marlene sempre dizia que meu poder de persuasão era muito forte e capaz de vencer a cabeça de qualquer pessoa. Porém, ela não sabia que a única cabeça que eu sempre tentei entender e penetrar era a dela, sem sucesso. Se eu era persuasivo então ela era a persuasão e a sedução. Não havia o que ela não pedisse com aquele par de olhos castanhos grandes diretamente direcionados a nós e sorrindo de uma maneira doce, mesmo que não estivesse feliz que nós (eu me refiro a qualquer pessoa da superfície da Terra), não fizéssemos. Se aliens habitassem o nosso planeta Marlene seria capaz de seduzi-los também, ela sempre o fazia.

- Você quem sabe, ela ta vindo até aqui – respondeu Tiago depois que levantou e virou para o lado oposto ao que eu estava olhando. Antes que eu pudesse sequer olhar na direção que ele estava olhando, uma voz suave e doce invadiu a minha conversa com Tiago.

- Oi Tiago, lindo – disse uma menina de cabelos encaracolados extremamente pretos, bem mais do que os meus, alta e muito, muito bonita. Não diria bonita em questão de corpo, apesar de Marlene também ser um espetáculo se tratando desse quesito, mas no momento em que olhei pra ela pela primeira e única vez na minha, a primeira direção que meus olhos seguiram foram para os olhos dela também. Sempre que olhava pra qualquer garota meus olhos seguiam a bunda, os peitos e depois o rosto. Sim, eu sou um cachorro.

Ainda não tinha me apaixonado por Lene naquele momento e eu mal sabia que cairia de amores por ela um dia. Seria clichê demais dizer que foi amor a primeira vista e que logo que olhei pra ela e nos olhos dela sabia que ela era a pessoa certa pra mim. Estaria mentido. Quando a vi ali na minha frente não tinha a mínima idéia que seria o melhor amigo dela e depois, um dia, pediria ela em namoro e chegaríamos a nos casar, se não fossem alguns acontecimentos. Não foi a beleza de Marlene que me cativou naquele momento, foi o jeito dela ser. Ela mal conhecia Tiago e já o tratava daquela forma e o sorriso dela era capaz de fazer qualquer um sorrir também.

Já tinha ouvido falar de Marlene algumas vezes, mas não muito, afinal, fazia dois meses que tinha entrado em Hogwarts. Ouvi algumas histórias confusas a seu respeito, que envolviam mortes, possivelmente, mas nunca tinha me dado ao trabalho de saber mais a respeito dela. Não até aquele dia.

- Oi, Marlene – disse ele enquanto cumprimentava ela com um beijo na bochecha e depois seguia até Lílian, que virou a cara pra ele, como sempre. – Tudo bem, Lílian? – disse o Tiago como um boboca apaixonado. Tiago sempre fora apaixonado por Lílian, mas nunca aceitou isso, só depois de anos. Ele sempre agia como um idiota apaixonado quando estava perto dela e seus olhos sempre pareciam brilhar.

- Já disse pra me chamar de Lene. É bom que você saiba, eu consegui arrastar a Lílian comigo, mas ela quase berrou pra Hogwarts inteira ouvir que não iria dirigir a palavra a você – disse ela revirando os olhos – Oi amigo do Tiago – terminou ela virando o rosto e olhando pra mim, sorrindo.

- Oi Lene, meu nome é Sirius – eu disse sorrindo pra ela. Devo ter me sentindo super íntimo e parecido um idiota na hora, mas nem liguei. Tudo que eu queria naquele momento era poder achar uma oportunidade de voltar a falar com ela outro dia, nem que fosse pra falar de como o tempo estava bonito, mesmo ele estando cheio de nuvens, feio e com o céu negro. Ta legal, eu era ridículo, mas ninguém contava isso pra mim para eu não ficar despontado e tentar me matar.

- Eu tava pensando se a gente não podia dar um volta, beber alguma coisa, sei lá. Eu só sei que to com muita fome e eu preciso comer antes que a minha barriga comece a roncar na frente de vocês dois – ela disse dando risada.

Marlene era muito espontânea e não tinha a menor vergonha e pudor pra nada. Não que ela fosse uma vadia, isso ela nunca fora. Ela simplesmente fazia o que queria, independente do que acontecesse e sem pensar antes, o que resultava, na maioria das vezes, em enormes problemas. Ela sempre dizia a verdade também, doesse a quem doer.


- Eu realmente queria ter a ruivinha comigo, mas eu tenho trabalho de poções pra fazer – disse o Tiago enquanto recebia um sorriso nada amigável da Lílian. Tiago era a pessoa mais chata até o primeiro semestre do nosso primeiro ano, depois disso ele virou o capeta da escola e eu não duvido nada que os nomes que a professora McGonagall mais falasse durante o dia e até a noite, eram os nossos.


- Tiago, por favor. Eu juro que se você for não vai se arrepender. Aposto que uma ótima cerveja amanteigada vai fazer a Lílian abrir a boca, de qualquer forma, ela vai ter que abrir pra tomar. Por favor – disse ela olhando com olhos castanhos pro Tiago e sorrindo, daquela maneira que derretia qualquer pessoa. Nunca fui uma pessoa fácil de convencer, nem ao menos Tiago conseguia fazer isso quando eu estava decidido, mas parecia que Marlene tirava todos os meus miolos e invadia a minha cabeça com o que ela queria em menos de 1 segundo. Só fui perceber isso depois de cinco anos, quando já tinha feito várias das coisas que ela queria.


Qualquer um de nós poderia pensar que Lene estava interessada nele, mas não era. Marlene era assim, com qualquer pessoa, inclusive com quem ela não gostava. Não gostar sempre foi muito diferente de odiar para ela. As pessoas que ela não gostava eram tratadas da mesma forma do que as outras, mas as que ela odiava... ah, dessas eu tinha pena. Ela não fazia questão de ser agradável e muito menos de conviver com elas. Era difícil não gostar dela, praticamente impossível, mas as pessoas que não gostavam dela, geralmente por inveja, não incomodavam nenhum um pouco Marlene.


- Eu acho que você pode fazer isso depois, Pontas. Não que eu tenha sido convidado, mas mesmo que ele não for eu vou – eu disse enquanto passava o braço em volta do pescoço de Marlene e ela gargalhava. Eu faria de tudo pra ouvir essa gargalhada de novo.


- Ta vendo? Até o Sirius gato se rendeu. AH, VAI LOGO TIAGO – disse Marlene sem paciência. Isso era uma coisa que ela nunca tivera: paciência. Marlene era prática, qualquer coisa para ela era resolvida em dois segundos e se possível, em um. Marlene nasceu antes do tempo, viveu rápido e morreu ainda mais rápido. Qualquer problema que ela tivesse queria solucionar na hora e odiava ficar esperando respostas. Ela sempre esteve dois passos à minha frente.


- Eu tenho certeza que você pode fazer seu trabalho de Poções mais tarde – eu disse olhando pra ele querendo realmente que ele fosse pra eu poder passar mais tempo com Marlene. Na hora eu realmente não sabia por que queria passar tanto tempo com ela e só fui descobrir bem mais tarde. Não havia me apaixonado por ela naquele momento, mas eu tinha certeza que queria ser mais do que um “conhecido” para Marlene McKinnon, alguém com quem ela cruza no corredor e só cumprimenta.

- Ta legal, mas a Lílian vai ter que abrir a boca – disse o Tiago passando a mão pelos cabelos. Essa mania realmente me irritava, apesar de eu não ter nada a ver com isso e não ficar olhando para ele o tempo todo, afinal eu não era gay, mas me irritava. Tiago nunca foi fraco, muito menos Lily, principalmente quando se leva em conta o que esses dois tiveram que passar pelo próprio filho, mas não havia como resistir quando eu e Marlene queríamos convencer alguém de alguma coisa.


Depois desse jogo de persuasão, digamos assim, nós quatro passamos na cozinha de Hogwarts e pegamos algumas cervejas amanteigadas. Tudo bem, nós éramos menores de idade, mas quem liga? Se eu estivesse em casa isso poderia causar algum tipo de problema, mas não aqui. Nós sempre gostamos de experimentar o que não se devia e sim, nós quebrávamos muitas regras. Lily era mais comportada e eu realmente nunca entendi como ela e Marlene conseguiam se entender. As duas eram completamente diferentes uma da outra, mas nunca brigavam.


Pegamos as cervejas e algumas coisas pra comer também, afinal, eu tenho certeza que nenhum de nós gostaria de ficar bêbados. Seguimos nosso rumo até o Salão Comunal e depois de um tempo o irmão de Marlene e Remo acabaram se juntando a nós. Eduardo McKinnon era completamente diferente, o oposto basicamente, de Marlene. Ao começar pelas aparências físicas: ele era quase loiro e tinha os olhos azuis, não era muito alto, mas também não chegava a ser baixinho. No que se tratava de personalidade, apesar de gêmeos, os dois eram completamente diferentes também. Marlene era como uma bomba relógio, não conseguia ficar um minuto parada se quer, e Duda, era completamente calmo, de um jeito que irritava Marlene profundamente quando eles discutiam. Ela estava sempre gritando e ele sempre falando como se nada tivesse acontecendo. Muitas coisas os faziam diferentes. Na verdade, para mim, ninguém era igual à Marlene.


Nesse dia, passamos a tarde inteira rindo e jogando conversa fora. Logo que nós chegamos Marlene sentou no chão e começou a comer e beber, rindo sempre e fazendo palhaçada com a comida. Depois de um tempo, quando Remo e Duda também chegaram começamos a beber mais e mais, porém não ficamos bêbados. Nunca ficávamos geralmente, mas quando Marlene ficava, ela era mais engraçada do que o normal. Ela não conseguia se conter dentro de si por um momento e no outro ficava vagando dentro da própria cabeça, sem falar com ninguém.

- PENSA RÁPIDO, SIRIUS! – disse Marlene com uma garrafa na mão e jogando uma almofada em mim e me acertando em cheio na cara. Ela sempre fazia isso e eu sempre devolvia com um ataque de cócegas, que deixava ela sem fôlego e que começava a me bater. Doía, seus tapas sempre doeram, mas eu nem me importava. Sim, Marlene sempre me fez de gato e sapato, mais do que qualquer outra menina, mas eu nunca ligara. Sempre deixei porque ela era simplesmente Marlene McKinnon.

- Então é assim? Espera eu chegar aí, McKinnon – eu disse enquanto pulava do sofá e ela, como sempre adiantada, já estava correndo pelo Salão Comunal tentando fugir de mim. Um tanto quanto infantil, eu admito, mas nós tínhamos apenas 11 anos na época. Fiquei correndo atrás dela até que finalmente eu consegui pegá-la de costas e ela caiu no chão, enquanto eu ficava por cima dela e começava a fazer cócegas. Não preciso dizer que o salão inteiro olhava para nós preciso? Marlene chamava atenção, mesmo que não quisesse.

- Ah, é assim seu mané? – ela disse em meio uma risada e outra – Você não conhece a força de Marlene McKinnon – E eu realmente não conhecia até aquele momento. Marlene jogou todo o corpo dela pra frente e conseguiu me tirar de cima dela, me deixando estirado no chão, já levantada. Ainda não sei como ela fez isso. Tenho que admitir que eu era realmente um fracote no meu primeiro ano e se você colocasse um frango e eu do mesmo lado, poderia nos confundir se não o fosse o fato de eu ser bem mais bonito que um frango.

Marlene sempre teve muita força em suas mãos e em todas as partes do meu corpo, parecia que este era ligado a uma corrente elétrica que sempre a fazia ficar quente e era extremamente forte. Mas não era essa força que me admirava. Marlene tinha muito mais força interior do que muitas pessoas que eu conheci. Durante o tempo de sete anos que permanecemos em Hogwarts Marlene teve que suportar várias perdas e sempre quando eu achava que ela iria recuar ou então abandonar a vontade de viver, ela sempre fazia ao contrário. Marlene era como uma rocha, parecia que todas as suas perdas ao invés de enfraquecerem-na, serviam para torná-la mais forte. Só vi Marlene chorar duas vezes durante sua vida. Uma eu estava com ela e outra foi por mim, o que me faz pensar até hoje que eu devo tê-la magoado ao extremo para isso. Com sorte, eu pude concertar o meu erro antes que ela se fosse.

- Isso não valeu, ta legal? – eu disse enquanto levantava e me sentava no sofá, enquanto todo mundo ria da minha cara, com certeza, por ter sido derrotado por ela. Marlene era feminista ao extremo e sempre que ela vencia algum garoto ficava toda cheia de si. Mal sabia ela que sempre me vencera, até mesmo, inconscientemente.

- Tá legal – ela disse sem se abalar sorrindo – Amanhã na hora do almoço a gente pode resolver essa parada lá fora – ela disse tentando fazer uma cara de macho pra mim e o máximo que conseguiu foi uma sobrancelha arqueada e um bico imenso. Marlene era péssima em caretas e mesmo fazendo caras horríveis pela sua falta de habilidade, ainda sim conseguia nos fazer rir.


- Claro, tenho certeza que o Sirius vai quebrar seus dentes. Ele ta louco pra fazer isso – disse Tiago dando uma tapa na cabeça de Marlene e fazendo todo mundo rir, inclusive Lílian, que continuava sem abrir a boca. O silêncio de Lílian era uma coisa muito inquietante. Eu jamais conseguiria ficar calado tanto tempo quanto ela ficava. Às vezes tinha vontade de enfiar o dedo na garganta dela ou mesmo dar um tapa para que ela falasse alguma coisa. Não me julgue como um estrupador, por favor.


- Duvido muito, muitasso, mais que o nariz do Snape – Marlene disse, olhando cada vez mais fundo pra mim. Ela adorava me provocar, tanto verbalmente, quanto fisicamente, mesmo quando nós éramos melhores amigos. Não que alguma coisa realmente pudesse rolar tanto na minha cabeça, quanto na dela, mas simplesmente era divertido ver como nós dois reagimos as nossas provocações. Ou nós dois saímos rindo ou brigados. Marlene, das duas formas, saía gritando.

- Opa, aí você tocou num ponto fraco e muito grande. Não sabia que não tinha afeto pelo Ranhoso também – eu disse sentando do lado dela e rindo. Á essa altura restavam somente ela, eu, Tiago e Lílian no Salão Comunal. Duda e Remo haviam se retirado, o primeiro para encontrar uma garota e o segundo pra começar a introdução do trabalho de Tiago, se não ele não acabaria hoje. Tiago era lerdo para escrever e Remo sempre ralhava com ele quando faziam trabalhos juntos. Além da sua lerdeza natural, Tiago ficava ainda mais lerdo quando havia meninas por perto. Nunca faça trabalho com ele na biblioteca.


Apesar de Lílian gostar de Snape de certa forma, Marlene não gostava dele e quase chegava a odiá-lo. Mesmo com todo esse sentimento Marlene nunca nos ajudou a ridicularizá-lo na frente de todo mundo e nem brigava conosco como Lílian brigava quando nós o fazíamos. Às vezes pedíamos algumas idéias para ela, porque simplesmente ela era criativa e ela nos dava. Sempre que Lily perguntava de quem fora a idéia ela assumia a culpa, mas nunca deixava de dizer: “Eu disse para vocês pararem com esse vício. Ele faz mal pra saúde, aspira todo o ar do mundo, aquele narigudo.” Marlene o odiava pelo sofrimento que Snape fazia Lílian passar algumas vezes e tinha esses mesmos ataques com Tiago, quando esse beijava outras garotas ao dizer que gostava de Lílian. Porém Marlene nunca deixou de falar com o Tiago por mais de três dias, enquanto comigo, chegou há ficar três semanas. Não me perguntem o porquê, ela nunca pedia desculpas para mim, só para os outros. Ela simplesmente esperava que eu o fizesse.


- Vou subir, tomar banho – disse Lílian e logo levantou do sofá. Pode chamar Lílian de anti-social por não abrir a boca durante todo esse tempo, mas a simples presença de Tiago a incomodava mais do que tudo. Pelo menos até o sexto ano, depois disso ela conseguiu conviver passivamente com ele, leia-se manter uma conversa civilizada, sem o uso de nomes de baixo escalão. Snape nunca fora um assunto que Lílian dividia conosco e muito pouco com Marlene também, pois ela sabia que a opinião desta, apesar de ser sincera sempre (Marlene nunca mentia), voltava-se contra ele.


