Perdida e Encontrada



Meg andou pela floresta durante dias.
Pequenina como era, não teria aguentado todo esse tempo sem comer nem beber. Mas Megan não era uma menina normal, e conhecia bem as ervas e  plantas comestíveis que existiam por ali. A sua mãe era uma especialista em He-bor-lo-gia, e ensinara-lhe a distingui-las. Assim , e embora a sua  garganta queimasse de sede, ela estava forte o suficiente para continuar a andar.
Ela não sabia em que parte da floresta estava, e assim era difícil orientar-se. Meg tecera um plano na sua cabeça: voltar para casa. A sua casa era  algures por ali, ela só não sabia em que direcção. Os pais tinham-na levado com os irmãos a dar um passeio quando aquelas pessoas apareceram, a  gritar coisas que ela não entendia. Meg estava a jogar ás escondidas com os irmãos, na altura. Renard estava a procurar, e já conseguira encontrar Will,  quando as pessoas começaram a atacar. Megan sobrevivera porque tinha o melhor esconderijo, e porque as pessoas não a tinham procurado.
Agora quem procurava era ela. Procurava a sua casa. A avó não tinha saído com eles, e deveria estar à espera de os ver voltar. A avó entenderia o que se  passava, acordaria os seus pais e tudo iria ficar bem.
Meg só tinha de a encontrar.
Por vezes, o medo levava a melhor e ela chorava. Nessas alturas, encostava-se a uma árvore e enrolava-se numa bolinha, esperando que alguém a visse  ali e que não tivesse mais de andar. Também ficava cheia de medo quando pensava nos animais da floresta, lobos, gatos selvagens e até mesmo ursos,  que a poderiam ver e atacar.
Estava justamente a descansar à sombra de um carvalho quando qualquer coisa se mexeu na relva. Meg abraçou as pernas, aterrorizada com o que  poderia estar ali escondido, até que viu uma cabeça escamosa e quadrada erguer-se da relva.
- Cassie! - Ela não teve medo de gritar, pois sabia que ninguém mais a poderia entender além da cobra. Cassandra era o animal de estimação da avó  Gaunt, e além dela Meg era a única na família que conseguia entender os animais.
- Mmmeeninaa Megggann. - Foi a resposta da cobra. Ela quase chorou de alívio. Se Cassie estava ali, quase de certeza que a casa era por perto. E se a  cobra a levasse, ela veria a avó.
- Cassie, por favor! - Megan já estava de pé. - Leva-me à avó! Por favor!
- Lammeeentttto, meeninna, masss nãoo é posssivél. - Meg não entendeu essa resposta. Porque é que não era posivél ela ser levada à avó? O que é  que se passava? Teriam as pessoas...teriam as pessoas ido a casa da avó também?
- Cassie, o que...- Começou, e ficou chocada ao ver a cobra baixar a cabeça na relva. Tentou virá-la, mas quando o fez as suas mãos ficaram vermelhas.  Chocada, Meg recuou.
A relva onde Cassandra rastejara estava vermelha também, e ela só o notava agora. E a cobra já não se mexia.
- Cassie...- Começou, quase a chorar outra vez, quando percebeu o que acontecera. Alguém esfaqueara Cassandra, profundamente. Finalmente ela  entendeu o que a cobra queria dizer quando dissera que não a poderia levar. Não queria dizer que não queria. Queria dizer que não podia, porque não  viveria para o fazer.
Limpando as mãos na relva, Meg correu, na direcção de onde a cobra viera. Se ela estava certa, então a casa era por perto, e ela podia descobrir quem  fizera aquilo a Cassandra.
Correu tão depressa que mal via por onde passava. Apenas notou que havia uma pessoa parada ali quando esta levantou uma varinha e gritou um feitiço.
Um relâmpago atirou Meg para trás e imobilizou-a. Completamente apanhada de surpresa, ela ficou a ver quando o homem se aproximou.  Não gostou da  maneira como ele a olhava, nem da cara dele. Parecia...mau. Mas não se vestia da mesma forma que as pessoas que tinham atacado, e assim ela  esperou antes de começar a gritar.
- O que temos nós aqui? - O homem manteve a varinha apontada, e Meg percebeu que outras pessoas saíam detrás das árvores. - Crianças não deviam  andar sozinhas pela floresta. Principalmente crianças Muggle metediças. - Ele baixou a varinha, e agarrou-a pelo braço. - O que é que fazemos com  crianças assim, rapazes?
