Complicações



  N/A - revisado em 07/12/2011


    Depois de longas e por muitas vezes dolorosas semanas de recuperação, o ferimento das costas de Harry finalmente cicatrizara. Quanto mais o moreno progredia, melhor se sentia Hermione. Apesar da culpa que ainda a assolava, o clima de toda a casa havia se tornado mais descontraído, e isso contribuía em sua ajuda psicológica.


 


      Em um dos últimos dias em que Lupim insistira em manter Harry na cama, Hermione foi passar algum tempo com o amigo, hábito adquirido ao longo daquele período. Para sua surpresa e constrangimento, encontrou-o sem camisa, lutando para passar um líquido esverdeado nas costas.


 


      Hermione atribuiu, inconscientemente, o calor que lhe subiu pelo corpo à vergonha. Mas não pode deixar de notar o quanto Harry estava desenvolvido. De fato, ela jamais imaginaria que por baixo das roupas largas ou do uniforme escolar poderia existir tamanho peitoral. Repreendeu-se mentalmente por tais pensamentos inadequados, e apressou-se em justificar:


 


       - Harry, eu... Eu vou esperar você terminar. Depois a gente conversa.


 


       - Hermione – disse ele, também parecendo um tanto constrangido – Eu sei que eu não deveria te pedir isso, mas... você me ajuda? – perguntou Harry, mostrando inocentemente o líquido curativo. A atitude a surpreendeu, mas como poderia negar-se a ajudar o amigo?


 


        - Claro, Harry. Não é problema nenhum.


 


        Contudo, no momento em que Harry lhe entregou o pote e virou-se para exibi-la as costas, Hermione compreendeu o motivo de sua apreensão em requisitar ajuda. Um aperto correu-lhe o coração, e ela mordeu o interior das bochechas com força. A maior parte da pele tinha adquirido um tom vermelho irritado, e feridas eram visíveis. Mas o que mais sensibilizou a garota foi a aparência feia e enrugada do tecido. Aquilo não desapareceria com o tempo.


 


        Harry a olhava pelo canto do olho, preocupado, mas quieto. Hermione passou os dedos delicadamente pela imensa ferida, sentindo com pesar todas as inacabáveis saliências. Umas poucas lágrimas teimosas escaparam de seus olhos e ela abaixou a cabeça, envergonhada. Harry, ainda em silencio, virou-se e acariciou sua cabeça com uma das mãos, puxando-a para um apertado abraço em seguida. A morena afundou em seu peito, soluçando


 


        - Me desculpe. Sabia que não deveria ter te pedido. – murmurou o rapaz, beijando o topo da cabeça de Hermione. Ela fez que não.


 


         - Você não fez nada. Eu é que...


 


         - Shii, Mione, não. Eu já falei para você não se culpar. Foi uma escolha minha – ele forçou Hermione a olhá-lo nos olhos, o rosto entre suas mãos – Fiz isso para te proteger. E eu quero que você saiba, que também me dói muito ver você sofrendo. Tá?


 


         - Tá – concordou Hermione, enxugando as lágrimas. Aquilo tudo mexera demais com ela.


 


          - Então... Você vai me ajudar ou não? – perguntou Harry, com um meio-sorriso inesperadamente travesso nos lábios – Eu sei que você está louca para acariciar meu tronco másculo.


 


          Hermione permitiu-se uma risada contida, levantando as sobrancelhas em desaprovação. Ele fazia de tudo para deixá-la mais feliz. Apesar da culpa ainda cortar suas entranhas, não era capaz de decepcioná-lo. Resolveu entrar na brincadeira.


 


           - E a recíproca é verdadeira, eu aposto – sorriu ela.


 


          - Olha, eu bem que poderia...


 


           - Poderia nada – cortou a morena – Use a sua imaginação. – o rapaz soltou uma sonora gargalhada, e virou-se para que pudesse, enfim, concluir o tratamento de suas costas.


