É ferida que dói e não se sent

É ferida que dói e não se sent



É ferida que dói e não se sente...

Ele quebrara o contato visual e saira da biblioteca de um jeito quase tão atordoado quanto o que eu estava. Pouco depois, quando estava melhor recuperada, também sai. Deixei meu livro no dormitório e segui para o salão principal para jantar. Marlene e Lana me esperavam lá, e como sempre, guardaram um lugar para mim.
Me sentei e corri os olhos pela mesa, procurando a fonte de minha inquietação. Tão logo achei fui cutucada por Lana: 
- Lily! Lily! O QUE você está fazendo?
Várias cabeças viraram para nos encarar. A dele era uma delas, como pude constatar.
- Nada, ué. Tava pensando na vida...
- Sei, pensando na sua vida com J...- tambei sua boca antes que ela dissesse mais alguma coisa.
- Não, tava pensando na ronda que tenho que fazer hoje!
Voltei minha atenção para o prato e aos poucos, todos fizeram o mesmo.

*

Existe alguma coisa mais tediosa do que fazer ronda noturna sozinha? Quando o Remus tá comigo pelo menos inventamos jeitos idiotas, como "detetive", para pegarmos os alunos 'fugitivos' e os colocarmos em detenção. Sozinha, entretanto, tenho tempo demais para pensar, o que é ruim. Muito ruim. 
Quanto mais pensasse, menos decisões tomaria. Ou tomaria várias, porém, nenhuma decididamente boa, ou levente arriscada. Bom, esse era meu temperamento. Minha mãe uma vez me disse que sou esquisita, porque ao invés de pensar duas vezes para fazer uma coisa, como as pessoas normais fazem, eu penso quatro. E assim sucetivamente.
Ouvi um barulho e fui checar. 
Qual foi minha surpresa ao ver Potter agarrado com ninguém menos que Lana Bones. Dei detenção a âmbos. Quando sai de lá, porém, eu desabei. Não sei o porque, mas meu coração sangrava. Para mim, as tarefas de monitoria tinham acabado por esta noite. Agora desejava mais que tudo ser apenas Evans. Lily Evans.
Sentei no chão, escostando na parede, abracei meus joelhos, ficando como uma bolinha, e então chorei.
 Até parece coisa de segundo ano...sem promessas, sem beijos, ao simples toque e olhar, despertar o amor. Era por isso que não queria me apaixonar: Porque sofrer faz parte do amor.
Merlim! Como pude pensar que ele iria querer algo comigo?! Como a Lana pôde?! Havia dito pra ela como me sentia!
Agora estava feito.
- Eu sequer sei porque estou assim! - choro mais forte - Quer dizer...ele é só o Potter! Aquele que desprezo, aquele que se acha, aquele que eu... - soluço - amo, ainda que não seja recíproco...Ai, Merlim! Como pude ser tão idiota?!
                                                                                    ***



Perturbado, quebrei o contato visual e sai da biblioteca. Ela, fiquei feliz em constatar, estava tão atordoada quanto eu. Passei a mão nos cabelos inconscientemente e ri, lembrando do quão brava ela ficava quando eu fazia isso. Merlim, só posso estar ficando doido!
Segui para o salão principal e me sentei do lado de Padfoot, que disparou a rir.
- Que foi? - pergunto olhando ao redor.
- Olha a cara dele! - ele responde apontando pra mim. Moony e Wormtail começam a rir também.
- O que tem de errado com a minha cara? - pergunto.
- Você tá parecendo um bobo alegre, Prongs! - respondem todos juntos.
Mostrei a lingua pra eles e acompanhei com o olhar, ainda disfarçando, a ruiva tomar seu lugar perto de suas amigas.Voltei a atenção para meu prato, quando escutei: 
- Lily! Lily! O QUE você está fazendo?
A ruiva cora e responde:
- Nada, ué. Tava pensando na vida...
Sorri. Era só conversa entre amigas. Não deveria estar tentando ouvir...
- Sei, pensando na sua vida com o J... - olhei novamente. A vida dela com QUEM?
Lily estava tampando a boca de Lana pra que ela não falasse mais nada e retrucou:
- Não, tava pensando na ronda que tenho que fazer hoje! - e voltou sua atenção para o prato.
Olhei mais alguns instantes pra ela, e logo após também abaixei minha cabeça, invejando o sortudo que teria o coração da ruiva.

*

Quando estava voltando para o dormitório, ainda estava pensando na ruiva dos olhos mais verdes que já havia visto, na garota que ofuscaria qualquer outra, em todos os sentidos.
De repente, a amiga que Lily estava falando no jantar, Lana, chega perto de mim e diz que precisa falar comigo urgentemente. Meu coração deu um pulo. Será que era eu?! Será que eu havia roubado o coração da ruiva como ela havia roubado o meu?! A segui.
Lana foi para o segundo andar e então me beijou. Segurei a cintura dela para puxá-la para longe e então ouvi:
- Detenção Potter e Bones.
Lana olha pra mim e sorri, e então olho para Lily: seus olhos estavam cheios de decepção e eu vi uma pequena e fina lágrima começar a cair quando ela se virou e saiu. Minha voz parecia ter sido sugada, faltava alguma coisa em mim.
Sai correndo atrás dela, peguei uma passagem secreta e me sentei um pouco mais a frente de onde seus pés pararam. Sentei, esperando ela passar para me redimir, mas fiquei escondido, sabendo que ela precisaria de um tempo.
Foi quando a escutei soluçar, foi quando olhei pra ela, enrolada como uma bola, que eu senti meu coração apertado e descobri de onde o vazio vinha. Doia ver ela assim.
- O que você pensa que eu fiz? - sussurrei e percebi que a tristeza que ela sentia, eu também sentia.
- Eu sequer sei porque estou assim! - diz Lily chorando um pouco mais forte - Quer dizer...ele é só o Potter! Aquele que desprezo, aquele que se acha, aquele que eu...- ela soluça alto - amo, ainda que não seja recíproco...Ai, Merlim! Como pude ser tão idiota?!
- Ah, ruiva! Talvez seja recíproco! Você causou algo em mim que ninguém nunca causou antes! Você me faz sentir triste por estar triste! É...acho que isso é amor! - sussurrei afundando minha cabeça em meus joelhos. 

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