Após a Batalha



O sol batia pelas janelas estilhaçadas do Salão Principal.


O clima era de destruição, havia poeira em cima das mesas, pedaços de antigas paredes agora formavam um amontoado de destroços no chão, ao lado de inúmeros corpos inertes.


No centro de tudo, um ser estatelado, suas vestes negras em extremo contraste com sua pele branca. Seus olhos abertos, ofídicos, parados. Sua boca retorcida, num movimento de dor.


A sua frente, o Menino-que-sobreviveu, transformado em homem pelo sofrimento das batalhas, que tiveram início logo após completar um ano de idade.  Em seu rosto, muito cansaço, mas seus olhos refletiam alívio, alegria e paz. Sua cicatriz, mais vermelha do que nunca, agora segue inerte, tal qual o bruxo que a fez, e que segue deitado no chão.


O tempo parece ter parado e todos ali estão tentando entender qual vai ser o próximo passo.


Do alto das colinas ouviu-se o canto da Fênix, como que a representar Dumbledore avisando que tudo estava bem.


Após alguns minutos, que pareceram horas para todos os presentes, explode uma salva de palmas, são ovações que vêm de todos os lados e se dirigem ao menino-homem, que continua em pé, no centro do Salão Principal. Sua expressão permanece a mesma, salvo pelo olhar curioso que agora procura seus amigos.


Sem que ninguém perceba, seus olhos encontram os de uma mulher loira, encolhida em um canto ao lado de um homem igualmente loiro, abraçados a um menino assustado. Harry Potter agradece em silêncio à Narcisa Malfoy, que assente com a cabeça e também faz um agradecimento mudo a Harry. Ele sabia que só estava ali porque, na floresta, ela havia mentido, dizendo que estava morto. E ela, a essa altura, já sabia que seu precioso filho havia sido salvo por Potter, durante o combate.


Enquanto os os membros da Ordem da Fênix transferem, enojados, os corpos dos Comensais da Morte para uma sala afastada do Salão Principal, sob as vaias dos fantasmas do Castelo,  os professores  arrumam o Salão para um banquete.  As mesas são recolocadas, mas nelas sentam-se todos os presentes, unidos, ignorando a divisão das Casas. O teto do Salão é enfeitiçado para refletir os tons rosados no céu azul daquele amanhecer. A comida é farta, assim como a bebida. E reina o sentimento comum de paz...Os sobreviventes estão reunidos com suas famílias e Harry Potter procura os seus mais queridos, enquanto recebe elogios e votos de bravura. Finalmente localiza Rony e Hermione, e saem discretamente do Salão.


Ao contrário do que se poderia imaginar, a família loira permanece ali. Ninguém os ofendeu, mesmo sabendo que até poucas horas atrás serviam lealmente o responsável por todas as mortes computadas na manhã de hoje.


Não entendiam como podiam permanecer no meio de toda aquela alegria.


Ignoravam que Harry Potter havia ordenado a todos para não atacá-los, contando a todos, rapidamente, a ajuda que havia recebido de Narcisa.


E Narcisa era, sem dúvida, a pessoa mais intrigada naquele momento.


Ver o Lord das Trevas morto lhe trazia uma sensação de alívio inesperado. Poder abraçar seu filho trazia-lhe uma imensa alegria. Observando seu filho, percebia que já não havia em seus olhos o brilho maldoso que sempre viu nos olhos de seu marido. Agora, Draco, junto com os sinais da maturidade, deixava transparecer a dúvida em seus olhos. Mas mantinha neles o olhar puro de quem não havia maculado sua alma. Na verdade, apesar de ser um Jovem Comensal da Morte, apesar da cruel tarefa que lhe tinha sido designada por Voldemort, Draco nunca havia matado ninguém. E isso, agora Narcisa sabia, ela devia a Dumbledore. A dúvida que por anos e anos atormentou Narcisa surgia agora ainda mais imponente: teria feito a escolha certa? Qual seria, efetivamente, a razão que a teria direcionado para a defesa de Voldemort? Olhou para o seu marido e viu apenas um sujeito acuado, sem a costumeira postura altiva e superior.


Será que se seus pais não tivessem forçado o casamento com Malfoy teria sido essa a sua escolha? Será que se tivesse enfrentado Bella e lutado por seu amor proibido não teria sido mais feliz e hoje talvez tivesse mais motivos para comemorar, ao lado daqueles que agora sorriam por todo o Salão Principal? Enquanto pensava no passado, notou, sobre ela, o olhar calmo e amoroso que tinha sido obrigada a abandonar, há mais de 18 anos.


Sentiu novamente seu coração bater em descompasso, como da primeira vez em que tinha encontrado aquele olhar, no seu primeiro dia em Hogwarts. 


Mas era hora de partir, era preciso deixar as comemorações para aqueles que tinham direito à felicidade.


Assim, foi andando em direção à porta, com o braço enlaçando seu filho e acompanhada de perto por seu marido. Mas teve a certeza de que outro olhar a acompanhava, talvez anunciando a promessa de dias melhores.

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