Explicaçoes



  N/A: Revisado e repostado em 19/06/2011

    Harry Potter acordou com as costumeiras três batidinhas na porta. Tia Petúnia, que o acordava religiosamente daquela forma há quase 16 anos, não se demorou a frente do quarto. Provavelmente, tinha coisas mais importantes a fazer, como lixar as unhas ou preparar o café-da-manhã de Duda. Penosamente como de costume, levantou-se e foi até o banheiro, onde lavou o rosto. Pescou uma roupa qualquer do armário e se vestiu, dando as habituais duas ou três dobras nas mangas da camiseta grande demais para ele. Quando se encaminhava para a cozinha, surpreendeu-se ao encontrar os três Dursleys aguardando-o no pé da escada.


     - Garoto – disse Valter, um tanto impaciente – Queremos saber o que está acontecendo.


     - Acontecendo onde? – Harry indagou, curioso.


     - Acontecendo, pombas, você sabe. Com o pessoal da sua laia. Você e um tal de Vol-de-morte...não, Vody-mor... Você entendeu – respondeu o tio, fingindo esforço para se lembrar do nome correto, quando na verdade estava cauteloso para não pronunciar o nome correto. Já se sentia metido demais naquela história.


      - Voldemort – corrigiu, quase automaticamente. Na verdade, a pergunta que pulsava em sua cabeça era “O que diabo eles querem com isso?”. Mas, sob a perspectiva iminente de levar um soco, o que disse foi apenas – O que há com ele?


       - Chegou essa carta, hoje, mais cedo – disse Petúnia, tomando o lugar do marido. Talvez por impulso, talvez por ansiedade,ou talvez por achar que Valter poderia dizer alguma besteira. Para ser franco, nunca se preocupara em entender os tios. Uma vez que sua opinião costuma mudar com mais freqüência do que trocavam de roupa, se Harry se dispusesse a acompanhar, ficaria louco.


         Petúnia lhe estendeu a carta. Embora o selo estivesse rompido, ainda era possível identificar o símbolo como uma Marca Negra. E isso o deixou preocupado. Muito preocupado.


 


        Dursleys,


    Sei que abrigam Potter em sua casa. Sei, também, que ambos vêm de famílias prósperas. Em termos mais coloquiais, sei que reconhecem uma boa oportunidade quando a vêem. Qual é o preço da paz de sua família? Qual é o preço da vida de cada um de vocês? Na verdade, meu pedido é até modesto: quero Potter. Quero que vocês o entreguem a mim. Do contrário, não garanto mais nada. Do contrário, matarei todos vocês. Pessoalmente.


 


                                                     Riddle


 


           Harry releu a carta, perplexo. Estupefato. Desde quando Voldemort manda cartas em forma de ameaça aos seus tios? Desde quando assina como Riddle? O nome do pai trouxa sempre era tratado com repulsa por ele. Mas sua consciência lhe dizia que aquilo era assunto para mais tarde. A situação era grave.


           Sem perceber, havia virado de costas para os tios e o primo, quando fora ler a carta. Pegou-se fitando o papel de parede vermelho e branco dos Dursleys, com apenas uma pergunta martelando insistentemente em sua mente: E agora? Virou-se e deu-se com a expressão de surpresa e confusão dos parentes. Teria de explicar tudo a eles, mas não agora.


            - Rápido, subam, subam – murmurou, subindo três degraus de cada vez. Os tios permaneceram no mesmo lugar, até Harry virar-se e, com um gesto energético e impaciente, mandar eles se apressarem – Rápido!


            Foi até sua escrivaninha. Demorou a achar uma pena e um pergaminho, e amaldiçoou mentalmente o tempo que estava perdendo. Assim que conseguiu tudo que precisava, endereçou a carta a Rony:


               Fale para seu pai que preciso de ajuda. Acho que estamos todos com um problema sério. Voldemort enviou uma carta aos meus tios. Ele ameaçava matá-los se não me entregassem a ele. Minha opinião é que estamos em perigo, e precisamos ir para um lugar seguro o mais rápido possível. Estou sem tempo agora, então me faça um favor e avise Hermione por mim. Seja lá qual decisão tomarem, lembre-se de priorizar a segurança de todos. Cuidado.


 


                                     Harry


 


             Valter estava visivelmente impaciente. Trocava o peso de uma perna para a outra, entrelaçava os dedos. Petúnia mordia os lábios com tanta força que poderiam começar a sangrar. Como nenhum dos dois ousava dar um passo para dentro do quarto, como se fosse contaminado, Duda encontrava-se espremido entre os pais, pálido.   


             - Vamos, garoto! – gritou Valter – Explique o que está havendo, pombas!