- Ta bom, falo com você mais tarde – disse Marlene lançando um beijo para Lílian enquanto essa dava um meio sorriso e ia subindo a escada do dormitório – Não gosto dele, chega beirar a raiva, mas não posso sair dizendo isso todo dia. Lílian tem algum probleminha com ele, alguma coisa assim. Nada sexual, Tiago – disse Marlene desesperada para esse quando percebeu a cara de maníaco de Tiago. Tiago conseguia odiá-lo por tudo e qualquer coisa, se ainda juntasse Lílian nesse monte, Snape sairia com o nariz fraturado. Sempre falávamos do nariz dele.

- Bem- vinda ao clube, também temos um sentimento forte por ele – eu disse – De raiva – acrescentei rapidamente antes que ela pensasse qualquer coisa de bissexualismo a respeito de mim. Não que eu seja preconceituoso, mas não isso se adéqua a minha personalidade. Eu era muito imaturo naquela época, assim como qualquer garoto de 11 anos e falava coisas muito idiotas, mas Marlene nunca me achou um idiota, pelo menos ela nunca disse isso pra mim. Ela acompanhava minha linha de raciocínio, mesmo que eu estivesse atrasado, o que era comum. Eu também não era burro, mas como dizem, meninas amadurecem mais rápido do que meninos. Aprendi isso com Marlene e seu discurso feminista, como sempre.

- Já vi Lílian defendendo ele, mas ele é desprezível e realmente queria saber o porquê – disse Tiago e ele percebeu a cara de indagação de Marlene. Ela também não sabia muito a respeito disso, ninguém sabia. Era o único segredo de Lílian, pelo menos até ela abri-lo por inteiro no nosso sexto ano. Muita coisa mudou no nosso sexto ano, demais.


- Você usou as palavras corretamente, Tiago, estou muito orgulhosa de você – disse Marlene dando um sorriso e passando o braço em volta do pescoço de Tiago e abraçando-o. Tiago me confessou nesse dia que achava que Marlene tinha algum tipo de problema mental ou então tinha muita endorfina correndo pelas suas veias. A verdade era que Marlene tinha vontade de viver, ela sempre tivera. Ela comia, dormia, ria para viver e não ao contrário. Marlene queria aproveitar todos os dias de sua vida como se fosse o último e isso só se intensificou através dos anos.


- Ok, você tem problemas – disse ele e riu – Preciso subir, terminar o trabalho antes que o Remo me coma quando eu chegar ao dormitório. Beijo pra vocês. Ou melhor pra você Lene, ainda não me identifico com o Almofadinhas nessas demonstrações de amor – disse ele enquanto eu dava um sorriso cínico e começava a erguer meu dedo do meio. Tiago sempre foi meu melhor amigo, independente para o que fosse, ele sempre me ajudava. Isso incluía receber tapas de Marlene quando ela descobria que ele tinha vindo falar com ela no meu lugar, quando nós estávamos brigados. Tiago nunca transmitia os tapas e eu o agradeço por isso, hoje.


- E aí Lene, quer pensar rápido? – eu perguntei. Sim, eu poderia muito bem ter perguntado uma série de coisas pra ela, como: “E aí Lene, nós dois, essa sala vazia, o que você quer fazer?”, mas eu simplesmente não consegui. Marlene tinha se tornado em poucas horas uma menina para se ter como amiga e não para se beijar, apesar dos meus instintos sexuais de 11 anos. Ela era bonita, mas de alguma forma não conseguia beijá-la nem enxergá-la como uma das outras garotas que eu já havia ficado.


- Vocês dois me cansam minha beleza, preciso descansar – ela disse e antes que eu pudesse fazer qualquer coisa ela já tinha colocado a cabeça sobre o meu colo e deitado no sofá. O cabelo dela cheirava lavanda, mesmo quando ela não o lavava, sempre cheirava. – Sirius Black, o senhor está convidado oficialmente por Marlene McKinnon a ser seu amigo durante toda sua permanência em Hogwarts, aceita? – ela terminou, forçando a voz como se fosse um homem falando.

Eu não poderia dizer não. Nunca conseguia dizer não à Marlene e essa foi a primeira vez de muitas. Tudo que eu mais queria naquele momento era mesmo ser amigo de Marlene, poder sentar aos seus lados todos os dias e poder conversar sempre que eu ou ela precisasse. Eu queria poder conviver com ela e saber do que ela gostava. Eu pude ver que naquele momento ela era minha amiga, mesmo que não tivéssemos provas suficientes pra isso e que não a queria como uma garota qualquer para se beijar. Marlene roubou meu coração da forma mais doce possível.


- Não, eu não aceito – eu disse e eu vi os olhos brilhantes de Marlene ficarem sem luz e ela já estava se levantando quando eu a puxei e disse – Eu só aceito ser seu amigo se for pelo resto da minha vida.


Marlene se sentou, me deu um tapa, ou melhor, vários e depois sorriu. Depois disso, ela se deitou novamente e nós ficamos conversando até tarde, perguntando coisas inúteis sobre nós, como: “Qual sua cor preferida?”, “O que você gosta de fazer nas suas horas livres?” e todas essas idiotices que se perguntam em testes de revistas quando você quer saber qualquer besteira a seu respeito. Quando ela já estava cansada o suficiente, o que sempre demorava um bom tempo para acontecer, ela adormeceu ali mesmo e eu fiquei olhando para cara dela um bom tempo. Marlene era linda por dentro e por fora, e nenhuma das duas belezas, eu tinha certeza, iria sumir um dia. Além disso, Marlene estava sempre quente, como o Sol. Poderia estar nevando e ela estar na maior nevasca do mundo, mas ela sempre estaria quente e o sorriso dela era capaz de iluminar qualquer pessoa que ela gostasse e queimar qualquer outra que a odiasse.


Depois que Marlene dormiu e eu também já estava exausto e acabei dormindo, mas quando acordei ao que parecia ser pra mim meia hora depois, já haviam se passado três e Marlene já tinha subido e tinha deixado toda a bagunça para eu arrumar. Típico dela. Quando ela não fazia isso, ela simplesmente fazia a bagunça e depois jogava a culpa em cima de mim.




Fim do Flashback




Marlene não era orgulhosa, mas no que se dizia respeito a mim, era incapaz de pedir desculpas. Eu me lembro que uma vez, como sempre, ela tinha conseguido brigar comigo e com Tiago, pelo mesmo motivo, e ela estava errada. Marlene foi pedir desculpas pra Tiago no dia seguinte, quando ele estava sentado do meu lado no café da manhã e quando eu perguntei por que ela não havia pedido pra mim, ela simplesmente respondeu: “Porque você é Sirius Black!” e simplesmente virou as costas e saiu andando. Ela não me pediu desculpas, mas foi se reaproximando de mim aos poucos e quem teve que admitir que estava errado fui eu.


Apesar disso, Marlene sabia reconhecer quando estava errada e não se cansava de pedir desculpas pra pessoa que havia magoado ou qualquer coisa do tipo. Ela era incapaz de fazer mal a uma mosca, quando não se tratava dos seus amigos. Se falassem mal de mim, Tiago, Lílian, Lupin, Duda e Dorcas Meadowes, uma das melhores amigas de Marlene e Lílian, Marlene já estava no outro dia tirando satisfações e gritando pra quem quisesse ouvir o quão patética e que a pessoa tinha sérias doenças mentais incuráveis. Marlene adorava gritar. Lílian dizia que ela acordava todo dia de bom humor começava a gritar e cantar, pulando na cama pra fazer as outras meninas acordarem. Enquanto eu e Tiago estávamos babando encima do nosso café, Marlene não parava um minuto de se mexer e ia falar com Deus e o mundo.


Ela era generosa também. Me lembro que Marlene sempre que via alguém chorando parava pra ajudar e perguntar se estava tudo bem, mesmo que não conhecesse a pessoa. Isso me irritava, porque na maioria das vezes ela encontrava com a pessoa na hora da troca de aulas e sempre fazia nós dois chegarmos atrasados na sala de aula e levarmos detenções. Marlene só não parava para ajudar as pessoas quando tinha sido ela que havia causado o choro da dita cuja. Geralmente, quando nós dois não íamos pra casa de Tiago no Natal, ficávamos na escola e Marlene saia distribuindo presentes pra qualquer pessoa que fosse. Marlene era rica, mas não se achava superior a ninguém por causa disso. Ela vivia dizendo: “Merlin me deu dinheiro pra que eu gaste senão, não teria me dado. Por que eu não posso sair dando presentes pra pessoas que eu nem conheço? Pelo menos elas vão se sentir amada por uma pessoa no mundo.” Além disso, ela vivia com aquele discurso de crianças passando fome e frio que sempre me comovia e a qualquer pessoa que estivesse perto dela.


Uma das brigas mais sérias que tive com Marlene foi ao nosso segundo ano e eu realmente pensei que nunca mais voltaria a falar com ela. Como se eu conseguisse. Fiquei cerca de um mês tentando convencê-la que o que eu tinha escondido era para o seu próprio bem e que não queria envolvê-la na história. Nem com Tiago ela queria falar, só com Remo. Uma noite depois do jantar, eu, Tiago, Remo e Pedro estávamos discutindo sobre a nossa próxima ida até a Casa dos Gritos que seria na noite em que Remo teria que enfrentar seu “probleminha peludo” de novo.


- Perebas entra primeiro, como sempre – disse Tiago enquanto enfeitiçava uma bolinha e ficava fazendo com que ela fosse e voltasse na sua direção. Nós sempre tomamos cuidado com o que dizia respeito a esse assunto e então aproveitamos que já era tarde da noite que todo mundo já tinha ido dormir pra conversarmos. Não era um assunto que podíamos falar na frente de todo mundo, isso era óbvio e além de tudo Remo odiava tocar nele. Ele odiava o fato de nós termos que nos transformar para ajudá-lo e meter-nos em problema quando o problema em si, como ele dizia, era somente dele.


- Vou tentar me controlar dessa vez, da última vez peguei pesado – Remo disse olhando pra nós e fazendo careta. Nós sabíamos que não havia como ele se controlar, mas sempre concordávamos para fazer com que ele se sentisse um pouco melhor a até fazíamos piadas pra que ele não tivesse uma responsabilidade tão grande nas costas – É horrível ter que ser um lobisomem.


- Sabemos disso, mas pense que podia ser bem pior. Podia ter nascido como Pedro – eu disse apontando pra ele enquanto este abria uma caixa de Feijõezinhos de Todos os Sabores e enfiava quase que inteira goela abaixo. Nojento, essa foi uma das cenas que eu gostaria de esquecer da minha vida. Antes que nós pudéssemos pelo menos rir, ouvimos um barulho na parte de cima do Salão logo percebemos que nós não estávamos sozinhos. Quando olhei pra escada percebi que havia alguém ali e os outros também.


Era Marlene. Pedro continuava comendo aquelas porcarias como se nada tivesse acontecido, nem ao menos ouviu qualquer barulho, aquele surdo e porco. Ainda me pergunto até hoje que raios tinha na cabeça de andar com ele. Acho que era pena e não sinto orgulho de dizer algo como isso. Enfim, quando olhamos pra escada e vimos Marlene, Tiago levou uma bolada na cara e xingou, enquanto desfazia o feitiço. Remo engoliu em seco e começou a andar para trás, em direção a porta, para sair. Eu fiquei olhando pra Marlene com uma camisola parada no pé da escada olhando pras nossas caras com uma cara de brava e assustada ao mesmo tempo. Naquele momento nós pensamos que Marlene sairia correndo gritando pra quem quisesse ouvir que Remo era lobisomem, nós sabíamos que ela havia ouvido, caso contrário não nos olharia daquela forma, a não ser que tivesse acordado psicótica naquela noite.


Mas ela não fez.


- Desde que parte você está aí? – perguntou Tiago olhando pra ela e ela finalmente virou a cara pra ele. Eu esperava qualquer coisa da parte dela, até mesmo que ela saísse correndo e se trancasse no quarto e que só voltaria a sair de lá quando Remos tivesse saído da escola. Lógico que eu conhecia Marlene, mas não o suficiente pra saber como ela lidaria com esse tipo de situação. Digamos que não é uma coisa que se acontece todos os dias, digo, saber que um dos seus amigos é um lobisomem que se transforma e ataca os amigos inconscientemente.


- Não importa – ela disse olhando com raiva pra Tiago. Marlene já estava desconfiada fazia alguns dias e vinha nos fazendo perguntas a respeito disso, mas nunca nenhum de nós contou qualquer coisa pra ela. Mas se havia uma coisa que Marlene sabia farejar a distância, era mentira. Marlene não suportava mentiras e se uma vez você mentisse pra ela, ela poderia até tratar você ser bem e te considerar um amigo, mas ela jamais confiaria em você novamente, nem que fosse para fazer um trabalho ou pegar alguma coisa no chão. Não adiantava pedir desculpas, ela não aceitava. Acompanhei várias pessoas que mentiram pra ela pedindo desculpas de todas as maneiras trilhões de vezes e ela fingir como se a pessoa estivesse com a boca fechada – O que importa é que vocês, Tiago, Sirius e Pedro, mentiram pra mim.


Pedro só foi parar de comer e perceber que Marlene tinha ouvido parte da conversa quando ela falou seu nome e passou na sua frente. Marlene começou a andar em direção a porta. Ela não gostava de Pedro e o tratava bem, mas duvido muito que tivesse o mesmo sentimento que tinha pelos outros amigos para com ele também. Marlene costumava dizer que ele babava por nós e faria qualquer coisa que nós mandássemos, achava que ele era um cabeça fraca e que obedecia qualquer um que lhe desse comida ou o ameaçasse de morte, mesmo que não estivesse falando sério. E era verdade, foi por isso que ele acabou entregando Tiago e Lílian, mas isso não vem ao caso agora.


Foi nesse momento que descobri que Marlene era generosa, mais do que qualquer outra pessoa. Ao invés de ela fazer qualquer uma das coisas que eu havia pensado, ou até mesmo, tentado matar Remo ela simplesmente chegou perto dele, na cadeira aonde ele havia sentado, olhando pra cara dela, esperando que ela o recriminasse e o insultasse. Antes que isso acontecesse eu em adiantei e falei:


- Lene, você pode não entender, mas por favor, se você gosta pelo menos um pouco de nós não conte isso pra ninguém – eu disse e ia em adiantando até o lugar onde ela estava olhando pra Remo. Quando eu fiz isso, Tiago apenas me puxou para trás. Acho que nós dois sabíamos que naquele momento nós estávamos na mão de Marlene e qualquer decisão que ela tomasse influenciaria nossas vidas pelos menos por um bom tempo. Marlene chegou mais perto de Remo e se ajoelhou no chão, olhando pra ele ainda. Isso não era uma das coisas que nós esperávamos que ela fizesse e nem a que ela fez a seguir.


Marlene colocou a mão sobre um joelho de Remo e sorriu. O sorriso mais sincero que eu já vira e vi até hoje. Foi nessa hora que eu percebi o quão generosa Marlene era e que ela seria capaz de fazer qualquer coisa pelos seus amigos e por qualquer outra pessoa que ela gostasse. Marlene sempre sorria, mas nem sempre seus sorrisos significavam que ela estava bem, às vezes, mesmo com dor e sem nos contar, porque ela odiava ser mandada, ela sorria. Mesmo quando ela perdeu seu pai e seu irmão ela não deixou de sorrir. Naquela noite eu percebi o quanto Marlene era boa.


- Hey – ela disse com uma voz calma quando Remo olhou para nós e deixou de olhar para ela – Não importa o que você seja durante as noites de Lua Cheia, para mim você sempre vai ser Remo Lupin, meu amigo. Eu sei que não posso fazer muita coisa, mas o que eu puder pode contar comigo, sempre. E se isso te conforta, nada do que eu ouvi vai sair daqui – e com isso levantou e abraçou ele.


Não preciso dizer o quanto nós todos ficamos surpresos com a reação de Marlene. Eu fiquei olhando pra cara de Tiago como se um hipogrifo tivesse entrado no nariz dele e o possuído e ele como se eu tivesse alguma coisa muito feia no meu nariz e ninguém tinha me avisado. Remo ficou completamente surpreso e a única coisa que ele podia fazer naquele momento era abraçar Marlene e agradecer por ela não contar nada pra ninguém. Eu confiava plenamente em Marlene e eu sabia que se ela havia dito que não contaria isso pra ninguém, ela não o faria.  O problema maior agora não era o fato de Marlene saber sobre Remo, pois eu sabia e tinha certeza que Tiago e Remo também, que ele estava seguro. O que começou a me incomodar era que eu sabia que no momento que Marlene largasse Remo ela iria olhar pra mim com a pior cara do mundo, como se eu fosse um verme e começaria a gritar coisas absurdas.


