capítulo um.



Capítulo um.
Em trezentos anos, nunca houve uma criança tão debochada quanto Sirius Black.




 Sirius Black tinha dezessete anos quando os sonhos começaram a acontecer. De início, eram poucos, e ele acordava com uma disposição um pouco melhor que a do dia anterior. Mas depois, quando as jorradas de sonhos que podiam ser muito reais em sua cabeça começaram a fazê-lo rir sozinho durante o dia, James percebeu como aquilo podia ser perigoso.


 Remo Lupin também. Ele sabia como os dois amigos eram inconseqüentes, mas até mesmo James estava preocupado com Sirius. Aquela história estava virando uma espécie de paranóia. E por mais estranho que fosse, Remo estava ficando com saudades de tacar um balde na cara de Sirius pela manhã, quando ele gemia para não levantar e não ir às aulas. Afinal, seus sonhos pareciam estar sendo tão bons, que ele simplesmente estava em pé seis horas da manhã, de banho tomado e com um sorriso maroto estampado no rosto.


 Não, ele não estava se drogando ou coisa parecida. Os sonhos simplesmente começaram a aparecer, cada dia diferente, cada dia melhor. Cada sonho uma realidade. Uma possibilidade que ele podia buscar, se quisesse. Era tão atrativo. Sirius falava pelos cotovelos pela manhã, para contar como havia beijado tal garota, ou como os sonserinos haviam babado seu ovo, como retardados. Aquilo podia mesmo se tornar realidade? Era o que ele sempre se perguntava. Era o que ele tinha desejado, pelo menos.


 - Droga, minha mãe vai parir um filho azul – ele gemeu quando viu sua nota de Poções.


 Remo riu baixinho ao seu lado. James virou-se deliberadamente para a carteira dos dois.


 - Quanto?


 - Quarenta e cinco. – Sirius fez uma careta – o Lobão tirou noventa e sete. Porque não lhe dão cem de uma vez?


 Ele ficou carrancudo, e James deu-lhe um tapa atrás da cabeça, fazendo-o rir. Ele passou a mão pelos cabelos negros, afastando-os da testa. Com o canto dos olhos, pôde perceber várias garotas grifinórias e lufas suspirando. Ouviu algumas risadinhas e não se conteve.


 Quando olhou para trás, descaradamente, um beijo flutuou no ar. Era de Bertha Jorkins, uma garota lufa loira que usava a franja de lado e brincos de argolas enormes. Ele sabia que ela namorava um garoto do time da Corvinal, mas mesmo assim deu-lhe um sorriso torto, o que arrancou mais risadinhas femininas.


 E seus olhos vagaram até encontrá-la. Ela estava com a mão pálida na testa, concentrada no pergaminho que o professor havia acabado de lhe entregar. Seus cabelos negros e cumpridos estavam presos em um firme rabo-de-cavalo, deixando seu pescoço fino à mostra. Sirius não soube muito bem o que o atraiu em Marlene. Ela mordia o lábio inferior, nervosa, e seus olhos escuros revelavam uma espécie de pensamento muito distante. Ela estava meio encurvada na carteira, o cotovelo se apoiando nesta, e a camisa do uniforme estava um pouco pequena, propositalmente, e ele podia ver uma fina linha de sua cintura antes do cós da saia começar. E as pernas bem torneadas, cruzadas de um modo que ele pensou ser impossível e ao mesmo tempo sensual. Talvez ele tivesse se atraído por todo esse conjunto.


 Ele estava saindo com ela há alguns dias. Cinco dias, para ser mais específico, e ele se via um vencedor por ficar tanto tempo assim com uma garota. Acontece que ele havia descoberto: Marlene McKinnon não era uma garota qualquer. Depois que a beijou por simples entusiasmo na festa que prepararam depois do jogo contra a Corvinal que eles venceram, ele descobriu que aquela garota, a prima de James, tinha o melhor beijo do mundo. E que quando ela sorria, podia iluminar o mundo inteiro. Descobriu que adorava as implicações e ironias dela. Quando pensava assim, Sirius sabia que não precisava de mais nenhuma garota, e que aqueles sonhos que andava tendo com outras garotas antes dela viravam pó perto da intensidade daquilo.