 


 


       Harry acordou cedo na véspera de sua volta a Hogwarts, com a luz do dia que amanhecia batendo em seus olhos. Levantou-se e espreguiçou-se, satisfeito por poder enfim deixar a cama. Levou as mãos às costas, um tanto receoso, mas não incomodado. Não mentira quando dissera a Hermione que não se arrependia.


 


       Era uma espécie de promessa que fizera para si mesmo, alguns anos atrás. Nunca mentir para ela. Ele tinha certeza que, por pior que fosse a verdade, uma mentira a decepcionaria muito mais. E não havia nada que Harry temesse mais do que não estar a altura de suas expectativas, ou magoá-la.


 


        Sorriu levemente ao lembrar-se do sonho que tivera naquela noite. Fora um tanto bizarro, era verdade. Nele, Harry estava procurando por alguém, com desespero. Hermione. Estava em Hogwarts, e os corredores estavam assustadoramente vazios. Afastou a projeção que tal cenário fazia da Grande Guerra. Então, em certo ponto, Harry virava um corredor e a via, correndo em sua direção, sorrindo em meio à escuridão. Uma grande emoção invadiu seu peito, e ele teve a nítida sensação de que algo muito bom aconteceria a seguir. Contudo, ele acordou.


 


          Estava razoavelmente irritado com si mesmo por acordar exatamente naquele momento. Apesar de não ter a menor idéia do que aconteceria, a impressão que tinha era que ficaria muito satisfeito. De súbito, uma idéia lhe ocorreu, mas ele rapidamente a afastou. Entretanto, afastá-la foi em vão.


         Nas ultimas semanas Hermione tornara-se muito próxima dele, era verdade. Mas a relação entre os fatos era óbvia: atribuía isso ao acidente. Porem, se parasse para pensar, podia sentir algo mais ali. Alguma espécie de carinho nunca vista entre os dois, mas que tornava-se mais forte a cada dia. Ele nunca se sentira tão confortável ao seu lado, tão seguro de si. Nunca desejara tão intensamente a companhia de alguém, sua atenção, seu carinho, seu toque. Aquilo era muito estranho, mas o fazia sentir bem. 


 


           Como que para confirmar uma suspeita que começava a tomar forma no fundo de sua mente, Harry ouviu alguém passar levemente, sem a intenção de fazer barulho. Abriu a porta devagar, para não chamar a atenção de ninguém. Foi suficientemente rápido para ver uma ponta de robbie rosa terminar de virar o corredor. Ele sorriu.


 


            Esforçou-se para não chamar atenção, descendo o mais sorrateiramente que pode as escadas. Foi inútil. No meio de seu caminho, seus ouvidos foram feridos por um barulho agudo de algo partindo-se contra o chão. Apressou o passo e adentrou na cozinha, encontrando uma Hermione perplexa diante de um imenso caldeirão fragmentada em cinco.


 


            - Hermione! – exclamou, baixinho.


 


             - Eh... desculpe,eu...Reparo! – apressou-se a dizer. Parecia envergonhada. – Harry, quer parar de rir! – ralhou ela. Harry estava rindo com o estado desconcertado da amiga.


 


              - Ok. Desculpe – disse, contendo-se. Por um momento que ficou suspenso no ar, os dois apenas se olharam, querendo e não querendo ao mesmo tempo dizer algo. A iniciativa foi dele – O que diabos aconteceu?


 


            - Não sei, eu estava aqui, procurando uma frigideira, e quando eu abri o armário esse caldeirão praticamente pulou para cima de mim! – justificou-se novamente, fazendo o moreno voltar a rir discretamente. Ela fuzilou-o com o olhar, e encaminhou-se com mais cautela em direção a porta, onde apanhou o jornal. Harry, por sua vez, adiantou-se para preparar seu café-da-manhã.


 


             - Você quer alguma coisa? – perguntou, dirigindo-se a Hermione.


 


             - Era a minha intenção fritar alguns ovos – disse a garota.


 


             - Imaginei. Acho que vou fazer o mesmo – concordou ele – Mas deixe que eu faço para você.


 


             - Hã... obrigada – disse ela, parecendo novamente desconcertada. Harry sorriu começou a preparar os ovos.  


