Cartas e Mordidelas



Meg começou a sua revista ao escritório seguindo a sua técnica e método usuais. Em primeiro lugar, esvaziou as gavetas da secretária, encontrando  apenas alguns memorandos fora de prazo há anos e traças mortas. De seguida, partiu para as estantes. Começando pela esquerda, deslocou cada livro  um a um, abrindo-os e sacudindo-os.
Estava a meio da segunda estante quando um molho de folhas caiu do interior de um grande volume de história da magia. Megan pegou-lhes. Eram  cartas, todas dobradas e endereçadas a Edmond Despaire Jr. Com um gesto, a jovem espalhou-as sobre a secretária, sentou-se e começou a ler.

Caro Edmond
Folgo em saber que a Germaine e as crianças estão bem. Como pediste na última carta, aqui vai toda a informação que tenho de momento sobre os  chamados "Sete". O boato que corre no departamento de relações estrangeiras é que se trata de um grupo de elite formado pelo ministério inglês para  localizar e capturar magos negros dentro e fora das fronteiras nacionais. Existem acordos internacionais que lhes permitem agir autonomamente e tomar  quaisquer medidas que julguem necessárias na captura sem atenção ás leis do país onde actuam. Não consegui até agora encontrar quaisquer nomes  de elementos, que são mantidos sobre feitiços de restrição fortíssimos. Não creio, no entanto, que tenhas motivo para preocupações por enquanto. O teu  nome não se encontra em qualquer lista de suspeitos ou alvos que eu esteja ao corrente.

Respeitosamente, Josiah Gerand

Meg engoliu com força antes de passar à carta seguinte. Era o mesmo tipo de papel, e a saudação e assinatura as mesmas.

Caro Edmond
Graças à minha posição de interprete do ministério, vim a saber várias coisas deveras preocupantes para o nosso lado. Não só os Sete se encontram de  momento a operar em território francês, como descobri vários detalhes acerca dos seus métodos de actuação que me fazem temer não só pela tua  segurança como pela da minha família. Descobri uma lista não de suspeitos mas de prisões a serem efectuadas em que constam vários nomes  conhecidos, incluindo o teu. A minha sugestão é que te escondas em qualquer lugar longe de feiticeiros. Já aconselhei o meu irmão e sobrinhos a mudar  a residência para a Floresta Negra. Vários adeptos do nosso lado estabelecidos em França garantem que a magia ancestral destabiliza os detectores da  magia da área, pelo que a julgo segura por enquanto. Saudades à Germaine, Eliza e crianças.

Respeitosamente, Josiah Gerand

A última frase fez Meg desejar rasgar a carta ao meio. Josiah torturara-a meses a fio, como se atrevia ele a mandar "saudades" e a alegrar-se pelo seu  bem estar? Embora ele não soubesse quem ela era, que espécie de animal tratava assim uma criança, mesmo uma criança Muggle?
Leu as restantes cartas em poucos minutos, mas estas não lhe diziam nada de novo sobre as identidades dos Sete. Todas as informações eram  repetições daquilo que diziam as primeiras cartas, e descrições detalhadas dos seus métodos de actuação. Meg, que os testemunhara, julgava  desnecessário reler essas partes. Agora sabia pelo menos uma coisa. Os assassinos tinham sido mandados pelo Ministério da Magia Inglês. O que  significava que havia apenas uma coisa que ela podia fazer.
- Kazeila - Disse, guardando as cartas no bolso, ao mesmo tempo que se agachava e olhava a cobra nos olhos - Vamos para Inglaterra!