- Se você falar com ela te dou 10 galeões. Você sabe que Marlene McKinnon brava é pior do que dragão soltando fogo pelas ventas – disse Tiago enquanto passava dez galeões pra minha mão. Ele sabia que eu tinha menos chances do que ele porque Marlene simplesmente mal me ouvia quando estava brava, mas Tiago não conseguia ao menos fazê-la parar de gritar, coisa que às vezes eu conseguia e às vezes me fazia receber alguns tapas pelo corpo. No segundo ano eu já não era tão fraco como no primeiro, mas mesmo assim só fui adquirir músculos com o Quadribol no terceiro ano.


- Ta legal, mas se ela me bater você me ajuda – eu disse enquanto Tiago me dava um tapinha no ombro como sinal de solidariedade. Marlene estava sentada ao lado de Remo conversando e eu sabia que mais cedo ou mais tarde eu ia ter que falar com ela. Bom, eu sabia também que quando eu falasse com ela a conversa não seria nada fácil e que ela gritaria, como sempre, mas já que uma hora isso teria que acontecer eu decidi fazer isso naquele momento e aproveitar que todo mundo estava dormindo e ninguém iria ver o chilique de Marlene. Ou melhor, eu esperava que os gritos dela não fossem altos o suficiente para acordar a Grifinória toda em plenas duas da madrugada.

- Lene, antes que você comece a gritar e dizer que eu sou um idiota completo eu queria dizer que nós não contamos isso porque Remo não queria – eu disse enquanto ia chegando mais perto da onde os dois estavam. Marlene levantou e ficou me encarando com uma cara de: “É mesmo? E o que eu tenho haver com isso?” Odiava essa cara dela, sério. Se Marlene queria me deixar irritado era só ela fazer essa cara, porque para mim era a mesma coisa que eu estivesse falando com ela há décadas e ela só ficasse me olhando, sem falar nada. O silêncio de Marlene me irritava porque eu sabia que quando ela estava quieta, era porque algo não estava certo. Ou melhor, muito errado.

- E VOCÊ SABE O QUE EU NÃO QUERIA? QUE VOCÊS MENTISSEM PRA MIM! – ela gritou bem em frente a mim e a Marlene raivosa e de berros ardidos se revelou. Marlene podia ser uma pessoa pacífica geralmente e generosa, mas quando pisavam no calo dela pode ter certeza que ela lhe poria medo e faria você se sentir a pior pessoa do mundo. Eu simplesmente não ligava para as coisas que ela me falava quando nós estávamos brigando porque eu sabia que ela era explosiva e por mais que tudo que ela disesse fosse verdade, eu sabia que eu realmente era como ela gritava pra todo mundo ouvir. – Eu entendo completamente que Remo não quisesse que ninguém soubesse, mas quando eu perguntei a vocês sobre isso, vocês podiam ao menos ter dito: “Lene, nós queríamos muito te contar, mas é muito sério e você não pode saber.” Eu entenderia.


Ela não entenderia. Marlene baixou o tom de voz nessa frase pra que ninguém acordasse e viesse perguntar o que Remo não queria que ela soubesse. Marlene era péssima mentindo, simplesmente pelo fato de que ela não suportava mentiras. Tecnicamente, quando ela estava mentindo para alguém, mentia para isso mesmo e isso ia contra a consciência dela. Eu tinha certeza que se eu tivesse dito que não poderia contar à Lene o que ela queria saber, aí sim ela sairia atrás de nós tentando descobrir de qualquer jeito que era. Mas pra quê eu iria aumentar a raiva da Marlene? Eu ainda era jovem demais pra morrer.


- Pêra aí, você de certa forma ficou ouvindo nossa conversa escondida, Lene. Não pode falar da gente! – disse o Tiago atrás de mim e eu vi o rosto de Marlene ficar ainda mais vermelho. Ta legal, eu precisava tirar o Tiago dali de qualquer forma, Marlene odiava que falassem que ela estava errada. Na maioria das vezes ela sempre estava certa, eu tinha que admitir, mas geralmente eu só fazia isso depois de duas semanas, quando não agüentava mais ficar sem falar com ela. Eu sabia que Marlene ia voltar a gritar e eu realmente queria matar Tiago por atiçar ainda mais a raiva dela.


- EU ESTAVA DESCENDO PRA PEGAR O MEU LIVRO QUE FICOU ALI! – ela disse gritando, de novo, e apontando pra mesa que ficava encostada na parede, na qual tinha um livro de Transfiguração em cima. Marlene não estava mentindo, caso ela estivesse, teria gaguejado e ficado ainda mais vermelha, apesar de eu achar que ela não ficaria mais do que isso, ou explodiria. Se Marlene não parasse se gritar em breve todos da Grifinória desceriam e veriam ela me dando vários tapas no ombro. Apesar de Marlene me deixar estressado e nervoso quando brigava com ela, acima de tudo era engraçado. Ela ficava vermelha, descabelada, dizia coisas sem sentido, gritava coisas absurdas, me batia e fazia caras que me davam vontade de rir, mas eu sabia que se o fizesse teria que ficar 200 metros longe dela, pois ela atiraria objetos em mim.


- Ta legal, Pontas e Aluado vão dormir, ou melhor, tentem. Lene, por favor, pára de gritar, nenhum de nós tem probleminha no ouvido. Vamos conversar civilizadamente – eu disse enquanto puxava ela pelo braço e ela tentava se desvencilhar enquanto eu tentava guiar ela até o sofá, para nós sentarmos.

- NÃO ME TOCA! E SE VOCÊ QUER SABER, NÃO TEM NINGUÉM GRITANDO AQUI! – disse ela gritando. Marlene sentou-se no sofá e logo depois, quando começou a falar um tanto quanto demasiado alto, digamos assim, se levantou e colocou as mãos na cintura. – Você e Tiago são dois... dois idiotas. Se vocês não pudessem me contar ao menos poderiam dizer isso e não mentir, falando que estava tudo bem, sendo que não estava. E SE VOCÊ NÃO PARAR DE RIR EU VOU ENFIAR ESSA VARINHA EM UM LUGAR NÃO MUITO AREJADO!


Sim, eu estava rindo. Apesar de eu saber que isso só iria piorar as coisas, eu vivia brigando com Marlene e cada briga que nós tínhamos me fazia adquirir mais experiência. Eu sabia, por exemplo, que devia a deixar falar e berrar o quanto quisesse e só justificar no final. Sabia também que não podia rir da cara dela, porque ela odiava que rissem dela, a não ser quando era realmente para achar o que ela disse engraçado, mas eu sempre ria na hora errada. Eu conhecia Marlene como ninguém, sem querer me gabar. Tiago sempre levava tapas dela e sempre tentava sobrepor o que ela falava, o que fazia a discussão se prolongar ainda mais. No final eu sempre tentava convencer Marlene que eu estava certo, e como sempre, ela não aceitava e me evitava durante semanas, alegando que se eu tentasse falar com ela iria me atirar da Torre de Astronomia e depois penduraria meu corpo nu no meio do Salão Principal, mesmo que ela fosse expulsa. Eu não duvidava do que Marlene falava, apesar de ser improvável.


- Ok, é que você realmente fica engraçada toda vermelha e com o cabelo parecendo um dementador – eu disse. O segredo para conseguir parar de brigar com Marlene era começar a levar a briga para o lado da brincadeira. Eu sabia o quanto ela ficava horrorizada quando se falava do cabelo dela e da sua aparência. Marlene era bonita demais e eu não sei se ela acreditava nisso, só sei que ela era muito auto-confiante e mesmo que não soubesse, ela sabia que era diferente de alguma forma. Marlene fazia a população inteira masculina de Hogwarts cair aos seus pés se ela quisesse, mas ela nunca teve orgulho disso e sempre evitou esse tipo de coisa. Para ela, seria humilhante demais e injusto com o resto da população feminina. Ela sempre vinha com o famoso discurso feminista.


Marlene brilhava mais do que qualquer outra garota. Ela simplesmente era popular, sem nem ao menos ter desejado isso. Marlene odiava popularidade e garotas que morriam para tentar aparecer e isso não se definia pelo fato de ela ser e estar acostumada a ser popular. Marlene simplesmente era a garota que todas as outras queriam ser, mas ela nunca gostou disso, nunca tirou nenhum proveito. Obviamente que quando ela queria algum garoto as coisas se tornavam um pouco mais fáceis, mas ela nunca jogou sujo pra conseguir o que queria. Marlene era adorada pelos professores também, apesar de viver em detenção, geralmente por minha causa e por Tiago, que ficávamos trocando bilhetes e bagunçando. Meu histórico de detenções seria maior se Marlene não tivesse me ajudado a sair de algumas.


- SE VOCÊ RIR DE NOVO... pêra aí! Você disse que eu estou parecendo um dementador?  - disse ela bem baixo pra ninguém ouvir e com a boca aberta no final, como se tivesse indignada. Ela estava indignada, mas como já era de se esperar, fechou a boca no momento em que viu que eu percebi isso. Marlene nunca me dava o braço a torcer e por mais que aceitasse minhas desculpas adorava quando eu ficava correndo atrás dela. Logicamente eu não fazia isso todo tempo, mas ela sabia que mais cedo ou mais tarde eu sairia atrás dela pra pedir desculpas. Marlene sempre sabia como me ter em suas mãos.


- Aham, daqueles bem grandes e feios – eu disse enquanto levantava e imitava um dementador pra ela. Marlene saiu correndo e começou a rir. – Esse riso foi um “desculpas aceitas”? É isso mesmo ou você vai me bater ainda? – eu disse arqueando uma sobrancelha e fazendo uma cara de cachorro abandonado. Sabia que por mais que eu não convencesse Marlene por completa com esse olhar, pelo menos amolecer um pouco ela eu conseguiria.


- Isso foi um “talvez eu te desculpe porque eu sei que o Remo não queria que ninguém soubesse”. Falando sério, eu pareço um dementador? – Marlene disse de costas pra mim e de frente pra um espelho, mexendo no cabelo e fazendo caretas enquanto falava. O cabelo de Marlene era extremamente preto e todo enrolado, só com o começo liso. Ela nunca reclamava do cabelo nem de qualquer outra coisa, com exceção da bunda. Marlene dizia odiar sua bunda, pelo fato que sempre que passava fazia todo mundo olhar. Digamos que era uma coisa difícil de se evitar.


- Vamos lá, Lene. Eu sei que você quer me perdoar e além de tudo eu não menti de verdade pra você. Você sempre diz que todo mundo merece uma segunda chance – eu disse enquanto chegava atrás dela e ela me olhava pelo espelho, levantando uma sobrancelha.

Marlene era a típica menina “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”. Ela vivia dizendo quando qualquer um de nós brigava que as pessoas mereciam uma segunda chance, porém, quando nós dizíamos isso pra ela, ela simplesmente dizia que era diferente pelo fato de nós termos mentido ou traído a confiança dela, alguma coisa com esse sentido. Em parte realmente era. Acho que eu fui a única pessoa na vida de Marlene que ela perdoou quando a traiu. Marlene devia me amar demais, pois só eu sabia o quanto doía nela o fato de ir contra esses malditos princípios. Talvez ela tenha perdido muitos namorados por isso, mas Marlene nunca deixou de ser amiga deles. Ela sempre dizia que amigos eram uma coisa e quando você os namorava, era completamente diferente. Você podiam se dar muito bem enquanto só conversavam e podia ser um completo desastre enquanto se beijavam. Marlene perdia a confiança em seus namorados, mas não nos antigos amigos que eles haviam sido. Sempre achei isso muito nobre da parte dela, era uma forma de continuar a conviver com ela e a separação não doer tanto, porém quando foi a minha vez de deixar de ser seu namorado, foi como se tivessem me tirado o ar para respirar e não descansei enquanto não a reconquistei de volta.


Era como você tivesse tido o melhor e mais perfeito na sua mão e do nada haviam tirado isso de você e você tivesse que se contentar com o nada, só com a lembrança de quão feliz você era, e mais nada.


- Sim, todo mundo merece e você é Sirius Black, esqueceu? Você mentiu sim pra mim quando me disse que estava tudo bem e não estava! E além de tudo, você não sabe o que eu quero fazer – ela disse se virando pra mim e dando um sorriso cínico. Realmente, Marlene era imprevisível. Você nunca poderia saber o que ela estava decidida a fazer ou estava pensando. Quando você pensava que ela iria fazer alguma coisa, ela fazia exatamente ao contrário. Marlene odiava fazer o que as pessoas pensavam que ela iria fazer, mesmo que fosse errado.


Apesar de todo esse sermão de “não devemos mentir” eu tentava convencer Marlene que algumas mentiras eram perdoáveis. Se qualquer um de nós pararmos pra pensar o simples fato de dizer “Tudo bem” quando nós não estamos bem, somente para não preocupar ou então quando não queremos ninguém bisbilhotando nossa vida, já é uma mentira. Eu dizia várias vezes que havia mentiras que visavam o bem, mas Marlene nunca me ouvia, o máximo que ela fazia era diminuir o tempo que evitava falar comigo pra uma semana. Ela costumava dizer que a verdade era essencial e por mais que ela doesse, uma mentira quando descoberta, doía ainda mais do que a verdade nua e crua.


- Ah é, eu esqueci por um minuto que sou Sirius Black e você nunca me desculpa de primeira. A minha mentira não foi tão grave, era pra preservar um amigo. Se você tivesse me pedido pra não contar alguma coisa e alguém me perguntasse a respeito disso eu também não contaria. E você sabe que você me ama – eu disse enquanto Marlene ria da minha cara e virava os olhos. Ela saiu andando até a mesa com o livro e o pegou e ficou examinando por um tempo.


- Ta legal – ela disse enquanto fechava os olhos e cruzava os olhos – Mas você sabe que se mentir pra mim sobre alguma coisa séria eu não vou te perdoar, mesmo que eu goste de você. É bem mais difícil perdoar alguém que você gosta. Agora vem aqui, seu cachorro, e me dá um abraço – ela disse e sorriu pra mim, estendendo os braços.


Adorava os abraços de Marlene. Eles sempre eram aconchegantes e quentes e o cheiro que saía do cabelo dela lhe fazia esquecer qualquer problema que você tivesse. Marlene hipnotizava você com os simples gestos comuns que qualquer um faz durante o dia, mas os dela tinham algo a mais. A visão de mundo de Marlene era diferente. Aprendi com ela que o bem e o mal sempre estão ali e ninguém nasce bom ou mau, a diferença é o caminho que nós escolhemos seguir. Ninguém é bom por inteiro, nem mau. Nós todos temos essa divisão no nosso interior, o que nos faz ser diferentes é como você lida com isso, dentro de você.


Além disso, Marlene vivia dizendo que é bem mais difícil perdoar alguém que você conhece e ama e isso é verdade. Se alguém que você não convive muito mente para você ou faz qualquer coisa que te magoaria é muito mais fácil você perdoá-la porque você não convive com ela, não tem sentimentos em relação a ela. Ela simplesmente está ali presente na sua vida, de passagem. Porém, quando alguém que você realmente ama e está ali na sua vida por um bom tempo e você vai se lembrar de alguma forma, pro resto dela, esse sim é um alguém difícil de perdoar porque você simplesmente o ama e jamais queria que ele te magoasse. Isso é muito mais difícil de aceitar.


- Adoro seu abraço, mas eu sei que você vai me ignorar amanhã e pela próxima semana como castigo, então eu vou dormir – eu disse enquanto dava um beijo na testa dela e ela sorria. Eu só fui perceber isso muito tempo depois, quando Marlene já havia ido embora, mas apesar de nós sermos apenas amigos eu acabei vendo que nós nos comportávamos como namorados e hoje eu entendo porque praticamente todas as minhas “namoradas” terminavam comigo por causa de Marlene e porque os namorados dela acabavam traindo ela achando que ela estava os traindo comigo. Marlene e eu vivíamos abraços, andando juntos, assistindo às aulas juntos, comíamos juntos, etc. Não havia privacidade entre nós dois, eu sabia tudo da vida dela e vice versa. Nós éramos como namorados, porém nunca havíamos nos beijado, era a única regra o que seria um pouco estranho porque geralmente é isso que os namorados fazem. Pelo menos até o quinto ano isso não havia acontecido.


- É bom mesmo, mas não esquece que eu gosto de você quando você quiser me matar amanhã por não falar com você – ela disse piscando pra mim enquanto eu subia a escada.


No outro dia Marlene me ignorou e nos outros seis dias que se passaram depois desse também. Ela sempre fazia isso como castigo, digamos assim. Ela sempre ignorava qualquer pessoa e geralmente quando Marlene descobria que algum namorado seu havia a traído ela geralmente aumentava ainda esse prazo, até ele se conformar que eles não seriam mais namorados.