 Ele foi até ela quando a aula acabou, e fez uma proposta em seu ouvido, fazendo-a corar e rir ao mesmo tempo enquanto passava o braço pela sua cintura. James passou pelos dois com uma careta de nojo. Havia sido difícil para ele no começo – o primo mais ciumento do universo – mas ele entendeu depois, quando viu Sirius bobo por Marlene.


 - Você não tem jeito, Black. – ela murmurou para ele.


 - Esse sou eu, querida.


 Ela passou a mão pelo rabo de cavalo, e Sirius a guiou calmamente entre os estudantes para algum lugar que certamente não era o da sala da próxima aula. Marlene agarrou os livros no peito e mordeu os lábios quando chegaram a um corredor vazio e o assunto acabou propositalmente.


 - Eu já te disse que você fica muito bem nesse uniforme? – ele perguntou com a voz macia, pegando os livros dos braços dela, que sorria torto, olhando-o de soslaio.


 Ele colocou os livros no chão.


 - Ontem você disse – ela respondeu, e se fez de pensativa: - ah, e antes de ontem também. E como se diz o dia que foi antes do antes de ontem?


 Depois de largar todo o material no chão do corredor, Sirius segurou-a pelo cotovelo, aproximando-se perigosamente do corpo dela. Marlene empinou o queixo, desafiando-o. Ele sorriu largamente, e murmurou com a voz um pouco rouca:


 - E eu vou dizer amanhã, e depois de amanhã, ainda, se você deixar.


 Marlene deu uma risada debochada perto da boca dele, quase a tocando.


 - Por mais dois dias? Vou ter que agüentar você? – sussurrou. Sirius estava roçando o nariz no seu, e a sua pose defensiva desabou quando ela passou a mão pelo seu peito, subindo até a nuca.


 - Que blefe descarado, Lene... – ele murmurou, descendo os lábios para o canto da boca dela, roçando devagar.


 Quando Marlene procurou seus lábios com os dela, ele fugiu, desviando os seus para a bochecha. Ela deu um sorriso torto e fechou os olhos. Sirius beijou a sua mandíbula, até a sua orelha, e depois desceu os beijos para seu pescoço. Suas mãos estavam nas costelas de Marlene, tão quentes que ela podia jurar que era verão. A garota pousou as mãos em seus ombros fortes, esticando mais o pescoço, e Sirius beijou toda a extensão, entre mordidas e chupadas de leve, que a faziam rir e suspirar às vezes. Depois, voltou para o seu rosto. Ela abriu os olhos, e encontrou os dele. Havia muita malícia naquele azul acinzentado. Ele estava esperando que ela o beijasse, e inclinou-se para roçar os lábios entre os dela, encaixando-os devagar.


 Mas Marlene não correspondeu. Apenas sorriu mais com os lábios fechados. Ele abriu os olhos, e estreitou-os:


 - Então, é assim? – ele sussurrou – vamos ver se você agüenta...


 Ela fechou os olhos, ainda sorrindo, e Sirius beijou o canto de sua boca levemente. Depois, passou a ponta da língua por toda a extensão, sentindo as unhas dela se encravarem em seu ombro. Mordeu o cantinho, puxando devagar. Depois sugou o lábio inferior com volúpia, sentindo que ela começava a unir seus lábios no beijo. Sentindo a desistência dela, se afastou com um sorriso convencido. Ela sorriu também, mas não esperou que ele fizesse alguma piadinha irônica.


 Passou a mão pelo pescoço dele e entrelaçou seus cabelos negros atrás da cabeça, puxando-o com rapidez contra a própria cabeça, sugando os lábios dele com desejo, sentindo as mãos dele entrarem por sua camiseta do uniforme, passeando e apertando suas costas. Sirius prensou-a de uma vez na parede contra seu corpo, com um calor inimaginável, e aprofundou ao beijo no mesmo momento.


 


 ---


 


 - Tudo bem, você é um cachorro que está encoleirado e tudo, mas por favor, Sirius Black, quer se concentrar? – James gritava furioso inclinado na sua frente, as mãos apoiadas nos joelhos.