Meg não se lembrava de alguma vez ver tantas pessoas juntas, excepto nas bancadas do espectáculo dos ciganos. O barulho era demasiado, e ela  sentia Kazeila sacudir-se no seu bolso, nervosa. Encolher a cobra até ao tamanho de uma lagartixa era a única maneira de viajar com ela sem chamar  demasiado as atenções. As duas detestavam-no, mas não podiam fazer nada sobre isso.
Megan sacudiu a cabeça ao passar pela multidão que se acotovelava para pedir autógrafos a um feiticeiro loiro parado sobre um pódio, rodeado de  fotografias dele próprio. Não planeara exactamente materializar-se ali, apenas se concentrara num local público do mundo mágico, em Londres de  preferência. Procurando por algum anuncio ou placa que lhe indicasse onde estava, ela virou a cabeça, chocando com um feiticeiro de cabelo loiro  platinado.
- Desculpe. - Disse ela automaticamente, tentando ser ouvida sobre o ruído. O feiticeiro olhou-a com expressão enjoada. Meg virou-lhe as costas,  encolhendo os ombros, mas tornou a girar, tão depressa quanto podia, ao ouvir o mesmo feiticeiro com que chocara berrar:
- Ai! - Agarrado à mão. Megan pestanejou ao ver o dedo do homem inchar e mudar de cor, até que entendeu. O silvo satisfeito que vinha do seu bolso  confirmou a teoria.
Boa, Kazeila. - Felicitou ela. Ficou a ver, com um sorriso no rosto, enquanto o homem loiro se afastava, empurrando para abrir caminho por entre a  multidão, segurando a mão inchada no ar. Ele tivera sorte, até. Se Kazeila estivesse no seu tamanho normal, a sua mordedura seria fatal para aquele  reles ladrãozeco.
- Merlin, o que deu no Malfoy? - Meg levou alguns instantes a perceber que a voz vinha do seu lado. - Que bicho lhe terá mordido?
Sofucando uma gargalhada, ela virou-se. Deu de caras com dois rapazes, um ruivo e sardento, o outro moreno com óculos. Os dois fixavam a forma do  homem loiro que a tentara roubar com interesse indisfarçado.
- Ele foi apanhado pelo meu "sistema anti-roubo". - Ela não soube muito bem porque disse aquilo, mas as palavras fizeram com que os rapazes a  olhassem com interesse ainda maior.
- Um Malfoy a roubar? - O ruivo parecia estar no seu sétimo céu. - Não acredito. Só pode ser piada.
- Ele enfiou a mão no meu bolso, e a minha mascote mordeu-o. - Explicou Meg, pacientemente, sem saber porque estava a perder tempo com aquilo. Na  melhor das hipóteses, os dois rapazes podiam dizer-lhe onde estava. Em vez disso, o rapaz de óculos inclinou-se para ver o interior do bolso dela.  Megan recuou um passo, desconfortável com a proximidade.
- É uma cobra, não é? - Perguntou, e Meg interrogou-se como ele saberia daquilo. - Bebé, para caber no teu bolso. Mas não soa como uma cria.
- Não soa? - Repetiu Megan, incrédula, ao mesmo tempo que uma corrente eléctrica a percorria da cabeça aos pés ao recordar a profecia de Raoul. O  rapaz moveu a cabeça para cima e para baixo umas quantas vezes, e ela pensou furiosamente. Um outro serpentês, como ela? Se aquele rapaz estava  de algum modo ligado ao seu destino, aquele não era um momento bom para o conhecer ou aprofundar a questão. Ela tinha a sua própria cruzada  a  fazer, que nada tinha a ver com profecias.
Mas os dois rapazes já lhe tinham estendido a mão, cada um deles apresentando-se, e ela já não podia esquivar-se.
- Eu sou Ronald Weasley. Ron. - Disse o ruivo. - Este aqui é Harry Potter. - Indicou o rapaz que podia ou não ser serpentês. Este acenou, e Meg sentiu  o coração parar por instantes. Aquilo não podia ser bom. Ela reconhecia o nome, claro que reconhecia o nome. E era impossível, praticamente  impossível, que o destino desse rapaz estivesse ligado ao dela. Recompôs-se depressa, no entanto.
- Eu sou Megara Renardi. Meg, para os amigos. - Respondeu ela, deixando claro pelo tom de voz que esse título não se aplicava a eles. Remexeu no  bolso, distraidamente, e os seus dedos tocaram qualquer coisa de capa dura. Um livro? O que quer que fosse, ela não o colocara ali. Decidindo  esclarecer isso depois, ela retirou a cobra em miniatura. - E esta é Adenin. - Harry inclinou-se para a cobra, parecendo fascinado, e Ron recuou. Meg  sorriu um pouco. - Saí no lugar errado com o pó de floo. No país errado, aliás. - Fingiu corar. Ron deu uma cotovelada a Harry, rindo.
- E culpas-te por teres falhado uma rua apenas. - Troçou. - Tu foste parar à Bativolta, ela veio parar a Inglaterra. - Meg decidiu não os amaldiçoar de  momento, e perguntou, em voz doce:
- Ainda gostaria de saber onde estou, se não for incómodo. - Ron pareceu lembrar-se da sua presença, e esfregou o nariz antes de responder:
- Estás em Londres, Inglaterra. Na Diagon Alley. - Meg repetiu as palavras na sua cabeça, mas tanto lhe fazia onde estava.
- Sabem o caminho para o Ministério da Magia? - Perguntou, não esperando a reacção dos dois rapazes.
- Eh, não, mas o meu pai...- Começou Ron, e Megan estremeceu ao perceber que ele gesticulava para chamar um homem ruivo parado a pouca  distância. - Ele trabalha no ministério. Pode...
Mas quando Ron e Harry se viraram para a jovem, esta tinha desaparecido. Os dois ficaram a olhar para o ar, pasmados.
- Miúda estranha. - Acabou Harry por dizer.

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