Eu nunca consegui entender porque todos os namorados que Marlene teve acabaram traindo ela. Isso inclui a mim e eu não sei a resposta pra conhecer tamanha idiotice. Todos nós sabíamos que Marlene não suportava traição e jamais iria perdoar uma. Nós realmente éramos idiotas e eu o maior deles. Eu era o melhor amigo de Marlene e vi ela dar o troco em todos os garotos que haviam traído sua confiança. Era engraçado pra quem via de fora, como eu. Marlene sempre acreditava que o namoro dela estava super bem e ela acabava encontrando o garoto beijando outra no corredor ou qualquer coisa do tipo. Marlene não armava uma briga na hora. Ela esperava até o dia seguinte no café da manhã , tratava o seu namorado com a maior naturalidade como se ela não soubesse de nada. Depois, ela dizia que tinha uma surpresa pra ele, se dirigia até algum outro garoto que gostasse dela e simplesmente perguntava em voz baixa se ele queria beijá-la e obviamente, ele o fazia. O ex-namorado de Marlene ficava olhando para aquela cena com uma cara que ia murchando cada vez mais. No final, o chifrudo da história seria ele.


Marlene conhecia várias pessoas e por isso a notícia que ela estava sendo traída chegava bem mais rápido do que para qualquer outra pessoa que também estivesse, porém poucas pessoas ficavam sabendo que ela havia sido traída primeiro. Muitas vezes essa era a primeira traição do garoto e Marlene acabava por cortar o mal pela raiz. Depois de todo esse show no café-da-manhã Marlene prosseguia seu dia como se nada tivesse acontecido e como se outra pessoa tivesse feito isso e não ela. Muitos dos garotos corriam atrás, pediam desculpas (apesar de saberem que Marlene não aceitaria), enviam presentes no dia seguinte dentre outras coisas, mas Marlene não se abalava e não voltava atrás. Ela voltava a falar com o garoto como amigo geralmente depois de um mês, quando ele já havia superado e desistido da idéia de voltar com ela. Marlene superava no dia seguinte quando era traída e nem mostrava estar abalada, apesar de eu desconfiar disso um pouco. Quando ela descobria isso e havia uma festa ela bebia todas.


Alguns namorados ficavam realmente irritados com a postura de Marlene quando ela dava seu show de revanche e não procuravam voltar com ela. Querendo ou não, eles acabavam voltando a falar com ela. No final, ambos (os que haviam tentando reatar e os que haviam desistido) sabiam que era impossível deixar de falar com Marlene. Eu, quanto cometi o maior erro da minha vida ao trair Marlene, tentei convencê-la de todas as formas que nós ainda podíamos continuar juntos, durante meses e ela nem ao menos quis voltar a ser minha amiga. Só consegui convencê-la de nós sermos felizes de novo juntos no Baile de Formatura e tenho que admitir que foi uma das tarefas mais difíceis da minha vida. Marlene disse que eu fora a pessoa que a mais magoara na vida dela e ela tinha toda razão. Até hoje me sinto culpado por tamanha besteira que eu fiz.


Até o segundo Marlene costumava apenas passar algum tempo com os garotos e não tinha namorado. A partir do terceiro ano ela começou a namorar e eu ainda me lembro quando o primeiro namorado a traiu. Quando ela descobriu, eu estava sentado de frente para a lareira do Salão Comunal, depois da festa de comemoração que fez a Grifinória campeã de Quadribol. Marlene abriu a porta do Salão e logo que entrou tropeçou no tapete e quase caiu no chão. Marlene era uma desgraça bêbada, apesar de me fazer rir. Ela sempre começava a falar de assuntos completamente esquisitos e que ela jamais falaria sóbria, porque não havia sentido algum. Ela caminhou um pouco torta até onde eu estava, enquanto eu meio que ria do esforço que ela fazia para se manter em pé, e se sentou do meu lado, praticamente se jogando no chão.


- Sabe uma coisa que eu não entendo? – ela perguntou olhando pro fogo na lareira enquanto eu continuava a olhar para ela com ar de riso – Porque vocês homens insistem que são melhores do que nós, mulheres. Eu quero vomitar por causa disso.


- Na verdade, você quer vomitar por outro motivo, mas tudo bem – eu disse enquanto passava a mão no cabelo dela – O que aconteceu pra você proclamar esse discurso em plenas duas da madrugada?


- Cross me traiu. Peguei ele enfiando a língua na boca de outra menina depois do jogo, comemorando. Eu poderia dizer que eu me sinto bem se não fosse o fato de eu estar quase vomitando e ao mesmo tempo querendo enfiar essa garrafa pela goela dele abaixo, mas eu acho que vou beber o que tem dentro dela primeiro. Um brinde à harmonia dos cornos – ela disse de uma vez só com uma voz de bêbada e partiu pra cima de uma garrafa comum resto de bebida dentro. O Salão Comunal ainda estava uma bagunça depois da festa e tinham várias coisas não chão.


Eu tinha problemas com insônia na época e durante muito tempo em Hogwarts eu descia praticamente todas as noites e ficava sentado no sofá pensando ou fazendo qualquer outra coisa, até mesmo deveres completamente atrasados que tinham que ser entregues naquele dia.  Durante o dia, obviamente, eu ficava morrendo de sono eu acabava dormindo nas aulas. Marlene tinha um sono de pedra e um mundo podia acabar do lado de fora do castelo que ela continuaria babando no seu travesseiro. Porém, Marlene conseguia passar até duas noites seguidas sem sentir sono e quando isso acontecia ela geralmente descia para o Salão também e nós dois ficávamos lá em baixo, conversando. Isso aconteceu várias vezes durante anos e metade das coisas que sei sobre Marlene eu descobri durante essas conversas da madrugada.


- Lene, pára com isso – eu disse enquanto tirava a garrafa da mão dela antes dela colocar na boca. – Você vai se arrepender amanhã, quando sua cabeça pesar ou daqui a pouco quando você vomitar. Ele é um idiota de fazer isso e eu tenho certeza que você vai superar, mas não vai ser bêbada, descalça e tentando matar ele com uma garrafa de cerveja – eu terminei tirando a garrafa da mão dela, de novo.


Marlene era um problema quando bebia. Se quando sóbria ela já fazia tudo que queria, quando bêbada ela basicamente fazia tudo que não se devia fazer. Além de tudo, ela sempre passava mal e acordava no outro dia com uma baita de uma dor de cabeça. Quando Marlene ficava doente ela nunca nos contava e nunca reclamava de dor ou como estava se sentindo mal. Ela fingia que estava completamente bem e quando nós perguntávamos ela dizia que iria passar. Marlene poderia estar morrendo, mas ela jamais ia à Ala Hospitalar, o que não era bom, porque nós tínhamos que arrastá-la para lá. Apesar dela não nos contar nós percebíamos, pois Marlene ficava com olheiras e o seu sorriso ia ficando cada vez mais difícil de se ver a cada dia. Marlene era uma cabeça-dura e ninguém nunca conseguiu mudar sue jeito de ser.


- Quem liga? – ela disse enquanto levantava cambaleando um pouco e olhava pra minha cara. – Amanhã você vai ver só.


Marlene subiu as escadas do dormitório e eu fiquei ali sentado continuando olhando para a lareira. De primeira, eu nunca poderia imaginar o que Marlene iria fazer no dia seguinte, não tinha a mínima idéia. Ela sempre fora imprevisível. Depois de um tempo, subi e me deitei. Quando acordei no outro dia Remo e Pedro já tinham descido e Tiago estava se arrumando. Levantei completamente tonto e me troquei. Todo dia era mesma coisa, eu acordava caindo de sono, vestia o uniforme de qualquer jeito e só depois de eu tomar uma boa xícara de café conseguia me arrumar decentemente. Eu geralmente me arrumava no Salão Principal o que fazia todas as meninas suspirarem. Não que eu tirasse o uniforme e recolocasse, mas quase sempre minha barriga ficava à mostra. Quando cheguei ao Salão Principal todo mundo já estava tomando café, menos Marlene.


- Bom dia todo mundo – eu disse enquanto sentava e colocava qualquer coisa no meu prato. Nunca me preocupei com o que eu comia e nem sabia ao menos o nome, só chamava a comida de coisa. – Marlene passou bem à noite? – eu perguntei depois de todos terem respondido.


- Se passar a noite vomitando e não deixar ninguém entrar no banheiro pra te ajudar é passar bem, então sim, Marlene passou a melhor noite da vida dela – disse Lílian dando um sorriso e fazendo todos nós rirmos, enquanto tomava um suco e lia o jornal. Marlene era orgulhosa. Odiava pedir ajuda pros outros e dizia que não era justo os outros perderem o tempo da vida deles com ela. Nunca entendi como ela podia dizer isso se vivia fazendo ao contrário para com nós.


Na verdade eu acredito mais no fato de Marlene querer ser independente, não orgulhosa. Ela queria provar para todos que era capaz de fazer tudo sozinha e que não precisava da ajuda de ninguém pra isso. No entanto, ela nunca admitiu que queria fazer, ela só agia naturalmente e não se dava conta de quando independência ela mostrava só por estar ali. Marlene passou por varias coisas, ruins eu diria, mas a que fizeram crescer e amadurecer.
Marlene McKinnon era linda, feroz e independente. Por mais que Marlene tenha morrido, ela mudou o meu mundo em pouco tempo e eu tenho certeza que se ainda estivesse viva ela mudaria não só o meu mundo, mas o de todos nós. Mesmo fazendo isso, tendo esse poder, ela nunca soube disso. Sempre agiu naturalmente. Marlene podia não ser a garota mais bonita do planeta (apesar de ser, para mim), nem a mais inteligente, nem mesmo perfeita, mas ela brilhava. Mais do que qualquer pessoa, e disso, eu tenho certeza que ela sabia.


- Bom dia, amigos – disse Marlene que em algum momento enquanto eu tomava café, apareceu. Marlene sempre me assustava, não sei se porque eu era muito desligado ou se ela escolhia o momento certo. – Como estão? – continuou ela enquanto pegava a xícara de café que eu guiava até a minha boca e tirava ela da minha mão.


- Você precisa para com essa mania de tirar as coisas da minha mão – eu disse enquanto ela bebia o café e me olhava com uma cara irresistivelmente doce. – Não me venha com essa cara. Se eu fosse você teria vergonha de ter bebido daquele jeito ontem.


Marlene sentou do meu lado, me devolveu a xícara e ficou me olhando, como se eu tivesse alguma coisa na minha cara e ela ficasse encarando. O único problema é que eu não sabia o que era, e ela continuava me olhando. Ela costumava fazer isso bastante. Quando isso acontecia, parecia que ela lia exatamente o que eu estava pensando.


- Olha só quem está falando, o senhor Eu-bebi-a-noite-toda-e-peguei-todas. Você é o sujo falando do mal lavado – ela disse enquanto pegava a caneca de café da minha mão de novo e tomava. Marlene tinha razão, eu não tinha moral para falar dela, mas era divertido. Ela ficava furiosa quando alguém tentava tomar conta dela. Marlene amava sua liberdade e jamais poderia deixá-la de voar, ser livre. – Oi, Cross.


Cross havia acabado de chegar por trás de Marlene e a cumprimentado com um beijo e Marlene aceitara. Quando eu vi isso, sinceramente, tive vontade de sair chacoalhando Marlene até ela se lembrar que havia vomitado a noite inteira por ele. Eu simplesmente balancei a cabeça negativamente e voltei a tomar meu café e terminar um trabalho pra próxima aula com Tiago. Por mais que eu e Tiago nos concentrássemos, Marlene falava mais alto e era impossível não ouvir o que ela falava.


- Tenho uma surpresa pra você – disse Marlene sorrindo enquanto dava um beijo em Cross. Eu realmente estava começando a me preocupar se Marlene tinha vomitado alguma coisa além do que comida, como o cérebro. Eu sabia muito bem que ela odiava traição e mentira, só não sabia o porquê dela continuar com ele. Naquela época eu não sentia ciúmes de Marlene, ela tinha vida amorosa dela e eu a minha, porém eu não suportava qualquer garoto que a destratasse.


Apesar de Marlene ter passado a noite mal ela continuava bonita. O rosto dela brilhava e os olhos também, além de estar sorrindo, como sempre. Marlene caminhou até um dos meninos da Grifinória do quarto ano, abaixou, falou alguma coisa pra ele que nós não conseguimos escutar. Eu olhei para cara de Cross e ele olhava para Marlene com a típica cara dele de “não entendi nada, dá pra repetir?”. De todos os namorados de Marlene, Cross foi o mais idiota, digamos assim. Anos depois nós ríamos cada vez que lembrávamos que ela havia namorado ele. Antes que pudesse voltar a olhar para Marlene, Cross fez a cara mais engraçada que eu já vira na minha vida e eu comecei a rir. Era um misto de indignação com raiva e medo, ao mesmo tempo. Quando me virei, parei de rir quase que imediatamente.


Marlene havia agarrado o menino do quarto ano, ou talvez ele tenha agarrado ela e os dois estavam se beijando. Obviamente o Salão inteiro havia parado para olhar não só para Marlene, mas principalmente para Cross que continuava olhando pra sua namorada beijando outro garoto na frente dele. Marlene conseguia mobilizar todo mundo. Ela parou de beijar o garoto, deu um sorriso pra ele e saiu andando em direção à Cross. Eu comecei a rir instantaneamente. Marlene fez com que ninguém ficasse sabendo que ela estava sendo traída e ainda fez com que Cross ficasse como o traído da história. Ela parou no meio do caminho e virou-se para uma menina que eu nem sabia o nome e disse:


- É melhor você tomar cuidado, ele é um péssimo namorado. Mas mesmo assim, que vocês sejam super felizes. – disse Marlene sorrindo para a menina. Mais tarde Lílian me contou que aquela era a menina que ela havia visto Cross beijando na noite anterior. Marlene continuou andando e chegou até Cross, aonde inclinou a cabeça para o lado, deu um tapinha no ombro dele e disse:


- Você vai superar, colega. Eu sei que vai. – terminou ela enquanto pegava a mochila dela e ia para a próxima aula dela. Eu continuei rindo e depois de um tempo, nós seguimos para a nossa aula também. Cross continuou parado olhando para o nada quando nós saímos do salão, chocado. Foi a primeira revanche de Marlene e mesmo assim, vários meninos a traíram. Parecia que todos eles queriam experimentar como seria ter sua namorada beijando outro cara na sua frente. Eram idiotas, todos. Inclusive eu.


Apesar de deixar um aviso, digamos assim, pra menina com quem ela vira seu namorado a traindo Marlene nunca fazia nada contra a dita cuja. Ela continuava tratando-a normalmente, como se nada tivesse acontecido. Marlene amava ser mulher e nada no mundo a faria querer ser um homem, por isso ela sempre defendia as mulheres. Ela dizia que nós, homens, éramos quem seduzíamos as mulheres. Nós as corrompíamos através dos nossos erros. Evitava brigar com Marlene por causa disso, ela tinha argumentos que eu não sabia contestar. Para mim, nós todos éramos iguais.


Marlene quase sempre namorou caras mais velhos. Ela se portava como alguém mais velha e tinha a maturidade de uma menina mais velha. Sim, eu admito: meninas amadurecem mais rápido do que meninos. Porém, não foi devido às leis da ciência que Marlene acabou por amadurecer mais rápido. Marlene teve que se tornar independente e forte.


Quando Marlene entrou em Hogwarts ela já havia enfrentado uma série de mortes, dentre elas, a do seu pai. Marlene nunca fora ligada muito ao pai. Segundo ela, eles eram completamente diferentes, porém isso não significava que ela não tivesse sofrido com sua morte. Ela compensava toda a ausência do pai com o irmão e vice versa. Não que chorar seja sinônimo de fraqueza, mas só vi Marlene chorar duas vezes de tristeza na sua curta vida. A primeira foi no quarto ano quando seu irmão, que ela amava mais do que qualquer coisa, morreu.


Ele não morreu simplesmente. Eduardo McKinnon fora assassinado por o que nós anos depois chamaríamos de Comensais da Morte, mas não naquela época ainda. Eu estava na casa de Tiago quando nós ficamos sabendo do ataque e nós e seus pais seguimos para o hospital. Marlene havia se machucado também, mas a sua dor emocional era muito maior do que a física. Marlene estava sentada na cama, atônita, com uns machucados na cara. Ela nos contou toda a história sem pestanejar e no final, Tiago saiu para beber alguma coisa. Marlene olhou para a pulseira, que eu imediatamente reconheci sendo de Duda, e começou a chorar. Desabafar. Marlene chorou durante praticamente seis horas, até dormir. Eu simplesmente não conseguia sair do seu lado. Era como se parte de mim ficasse com ela, cada vez que eu saía do quarto.


