Capitulo 4



Harry entrou em sua cabine, composta de uma sala e dois dormitórios. Um pertencia a ele e, o outro, a Madison.


 


— Mas o que houve por aqui? — pensou, em voz alta.


 


Um pequeno ciclone parecia ter passado pela cabine, Harry concluiu, olhando ao redor.


 


Gavetas abertas, portas de armário escancaradas, almofadas amontoadas a um canto... Tudo na mais perfeita desordem.


 


— Madison... — Harry deduziu, meneando a cabeça, enquanto um sorriso insinuava-se em seus lábios. — O que será que ela perdeu, desta vez?


 


Era sempre assim, quando Madison procurava um brinquedo, ou uma peça de roupa: em sua busca, ia deixando tudo de pernas para o ar. Ele já a havia repreendido, mas a garotinha não se corrigia.


 


Talvez fosse próprio da idade, Harry pensou, tomado por uma sensação de tristeza.


 


Aquela não era a primeira ocasião, nem seria a última, em que se sentia despreparado para criar a filha.


 


Sozinho, sem ter com quem conversar sobre a educação da menina, Harry muitas vezes ficava confuso. Mas, no fundo, sabia possuir o ingrediente obrigatório para criar uma criança: amor.


 


Afinal, Madison era a razão de sua vida. E com base na profunda estima que tinha por ela, Harry acreditava poder vencer os obstáculos.


 


A propósito, onde estaria Madison?, ele se perguntou, levando a mão à testa.


 


— Droga — resmungou, aborrecido.


 


Tinha deixado a filha na cabine de Gina Weasley. Agora, teria de buscá-la... E deparar-se, uma vez mais, com aquela mulher tão bela quanto obstinada.


 


Não queria se envolver numa nova discussão com Gina. Mas poderia apostar que ela voltaria a bombardeá-lo, com seus argumentos sobre o paradeiro do Isabella.


 


— Papai! — A voz de Madison soou no corredor.


 


Parando junto à porta da cabine, Harry a viu aproximar-se, carregando sua boneca Baby Fifi, de mãos dadas com Gina.


 


Ao observar a cena, ele não pôde evitar um pensamento incômodo: Madison sentia falta de uma presença feminina, em seu mundo... Talvez por isso estivesse recebendo Gina Weasley tão bem.


 


Uma sensação frustrante apossou-se de Harry.


 


"Por mais que eu me esforce", ele concluiu, "por mais que me desdobre para fazer Madison feliz, jamais conseguirei preencher a falta que ela sente da mãe. Jamais..."


 


— Oi, papai, minha nova amiguinha me deu uma bala bem gostosa — Madison anunciou.


 


Harry voltou-se para Gina, com uma expressão severa:


 


— Não gosto que minha filha coma entre as refeições.


 


— Ora, foi apenas uma bala de leite — Gina retrucou.


 


— Mesmo assim, sugiro que você só lhe dê doces após o almoço, ou o jantar.


 


— Sugestão recusada — Gina respondeu, encarando-o com ar de desafio. — Não vejo porque uma simples bala de leite possa prejudicar o apetite ou o desenvolvimento de sua filha.


 


— Santo Deus! — Harry exclamou, entre surpreso e irritado. — Você nunca desiste de um argumento, não é?


 


— Posso dizer o mesmo a seu respeito, capitão — Gina rebateu.


 


— Papai, vou lá na cozinha falar com o Steve, para ver se ele fez um lanche bem gostoso.


 


— Iremos juntos, querida. Mas, antes, diga-me: o que foi que você aprontou, por aqui? — Puxando a filha pela mão, Harry mostrou-lhe o interior da cabine.


 


— Ah, eu estava procurando o sapato da Baby Fifi. — Apontando os pés da bonequinha que carregava, Madison acrescentou: — Já achei... Estava na minha gaveta.


 


— Bem, você armou um pequeno caos, em nossa cabine. Agora, trate de colocar tudo no lugar.


 


— O que é caos, papai?


 


— É isso que você fez, querida — Gina interveio, com um sorriso divertido. — Ou seja: uma bagunça.


 


— Bagunça! — a criança repetiu, rindo.


 


— Isso mesmo — disse Harry. — E depois do lanche a senhorita vai arrumar tudo, certo?


 


— Você me ajuda, papai? — Madison pediu, com uma expressão encantadora.


 


— Não posso, meu bem. Tenho muito trabalho a fazer.


 


— E você, Gina?


 


— Não se deixe abater pelo charme dela — disse Harry, lançando um olhar significativo a Gina. — Madison é uma ditadorazinha de primeira linha. Sempre dá um jeitinho de fazer todo mundo agir exatamente do modo que ela quer.


 


— Bem, eu não serei exceção — disse Gina. E acariciando os cabelos negros da menina, afirmou: — Pode contar comigo, querida.


 


— Oba! — Madison exclamou, radiante.


 


— Como é que se diz, princesinha? — Harry indagou.


 


— Obrigada — a menina respondeu, prontamente. Voltando-se para Gina, repetiu: — Obrigada. Você é muito bonita e boazinha.


 


Gina sorriu, enternecida. E Madison convidou-a:


 


— Vamos lá na cozinha, falar com o Steve?


 


— Claro, meu bem — Gina assentiu, carinhosamente.


 


Os três caminharam pelo corredor, em silêncio. Madison ia no meio, de mãos dadas com ambos.


 


Harry não queria, mas não pôde deixar de imaginar como seria sua vida, se tivesse uma esposa... Alguém com quem poderia dividir a educação de Madison... Com quem poderia construir um novo mundo, sonhar, realizar, dar e receber apoio em todas as horas.


 


Chamando-se de tolo, ele afastou para longe as divagações. Já havia tido um casamento frustrado, em sua vida. E não pretendia repetir a experiência.


 


Depois de deixar a pequena Madison aos cuidados de Steve, na cozinha do Xmarks Explorer, Harry perguntou a Gina:


 


— Você está com fome?


 


— Não, obrigada.


 


— Bem, os horários das refeições estão no quadro de avisos que fica próximo à cabine de comando. Se quiser comer algo, entre uma refeição e outra, é só falar com Steve.


 


— Certo — ela assentiu. — Agora, será que podemos continuar a conversa que você interrompeu de maneira tão abrupta?


 


Harry fitou-a com uma expressão de cansaço. E armando-se de paciência, como se falasse com uma criança, disse:


 


— Escute, Gina Weasley, eu não quero ser rude. Mas tenho muito trabalho a fazer, agora.


 


— Tudo bem, não vou lhe tomar muito tempo. Mas preciso lhe passar minhas coordenadas, a respeito da localização do Isabella


 


— Desculpe, mas não estou interessado. E agora, se não se importa, preciso trabalhar.


 


— Você sempre põe o trabalho em primeiro lugar, não é mesmo? — Antes que ele respondesse, Ginaa acrescentou: — As obrigações profissionais são a prioridade de sua vida... Tanto, que até o fazem esquecer de sua própria filha.


 


Harry franziu o cenho, numa expressão de desagrado.


 


— Será que não podemos nos falar ao menos por um minuto, sem uma troca de insultos?


 


— Foi você quem pediu — Gina retrucou. — De minha parte, estou com a maior boa vontade do mundo. Mas você não é nada razoável.


 


— Veja quem fala! — ele rebateu, imitando o tom de voz de Gina.


 


 


 


(...)


 


 


 


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