 


             Os dois se sentaram juntos e comeram silenciosamente. Hermione foi a primeira a terminar e então se dedicou totalmente à leitura do jornal. Depois de alguns minutos, Hermione levou as mãos à boca, surpresa.


 


             - Harry, você já viu isso?! – perguntou, um tanto temerosa. Harry, preocupado, tirou rapidamente o jornal de suas mãos e sentiu o queixo cair ao examinar a foto.


 


              A casa de seus tios, que por tanto tempo fora também sua, estava em ruínas. Apenas parte das fundações continuava de pé. Pela aparência escurecida das vigas de metal, ele diria que tinha sido incendiada. Não havia sequer vestígios de qualquer móvel da casa. Pelo canto do olho, Harry percebeu que Hermione examinava aflita sua reação.


 


               Mas havia mais. A manchete da noticia da foto anunciava o desastre: ”Residência de parentes de Harry Potter é destruída durante a madrugada”. Logo abaixo, a notícia confirmava suas suspeitas: houvera um incêndio. Uma pontada de remorso correu seu peito, e aparentemente, aquilo transpareceu em seu rosto.


 


              - Harry, está tudo bem? – perguntou Hermione.


 


                - Está. – mentiu, suspirando – Meus tios vão me matar. Com razão, diga-se de passagem.


 


                 - É óbvio que ninguém vai ficar feliz, mas... olhe o estado da casa. Ninguém teria tido o tato de mandá-los sair. Provavelmente estariam mortos a essa hora se não fosse por você. Aliás... – interrompeu-se, parecendo se dar conta de algo. Sua expressão deixou transparecer traços de pavor. – Não só eles, como você também.


 


               Uma rápida olhada em sua expressão permitiu a Harry identificar o quanto aquela perspectiva a assustava. O assustava também, tinha de admitir. Porém, antes que pudesse dizer qualquer coisa, Valter entrou sonoramente na cozinha. Ele o olhou desconfiado, e depois mirou o jornal em suas mãos.


 


 


              - Alguma coisa aí que eu deva saber – disparou, mortal. Harry prendeu a respiração.


 


            - Você não pode esconder isso deles, Harry – disse a garota, parecendo um pouco temerosa. – Acontece que... – ela hesitou por um instante.


 


                - Você vai me dizer o que é, pivete – perguntou Valter, ficando vermelho de raiva – AGORA!


 


                 Hermione pareceu um pouco assustada com a súbita ira do homem. Harry, querendo evitar acidentes, ao mesmo tempo que perdendo a paciência por Valter ter tratado Hermione tão mal, disse:


 


               - Sua casa foi destruída por comensais da morte. Veja – e estendeu o jornal para ele ver.


 


                 - Ora seu... EU VOU TE MATAR, SEU MOLEQUE PROBLEMATICO! – urrou ele, adiantando-se em direção a mesa e, com uma agilidade incompatível com seu corpo, agarrando um prato. Harry saltou da cadeira, enquanto Valter o atirava em sua direção. Ele se encolheu e ergueu os braços para proteger o rosto. Hermione gritou quando o prato o atingiu e se partiu, rasgando sua pele. Imediatamente, o sangue começou a fluir livremente, sujando o chão em poucos segundos.


 


          - Harry! – gritou Hermione, apavorada – Por que fez isso seu...seu animal! – ela cuspia cada palavra.


 


           - MINHA CASA ESTÁ DESTRUIDA POR CAUSA DESSE DESGRAÇADO! – disse, pegando outro prato para jogar nela. Ela gritou e se encolheu contra a parede, encurralada.



          - Você não vai fazer isso! – gritou Harry e, com um movimento rápido da varinha, fez o tio ser lançado contra a parede. Ao mesmo tempo, Lupim e Tonks irrompiam pela porta escancarada, e apressaram-se em segura-lo. O restante dos habitantes da casa apareceram em seguida, perplexos. Petúnia foi a ultima a aparecer.


               - Valter, por favor, se acalme! – gritou ela, histérica.


