Anjo imaculado



Ela é tão linda. Parece um anjo a dormir aqui ao meu lado. É incrível como dorme profundamente, como se sente segura assim a dormir ao meu lado coberta apenas por um lençol. Não deve haver no mundo tamanha beleza comparada a ela. Pois nem o fogo é tão ardente como o ruivo dos seus cabelos assim como o mar não é tão profundo como o azul dos seus olhos. Tudo nela é perfeito, a cara de anjo salpicada por sardas disformes e o corpo esbelto como se alguém se tivesse dado ao trabalho de o esculpir e limpar todas as arestas. Mesmo a dormir pareço ver desenhado no seu rosto um sorriso. Aquele sorriso tão puro e ingénuo assim como tudo nela. Dói-me o coração por saber que a vou magoar.


Ela foi a única que sempre confiou em mim. Quando entrei na escola, sempre fui visto de lado. Ninguém confiaria num Malfoy, mas ela confiou. Entregou-me o seu coração e a sua amizade, contra tudo e contra todos. Defendeu-me de todos aqueles que me repugnavam, mesmo alguns sendo da sua família. Ela julgou-me por aquilo que eu era e não pelo meu nome e foi isso que mais admirei nela. Passou a ser a minha melhor amiga, confidente e mais tarde namorada. Contra todo o mundo, ficámos juntos. Contra as nossas famílias e os nossos amigos. Foram tantas as vezes que lhe perguntei se ela me queria deixar mas ela dizia sempre que não. Dizia que o nosso amor superaria tudo e tinha razão… superou mesmo! As pessoas acabaram por se conformar e aceitar. Todo menos o meu pai é claro. Mas mesmo assim mantive-me firme assim como ela se manteve durante todo o nosso caminho. Mas é claro ela sempre foi mais forte, mais segura, mais corajosa. E eu só me mantive forte por ela, porque ela sempre lá esteve e continua a estar. Mas o meu pai conseguiu o seu objectivo. Atacou-me no meu ponto fraco. Ela! Ameaçou-me e eu não consegui. A ideia era clara. Ou eu me separava dela ou ela ia sofrer as consequências. E isso, eu não podia deixar. Não podia deixar que ele a magoasse, que ela sofresse… Mas no fundo sei que ela vai sofrer á mesma, mas a dor é diferente! E eu não aguentaria vê-la magoada, vê-la numa cama de enfermaria ou ter de assistir ao seu funeral. Porque ela era uma anjo e os anjos têm de se mater imaculados. Por isso esta foi a última noite. Quando ela acordar eu já não vou estar aqui. Ela vai odiar-me para sempre. Vai-se desiludir. Vai sofrer quando todos lhe disserem que bem a tinham avisado. E ela vai sentir-se humilhada e burra e eu vou ficar a ver o seu sofrimento sem poder fazer nada, sem sequer lhe poder dizer que aquele sofrimento era apenas para evitar um sofrimento maior. Porque eu sei que por mais que lhe doa, por mais que ela chore e que se revolte a dor é apenas temporária e um dia vai passar, porque ela é mais forte que tudo neste mundo apesar de parecer uma flor frágil.


E custa tanto estar aqui deitado junto dela sabendo que será a última vez que a vou poder observar desta forma. E que esta foi a última noite que ela se entregou a mim. Não sei se ela percebeu… talvez! Afinal ela sempre foi inteligente! Talvez ela tenha entendido que esta foi a última noite, os nossos últimos abraços e o nosso último beijo tiveram um doloroso sabor a adeus. Por menos para mim assim foi…


Deposito-lhe um leve beijo nos lábios para ela não acordar. Um último beijo. Visto-me silenciosamente e deposito na mesinha de cabeceira uma carta com as razões por me ter ido embora. Razões falsas mas fortes o suficiente para ele me odiar ao ponto de nunca mais me procurar. Sinto uma lágrima percorrer-me a face e saio do quarto sem fazer barulho deixando para trás aquele foi o único e grande amor da minha vida…

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.