             Harry suspirou, cansado, apesar de seu dia ter tecnicamente começado há apenas alguns minutos. Sabia que o momento de contar a eles tudo chegaria, mais cedo ou mais tarde, mas gostaria de protelar com isso o máximo possível. Era... complicado. Teria de lidar com a reação deles, que provavelmente o irritariam muito.


              - Aquele que assina como Riddle foi o assassino de meus pais. Ele tentou me matar também, as obviamente não conseguiu, na época. Há algum tempo, mais especificamente há quase três anos, ele conseguiu se restabelecer, e quer terminar o trabalho. Provavelmente acredita que, subornando vocês, conseguirá o que quer por meios mais fáceis. – disse, enquanto amarrava a carta em sua coruja – Vá, Edwiges, leve essa carta à Toca. O mais rápido que puder, é urgente – o animal deu uma bicada carinhosa em sua orelha, antes de alçar vôo e cruzar, veloz, o dia que amanhecia. – Ele fala que matará vocês, e eu não duvido que ele o faça.


              - Mas então só temos uma alternativa! – gritou Valter.


              - Você não entendeu o que eu disse. Ele vai matar vocês de qualquer jeito. Não importa se fizerem exatamente o que ele quer. Não é assim que ele age. Ele não poupa ninguém por benevolência ou gratidão. – disse o moreno, sério, olhando fixamente para eles – Por isso, essa carta. Ela pede auxilio a alguns amigos, a fim de que nos levem a um local seguro. Talvez isso aconteça ainda hoje.


               - Esse homem... Voldemort... eu não entendo. Ele é completamente obcecado por você – disse Petúnia. Harry a olhou longamente.


                - Como você...?


                - Não sou completamente ignorante nesse assunto, Harry. Sempre tive uma irmã bruxa, se lembra? O modelo de perfeição da família. Apesar de tudo, nós mantemos contato até pouco antes de ela morrer. Ele já os estava perseguindo – esclareceu Petúnia, abaixando os olhos, como se estivesse envergonhada do contato que mantinha com Lilian. Isso deixou Harry com raiva. Mas também explicava muita coisa.


                 - Acho que quase completamente ignorante seria um termo mais adequado – rosnou ele, mas decidiu que já estava na hora de contar-lhes tudo. Se iriam conviver por algum tempo em seu mundo, teriam de conhecer sua história. – Escutem. Esse bruxo, há muitos anos atrás, era considerado o maior e mais poderoso bruxo do mal que já existiu. Ele, em seu momento de maior poder, tomou conhecimento de uma profecia, que contava que nasceria uma pessoa capaz de derrotá-lo. Temendo por sua queda, ele foi mais a fundo e chegou a dois nomes: o meu, e o de outro garoto, Neville Longbotton. Ambos tínhamos tendência a sermos bruxos excepcionais, os pais sendo quem eram. Contudo, ele me escolheu. Não tenho a menor idéia do por que. Certa noite, invadiu nossa casa, e matou meu pai – Harry percebeu que os três Dursleys pareciam perplexos, provavelmente pela quantidade de detalhes que ele conhecia – Em seguida, subiu até o segundo andar da casa, onde eu estava, com minha mãe. Ela me protegeu com o corpo. Ficou parada a minha frente. – Harry fez uma pausa. Aproximava-se da parte desagradável. – Voldemort disse que ela não precisava morrer. Que ele só queria a mim. Mas ela se recusou a me abandonar. Então, ele a matou.


                     - Mas você não morreu – disse Duda, voz se elevando acima dos pais. Ao fitá-lo, Harry se surpreendeu com o tipo de reação que ele estava tendo. Parecia penalizado – Como ele não conseguiu te matar?


                    - É simples, Duda – disse Harry – Foi o amor. O amor de minha mãe por mim foi grande o suficiente para que ela se recusasse a fugir. Morresse por mim. Ela criou uma barreira mais forte do que qualquer feitiço. Quando Voldemort tentou me matar, o feitiço voltou-se contra ele, reduzindo-o a quase um fantasma, mas sem matá-lo de fato. Essa é a origem da minha cicatriz – disse, passando o dedo levemente por ela. A famosa cicatriz de Harry Potter era, afinal, fruto de um erro. Um feitiço que não teve o efeito esperado.


                       - Mas como você conseguiu sobreviver? – perguntou Duda.


                       - Quando mais jovem, Voldemort, ainda conhecido como Riddle, rompeu sua alma em sete partes. Eu sei que é estranho, mas acreditem, é possível.  – acrescentou, notando o assombro no rosto de cada um deles – Cada parte dela ficou guardada em um objeto. Por isso ele não morreu. Sua alma ainda não havia sido completamente destruída.     