A Sra.McKinnon também estava completamente arrasada, como Marlene. Todos diziam que Marlene tinha o temperamento da mãe. Eu sempre achei que as duas tivessem algumas semelhanças, mas havia muitas diferenças marcantes entre elas. A Sra.McKinnon vivia trocando de namorado, era incrível. Não que ela não se desse a respeito, pelo contrário, ela sempre foi uma ótima mãe para Marlene e Eduardo, mas Marlene dizia que era uma forma dela superar o pai. Marlene nunca ligou ou brigou com a mãe por causa disso. Depois que Eduardo morreu, Marlene acabou mudando de casa com a mãe, por segurança. Depois do incidente, Marlene passava o Natal na casa de Tiago e cada vez mais a família dele e mais uma porção de bruxos tentavam entender o porquê isso acontecera. Mais tarde nós entenderíamos.


Eu, Tiago, Remo,Pedro,Lílian, Dorcas e Emmeline realmente pensávamos que Marlene não iria querer voltar a Hogwarts depois do que havia acontecido. Nós iríamos começar o nosso quarto ano e a vida de Marlene parecia mais desorganizada do que nunca. Porém, antes que nós disséssemos qualquer coisa, Marlene já estava pronta, de malas feitas, sem nenhum arranhão no rosto e bem emocionalmente, segundo ela. Marlene me explicou que se fosse deixar de fazer suas coisas pro causa da lembrança do irmão, não iria a lugar algum. Além de tudo, ela decidiu viver por ele, ou seja, aproveitar a vida dela pelos dois, por tudo que ele não tivera oportunidade de viver. Quando nós voltamos pra Hogwarts, Marlene parecia melhor do que nunca.


Poderia parecer egoísmo da parte dela se comportar como nada tivesse acontecido, sendo que seu irmão tinha morrido, mas não era. Ela simplesmente estava tentando ocupar o tempo dela e tentando viver. Marlene tinha uma capacidade imensa de superar as coisas que sempre admirei.


Marlene e eu acreditávamos muito um no outro. Eu não sabia fazer nada sem os conselhos dela e ela dizia que eu sempre conseguia tirar os problemas da cabeça dela. Ela tinha um jeito especial e era impossível não confiar nela. Marlene sabia segredos de todo mundo, mas nunca os contava para ninguém. Apesar de todo mundo contar seus segredos para Marlene, esta se reduzia a contar os seus apenas para quem realmente ela confiava. Depois que Duda morreu naquele ano nós achamos que seria melhor Marlene passar o Natal conosco e em nome dela, até Lílian acabou aceitando ir passar o Natal na casa de Tiago. Com certeza foi o melhor Natal das nossas vidas. Depois veio o Ano Novo e Marlene estava mais feliz do que nunca. Quando chegou a mudança do ano Marlene deitou-se na grama do jardim da casa dos Potter’s e ficou olhando aqueles vários fogos que explodiam enquanto todo mundo estava dentro da casa. Eu saí de lá de dentro, andei até onde Marlene estava e me sentei ao lado dela. Antes mesmo que eu sentasse, ela me disse:


- Vamos jogar – ela disse enquanto se virava pra mim. Eu estava com a boca aberta porque ia começar a falar e quando ela viu a minha cara, começou a rir. – Depois você fala. Eu vou te fazer umas perguntas, você me responde e eu respondo pra você tá?


- Ta, eu sei que se eu disser não a gente vai brigar – eu concordei enquanto ria. Eu não tinha a mínima idéia de quais perguntas Marlene iria me fazer e achei que seriam coisas completamente superficiais e tolas, só para passar o tempo. Eu me enganei, como sempre. Sempre achava que Marlene ia fazer uma coisa e ela fazia ao contrário.


- Ok. Hum, o que você mais ama na sua vida? – ela perguntou enquanto me olhava e esperava uma resposta.


Eu não tinha a menor idéia do que eu mais amava na minha vida, nunca tinha parado para pensar. Óbvio que eu amava várias coisas na minha vida, mas eu nunca havia parado pra pensar nelas, muito menos qual delas eu amava mais. Marlene adorava fazer esses tipos de pergunta que você nunca acha uma resposta imediata e te força a pensar. Eu fiquei durante os minutos pensando enquanto olhava pra ela. Eu amava praticamente tudo à minha volta, mas eu acho que se não tivesse entrado em Hogwarts não teria essas coisas na minha vida. Eu amava Marlene e todos os meus amigos. Eu amava ser do jeito que eu era. Eu amava acordar todo dia com sono e ir para o Salão Comunal, tomar um café e despertar. Eu amava as meninas de Hogwarts. Eu amava Quadribol. Eu amava qualquer coisa que me fizesse sentir bem, mas isso eu só encontrava em Hogwarts.


- Hogwarts, definitivamente. Eu encontrei tudo que eu não tinha em Hogwarts, inclusive família. Eu não sei como eu seria hoje se não tivesse entrado pelas portas daquele castelo. Eu não conheceria muita coisa, eu não aprenderia tanto quanto aprendi até hoje – eu disse enquanto olhava pros fogos que ainda estouravam em cima da nossa cabeça. – E você?


- Meus amigos. Eu já tive vários problemas, mas eu acho que não seria capaz de passar por metade deles se não tivesse eles do meu lado. Isso inclui você, Sr.Black. – ela disse e depois bebeu um gole de uma taça que estava do lado dela e que até então eu não tinha percebido. Eu sorri pra ela. – Agora, o que você mais odeia?


Mais uma vez eu não tinha a menor idéia do que eu mais odiava. Nunca havia parado pra pensar também porque eu nunca me preocupei com o que eu odiasse, eu só queria manter esse tipo de coisa longe. Anos depois eu fui entender que essas perguntas de Marlene eram muito mais profundas do que eu imaginava e por incrível que pareça eu não me arrependi de nenhumas das repostas. Eu encontrei respostas nas próprias respostas de Marlene, por mais estranho que isso soe. Marlene fazia esse tipo de pergunta não para nos testar, mas principalmente pra nos conhecer melhor e nunca nos magoar. Ela podia fazer qualquer coisa, mas Marlene não se perdoava quando magoava alguém que gostasse.

- Tristeza. Principalmente quando se trata de alguém que eu realmente gosto. – eu disse enquanto olhava dentro dos olhos de Marlene. Eu odiava ver qualquer pessoa triste, e odiava ainda mais quando eu havia feito tal coisa ou então eu não pudesse fazer nada. Na verdade eu acho que o que eu mais odiava era o fato de ser impotente em algumas situações, não poder fazer nada pra reverter uma situação. – Agora me diz você.


- Traição. Na verdade seria traição e mentira, mas digamos que você como meu psicólogo tem me ajudado a superar as mentiras menores que eu tanto odeio. Pra mim, você pode me chamar de qualquer coisa, dizer que eu sou a pessoa mais horrível do mundo ou qualquer coisa do gênero que talvez um dia eu ainda volte a ser a antiga Marlene antes da nossa “troca de elogios”, mas se um dia você me trair pode ter certeza que nunca mais e vou ser a mesma com você e sinceramente, vou lhe desprezar pelo resto da minha vida. – ela disse enquanto olhava pra frente.


Quando Marlene disse isso eu não consegui identificar se o “você” se tratava de todos no geral ou se referia só a mim. Mais tarde eu fui entender que se referia realmente a mim. A maioria das coisas que Marlene me disse eu só fui entender tempos depois. Marlene conseguia enxergar lá na frente, coisa que nunca acontecera comigo. Eu nem ao menos conseguia enxergar um palmo a frente dos meus olhos. Eu era como um cego, e Marlene era como meu cão guia, pejorativamente. Se eu não tivesse adotado os conselhos que Marlene tinha me dado com certeza teria passado por muito mais dificuldades do que realmente passei.


- Eu nunca vou lhe decepcionar, prometo – eu disse enquanto dava uma meia risada e Marlene só olhava pra mim, sem nenhum ar de riso. – Eu falo sério. Você é umas das pessoas mais importantes pra mim, se não a mais importante. Eu jamais suportaria o fato de fazer você sofrer por minha causa. – eu completei percebendo que Marlene esperava de mim uma resposta madura e civilizada e que nenhum de nós dois, naquele momento, estava de brincadeira com os sentimentos um do outro.


- Eu sei que não. Ou pelo menos, espero. Não digo isso essencialmente a você, mas a qualquer pessoa que eu goste e que possa me magoar – ela disse agora sorrindo e olhando pra mim. Essa frase de Marlene me confundiu durante anos e como eu disse, só fui ter a certeza de que ela estava se referindo diretamente a mim quando já havia cometido o estúpido erro de traí-la e havia quebrado minha promessa. – A última pergunta: do que você mais tem medo na sua vida?


Eu podia dizer uma série de coisas, mas eu acho que o que mais me dava medo naquela época na minha vida era perder quem eu amava. Eu tinha plena certeza de que jamais suportaria perder um dos meus amigos, talvez pelo fato de conviver com eles todos os dias e saber mais deles e de suas vidas do que sabia da minha própria vida. Eu nunca entendera como Marlene tinha perdido várias das pessoas que ela amava e continuava sendo a Marlene de sempre. Pra mim, era algo que se viesse a acontecer comigo demoraria anos pra me recuperar, pelo menos naquela época eu achava que as coisas funcionavam assim. Eu também passei por grandes perdas, mas apesar de tudo, foram quando já era mais velho e já tinha alguma maturidade e o exemplo de Marlene pra me mostrar que as coisas não podiam funcionar dessa maneira, que eu teria que me adequar as mudanças, e não as mudanças teriam que se adequar a mim. O que eu tinha certeza naquele momento e tive até o dia da morte de Marlene foi que eu jamais poderia viver sem ela ao meu lado.


- Perder quem eu amo. Eu sei que você já passou por isso e eu lhe admiro muito por toda a força que você tem, mas isso pra mim, perder você, Tiago, Lilian ou qualquer outra pessoa que eu goste, é como perder parte de mim – eu disse enquanto olhava pro céu e esperava alguma reação de Marlene. Eu não quis fazer essa pergunta para Marlene, talvez porque eu jamais poderia imaginá-la com medo de qualquer coisa. Marlene já passara por tanto sofrimento que eu jamais poderia vê-la com medo de algo. Mas antes que eu ficasse em silêncio, me levantasse e nós continuássemos vivendo nossas vidas sem eu seu saber sua resposta, ela própria resolveu contá-la. Hoje eu sei que Marlene havia feito essa pergunta somente pra que eu soubesse sua resposta.


- Eu tenho medo de não ser o bastante para os outros. Eu tenho medo que as pessoas olhem pra mim e não me reconheçam, que eu seja mais uma pessoa no meio de milhares. Que eu não seja importante, que as pessoas me tachem de algo que eu não sou. Que pensem de mim coisas erradas e que principalmente quando eu morrer ninguém lembre da pessoa que eu era – ela disse com os olhos tristes olhando pra mim. Eu fiquei completamente chocado que Marlene pudesse ter esses tipos de medo, sendo que o que ela parecia mostrar era exatamente o contrário.


A partir desse dia eu finalmente passei a entender o comportamento de Marlene. Era óbvio que Marlene queria passar uma impressão boa para os outros, ela queria ser um exemplo. O que ela não se percebia era que mesmo que ela não quisesse, ela já seria um exemplo e seria notada. Prova maior do que essa foi que quando Marlene morreu várias pessoas, até mesmo aqueles que ela nunca vira na vida e nem mesmo eu, falavam bem dela e estavam chorando por ela. Marlene cumpriu e deixou para nós exatamente o que queria. Ela queria ser lembrada e definitivamente ela conseguiu o que queria. Ela sempre conseguia.


Além disso, porém, Marlene tinha medo das taxações que podia sofrer. Ao mesmo tempo que esta queria mostrar a todos que era uma ótima pessoa, que podia ser um exemplo, tinha medo de ser mal compreendida e ser tachado de algo que não lhe agradava. O objetivo de Marlene, durante toda a sua vida, foi provar a todas e a si mesma quem ela realmente era, pois ela era uma pessoa maravilhosa e todo mundo devia saber disso. Apesar de eu ser uma pessoa completamente suspeita para falar no assunto eu sabia que no fundo todo mundo concordava comigo: Marlene nasceu para brilhar intensamente, espalhar seu brilho, e queimar rapidamente.


- Você pode ter certeza que isso nunca vai acontecer, porque mesmo que um dia estejam esquecendo de você, eu vou estar lá pra fazer todos eles lembrarem da pessoa maravilhosa que você é – eu disse enquanto olhava pra ela e tirava uma mecha de cabelo do olho dela. Eu podia ter simplesmente beijado Marlene naquele momento, porque talvez, pelo que eu me lembre, este foi um dos momentos mais sinceros e românticos que nós dois tivemos. Porém eu sabia meu lugar, e como Marlene estava namorando não queria de nenhuma forma desrespeitá-la. Eu provavelmente estava apaixonado por Marlene, não tenho dúvidas disso, mas o meu eu interior não sabia disso. Eu continuava vendo Marlene como a minha melhor amiga e a melhor mulher do mundo, mas eu era tão “inocente” em relação a sentimentos reais, como o amor, que eu não entendia o porquê dessa vontade de passar a querer beijar Marlene e tê-la pra mim.


Obviamente eu tive milhares de namoradas, mas meu sentimento por elas jamais chegou ter um décimo de intensidade do sentimento que eu nutria por Marlene. Marlene vivia dizendo que eu não era o tipo de cara que namorava uma garota por três meses e sim aquele que namora três garotas por semana. Ela nunca apoiara as traições que eu cometia com as minhas namoradas, mas ao mesmo tempo não dava palpite. Uma das coisas que eu mais gostava em Marlene era o fato de que esta nunca tentara me mudar. Para ela cada um era do jeito que era e ponto final, não seria ela que iria mudar alguém, talvez o tempo, mas nunca uma pessoa. Quando isso acontecia, geralmente mudávamos para a pior, pois não era isso que nós queríamos.


Como eu disse, Marlene nunca me repreendera por trair minhas namoradas, nem nunca apoiara. Ela era neutra, como a Suíça. Na verdade, Marlene ficava realmente brava com as minhas namoradas. Segundo ela, eu não estava certo em fazer isso, mas as minhas namoradas eram ainda mais erradas em aceitar namorar comigo sabendo que eu era desse jeito. Na cabeça de Marlene elas não tinham o direito de reclamar, já que elas haviam escolhido se entregar a mim sabendo do meu jeito de ser. Para ela cada um deve arcar com as conseqüências dos atos ou caminho que decide tomar. Marlene achava que todas elas eram cabeças fracas por aceitarem sair comigo e toda vez que estas brigavam comigo ela não se intrometia, mas as lembrava que ela nunca houvera aceitado sair comigo, porém conseguira tudo e mais um pouco que elas conseguiram, sem passar pelo sofrimento.


O quarto ano foi razoavelmente tranqüilo e cada vez mais, por mais que eu não quisesse, ficava perturbado com a idéia de Marlene namorar algum garoto. Cada vez mais eu queria ter Marlene perto de mim, o que era praticamente impossível, pois das 24 horas do dia, 20 eu passava ao lado dela. Eu passei as férias na casa de Tiago e Marlene também. O nosso quinto ano começou e logo eu e Tiago tivemos que nos começar a preparar para o Torneio de Quadribol. Marlene dizia estar preocupada com os N.O.M’s, mas não me lembro de ter visto Marlene parar um dia para estudar. Tenho que confessar que ela passou a prestar um pouco mais de atenção nas aulas, mas ela era a única que não prestava atenção, somente lia a matéria um dia antes e conseguia se sair excelentemente bem. Tinha inveja desse “dom”, porque eu não prestava atenção na aula, não estudava e somente lia a matéria, assim como ele, mas não tirava metade de suas notas.