 Eles estavam com o uniforme do time. Era sábado, o dia do grande jogo contra a Sonserina. Tudo bem que eles eram mais fortes, mais ágeis e mais bem organizados. Mas, contra as serpentes, todos ficavam nervosos – porque sempre se viam obrigados, torturados, e deliberadamente destinados a ganhar. Sempre ganhavam. James era um ótimo capitão, mas também ficava nervoso. E como esse era um jogo contra a Sonserina... que seja.


 - Não precisa cuspir toda a sua saliva em mim, veado de uma figa! – Sirius gritou no mesmo tom nervoso que ele.


 Remo riu, alto. Os outros garotos do time ficaram meio apreensivos. Era certo que James e Sirius viviam brigando por causa do quadribol, e James parecia realmente nervoso naquele dia para que Sirius ficasse com piadinhas, e...


 - Pede pra sair, seu fanfarrão! – James gritou de volta, com o rosto vermelho.


 Todos caíram na gargalhada. Depois, o capitão bateu palmas com as luvas, fazendo barulhos fofos, acalmando todos:


 - Ok, gente, é o seguinte, entrem naquele campo pra vencer ou depois eu trato de cada um de vocês.


 - Tratamento especial James Potter, cinco euros o boque... – Sirius ia falando, mas Remo interrompeu.


 - Cala a boca, Almofadinhas. Caras, o tempo está fechando.


 Os outros do time já haviam começado a sair para o campo. James estava enfeitiçando seus óculos na frente de um espelho para que não saíssem voando. Sirius bocejou e passou a mão pelos cabelos, desalinhando-os ainda mais.


 - Uma chuvinha para descontrair – James falou com uma voz divertida – aposto dez galeões que na festa eu consigo roubar um beijo da minha ruivinha.


 - Arrrrght... cara, desiste dessa garota! – Sirius falou – a Evans já te deu quantos foras?


 - Sei lá, incontáveis – ele riu de si mesmo – mas eu não desisto fácil, cara. É ela que eu quero.


 - Ah, que seja... – Sirius pegou sua vassoura e saiu para o corredor.


 - Odeio essa gente – ele ouviu Remo dizendo alto lá atrás – que encontra quem quer e começa a achar que os amigos não têm o mesmo direito.


 - Vai se ferrar, Aluado! – Sirius gritou, subindo na vassoura e arrancando o vôo do meio do corredor.


 Passou pelos outros jogadores e foi o primeiro do time da Grifinória a entrar. Os sonserinos estavam lá, com seus uniformes verdes e prata e seus olhares que tentavam intimidar. Sirius passou voando na frente de Lúcio Malfoy, que gritou:


 - Com muito medo, traidor?


 - Só se for do seu espirro, nariz de falcão! – gargalhou Sirius.


 No mesmo momento um trovão soou lá encima, e ele voltou para a área em que os grifinórios deveriam voar. Treinou uns tiros em Remo, que pegou todas com facilidade, mesmo com a chuva que já começava a despencar do céu.


 Então, o jogo começou. Sirius era batedor, e devia ter acertado umas três vezes um artilheiro e um dos batedores das serpentes quando Ewan Sppinet liderou a manobra de Ploy e acabou marcando os primeiros dez pontos para os leões. Depois disso, a Grifinória decolou. James não demorou muito para pegar o pomo de ouro. Em menos de meia hora, o jogo acabou e, sob a chuva, os jogadores desceram na lama para comemorar. Fiéis, os alunos torcedores de vermelho e dourado saíram na terra, ensopando-se, gritando parabéns e abraçando os jogadores.


 Era a primeira vez que Sirius não ansiava por garotas encima dele, como sempre acontecia, e até aconteceu, mas ele não tentou roubar nenhum beijo delas. Simplesmente estava esperando encontrar aquele corpo, imaginando-o com as roupas coladas e aquele sorriso estonteante. Que poderiam até trazer o sol para ele, e levar as nuvens escuras embora.


 Depois de uns dez minutos ali, depois de abraçar todas as amigas de Marlene, e dar grandes sorrisos à elas, ele começou a ficar preocupado, porque não a avistou. E as pessoas estavam começando a sair do campo, se dispersando lentamente ao redor dele. Ele começou a ignorar os outros, tentando achá-la.