                     Os quatro ficaram em silencio. Ou melhor, os três, e ele. “Os quatro” dava a impressão de serem uma família, unida. Nunca havia sido parte dela, mesmo morando por toda a sua vida com eles. Não lhe agradava ter de contar sua historia a eles, não lhe agradava mostrar a eles sua parte vulnerável, de onde havia vindo, como havia parado ali. Queria ficar sozinho novamente. Na verdade, queria não ter acordado ainda, para que esse dia infernal não começasse. Mas, àquela altura, não poderia fazer mais nada, alem do possível para que tudo desse certo. Para que, quando o dia terminasse, ainda estivesse vivo.


 


                  Já era noite, e Edwiges ainda não voltara. Isso o preocupava. Harry, ativo, ia e voltava pelo quarto, a cada segundo mais nervoso. “E” e “se” eram tão poderosas quanto duas palavras poderiam ser. Mas quando colocadas juntas... E se... O efeito era devastador. As possibilidades atormentavam sua mente inquieta. Ele deitava na cama, levantava, remexia nas gavetas, as fechava com igual rapidez, ia até o banheiro lavar o rosto, e, quando voltava ao quarto, fazia tudo de novo. Aquilo já o estava deixando maluco.


                 Os Dursleys ainda estavam muito surpresos, ou ao menos aparentavam. Naquele momento, assistiam televisão na sala de estar, quietos. Duda era o único que realmente prestava atenção. O casal sequer poderia dizer o que estavam assistindo, tão absortos em seus próprios pensamentos. Harry, a meio segundo de abrir a gaveta pela décima vez, teve um sobressalto ao ouvir um barulho na cozinha.


                  Um outro baque, dessa vez mais audível, fez as luzes se apagarem. Harry, sinceramente temeroso agora, acendeu sua varinha e desceu as escadas, em busca dos parentes.


                 Os três estavam congelados na mesma posição. Duda, encolhido numa poltrona, fitava com os olhos apavorados a televisão, que emitia um barulho estático. Valter, aparentemente, tivera tempo de se levantar antes das luzes se apagarem: estava a meio caminho da cozinha, ainda paralisado de medo entre uma passada e outra. Petúnia cobria a boca com as duas mãos, olhos arregalados, mas ao mesmo tempo alertas.


                    Quando a luz da varinha os iluminou, Valter fez menção de dizer algo. Harry levou o dedo aos lábios, querendo manter o silencio. Escutou com atenção por um momento e concluiu que o barulho, o que quer que fosse, havia partido da cozinha.


                   Harry andou, o mais silenciosamente que pode, em direção ao aposento. Os parentes o seguiram, também zelando pelo silencio. Entretanto, o rapaz achava perigoso para eles o seguirem. Quando chegaram à porta da cozinha, ele fez sinal para que o aguardassem do lado de fora, quietos.


                    Raciocinou por um segundo. Era perigoso demais entrar no local com a varinha acesa, uma vez que seria fácil identificá-lo e, conseqüentemente, atingi-lo. O mais prudente seria apagar a varinha, mas então como enxergaria na escuridão? Ponderou, pesando os dois lados, e resolveu que iria arriscar não enxergar seu inimigo. Com um gesto, a luz sumiu, e a casa mergulhou na escuridão novamente.


                   A luz do luar entrava, fraca, pela única janela do cômodo. Mas já era o suficiente para Harry distinguir uma sombra se movimentando junto à dispensa. Apontando a varinha nessa direção, sussurrou mentalmente: Rictusempra!


                   Houve um baque e um grito. A voz era feminina, aveludada e familiar. Familiar demais para ser algum Comensal que já tivesse encontrado por aí. Acendeu novamente a varinha e, para sua surpresa, encontrou Hermione estatelada no chão, em meio à grande quantidade de panelas e recipientes de metal que Petúnia utilizava para cozinhar. Adiantou-se, a fim de ajudá-la.


                   - Hermione! – exclamou – Desculpe, não podia imaginar que era você!


                   - Sem. ai... sem problema, Harry. Entendi sua situação. Alem do mais... não me machucou – disse ela, levantando-se. Arrumou as vestes, recolheu sua varinha do chão e ergueu a cabeça, mirando-o.


                    - É bom te ver, Mione – disse Harry, fitando-a. Era realmente muito bom vê-la naquele momento. Hermione, quando ele precisara, sempre viera em seu auxilio. Dessa vez não poderia ser diferente. Ela sorriu.


                   - Eu concordo... Seus tios estão aí? – perguntou, mirando duvidosa a porta a sua frente.


                  - Sim – respondeu. Harry foi até o interruptor e descobriu que a ausência de luz fora passageira. Iluminou a casa o máximo que pode, para então chamá-los. – Podem vir, está tudo bem. Eu disse que alguém viria. É apenas uma amiga.