No terceiro ou quarto jogo da temporada de Quadribol meu querido irmão acabou me derrubando da vassoura. Eu sai do campo com um braço fraturado e uma vassoura despedaçada. Eu tinha plenas condições de comprar uma vassoura nova, porém digamos que como minha mãe nutria um sentimento de repulsa quanto a mim, fui obrigado a ficar fora da final por falta de uma vassoura decente. Tiago tinha que escalar o time para a final e eu não me lembro de um dia mias triste do que quando vi pela primeira vez meu nome fora de lista. No dia do jogo era meu aniversário também, mas eu não via motivo algum para ficar feliz, a não ser encher a cara do meu irmão de socos até ele se afogar. Eu acordei mal humorado e não tinha ninguém no quarto, todos já haviam descido e eu me senti otimamente bem por não ter que olhar na cara de ninguém. Eu odiava meu aniversário pelo fato de que eu ficava mais velho e todo mundo, mesmo que você nunca tenha falado na vida vem te cumprimentar e você tem que fazer aquela cara de paisagem e sinicamente dizer obrigado.


Eu desci as escadas dando o nó na minha gravata e respirei fundo antes de entrar no salão. Como sempre, o salão estava lotado de pessoas, todas vestidas com roupas coloridas, caras pintadas, objetos de torcida e a equipe da Grifinória e da Sonserina com seus uniformes. Eu tive vontade de vomitar quando vi todos eles prontos para jogar e eu fazendo 15 anos, sem vassoura, sem poder jogar, olhando para todo mundo. Me senti um inútil. Porém, quando eu apareci na porta do salão, Marlene largou o copo de suco que estava na mão e parou de conversar com Denis Easy, saiu correndo e pulou em cima de mim me dando um abraço que me sufocou.


- Parabéns, cachorro. Já mandei todo mundo fingir que não é seu aniversário, com exceção do Tiago, da Lilian e do Lupin – ela disse enquanto olhava pra mim. Como eu podia ficar mal humorado com Marlene me abraçando e fazendo de tudo pra que meu dia fosse perfeito? Era impossível. Marlene foi me arrastando até onde Tiago estava sentado com o resto do time. Ele, Lílian e Lupin me cumprimentaram e me abraçaram. Eu sentei ao lado de Marlene e comecei a tomar meu café, indiferente. Pra mim não poder jogar era o mesmo que não poder respirar. Marlene dizia que quando eu não jogava parecia uma menina de TPM.


- Tiago, até quando você pode mudar a lista dos jogadores da partida? – perguntou Marlene enquanto bebia seu suco e lia o jornal. Marlene tinha capacidade de fazer várias coisas ao mesmo tempo, coisa que eu jamais conseguira. Ela escrevia, falava, bebia, lia e pensava ao mesmo tempo, sem fazer nenhuma as coisas pela metade. Às vezes quando ia pedir algum conselho pra ela e ela estava fazendo tudo isso ao mesmo tempo achava que o conselho seria uma coisa completamente sem sentido, já que eu não conseguia me concentrar em tantas coisas ao mesmo tempo (todas elas saiam horríveis, davam vontade de chorar), porém eram sempre os melhores conselhos.




- Na verdade não tem uma lista fixa, eu posso mudar a qualquer momento, é só eu ter uma justificativa. – ele disse enquanto olhava pra ela. – Por quê? – Marlene se interessava pelos assuntos mais estranhos do mundo, mas Quadribol não era um deles. Ela conseguia até ser boa no Quadribol e Tiago já tinha até mesmo chamado-a para fazer parte da equipe, mas ela detestava, abominava subir em uma vassoura e ficar correndo atrás de bolas. Marlene adorava torcer pela Grifinória, fazia até coreografias, mas jamais sentaria em uma vassoura para participar do jogo.


- Se eu fosse você coloca o nome do Sirius – disse ela com um meio sorriso. Eu sabia que Marlene estava aprontando alguma. Quando ela sorria torto desse jeito, sem mais nem menos e mesmo sabendo que eu não poderia jogar é porque alguma coisa de novo havia ali.


- Você gosta de me torturar né? Eu não vou jogar, quer que eu ponha num microfone? – eu disse, particularmente, grosseiro para ela. Marlene continuou sorrindo como se eu tivesse falado que ela era a pessoa mais linda do mundo e que queria me casar com ela no dia seguinte. Marlene não queria se casar, mas dizia que se isso um dia viesse a acontecer ela certamente queria fazer o maior casamento do século. Eu odiava casamento ou qualquer tipo de comprometimento, até mesmo favores que os outros me pediam. Preferia não fazê-los, porque assim não estaria preso a dívidas com ninguém.




- Na verdade não vai ser preciso. E sim eu gosto de te torturar, me faz bem. Se eu fosse você tomava cuidado com o que vem de cima – ela disse enquanto continuava focada no jornal. Eu não entendera nada do que Marlene havia falado. Marlene adorava fazer esse tipo de jogo, cheio de charadas. Eu odiava, porque nunca tinha capacidade mental para descobri-los. Marlene dizia que ela não sabia o que eu estava fazendo na escola, já que eu não aprendia nada e só a atrapalhava. Realmente, mais da metade das coisas que eu sei aprendi quando sai da escola e tenho certeza que Marlene também.


Antes que eu pudesse responder a Marlene qualquer coisa um pacote caiu na minha frente e derrubou todo o meu café em mim mesmo. Era um pacote comprido, grande e volumoso, com um cartão pendurado numa fita vermelha. Marlene depositou seu suco na mesa, olho pra minha cara e me mandou abrir. Toda a mesa da Grifinória estava olhando pra mim e eu estava olhando para Marlene tentando entender que diabos ela estava fazendo. Ela só sorria pacificamente e me encorajava para abrir o embrulho. Eu abri o cartão e estava escrito: “Espero que você alcance o céu, por mim, com isto. Faça bom uso e nunca esqueça de quem você tem e não o quê. Te amo, M.


Eu olhei para Marlene e ela estava sorrindo ainda mais. Eu estava completamente fora de mim, olhando para ela, sem entender o que ela estava fazendo. Como Marlene não tinha um pingo de paciência e eu continuava fitá-la que nem um idiota, ela se estressou e disse:


- Ta legal, se você não abre, quem abre sou eu – Marlene subiu em cima do banco e começou a desfazer o embrulho. Eu fiquei em pé, esperando ela terminar de desfazer toda aquela montanha de papel. Como sempre, mesmo não querendo, Marlene chamava atenção e todo o Salão Principal estava olhando para ela desfazendo o embrulho. Marlene era a mais generosa das pessoas e eu não conseguia entender como tantas pessoas conseguiam odiá-la. Marlene era capaz de morrer porque qualquer pessoa que ela gostasse, era capaz de largar tudo que tinha por alguém. Marlene era capaz de sofrer para que outra pessoa não passasse por dor.


Aos poucos o monte de papel foi virando uma vassoura. Não era qualquer  vassoura, ela a vassoura do momento. Qualquer pessoa gostaria de uma vassoura daquela. Tiago havia comentado comigo que se mataria para ter aquela vassoura. Marlene não havia me dado apenas a melhor vassoura do mundo, ela havia me dado o melhor presente de aniversário que eu poderia ganhar. Ela havia me dado amor e esperança. Enquanto eu olhava petrificado pra vassoura e Tiago estava de boca escancarada, Marlene continuava em pé no banco olhando pra mim com uma cara de dúvida. Foi então que eu percebi que não tinha me manifestado havia 5 minutos.


- Eu não entendo nada de vassouras, mas o Tiago me disse que essa era a melhor vassoura do mundo, atualmente. Se você não gostar eu entendo perfeitamente e juro que não vou ficar chateada, mas eu só queria que você jogasse hoje porque eu sei o quando isso é importante pra você e é seu aniversário e não pode ser uma queda de vassoura que...- ela estava dizendo de olhos fechados quando eu finalmente acordei do meu transe e peguei Marlene pelas pernas que estavam na altura do meu ombro fazendo com que ela ficasse muito mais alta que eu. Marlene soltou um grito e ficou me olhando, até que ela disse pra só para eu ouvir: - Não importa. Você gostou?


- Marlene, eu seria a pessoa mais estúpida do mundo se não gostasse e eu só tenho pra te dizer que você é a pessoa mais perfeita que eu já conheci – eu disse e Marlene deu um grito alto e me abraçou. Eu comecei a encher Marlene de beijos por todo o rosto dela, enquanto ela ria. Depois a abracei e disse: - Você não precisa de uma vassoura pra tocar o céu, porque você já é meu anjo.


Marlene olhou pra mim, sorriu com aquele sorriso que fazia qualquer um se derreter e desceu do meu colo. Todo o Salão estava murmurando e eu tinha certeza que todos os meninos tinham de inveja de mim por eu ter Marlene sempre perto de mim. Marlene virou para todos que estavam olhando pra nós e disse:


- É melhor vocês se preparem, Sonserina, porque tem mais um leão pronto pra atacar – disse ela enquanto dava uma piscada e começava a agitar o time da Grifinória.


O jogo foi fácil. Com Tiago e toda sua habilidade e eu montado na melhor vassoura do mundo, modéstia parte, nós dois fizemos o jogo. Cada vez que eu olhava para a arquibancada lá estava Marlene, toda sorridente,e olhando pra mime gritando, como uma louca. Marlene estava feliz mesmo nos dias mais sombrios e triste da sua vida. Durante o jogo eu pensara o porquê de ter aceitado aquela vassoura. Aquilo jamais seria uma coisa que eu aceitaria, por exemplo, da Lílian. Eu não conseguia achar uma resposta. A única coisa que eu tinha certeza e que eu consegui chegar a conclusão era que Marlene me hipnotizava. Quando eu estava perto dela queria ficar ainda mais perto, quando estava longe queria ela ali comigo, adorava quando ela me abraçava, amava qualquer coisa que Marlene fizesse. Eu estava louco por ela.


Assim que nós entramos no Salão Comunal da Grifinória uma onda de pessoas voaram para cima do nosso time e nos colocaram em cima de seus ombros, sacudindo cada um de nós até nós vomitarmos. Quando eles finalmente nos deixaram, colocaram-nos encima de uma mesa que tinha ali. Marlene logo que me viu acenou e saiu correndo para vir me parabenizar, mesmo em cima da mesa. Quando vi Marlene correndo com toda aquela alegria, sorrindo, despreocupada, como se nada mais importasse naquele momento do que ser feliz eu não tive dúvidas. Puxei Marlene pra cima da mesa e a beijei.


Foi como se meu chão tivesse sido tirado, como se eu não tivesse ar para respirar, tudo que eu queria naquele momento era Marlene. Ela tinha os lábios mais macios que eu já havia beijado. A princípio eu apenas colei meus lábios no dela, mas depois tudo que eu queria era que fosse um beijo de verdade. E foi. Marlene correspondeu ao meu beijo. Eu só queria Marlene o mais perto de mim possível. O cheiro de lavanda que saia do seu cabelo estava completamente grudado no meu nariz e ainda sim eu queria mais. Foi nesse instante que eu descobri que Marlene era como uma droga pra mim, quando mais você prova, mas você quer usá-la.


Agora era inevitável negar: eu estava perdidamente, loucamente, estranhamente apaixonado por Marlene McKinnon.


Logo eu, que nunca me preocupara com sentimentos, que nunca ligara para quem eu namorava ou deixava de namorar, fui me apaixonar com alguém tão parecido comigo. Finalmente eu sabia o que era sentir na pele a paixão. Com aquele beijo eu descobri que Marlene era tudo pra mim. Eu a queria exclusivamente pra mim, para poder beijá-la, abraçá-la, dizer que a amava sem ter que me preocupar. Porém eu sabia que nós éramos amigos demais para isso.


- Acho que isso é um parabéns né? – disse Marlene sem fôlego, rindo e olhando pra mim quando nós dois nos desvencilhamos. Eu não sei quanto tempo nós ficamos nos beijando, eu só sei que o salão todo estava batendo palmas e a maioria das pessoas olhavam para nós. Nós éramos Marlene e Sirius, Sirius e Marlene, aqueles dois que por mais que diziam que eram amigos todo mundo pensava que nós éramos mais do que isso. E eles tinham razão, pelo menos isso eu fui perceber depois desse beijo. Todos queriam que nós acabássemos juntos, mas nós próprios não pensávamos nisso.


- Acho que sim. Eu sou louco – eu disse enquanto passava a mão no cabelo. Eu estava completamente perdido. Não tinha a mínima idéia do que falar para Marlene naquele momento. Eu sabia que se eu dissesse que a amava ela também responderia, mas não com o mesmo significado. Para ela eu seria sempre Sirius Black, seu melhor amigo. Para mim ela seria Marlene McKinnon, a primeira mulher pela qual eu me apaixonara. Eu não tinha a mínima idéia se essa minha idéia maluca de que estava apaixonado por Marlene daria em alguma coisa no futuro, eu só sabia que mesmo que eu não continuasse uma vida com ela após Hogwarts, ainda sim ela seria a pessoa mais importante da minha vida. Eu tinha noção do tamanho do meu sentimento naquela época.


E foi por isso que eu não disse nada a Marlene. Pelo menos não naquele ano.


Nosso quinto ano foi passando aos poucos e quando as férias vieram Marlene não foi pra casa de Tiago. Ela acabou indo encontrar com a mãe para reorganizarem sua vida. Ela e mãe precisavam comprar uma casa e cada vez mais tomar cuidado com novos ataques. Ninguém sabia ao certo porque os McKinnon estavam sendo perseguidos, nem o resto das pessoas que estavam morrendo, como os Bone. Pra isso então, todos eles resolveram criar uma sociedade, a Ordem da Fênix. Eu e Tiago ficávamos em casa e ouvíamos uma série de conversas e foi a partir daí que descobrimos o que sabíamos sobre Voldemort.


Nós ouvíamos várias da conversa incluindo o nome de Marlene, porém ela não apareceu pela casa de Tiago, que na época funcionava como a sede durante todo o verão. Não deixávamos eu e Tiago participar das reuniões, porém nós sempre dávamos um jeito de ouvirmos as conversas. Foi perto do dia de voltarmos a Hogwarts, uns seis dias antes, que eu parei na porta da cozinha de manhã com Tiago ao lado e encontrei Marlene.


Ela estava mais linda do que nunca. Pode ter sido o fato de que fazia mais ou menos um pouco de mais de um mês que eu não a via, ou então não tinha tido contato nenhum com ela desde que nós havíamos deixado Hogwarts, mas eu só sei que Marlene estava deslumbrante. O cabelo dela que no quinto ano, ela havia cortado, estava comprido, ela estava bronzeada e com todo o respeito, o corpo de Marlene parecia uma escultura de tão perfeito. Quem olhava pra ela não podia imaginar metade do que ela havia passado naquele verão. Eu cheguei à cozinha e fiquei parado na porta olhando Marlene enquanto esta estava sentada na cadeira conversando com a Sra. Potter. A Sra.Potter deu um pigarro e indicou com a cabeça onde eu estava parado, porque Tiago já havia saído dali há muito tempo para cumprimentar Marlene.


A mãe de Tiago vivia perguntando para mim quando eu iria me casar com Marlene. Nós dois levávamos na brincadeira, obviamente, porque eu e Marlene achávamos que éramos somente amigos. Eu ouvi durante anos das minhas namoradas que não era possível que eu não tivesse nada com a Marlene, da mãe do Tiago, do próprio Tiago e somente nós dois não víamos que realmente nós não éramos apenas dois melhores amigos.


Quando eu finalmente sai do meu transe e Tiago largou Marlene, antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, Marlene pulou com um abraço para cima de mim. Eu senti o cheiro de lavanda que saía do cabelo dela e apertei o corpo de Marlene ainda mais próximo do meu. Quando nós dois finalmente cansamos de nos abraçar, eu coloquei Marlene no chão e ela disse:


- Senti muita a sua falta – disse Marlene sorrindo. – Não pude falar com você e o Tiago, tive uma série de coisas pra resolver – ela terminou enquanto voltava pro lugar onde ela estava sentada. Marlene não andava, ela dançava. Marlene adorava me surpreender, por isso, cada vez que ia responder alguma coisa para ela, ela fazia alguma coisa que me fazia esquecer completamente o que eu dizer.


Quando eu entrei na cozinha por inteiro que eu pude perceber a quantidade de pessoas ali. Haviam várias pessoas, umas dez e parecia que todos ouvindo a Marlene falando. Eu tinha passado o verão longe de Marlene e eu estava morrendo de saudades dela. Tudo que eu queria era poder sair dali, deixar aquela gente chata e poder a ouvir contar tudo que ela havia feito. Ou ao menos ficar deitado com ela não chão, sem falar nada, só sabendo que ela estava ali.


- O que foi que aconteceu? Por que você não deu nenhuma notícia? – perguntei enquanto sentava ao lado dela e pegava uma xícara de alguma coisa para tomar. Marlene virou-se pra mim e olhou pra todo mundo. Obviamente ela sabia várias das coisas da Ordem, já que parte dela era só para protegê-la. Marlene vivia numa situação complicada, aonde Hogwarts, era o único lugar que poderia estar 100% viva, sem nenhuma pessoa tentando matá-la. Fora de lá, Marlene era vulnerável a qualquer coisa. Marlene era forte, mas não tanto quando Voldemort.