 Marlene estava gargalhando de alguma coisa com Lílian Evans, a ruiva pela qual James morria de amores, caminhando em direção à saída do campo. Ela olhou para trás furtivamente uma vez, e Sirius estreitou os olhos, sorrindo maliciosamente.


 Ele demorou muito pouco tempo para chegar até ela. Foi fácil correr na chuva, na lama, e abraçá-la por trás de surpresa, afundando o rosto em seu pescoço. Ela soltou uma risada e Lílian olhou-os pelo canto dos olhos e sorriu.


 - Ah, o casal vinte... tudo bem, eu me mando.


 E se mandou, mesmo. Eles pararam de andar, e Marlene virou-se para ficar de frente para ele. Sirius percebeu que ela parecia tão frágil entre os seus braços fortes, e que ficava tão sexy com a roupa toda colada no corpo...


 - Você não vai mesmo me deixar em paz? – ela gritou sob o barulho da chuva, de brincadeira.


 - Nem nos seus sonhos, princesa... – ele falou enquanto se inclinava para beijá-la.


 Sirius não entendeu muito bem o que aconteceu. Deve ter sido a chuva, a felicidade de ter vencido o jogo, o calor do corpo dela – tudo muito bem unido. O calor que subiu pelo corpo dele foi indescritível, e ele teve certeza de que nunca havia sentido aquilo quando estava com alguém. Um arrepio, que começou desde o início da coluna e percorreu sua espinha sem dó. Ele ofegou, e segurou-a no colo, fazendo-a pendurar-se pelas pernas em seu corpo. Não havia mais ninguém no campo.


 Marlene agarrou-se nos ombros dele, e o beijo ficou mais quente e feroz do que já estava sendo. Ele a segurava pelas coxas, aventurando uma das mãos um pouco mais para trás às vezes, enquanto ela arranhava suas costas, puxava seus cabelos e mordia seus lábios, puxando-os com ferocidade, apertando mais as pernas envolta dele, totalmente fora de controle, dando importância apenas para as sensações prazerosas às quais estavam se entregando.


 Sirius se perguntou se ela tinha alguma noção do que estava fazendo. O choque entre o calor de seus corpos e a chuva gelada só tornava as coisas melhores. E ele só foi sair do transe quando percebeu que não estavam mais sendo açoitados pela chuva e sim que estavam no vestiário masculino. Ele estava apertando-a contra a parede com vontade, beijando-a com mais vontade ainda, mordendo, lambendo e dando chupões em tudo que havia entre a testa e até mais um palmo abaixo do pescoço dela.


 - Sirius... – ela suspirou, mordendo os lábios com força, quando ele desceu os beijos um pouco mais do que o previsto nos regulamentos.


 - Marlene. – ele respondeu, rouco, subindo os lábios pelo seu pescoço, arranhando os dentes em sua orelha.


 - Vamos para o castelo. – a voz dela saiu em forma de gemido.


 - Não está gostando?


 - O problema é que eu estou gostando. – a voz dela o arrepiou na base da nuca. – muito.


 - Se está pensando que isso vai me desestimular... – ele riu em seu ouvido, uma risada que lembrava vagamente um latido, e tomou a sua orelha delicadamente entre os lábios.


 - Não estou... pensando... Sirius! – ela recuperou-se, e abriu os olhos, segurando os ombros dele.


 Sirius parou, mas não moveu um músculo para longe dela. Seus olhos por um instante se perderam um no outro. Ele entendeu que ela falava sério. De repente, se tocou. Que diabos estava pensando? Em transar com Marlene? Nem eram namorados. Tudo bem que muitas garotas com as quais ele já havia saído não ligassem muito para isso – e como bom maroto, ele aproveitava -, mas diabos, ela era Marlene. Não era qualquer garota, não, definitivamente.


 Afastou-se delicadamente, sentindo o corpo pedir quase dolorosamente o contrário a cada segundo. Mas isso era indiscutível. Levou a mão aos cabelos, o fogo ainda o consumia, e virou-se de costas para ela. O barulho da chuva não impediu que ele ouvisse o suspiro pesado de Marlene.


 - Me desculpe – ele virou-se, crispou os lábios, apreensivo, mas não se aproximou – droga, me desculpe, Marlene.