 


              - NOSSA CASA! Nossa casa, Petúnia! – urrava ele.


 


               Harry e Rony correram para onde Hermione estava ainda encolhida, cabeça entre os braços. O moreno agachou-se ao seu lado e, ao tocá-la, percebeu que tremia. Amaldiçoou com todas as suas forças sua vida e aquela maldita família.


 


              - Você está bem? - perguntaram os dois em uníssono.


 


              - Estou... Estou Rony – disse ela, parecendo um pouco menos assustada – Mas e você, Harry? Veja seu braço!


 


            - Não é nada demais – disse – Aquela família já me fez coisas piores. Venha, levante-se. – murmurou, ajudando-a. – Me desculpe por isso.


 


             - Não foi sua culpa – respondeu Hermione, sincera.


 


              Levou algum tempo para que Valter parasse de xingar e Petúnia de chorar. Tonks havia feito um bom trabalho com seu braço, que agora estava imobilizado. A cozinha, porem, não poderia ser ajeitada com tanta facilidade. Havia panelas quebradas, sangue no chão, pratos e copos estilhaçados, além de um leve amassado na parede em que Valter tinha se chocado.


 


                     - Seu tio é sempre... explosivo assim? – perguntou Rony.


 


                     - É – respondeu o garoto – Acho que agora você sabe por que odeio férias de verão.


 


                     - Pode crer – disse Rony.


 


                     Harry, por ser responsável por parte do estrago, ajudou a consertar parte da cozinha. Ele restaurou pratos, talheres e copos, alem de ajeitar uma estante que tinha se soldado. Para sua surpresa, Duda veio falar com ele pouco tempo depois.


 


                      - Eh... Harry? – perguntou ele.


 


                      - O que foi Duda?


 


                      - Eu... queria pedir....desculpas pelo meu pai. – ele lutava para dizer cada palavra – Você sabe, ele é meio... impulsivo.


 


                   Harry, para não parecer antipático, tentou sorrir. Para falar a verdade, dos três Dursleys Duda era o que mais o agradava de uns tempos para cá. É claro, Harry não poderia esquecer os diversos castigos e surras que ele já provocara, mas, ao que parece, Duda estava mudando, apesar de ainda parecer o porco de sempre.


 


                      Aos poucos, a paz se restabeleceu e Harry pode finalmente terminar de comer. Depois, Rony sugeriu um passeio em um parque próximo.


 


                      - Podem ir – disse o Sr. Weasley – Mas cuidado para que nenhum trouxa os veja saindo ou entrando.


 


 


 


                      Os três caminharam calmamente pelas ruas vazias. A brisa soprava de leve, fazendo algumas folhas rolarem pelo chão. Como era de se esperar, o parque também estava vazio. Sentaram-se em um banco no meio da praça, ainda em silencio.


 


 


                        - O tempo esta quente, não? – disse Rony, para quebrar o gelo.


 


                        - É... – respondeu Harry, vagamente.


 


                        - Qual é Harry? O que há com você? – perguntou Rony.


 


                        - Só estou um pouco... Preocupado – respondeu ele.


 


                        - Isso mexeu com você, não foi? Voldemort te preocupa – perguntou Hermione, ignorando a careta do ruivo ao seu lado.


 


                        - De certa forma, sim – respondeu – Me preocupo com Hogwarts. Apesar de acreditar que os professores estão tratando de protegê-la, estará mais vulnerável sem...


 


                        - Sem Dumbledore – completou Hermione.


 


                        - Isso – disse.


 


                        - Não precisamos pensar nisso agora – disse Rony – É o ano dos N.I.E.Ms! Vamos nos formar no fim do ano e vocês ficam ai pensando em desgraça!


 


                        - Ok – disse Harry – vou tentar não me preocupar mais.


 


                        Rony estava certo. Não valia a pena sofrer por antecedência. Apesar de saber que dias difíceis estavam por vir, que o confronto final entre ele o Voldemort se aproximava, cada vez mais perto no horizonte, ainda restava um raiozinho de esperança, que era poder, enfim, se formar. E era isso que importava no momento

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