- Como eu disse, eu tive uma série de problemas. Logo que eu e a minha mãe conseguimos uma casa nova, afastada de tudo, bem... ela morreu. Da mesma forma que meu pai e meu irmão. Por causa disso eu acabei ficando órfã e tive resolver todas aquelas coisas chatas. Como eu vou fazer 17 anos que vem e vou continuar em Hogwarts nesse período eu não preciso ter nenhum responsável até a maioridade. Eu terminei de cuidar dessas coisas de herança e tudo e aqui estou eu – ela disse sorrindo enquanto contava mais para mime pro Tiago do que pra qualquer oura pessoa daquela sala, que provavelmente já sabia.


Marlene estava órfã e isso era uma coisa que eu jamais poderia acreditar. Ela era uma pessoa tão boa, correta, num fizera mal a ninguém e de repente a vida de Marlene, pelo menos pra mim, parecia destruída. Marlene não tinha a ninguém mais para recorrer e eu sabia que as únicas pessoas que ela teria a recorrer agora seria seus amigos. Eu tentava afastar da cabeça que talvez, por ter matado todos os McKinnon, Voldemort iria matar Marlene também. Eu tentava de todas as formas não acreditar naquilo, não enxergar. No final, a pior coisa do mundo foi descobrir que meus pensamentos sempre estiveram certos.


Marlene contou a todos nós o que havia acontecido e pela primeira vez eu e Tiago pudemos participar da reunião. Eu me sentia mais do que nunca, responsável por Marlene, por tomar conta dela. Apesar de tudo aquilo que Marlene havia passado ela continuava como ela sempre fora, até mesmo mais bonita e principalmente forte. Eu sempre vi Marlene como uma rocha: quanto mais você tenta destruí-la, mais forte será a queda das pedras sob você. Marlene era exatamente assim, só que apesar de tudo isso, eu sabia que havia uma parte dela que era completamente indefesa.


Logicamente eu fiquei bravo com Marlene por ela não ter me contado nada do que estava acontecendo com ela, mas eu simplesmente não tinha coragem de brigar com ela, não naquele momento. Eu gostava por demais de Marlene naquela época. Eu tentei de todas as formas esquecê-la. Não digo esquecê-la para sempre, mas tirá-la da minha cabeça, me desapaixonar por ela. Fazer com que nós voltássemos a ser apenas amigos. Foi assim até metade do sexto ano.


Eu, Marlene e seu namorado da época, Antony Sent, Tiago e Lílian que estavam começando a sair, Lupin e Dorcas estávamos em Hogsmead. Eu tinha acabado de brigar com uma das minhas “namoradas”, ou melhor, ela havia me visto beijando outra garota. Eu continuei saindo com várias meninas apesar do meu sentimento por Marlene, sem sucesso. Meu número de garotas foi diminuindo cada vez mais. Eu entrei dentro bar onde todos eles estavam e logo que vi eles ali na mesa sentados cheguei até lá. Marlene estava beijando Antony. Quando ele parou de sugar a cara dela ela se virou pra mim, sorrindo.


- E ai? Terminou seu serviço mais cedo hoje? – ela disse, enquanto Antony passava os ombros por trás das costas dela. Todos os meninos que Marlene namorara me odiavam. Pelo menos enquanto eles namoravam Marlene, depois, era outra história. Como todos imaginavam que nós tínhamos realmente alguma coisa, eles não pensavam diferente.


- Kate teve um chilique quando me viu com Amanda. Ela não terminou, mas sabe-se lá o que vai acontecer amanhã – eu disse depois de dar um gole na cerveja amanteigada de Marlene que estava na minha frente. Marlene riu. Ela sempre ria de mim e dos meus rolos. Eu sempre acabava recebendo um monte de xingos, bem merecidos se você quer saber.


- Espero que ela não me culpe, como todas as 347 outras fizeram – ela disse pra mim e voltou a beijar Antony. Eu podia simplesmente ignorar o que Marlene tinha tido, sair dali e seguir até o castelo. Marlene vivia dizendo aquilo e nenhuma vez isso me incomodara. O que me incomodava era ver Marlene com outro cara na minha frente, beijando-o, sendo que eu queria ser esse cara. Eu perdi completamente o senso e comecei a brigar com Marlene.


- E eu espero que você esteja com a boca livre nessa hora para poder se justificar – eu disse de pensar duas vezes nos sentimentos de Marlene e nas conseqüências. Marlene parou de fazer o que estava fazendo, assim como todo mundo na mesa, tirou o braço de Antony das costas dela e se curvou pra frente, me olhando diretamente nos olhos com uma cara meio que assustada meio que com raiva.


- Qual é o seu problema? Não conseguiu o número de meninas suficientes pra um dia? – ela disse ficando vermelha. Mais uma vez eu podia para por ali e evitar uma grande briga, mas eu não o fiz. Lílian e Tiago já estavam completamente eretos esperando que quando a discussão ficasse pior eles pudessem dar um jeito em nós dois. Lílian e Tiago sempre foram como dois pára-raios, nunca deixaram que o pior acontecesse entre mim e Marlene.


- O meu problema é que todas as minhas namoradas terminam comigo por sua casa, enquanto você fica aí beijando quantos meninos você quer – eu disse olhando para Marlene. Aquilo que eu havia acabado de dizer não tinha sentido algum. Eu jamais apontaria Marlene como a causa do fim dos meus namoros, sempre fora eu. A realidade era que naquele momento eu queria achar qualquer justificativa que mostrasse a Marlene o quanto eu odiava quando ela tinha algum namorado. Eu nunca fora ciumento com nenhuma das minhas namoradas, mas Marlene era completamente diferente.


- O seu problema é que você é imaturo e gosta de fazer as suas namoradas de gato e sapato. Se eu não sou esse tipo de garota e tento viver a minha vida sem traições é uma coisa completamente diferente – ela disse ainda mais vermelha e com um sinal de raiva no olhar. Marlene estava certa, como sempre. Eu era imaturo demais.




- Desculpe se você é a maturidade em pessoa. Talvez se você fosse menos madura os seus namorados parariam de te trair. Olha para a cara dele, eu já o vi três vezes beijando outra garota – eu disse enquanto apontava para Antony. Era verdade, mas havia certo tipo de coisas que eu sabia que se contasse a Marlene ela iria brigar comigo. Como por exemplo, dizer que seu namorado a estava traindo. Eu estaria me intrometendo na vida amorosa dela e Marlene abominava isso. Por mais que eu soubesse das traições dos namorados de Marlene, o máximo que eu fazia era fazer com que ela encontrasse com eles, a traindo, “acidentalmente” planejado.


- A minha relação com os meus namorados não lhe deve um pingo de satisfação. Eu só queria entender porque de você esperar 6 anos pra se intrometer nela – Marlene disse já de pé olhando pra mim. Eu sabia que o próximo passo de Marlene era levantar dali, pegar sua bolsa, seu casaco e sair andando sem dizer mais nenhuma palavra. Eu planejei dizer que amava Marlene naquele momento, mas nada saiu de dentro de mim. Não era o lugar adequado, nem o momento adequado, mas eu ainda não tinha certeza do que queria fazer.


Eu amava Marlene por demais, era verdade. Mas eu não sabia se ela me amava da mesma forma. E além de tudo eu era Sirius Black. Se eu namorasse Marlene iria ficar o resto da minha vida, ou assim eu esperava, somente com ela, com mais nenhuma menina. Por Marlene eu largaria tudo aquilo, mas pra mim era tudo muito difícil. Pode parecer egoísmo da minha parte, mas era para o bem de Marlene.


- Porque... eu não sei – eu disse depois de ter feito uma longa pausa e ter prendido todo meu ar e depois soltado tudo de uma vez. Marlene saiu da mesa furiosa, pegou seu casaco, sua bolsa e bateu a porta dos Três Vassouras antes que eu pudesse dizer qualquer outra coisa. Antony ficou me olhando com cara de quem não entendeu nada e fez menção de se levantar. – Se você quer ser assassinado por Marlene McKinnon levante-se. Se você acha que é muito jovem pra morrer, dê 2 horas para ela.


Eu voltei pro castelo e não procurei Marlene até o dia seguinte e eu duvidava que ele fosse me procurar. Eu fiquei pensando a noite toda e não consegui achar uma solução mais apropriada do que contar a Marlene o que eu realmente sentia. Eu tentara esquecer Marlene de todas as formas e não conseguia, tentara não contar a verdade e aquilo estava contando comigo, porque eu sempre fora sincero demais com Marlene. Se Marlene não gostasse de sim, seria uma opção dela e não havia nada que podia fazer para mudar isso, mas eu não podia perder a oportunidade de talvez ser feliz. Não que eu acreditasse que Marlene fosse realmente gostar de mim, mas não havia motivos para se dizer que não. Tirando nossa pequena briga.


Eu estive presentes em todos os momentos importantes da vida de Marlene desde os seus 11 anos. Marlene vivia me dizendo que eu não perdera nada de importante na vida dela e que antes dela entrar em Hogwarts a sua vida não era nada emocionante. Eu sabia que Marlene adora surpresas e por isso resolvi surpreendê-la. Quando eu acordei no outro dia, antes do café da manhã, terminei qualquer tipo de relacionamento que restasse entre mim e Kate. E Amanda. E Ashley. Ok, com todas as meninas que eu estava “envolvido” no momento. Eu planejava contar a Marlene no café da manhã, no Salão Principal, sem ela ao menos esperar que eu falasse com ela. O que eu não contava que Kate, como as infinitas outras ex-namoradas da minha pessoa, iria procurar Marlene para procurá-la. Quando eu entrei no Salão, todos estavam em silêncio enquanto Kate falava um monte para Marlene e esta ficava olhando para cara dela, com cara de tédio. Kate estava quase subindo em cima da mesa quando eu apareci e Marlene disse:


- Olha, seu ex-namorado chegou, por que você não desconta sua fúria nele? Eu não tenho absolutamente nada a ver com o término do seu namoro porque nem ao menos falando com o Black eu estou. Então, antes de você sair culpando a mim por você não conseguir seu namorado longe de outras garotas, vá conversar com ele e perguntar o nome das amantes dele. Me desculpe, mas a única idiota aqui é você por cair da conversa dele sabendo como ele é – Marlene disse interrompendo Kate, de pé, e apontando pra mim. Eu estava completamente atônito e mais uma vez que não tinha a mínima idéia do que fazer. – E você, por favor, diga pra sua namorada ou o que for que ela seja, que eu não tenho culpa do fim do namoro de vocês.


Marlene disse isso pra mim, pegou os livros dela em cima da mesa e passou pelo meu lado andando. Eu havia me decidido, se eu não falasse pra Marlene o que sentia naquele momento jamais iria tomar coragem para um dia contar para ela. Era agora ou nunca.


- Eu não posso fazer isso, porque a culpa é realmente sua – eu disse ainda no mesmo lugar que eu estava. Marlene parou de andar e virou-se pra mim com um olhar de raiva que eu jamais vira em toda a minha vida. Eu estava irritando Marlene ao extremo e eu só esperava que por causa disso nada desse errado, leia-se Marlene querer me bater ou me lançar uma maldição da morte na frente de todo mundo. Pelo menos iriam ter várias testemunhas.


- Como é que é? – disse Marlene largando os livros na mão de um menino do segundo ano e meio que rindo, como se não acreditasse no que eu estava falando. Nem eu estava acreditando.


- Eu sei que você deve estar me odiando mais do que qualquer um nesse salão, no mundo, mas só me escuta. – eu disse. Eu estava começando realmente preocupado com a cara que Marlene estava fazendo pra mim. – A culpa dos meus relacionamentos terem terminados foram meus, porque eu traí todas as minhas namoradas, mas eu só fazia isso porque nenhuma delas era igual você. Eu queria te esquecer de alguma forma, mas isso nunca funcionou.


Marlene olhava pra mim com a cara mais confusa que eu já vira ela fazendo. Provavelmente ela me estava achando insano por dizer que a culpa era dela sendo que nesses seis anos eu a nunca culpara pelos meus relacionamentos e depois eu estava dizendo que a culpa era minha. Eu duvidava que alguém fosse entender alguma coisa.


- Realmente, eu te odeio, nisso nós concordamos e se você queria me esquecer era só me dizer – disse Marlene mais calma só que ainda sem entender nada. Marlene achava que eu queria esquecê-la como amiga, mas era muito além disso. Não havia outra solução pra que Marlene entendesse que eu a amava, senão dizer isso claramente.


- Eu sempre tentei te esquecer, mas no fundo eu não queria – eu fiz uma pausa e tomei ar e principalmente, coragem. - Eu te amo Marlene, e isso é mais forte do que uma amizade.


Marlene ficou me olhando paralisada e eu fiquei olhando para a cara dela, enquanto o Salão inteiro estava em silêncio olhando para nós. Agora estava feito, eu não podia fazer mais nada senão esperar a reação de Marlene. Meu estômago deu cinco voltas seguidas, sem parar. Eu não iria desmaiar, óbvio, não era nenhum marica, mas a situação estava tensa. Tiago tinha parado o garfo na metade do caminho até sua boca, que estava aberta e o que continha no garfo, havia caído na mesa. Lílian estava em pé, achando que eu e Marlene brigaríamos feio, e por isso queria evitar qualquer coisa.


Ela largou a bolsa que estava no colo do mesmo menino que estava com os livros dela e ele olhou confuso pra ela. Coitado dele. Marlene, após dar a bolsa pro menino veio caminhando até onde eu estava e eu jurei por Deus que eu achava que ela iria me bater. Ela veio caminhando lentamente até parar na minha frente, cara a cara comigo. Só eu podia escutar a respiração dela e sentir o cheiro do cabelo dela. Só eu podia olhar no fundo dos olhos de Marlene naquele momento. Ela colocou a mão no meu rosto, me deu um sorriso e disse:


- Eu também te amo Sirius Black, bem antes de você se quer pensar nisso – ela concluiu de maneira que só eu pude ouvi-la e me beijou. Nos beijamos. Qualquer coisa que você quiser, desde que eu estivesse colado em Marlene e não quisesse largá-la nunca na minha vida, jamais. Todo o Salão começou a gritar, bater palmas e a fins. Eu tinha Marlene só pra mim agora e nada nem ninguém podia nos impedir de ser felizes. O gosto do beijo de Marlene era canela e eu continuei com esse gosto na minha boca até mesmo depois de Marlene ter partido. Meu corpo estava grudado no dela e eu não queria jamais soltar Marlene, até que eu senti alguém cutucando o ombro de Marlene.


- Será que eu já posso te devolver seus livros? É que eu tenho aula de Transfiguração e não tenho a mínima idéia do que fazer com eles – disse o menino do segundo ano todo vermelho, equilibrando os livros em uma mão e a super bolsa de Marlene que parecia mais um bebê criado do que uma bolsa de tão pesada. Marlene olhou da cara dele para a minha e começou a rir.


- Te dou cinco 10 galeões se você deixar a gente continuar o que nós estávamos fazendo e ir pra bem longe daqui. Deixa os livros em qualquer lugar ou leve eles com você – eu disse e puxei Marlene para outro beijo. Eu e ela faltamos em todas as aulas aquele dia e acredite, não levamos nenhuma detenção. Parecia que Hogwarts inteira conspirava a nosso favor, pra que nós ficássemos juntos e que somente nós não tínhamos percebido isso.


O sexto ano foi o melhor de toda a minha vida. Eu passava os meus dias grudado em Marlene e era impossível nós sermos mais felizes. Lílian e Tiago haviam se acertado e nós andávamos muito juntos. Marlene me fazia sentir uma felicidade inexplicável, uma vontade de viver que eu jamais tivera. Ela me incentivava em todas as coisas, independente se ela gostava ou não. Ela dizia que se eu estivesse feliz ela também estaria.


Marlene parecia ainda mais bonita pra mim e eu adorava brincar com o cabelo dela. Ela vivia me fazendo surpresas. Muitas vezes eu nem chegava a subir para ir dormir no meu dormitório, simplesmente perdia a noção do tempo enquanto conversa com Marlene e nós dois acabávamos dormindo ali mesmo. Eu não sentia falta de beijar outras garotas nem de ser solteiro quando estava com Marlene. Eu tivera uma melhora de 200% depois que comecei a namorá-la. Eu tomara jeito e como estava perdidamente apaixonado por Marlene não conseguia fazer qualquer coisa que a fizesse ficar brava comigo ou magoá-la. Pode parecer que eu comia na mão de Marlene, mas eu não via dessa forma. Eu sabia que Marlene também não faria qualquer coisa que pudesse me magoar também e todo o amor que eu sentia por ela, eu recebia em dobro. Marlene era a melhor mulher que poderia pedir para namorar.