 O sorriso que ela lhe deu tranqüilizou seus nervos, mas mesmo assim ele continuou passando os dedos pelos cabelos nervosamente, segurando as duas mãos entrelaçadas no topo da cabeça. Seu corpo estava em chamas.


 - Muito bem, senhor tentação. Um banho de chuva fria deve te ajudar.


  A sua mente girava tanto que ele não conseguiu pensar em uma resposta sórdida o bastante. Deu uma risadinha cínica, e, rapidamente, pegou-a pelas pernas e montou-a em suas costas. E saiu correndo para fora do vestiário, a caminho do castelo, com Marlene esperneando e gritando para que ele não trombasse em nada nem em ninguém.


 Chegaram seguros ao salão principal, rindo, e quando Sirius deixou-a no chão teve que segurá-la para que não se desequilibrasse. Ele teve a impressão de ver Bertha Jorkins, agarrada ao braço do namorado, lançar-lhe um olhar furioso. Mas, assim como Marlene, não estava se importando realmente com o que as pessoas estavam pensando sobre eles; afinal, as suas estripulias foram um pouco abafadas pelas que os outros grifinórios já estavam fazendo na mesa de jantar.


 Lene estava indo em direção das amigas, e Sirius puxou-a pela cintura para beijar sua bochecha antes que se separasse completamente dela. Ela sorriu e sentou-se no banco. Ele continuou até mais à frente, onde James e Sppinet falavam tão alto que ele jurou que até os sereianos podiam ouvir. Os trovões nem podiam ser ouvidos, por causa da bagunça na mesa da Grifinória.


 Sirius não estava com um pingo de fome. Cumprimentou alguns colegas que não havia visto no campo e conversou um pouco, fez umas piadinhas que os fizeram gargalhar mais do que falar. Quando se viu livre, murmurou para James que ia começar a arrumar as coisas pelo salão comunal.


 O amigo ficou um pouco surpreso, e chegou a conferir se Marlene não o seguiria, mas ela não o fez; apenas respondeu a piscadela que Sirius lhe mandou quando passou.


 Ele tomou um banho quente, e sentiu a tensão esvair por seus poros quando a fumaça embaçou todo o ar no banheiro. Depois de se trocar devidamente, botou uma capa de chuva, botas e pegou um guarda-chuva no armário. Precisava buscar as bebidas perto da orla da Floresta Negra. Quando ia saindo, alguns jogadores voltavam para o dormitório e até chegaram a perguntar se ele queria alguma ajuda. É claro que ele não queria.


 A passagem estava ficando cada vez mais fácil de se achar, nem havia precisado do mapa do maroto desta vez. Quando atravessou o corredor escuro e claustrofóbico, e ergueu uma portinhola que se abria para cima, abriu o guarda-chuva de vez, sentindo alguns pingos fortes e ouvindo-os açoitar a lona acima da sua cabeça. Haviam combinado com um cara no bar. O dinheiro estaria em uma gaveta falsa enfeitiçada em uma árvore. Ele deixou ali, e achou as bebidas, suficientes para a Grifinória e Sonserina inteiros – embora os serpentes estivessem longe da lista de convidados -, lançou um feitiço nelas para que flutuassem, e estava se preparando para voltar para dentro do corredor.


 Mas ele tinha que olhar a sua volta. E ele viu. Entre a chuva, na beira do lago, havia um vulto branco, meio escondido entre os troncos das árvores.


 - Hey! – ele gritou, e entendeu que seria impossível que alguém ouvisse – Hey! Venha aqui!


 Mas o vulto só se movia de um lado para o outro, como se pensasse. Qualquer outra pessoa sairia correndo, aterrorizada. Sirius Black fez as bebidas caírem no chão com um baque abafado por um trovão, sacou a varinha e se esqueceu do guarda-chuva, que voou para dentro da Floresta com liberdade.


 Desconfiado, caminhou sorrateiramente até a arvore em que havia visto. Não havia nada ali.


 - Hey? Tem alguém aí? – chamou de novo, desolado.


 Oras, ele havia visto. Tinha certeza que sim. Um vulto branco, podia ser um fantasma ou qualquer coisa, bem ali onde ele estava.


 - Eu devo estar pirando, mesmo... – falou baixinho consigo mesmo, começando a voltar pelo caminho.