                  Os três aproximaram-se devagar, apreensivos. Provavelmente haviam escutado toda a conversa. Hermione, muito sem graça, perguntou:


                 - Eh... Como vão?


- Não muito bem, já que estamos sendo aparentemente sendo expulsos de nossa própria casa por um lunático, apenas pelo fato de termos feito exatamente o que seu povo nos mandou fazer. – respondeu Valter, cuspindo as palavras com tamanha impaciência que surpreendeu até mesmo Harry, acostumado com a grosseria do tio.


 


                    - Valter! – censurou Petúnia – Desculpe... Tão bem quanto o possível, obrigada.


 


                Harry e Hermione trocaram olhares significativos. Quando o moreno descrevia seus tios para ela, não acreditava que pudesse ser tão estranho. Agora sabia do que ela estava falando. Parecia que ela era algum tipo de vírus... Mesmo que Petúnia tivesse tentado ser educada, era visível a repulsa em seu olhar.


                - A remoção... é para a segurança de vocês – disse Hermione – Vocês tem uma lareira?


               - Sim, mas está bloqueada – explicou Harry – Eles usam fogo elétrico.


 


                - Isso pode ser um problema. Posso dar uma olhada? – perguntou a garota. Harry assentiu e a levou até lá.


 


                   Hermione examinou a lareira cuidadosamente por alguns instantes. Depois disse:


 


                   - Não tem jeito. Teremos que arrombar. – disse Hermione. Harry sacou a varinha, mas ela o deteve.


 


                   - É melhor que eu faça isso, Harry – ela disse – você ainda não é maior de idade. – Harry assentiu, um tanto relutante.


 


                   - Vamos lá... Bombada! – Parte da lareira explodiu, jogando destroços por toda a casa. Alguns tijolos que voaram quebraram objetos. Petúnia deu um salto para trás, imediatamente arrependida por sua educação. Hermione pareceu envergonhada.


 


                   - Hum...belo feitiço. – Harry disse, examinando os destroços – Está com o pó de flu?


 


                   - Quem disse que vamos pela lareira? – ela sorriu.


 


                   - Mas então você a explodiu para que, criatura?! – perguntou Harry, encabulado.


 


                   - Pense. Há Comensais da Morte vigiando esta casa. É para eles pensarem que vamos com o pó de flu, quando na verdade iremos voando. – ela disse.


                  


                    - E eles não irão nos ver? – perguntou o moreno.


 


                   – Assim você questiona a minha inteligência. Pensamos em tudo. Agora vamos sair, temos que mandar um sinal a Tonks.


 


                   - Mas e as nossas coisas? – perguntou Petúnia.


 


                   - Alguns membros da Ordem virão pegar depois que estivermos seguros no Largo Grimmauld. – respondeu ela.


 


                   Os cinco então saíram para o jardim dos fundos, onde Hermione lançou fagulhas vermelhas no ar.


 


                   - Teremos que usar um feitiço de desilusão – ela falou, lançando-o sobre si mesma. Harry fez o mesmo nele e em seus tios. Duda relutava muito em deixar que alguém lançasse um feitiço nele, e corria com as mãos apertando o imenso traseiro.


 


                   - Ele é sempre assim? – Hermione perguntou, diante daquela cena bizarra. Harry riu.


 


                  - Duda tem um pouco de paranóia com feitiços – Harry disse – Você tem algo para comer? – sussurrou em seu ouvido.


 


                  - Tenho uma barra de cereal de chocolate – falou, estranhando o pedido.


 


                  - Você se importa se eu pegar? – perguntou Harry.


 


                  - Não... Mas por quê? Fome numa hora dessas, Harry? – ela perguntou, entregando-lhe a barra.


 


                  - Você verá – disse. Então levantou a voz – Duda! Venha cá, eu quero te dar uma coisa! – disse, mostrando a barra. A varinha ficou escondida atrás das costas. Duda então se aproximou e perguntou:


 


                  - De que é?


 


                  - Chocolate – Duda já estava estendendo suas mãos gordas para a barra quando Harry disse – Só dou para você se me deixar lançar o feitiço.


 


                  Ele pareceu pensar por um segundo e depois disse:


 


                  - Tá bom... Mas veja bem o que você vai fazer. – Hermione lançou o feitiço nele, que se examinou, apreensivo. – Aqui está, Duda - Harry disse, em quanto Hermione sorria.


 


                  - Essa é a sua técnica? – ela perguntou. Harry ia responder, mas uma voz vinda de trás deles antecipou suas palavras.


 


                  - É realmente uma ótima técnica – eles se viraram e viram Lupim, Tonks e o Sr. Weasley, sorrindo diante da situação.

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