Vários dos homens riram. Meg sentiu-se doente, principalmente porque reconheceu alguns deles. Tinha-os visto em sua casa, no escritório do pai, por  várias vezes. Ele nunca os deixara vê-la. Dizia-lhe que eram gente má, e que não devia contactar com eles. Quando Megan se atrevera a perguntar  porque ele tratava com eles se eram maus, ele mandara-a para o quarto sem jantar.
Agora ela desejava que a tivessem visto. Assim, não pensariam que ela era uma...o que ela mesmo?
- Como é que te chamas, pequena? - Perguntou o homem que a agarrava.
- Meg. - Respondeu ela, sem pensar.
- Meg quê? - De repente Meg estava arrependida de ter dito o seu nome. Nem pensar que diria o apelido.
- Meg Renard. - Disse, tentando soar firme. Os homens entreolharam-se.
- Definitivamente Muggle. - Disse um deles. - Não me lembro de nenhuma família Renard. Os únicos feiticeiros num raio de cem quilómetros além de  nós são os Despaire, e esses...
Um dos outros moveu a cabeça.
- Triste, muito triste. Quando é que esses sangues de lama irão aprender? - Sacudiu a cabeça, e Meg tremeu. Tinha razão em não lhes dizer o seu  nome. Eles julgavam que os seus pais eram sangues de lama, coisas nojentas a serem abatidas. Ela não os podia convencer do contrário, embora fosse  um insulto imperdoável. Os Despaire eram uma das famílias de feiticeiros mais antigas de que havia memória, e a família da sua mãe, os Gaunt, eram  igualmente antigos e para mais descendentes de um feiticeiro muito poderoso e famoso, Salazar Slytherin. Sangues de lama, a sua família? Ha!
Mas se eles pensavam assim, e se descobrissem que ela era uma Despaire, matavam-na. Era o que o seu pai dizia que devia ser feito com todos os  sangue de lama. Era a maneira certa.
- Eles nunca aprendem. - Suspirou outro. - Deveriam ser abatidos, todos eles, até ao último. Vejam o que aconteceu com a velha Eliza Gaunt. - Meg  tremeu outra vez, desta vez ao ouvir o nome da avó. - Morta na cama, e o seu animal de estimação esfaqueado.
Desta vez a menina não conseguiu evitar um gemido de dor. Então a avó estava morta, e aquelas pessoas tinham-no feito.
O seu gemido chamou a atenção do homem que a segurava. Este sorriu, exibindo dentes tortos.
- Então, então. - Disse. - Meg, não é? De onde viste tu, Meg?
Ela disse a primeira coisa que lhe veio à cabeça depois da verdade.
- Da aldeia. Le Charlemaine. - Disse, lembrando o nome da vila mais perto dali. - Perdi-me, e não conseguiu encontrar o caminho.
Pela primeira vez, Meg estava satisfeita por ser boa a inventar coisas, e também por não parecer uma Despaire. Ela tinha os cabelos pretos e compridos,  com reflexos azuis. Os seus olhos eram azuis também, mas de um azul muito escuro. Os seus pais eram os dois muito loiros, os olhos do pai verdes e  os da mãe cinzentos. Will era uma cópia perfeita do pai, e Renard uma versão masculina da mãe. Pensar neles fazia-lhe doer o coração, mas ela tinha  de pensar em si primeiro.
- Podemos usá-la. Um fedelho a mais, um a menos, qual a diferença? - Sugeriu um dos homens. A ideia pareceu agradar ao que a prendia. Ele devia ser  o líder, pensou Megan, sentindo uma pontada de esperança. Talvez não a fossem matar. Talvez...
- Agora, escuta o que te vamos dizer, pirralha. Tu vens connosco. Não tentas fugir, e não te matamos. - Ambas as ideias agradavam a Meg. Ela estava  demasiado assustada para fugir, e não queria ser morta. - Fazes o que te dizemos, e tens de comer. Que tal de parece?
A ela não lhe pareciam existir muitas outras opções, por isso fez que sim com a cabeça. O homem largou-a e ficou parado à sua frente, sorrindo. Ela  diria que era quase um sorriso simpático, se não fossem os dentes.
- Muito bem. Podes começar por ficar muito quieta. - O homem levantou a varinha. - Crucio!

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