 - Sirius Black!


 Ele saltou para trás, e quase caiu no lago. Bem na frente dele, um homenzinho gorducho, com roupas pesadas e um chapéu que tamborilava com a chuva. Ele tinha bigodes grossos e a barba mal feita. Os sapatos não estavam enlameados, como se ele tivesse simplesmente surgido ali, do nada.


 - Ah, merda! Como sabe meu nome? – ele quis saber, indignado, pensando no quanto aquilo estava soando ridículo demais.


 - Eu só sei. – o homem respondeu.


 - Quem é você?


 - Ah, por favor... – os olhos apertados giraram nas órbitas naquele rosto redondo – vamos pular essas introduções chatas que sempre me tiram do sério e eu acabo fazendo o que você não vai querer.


 Sirius franziu a sobrancelha. Ergueu mais a varinha.


 - Oras... vai querer lutar? Admito que deve ser bem corajoso. Sair numa baita chuva dessas... há tempos que ninguém me dava o prazer.


 - Do que está falando, homem?


 - Estou falando que... eu sou o gênio do mau tempo.


 Sirius tentou franzir mais ainda a sobrancelha, e olhou para trás a fim de conferir se ninguém estava ouvindo aquela loucura, também. O homenzinho continuou na sua frente, um sorriso apertando os lábios. Então o garoto de olhos acinzentados gargalhou, alto, até a barriga doer e as lágrimas avermelharem seus olhos. O som era abafado pela chuva, mas bem que poderia ser confundido com um latido. O outro apenas esperou, fazendo gestos impacientes.


 Quando Sirius se recuperou, apoiou a mão nos joelhos, e olhou-o se baixo:


 - Ah, cara? Sinceram-mente?


 Mas o homem não riu ou coisa parecida, então Sirius se empertigou, embora um sorriso debochado ainda estivesse no canto de seus lábios.


 - Então? James? Remo? Ah, qual é. Que coisa mais ridícula. Gênio do mau tempo? Caras, vocês já tiveram mais criatividade...


 Novamente, o homem se manteve em silêncio, fitando-o com os olhos apreensivos e mesmo assim impacientes. Sirius passou a mão pelos cabelos, tentando afastar a água que o ensopava. Aquele rosto redondo não lhe mostrava nem um sinal de brincadeira, apesar de parecer tão sádico quanto ele.


 - Você não está falando sério.


 - Ah... essas crianças... – ele abanou as mãos – em trezentos anos, nunca vi uma tão debochada. Sirius Black, qual é o seu problema? Eu estou aqui só pra te ajudar.


 - Ok, e eu pareço o tipo de cara que aceita ajuda de estranhos? – ele atirou, ofendido pelo “criança”.


 Foi a vez do outro largar uma risadinha sarcástica.


 - Eu não acho que sou tão estranho assim.


 - Eu não conheço você, senhor gênio.


 - Mas eu te conheço. Sei que é rejeitado pela família porque não aceitou se unir ao Lorde das Trevas, sei que está morando com o James Potter agora, em Londres, sei que é o batedor mais hábil dos times de quadribol da escola, e sei também que está saindo com a prima do seu amigo, uma garotinha bonitinha de nome escocês.


 Sirius empinou o queixo.


 - Qualquer pessoa em Hogwarts pode me dizer isso, sabe, isso não te torna a Sabedoria em pessoa.


 - Não é qualquer pessoa que pode te dizer que você construiu um mapa muito útil.


 O garoto estreitou os olhos.


 - Quem diabos é você?


 - E que você anda tendo sonhos estranhos, mas ótimos e perfeitos. Você daria tudo para que virassem realidade.


 Por um momento, Sirius se sentiu estranho. Todos aqueles sonhos, como ele poderia saber? Ele só havia comentado com Remo e James. Nem mesmo Pedro sabia. Os sonhos que embolavam sua mente e só deixavam boas lembranças: corpos suados em uma sala qualquer, milhares de galeões em um cofre no Gringotes, um contrato com um time de quadribol famoso, notas altíssimas sem que ele movesse um dedo. Não que as notas fossem um problema, mas isso era ótimo.


 - O que você quer? – Sirius bradou a varinha mais uma vez.


 - Calma, garoto, eu já te disse que só quero ajudar.


