Uma nova chance



 O universo é composto de mundos paralelos, formados por grandes acontecimentos que poderiam ter acabado de um ou outro jeito. Desse modo, algo que é verdade neste mundo pode não necessariamente ser verdade em outro.



 E o mundo bruxo não poderia ser diferente. Mas é claro que eles nunca souberam disso; ninguém nunca soube.


 Exceto por Severo Snape.


 Esta estória começa com o fim de outra estória. Snape está morto, jazendo esquecido no chão poeirento da Casa dos Gritos, enquanto uma batalha -épica?- desenrola-se no gramado verde de Hogwarts.


 Mas a morte não foi exatamente como Snape achou que seria. Primeiro veio a dor -a mordida de Nagini, seguida por seu veneno drenando o sangue de seu corpo. Em seguida veio a escuridão. E onde ficava a luz? Snape não sabia para onde seguir: via-se em um vale, atrás de si uma enorme montanha que ele sabia não poder escalar e a sua frente diversos caminhos, todos seguindo em meio a névoa prateada pela qual não passava sequer um raio do sol quente que acariciava a pele pálida do homem. O que faria agora?


 Não podia ficar ali, isso era um fato. Cada instante parado naquele vale fantasmagórico tornava-o menos… real.


 Decidiu-se por um caminho em que a neblina pareceu-lhe menor. Conforme penetrava no caminho enxergava melhor seus arredores -um grande bosque de árvores tão velhas quanto a própria vida, de troncos duros e retorcidos, que subiam até onde Snape não podia mais enxergar. O chão de terra era liso e limpo, de modo que ele não precisava olhar para o chão enquanto andava.


 Foi assim que viu uma figura correndo por trás das árvores.

 Apenas um vislumbre. Uma garotinha de longos cabelos avermelhados trajando um vestido azul bebê ria alegremente enquanto corria por entre as árvores, aparecendo e desaparecendo.


 -Oi Severo.


 Lá estava a pequena garota. Snape reconheceria-a em qualquer lugar.


 -Faz muito tempo que não nos vemos.


 -Lilian…


 O nome escapou-lhe docemente. A única mulher com quem já se abrira, A única mulher que amara.


 A menina transformou-se em uma garota de seus quinze anos. Ele conseguia sentir seu perfume de lírios.


 -Você sabe para onde está indo?- Snape balançou a cabeça negativamente.- Acho que nunca sabemos. Mas tudo bem, as surpresas da vida sempre são as mais agradáveis, não?


-Então elas me foram negadas. Por tanto tempo eu te vi, eu te quis, eu…


 A garota moveu-se com um único movimento fluído até o homem e silenciou-o com um dedo.


-Não é hora para se pensar no passado, Severo… Você não vê? Isto não é o fim. É apenas um novo começo.


-Como…?


 Ela sorriu e pegou-lhe pela mão, guiando-o para dentro da névoa que aumentava, até que não se via mais nada ao redor.




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