Marlene não tinha família e nenhum de nós dois se quer pensou em apresentá-la para minha mãe, porém Marlene fez com que eu pelo menos fingisse gostar do meu irmão. Ela dizia que nós dois estávamos no mesmo barco, só que meus “familiares” ainda estavam vivos e que eu devia, ao menos, mostrar algum respeito. Nunca gostei do meu irmão e Marlene jamais me obrigou a fazer isso, mas passei a cumprimentá-lo no corredor, uma coisa que eu jamais pensei que faria. Eu achava mais fácil tentar matá-lo. Ela me mudou sem ao menos querer, sem tentar. Ela nunca quisera me mudar, as minhas mudanças aconteceram naturalmente, só de conviver com Marlene, sem nenhuma obrigação.


Marlene e eu éramos o casal de namorados perfeito, modéstia parte. Nós vivíamos abraçados, nos beijando, correndo um atrás do outro e acima de tudo, nós nos amávamos demais. Marlene foi a primeira mulher com quem eu dormi e vice-versa. Eu respeitava Marlene por demais e achava ela perfeita. Nós passamos o Natal juntos na casa dos Potter e com Lilian e não me lembro de termos tido um melhor Natal do que aquele. Nós bebemos demais, cantamos a noite toda, saímos na rua, fizemos o que nós queríamos até o dia raiar. Mesmo que eu estivesse sentado em cima de uma geleira, nu, com Marlene do meu lado, eu estaria me divertindo.


Eu tinha ótimos momentos com Marlene, mas mesmo assim, me preocupava com ela. O histórico de mortes em sua família era muito grande e eu tinha medo do que podia vir a acontecer com ela. Em Hogwarts Marlene estava segura, porém quando ela saia eu torcia para que ela fosse pra casa de Tiago, aonde tinham as reuniões da Ordem, porque eu sabia que Voldemort podia tentar matar Marlene a qualquer momento e eu jamais queria que isso acontecesse.


Eu e Marlene éramos extremamente felizes e completávamos uns ao outros, porém nós ainda éramos Sirius e Marlene e nós brigávamos demais. Eu me arrependo de praticamente todas as brigas, agora, olhando de longe, porque eu sei que foram momentos perdidos longe de Marlene. Ela havia parado com a sua mania de me deixar “no gelo” quando nós brigávamos, mas ainda sim, não dava o braço a torcer. Eu sempre lhe pedia desculpas. O que mudou em Marlene foi que quando eu lhe pedia desculpas e ela sabia que estava errada, ela me dizia: “Me desculpe também” e me beijava. Isso era mais do que qualquer desculpa para mim, era impossível não aceitar. Em relação aos gritos, ah, esses permaneceram os mesmos.


Do meio para o final do nosso sétimo ano a nossa relação estava péssima. Marlene estava cada vez mais estressada em relação aos exames e me pareceu que finalmente ela estava se preocupando em relação a Voldemort. Não que ela não se preocupasse antes, só não deixava isso transparecer. Eu, ficava ainda mais preocupado em ver Marlene naquele estado e qualquer coisa que eu via fora do normal me estressava. Eu também estava preocupado com os exames, mas não chegava ao ponto de Marlene e Lílian. As duas pareciam duas bombas relógios ao ponto de explodir. O Quadribol também me cansava cada vez mais e eu passei a ver Marlene cada vez menos e quando nós no víamos, brigávamos entre um beijo e outro.


Um dia, eu tive uma briga séria com Marlene. Eu perdi as estribeiras e cometi o pior erro da minha vida. Eu achei, naquele dia, durante nossa briga, que aquele era o fim da nossa relação. Óbvio que eu pensara aquilo porque nossa briga foi feia, mas eu sabia ao fundo que era impossível nós ficarmos separados. Eu jamais me perdoei por esse erro.


Eu trai Marlene.


Eu ficara bêbado e peguei todas as meninas possíveis e imaginárias naquele dia. Quando Marlene me encontrou com a que, pela minha contagem, parecia ser a décima terceira, ela não disse nada a não ser um “Desculpe” e antes que pudesse dizer qualquer coisa Marlene começou a chorar e saiu correndo. Eu só vira Marlene chorar uma vez na minha vida e tinha jurado que jamais a faria sofrer de tal maneira. Lílian me contou que Marlene tinha ido me procurar pra me pedir desculpas e que quando chegou ao dormitório bateu a porta do banheiro e ali ficou dois dias seguidos, sem nem ir para a aula. Quando Marlene voltou para as aulas ela continuava a mesma Marlene de sempre, mas havia uma coisa que ela havia deixado para trás. O olho de Marlene não tinha mais aquela luz que costumava ter.


Eu sofri tanto quanto ou mais do Marlene. Eu não suportava o fato de ter feito aquilo com ela e tê-la deixado naquele estado. Marlene não dirigia mais a palavra a mim e eu sabia que não adiantaria de nada pedir perdão a Marlene. Eu sabia o quanto ela me amava e eu despontá-la. Mais do que isso, eu acabara com qualquer sentimento que Marlene podia sentir por mim. Eu passei três meses longe de Marlene e aquilo me matava. Era difícil conviver com Tiago e Lílian quando Marlene aparecia, nós dois não nos falávamos. Se pra mim e Marlene era difícil para Tiago e Lílian era ainda pior. Eu estava destruído no final desses três meses e Marlene também. Nenhum de nós tinha se envolvido com nenhuma outra pessoa e eu sinto até hoje de ter perdido tanto tempo sem Marlene do meu lado.


Seu eu soubesse que Marlene sentia o mesmo que eu, antes de nossa briga, teria pedido-a em namoro muito antes e jamais teria uma única briga com ela. Eu perdi muito tempo longe dela e me arrependo. Talvez as coisas tivessem sido diferentes se eu tivesse namorado com ela antes, mas Marlene acreditava em destino, e segundo ela, aquilo tinha que acontecer naquela época. Se fosse antes, talvez nós não nos déssemos tão bem.


Faltavam três semanas para que toda nossa vida em Hogwarts acabasse e que nós pudéssemos seguir nossas vidas, formados. Eu não queria que isso acontecesse por dois motivos: eu amava Marlene e não queria sair de Hogwarts sem me desculpas com ela, sem falar com ela e; Hogwarts era minha casa e eu amava aquele lugar. Quanto ao meu segundo motivo não havia nada que podia mudar aquilo, era um fato. Em relação ao que eu sentia por Marlene, talvez a situação pudesse ficar um pouco melhor. Havia um baile naquele final de semana e eu decidi que iria, mesmo sem acompanhante. Eu queria tentar uma última conversa com Marlene, que também iria sem acompanhante, porque assim decidira. Filas e filas se meninos queriam acompanhá-la, mas ela não aceitara nenhum deles.


Todo mundo estava muito bem vestido e eu estava conversando com Tiago e Lílian quando eu a vi. Marlene estava descendo a escada deslumbrante. Ela vestia um vestido branco, cheio de pedras brilhantes prateadas na parte de cima, até a cintura, que depois se abria e um tecido mais leve e todo branco, se arrastando. Marlene estava com o cabelo preso com uma tiara de duas tiras pratas, brilhante, com um batom vermelho. Os olhos de Marlene era o que mais se destacava, apesar de sem brilho, eles pareciam maravilhosos pra mim. Era como se todo o amor que eu sentira por Marlene batera em mim de frente e me desse um choque.


Marlene passou por nós e entrou no Salão, chamando toda a atenção por onde quer que passasse. Marlene conversou com várias pessoas a noite toda e quando todos estavam dançando, inclusive ela com um menino que eu nunca vira na vida eu peguei a primeira menina que apareceu na minha frente e a arrastei pra dançar perto de Marlene. Quando os casais giraram e se separaram de seus parceiros, antes que Marlene voltasse para o seu, eu a peguei e a puxei pra perto de mim, para dançar comigo. Marlene não me repreendeu nem disse nada. Nós ficamos um bom tempo em silêncio, só dançando, quando eu finalmente disse:


- Você está linda, como nunca – eu disse olhando pra ela quando ela olhava para o lado. Eu sentia que Marlene me odiava naquele momento e eu sempre desejei que Marlene nunca me odiasse, porque eu sabia o que acontecia com as pessoas que Marlene odiava.


- Eu conheci uma pessoa que me disse um monte de palavras bonitas e no fim, jogou todas elas na lama – disse Marlene olhando pra mim e me dando um sorriso cínico. Eu sabia que ela se referia a mim e eu tinha vergonha do que eu fizera. Eu não só traíra Marlene uma vez, foram várias e um curto espaço de minutos. Marlene tinha todos os motivos do mundo pra me odiar.


- Eu ainda te amo – eu disse. Era a única coisa que podia dizer, que eu podia fazer, naquele momento. Nada do que eu dissesse iria mudar o que Marlene pensava de mim e eu dava toda a razão do mundo pra ela. Eu a magoara como ninguém nunca fizera e se fosse comigo, também não seria diferente. Eu queria lutar por Marlene, mas eu sabia que seria difícil demais.


- Eu também te amo – Marlene disse dessa vez olhando no fundo dos meus olhos e eu vi o resto do brilho que havia em seu olhar. – Mas isso só faz de mim uma idiota, depois de tudo que você fez. Eu não mereço te dar uma segunda chance.


E me deixou na pista de dança. Eu entendera o que Marlene quis dizer. Logicamente, Marlene não concordava com o que eu havia feito e ela sabia que eu havia errado, mas mais do que isso, Marlene achava que me dera motivos pra fazer aquilo. Eu podia simplesmente desistir depois do que eu acabara de ouvir sair da boca de Marlene, mas eu não queria. Agora que eu sabia que Marlene ainda me amava eu precisava ter a certeza de que eu tentara de todas as formas. Marlene sempre amara surpresas e eu não podia pensar em nenhuma idéia melhor do que a que havia acabado de vir na minha cabeça.


Eu era perdidamente apaixonado por Marlene e podia trocar todas as mulheres do mundo por ela, que jamais as outras me fariam falta. Marlene não deixava a desejar em nada e ela era a pessoa mais perfeita para me entender. Eu tinha medo de compromisso, mas todo tempo que eu passara com Marlene me mostrara que isso não era nada monstruoso, capaz de acabar com a vida de alguém, pelo contrário, sempre fora ótimo ter Marlene do meu lado. Eu a queria pra sempre, para protegê-la, fazê-la ser feliz, mas acima de tudo, amá-la.


Depois que Dumbledore fizera seu discurso eu pedia a McGonagall para subir ao pequeno palco que havia ali, porque eu precisava dizer algumas palavras. Na verdade, eram milhares que eu nem sabia por onde começar. Eu peguei o microfone enquanto o Salão todo me encarava, incluindo Marlene que estava de pé ao lado de Lílian e Lupin e Tiago, mais uma vez, tinha derramado cerveja amanteigada na roupa quando me viu no palco.


- Ãhn... acho que todos vocês me conhecem, principalmente as meninas. Meu nome é Sirius Black, pra quem não sabe – eu disse. O meu “discurso estava parecendo o depoimento de alguém que tinha um vício e que acabou entrando nele de novo. Marlene era meu vício, mas minha intenção não era assustar os outros. – Enfim, alguns meses atrás eu cometi o maior erro da minha vida. Eu namorava a pessoa mais perfeita desse mundo e eu acho que vocês sabem de quem eu estou falando.


“Eu acabei magoando-a ela por demais e eu tenho certeza que eu jamais vou perdoar por ter feito essa pessoa chorar, ou pior, magoar essa pessoa da maneira como eu a magoei. Ela nem ao menos me deu motivo para eu fazer o que eu fiz e eu fui em frente sem pensar em nada além de mim. Eu fui egoísta. Eu sinto falta dessa pessoa, do jeito de ser dela, da alegria dela, dos nossos beijos, mas acima de tudo, dela como mulher. Eu posso parecer um idiota falando isso aqui em cima, mas acreditem, um dia vocês vão entender o porquê de eu estar fazendo isso. Eu espero que vocês não descubram da pior forma, como eu descobri. Eu amo demais essa pessoa pra deixar ela se esvair da minha mão, pra deixá-la sair de Hogwarts e que eu nunca mais a veja ou saiba da sua vida pro resto da minha vida. Eu posso parecer egoísta mais uma vez, mas ninguém é altruísta por completo.


- É por isso que hoje eu vim aqui e tomei uma decisão muito importante. Eu decidi fazer uma coisa que eu jamais achei que faria – Marlene olhava pra mim com uma cara confusa e eu falei antes que as palavras me sufocassem. – Eu estou aqui pra lhe pedir desculpas, pra lhe pedir perdão, Marlene. Eu lhe juro fidelidade e lealdade. Eu quero que você seja minha namorada, meu amor, e o principal de tudo: Marlene McKinnon você aceita se casar comigo?


A boca de Marlene se escancarou e o Salão todo começou a cochichar para ver se era isso mesmo que eles tinham ouvido. Marlene fez menção de virar e sair andando e meu coração saiu pela boca. Lílian a pegou pelo braço e me indicou com a cabeça, no palco. Eu suava como nunca havia suado antes e segurava uma caixa com uma aliança. Eu guardava essa aliança comigo esperando pela pessoa certa para namorar, não para casar. Mas Marlene me mudara a esse ponto. Marlene arfava e eu podia vê-la respirar pesadamente. Ela subiu no palco, pegou o microfone e disse:


- Eu sei que todos vocês esperam que eu diga sim... – ela disse. Eu esperava isso, todos esperavam isso e era isso que Marlene devia dizer na minha cabeça. Eu esquecera que Marlene era do contra. Tudo que nós pensávamos que ela iria fazer, ela fazia ao contrário. Eu errara mais uma vez, foi o que eu pensei. – e é isso que eu vou fazer. Eu aceito casar com você Sirius Black, pra sempre, até a eternidade.


Marlene morreu. No dia do nosso casamento. Eu fiquei esperando por ela a Igreja até que o recado que ela não viria, que ela jamais viria, que eu jamais a veria novamente na minha vida, viva, chegou até mim. Eu consegui me sentir do que quando traí Marlene. Tudo que eu queria era poder beijá-la de novo, poder tê-la até minha velhice, viver minha vida inteira com ela, felizes. Marlene faleceu e eu nem ao menos tive tempo de me despedir dela, eu não a vira o dia todo e ela havia passado o último mês planejando tudo do casamento.


Eu senti mais falta de Marlene do que sentiria se alguém tivesse tirado minha própria alma. Eu tinha tido o melhor e do nada ele havia sido tirado de mim. Eu queria Marlene de volta, mas eu sabia que nada a traria de volta. Eu me arrependo, hoje, de todos os momentos que passei longe de Marlene, que não disse que a amava e que não pude lhe mostrar o quanto eu gostava dela. Eu sabia tudo sobre Marlene, mas ao mesmo tempo eu sentia que queria saber mais.


Eu jamais pensaria como Marlene, jamais seria alguém como Marlene. Ninguém seria como ela. Ela era insubstituível e inesquecível. Meu coração sempre bateu por Marlene até meu último suspiro, até o meu último arfar, até meu último pensamento. Eu sempre me mantive ocupado para esquecer Marlene, mas nada a fizera esquecer. Eu já devia ter aprendido, uma vez que você conhece Marlene é impossível esquecê-la e mais uma vez, eu não queria. De uma coisa que tinha certeza, somente isso. Nossa vida é feita de memórias. As minhas eram confusas, mas uma imagem permanecia.


Eu encontraria Marlene e seu amor na eternidade.




xxx


 


N/B: Ah, nem tenho que falar né. Tipo, eu chorei nesse finalzinho, ainda estou chorando enquanto leio isso e Dine me fez chorar, boba q. UASHA, Enfim, to sem criatividade pra n/b, mas a fic ficou muito linda, dine *-* você é minha melhor escritora, sempre amiga. To morrendo de saudades e é bom vocês comentarem por que demorou pra ele escrever isso viu :* <3


 


N/A: Eu só tenho a dizer que ofereço essa fic ao meu amigo Paollo, e espero que da onde ele esteja ele continue a pessoa linda e alegre que ele sempre foi. Eu vou te amar sempre, aonde quer que você esteja minha delicinha e a gente se encontra na eternidade, meu anjo preferido ♥ :)

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.