 - Como você pode fazer isso?


 - Qual é a lenda sobre o gênio que você conhece?


 - Eu não esfreguei nenhuma lâmpada idiota.


 - Eu tenho mesmo cara de asiático gordo e azul?


 - Como eu te convoquei, então, diabo?


 - Você andou sob a terra molhada no sétimo dia.


 - Quê?! Você só pode estar inventando. Sétimo dia de quê?


 - Pense...


 Sem a própria vontade, ele pensou. Sétimo dia? Bem, há sete dias haviam ganhado contra a Corvinal.


 - Eu não sei do que está falando. Não há nada de importante.


 - Há sete dias, Black.


 Ele estancou. Há sete dias estava saindo com Marlene. Resistindo àquela enorme tentação de arrancar todas as roupas dela com um puxão só. Sabendo que o sorriso dela iluminava o seu mundo.


 - Ok, tem uma coisa.


 O gênio riu, batendo as mãos gorduchas umas nas outras.


 - Essa coisa de sétimo dia era piada, embora a coisa do mau-tempo seja realmente verdade... – quando ele notou que Sirius estava sério, parou de rir e continuou – em todo caso, você é um escolhido. Está se sentindo estranhamente feliz?


 - Bem, eu...


 - Quer que isso aumente?


 - Como?


 - Seus sonhos. Eles podem se tornar realidade.


 - Meus sonhos?


 - Você é surdo?


 - Eles não são realmente bons. São idealizados, isso é impossível.


 - Não é não. – os olhinhos do homem brilharam – é só você permitir.


 Ele fixou os olhos nos do homem, e pensou perceber qualquer brilho maligno ali, mas decidiu esquecer.


 - E o que você ganha com isso?


 - Liberdade.


 - Liberdade? Da onde?


 - Oras, da onde! Desta escola! Estou preso aqui. Uma maldita bruxinha me lançou uma maldição, mas não vamos tratar disso agora...


 - Porque alguém faria isso?


 - Digamos que... os sonhos das pessoas... são perigosos. – ele quase sussurrou para si mesmo – algumas não agüentam quando a água bate na bunda. Mas isso é irreversível.


 - Está me dizendo que alguém se arrependeu, um dia?


 - Oh, isso foi há muito tempo atrás... – riu o gênio – trezentos anos. Mas os seus sonhos, meu garoto, os seus sonhos são demais. Você é um garoto ambicioso.


 - Está querendo dizer que todos eles podem se tornar realidade?


 - Não.


 - Não?!


 - Ora, menino, é claro que podem, mas só se você quiser, e você não está querendo, então...


 - Não! Eu quero e...


  Sirius sentiu-se cair. Uma luz branca fez todo a noite se iluminar e o homem sumiu da sua frente, e tudo ficou branco como mágica. Bem, na verdade, era mesmo mágica. Ele sentiu algo macio sob si, e fechou os olhos. Não havia mais barulho de chuva, e isso foi terrivelmente desorientador. As roupas pesadas que estava usando lhe causaram calor, e tentou tirá-las de qualquer jeito. Sono. Muito sono. Estava adormecendo ou acordando? Não tinha idéia. Tentou abrir os olhos, onde quer que eles estivessem naquele punhado de sensações estranhas. Uma luz muito forte e em segundos o sol bem na sua frente. Quando se acostumou, ele percebeu que a luz forte vinha de uma janela. Era tudo branco... muito branco... Enfermaria.


 - Auch. – a dor de cabeça fisgou quando ele ergueu-se de supetão.


 - Sirius? – Remo estava do seu lado.


 Ele franziu a sobrancelha, e coçou a cabeça. Estava doendo muito. O que estava acontecendo? Porque havia sol?



 



n.a: woa, que coisa mais gigante. juro que eu procurei alguma parte pra dividir, mas nem achei :/ tapados são foda. ah, e também só pra esclarecer (não sei se isso é bom ou bad), mas esse é o capítulo mais hot de toda a fic, digo, todo esse SM que eu não consigo ressitir (: enfim, muitíssimo obrigada por TODOS os comentários gente! espero que gostem desse cap. apesar das dimensões dele ;D e comentem sobre isso! beijo beijo,
 Nah Black.

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