Sombras do Dia



O dia amanheceu com um clima pesado. O céu estava mais cinza do que o comum até para um dia de inverno, e eles tinham que abrir caminho pela neve. Ron estava exausto, mas mesmo assim encarou a vida. Levantou-se e foi tomar o café da manhã com a neutra e pacata Andrômeda, e o Ted, e pôde presenciar a mudança de cor do seu cabelo de escarlate pra azul-anil. Arthur parecia chocado demais com a noite passada para fingir que tudo estava normal, como ele sempre fazia. Carlinhos nem lembrava de um bocado de coisas, e os outros evitaram conversas, de qualquer tipo. Foi um dia silencioso, e nada era mais justo depois daquele episódio conturbado.

Os mais sãos daquela casa – Ron, Ginny, Percy, Harry e Hermione – Se ocuparam em limpar a bagunça do dia passado.

-Limpar. – Dizia Hermione, limpando líquidos derrubados na mesa. Depois se pôs a esvaziar os copos ainda meio-cheios e a embrulhar as sobras de comida. Como Ron pode notar novamente, ela estava se segurando para não falar alguma coisa. Quando ela abriu a boca, finalmente, Luna apareceu no horizonte e ela ficou quieta, se afastando de Ron. Luna se aproximava em passos decididos, e Ron foi ao seu encontro. Quando ele viu que ela estava chorando ele começou a se assustar e apressar o passo.

-Luna, o que foi?

-Seu babaca! Seu retardado! Te odeio!

-Não fala assim, o que houve?

-Tudo houve, Ron! – Disse, dando livradas nele, com o diário.

-O que foi que eu fiz? – Perguntou.

-Ouça. – Disse, e entre um soluço e outro começou a ler: - “Nunca senti desespero tão grande, quanto quando Slytherin me viu na cama com Griffindor. Nunca vira também, uma pessoa em tal estado de cólera, a ponto de seus olhos ficarem vermelhos. Houveram varinhas sendo apontadas para pescoços, mas eu era melhor bruxa que ambos, e pude desarmá-los. Senti medo pelo que Slytherin podia fazer. Com Helena, com Griffindor quando eu não estivesse vendo. Comigo. Mas ele não tomou uma atitude hostil. Ele pediu para o filho de sua irmã mais velha usar de sua influência e ordenar que imediatamente o (sacerdote, padre, sei lá) de Hogsmeade comparecesse em Hogwarts, e sob a varinha dele, e falou as palavras que selariam um compromisso que viverá até o infinito entre cada pedra de Hogwarts.
“‘Nunca enquanto eu ainda for representado nesta terra, uma Ravenclawn amará um Griffindor’
“Simples Palavras, mas de poder inacreditável. O feitiço do (
sacerdote, padre, sei lá) dissipou todo o fogo em meu coração, e me tornei uma pessoa fria, doente. Mas doente de amor. De um amor que não existe mais. Será que eu terei de morrer sem ver minha filha uma última vez? Eu quero que ela ouça de mim que eu a perdôo...”

-E o que tem isso?

-Você não entende Ron? O amor entre os Ravenclawn e os Griffindor é condenado! Exatamente como Cho Chang e Harry Potter!

-Você não está acreditando que esse feitiço vai... nos impedir de ficar juntos, certo? – Perguntou Ron, incrédulo.

-Cínico! Papai viu você beijando Hermione! E se você tiver coragem de dizer que é mentira, por favor diga. Mas só diga se você estiver sendo sincero.

Ron tremeu dos pés à cabeça. Diante daquilo ele não podia mentir. Ele suspirou e disse – Eu não beijei ela, ela me beijou.

-Papai me deu detalhes. – Disse Luna, em um tom de aceitação, de calma. – Você não resistiu. Pareceu gostar.

-Eu deixei ela me beijar para ser o mais claro possível sobre o quanto eu não queria ficar com ela.

-Pela primeira vez, Ron. – Disse Luna. – Eu não sei se quero acreditar em você. Ela largou o diário no chão e voltou para casa correndo, sem dar chances a Ron de seguí-la.

Ron ficou perplexo, fitando Luna que corria pelo campo.

-O que houve? – Perguntou alguém se aproximando.

-Hermione, não enche o meu saco!

-Ah, olha, preste atenção! Eu não... Eu não quero que você fique pensando coisas erradas de mim.

-Tarde demais. – Disse começando a andar.

-Eu não te amo mais, você não me ama mais, não foi difícil pra mim aceitar o fato.

-Ah é? – Perguntou, irônico.

-Olha só, eu quero que tudo volte a ser como antes, antes do nosso primeiro beijo, antes de nos amarmos.

-Ah, é num piscar de olhos! – Disse Ron.

Hermione segurou Ron pelos ombros, e o encarou. – Eu te amo, Ron, mas não do jeito que eu pensava. Eu confundi tudo, talvez desde o início, ou a partir do dia em que você acabou comigo. Só que eu não quero, nem preciso nada a mais com você. Só preciso de você ao meu lado.

Ron bufou. – E eu preciso de você me ajudando nos deveres de casa. Não é uma troca justa?

Ron a encarou, e os dois de repente começaram a rir. Hermione voltara à bordo de seu navio. Uma coisa tinha que melhorar na sua vida, certo? Mas nada disso cooperou para que ele tivesse uma noite de sono calma. Luna invadiu seu sono como nunca ninguém fizera.



-POR FAVOR, ALGUÉM!!! – Ouviu-se, acordando a todos. A voz desesperada de Percy incendiou os corações de todos, que se prontificaram para a batalha. Com velocidade incrível, Harry e William saíram da barraca correndo, enquanto Ron ainda tentava processar o que Percy dissera.

Ron seguiu a todos, e viu o aglomerado que se fez em volta do quarto onde Percy, Carlinhos e George dormiam. De repente uma série de exclamações, uma lamurio exagerado para seja qual fosse a situação, e Carlinhos irrompe do quarto carregando no colo alguma coisa. Quando Ron viu o que era, o lamurio pareceu pequeno, insuficiente. Seu corpo estremeceu e ele sentiu um pânico repentino. George tinha a boca sangrando, e não se mexia. Não parecia respirar, na verdade. Carlinhos levou-o até o jardim onde se preparou para aparatar, quando ouviu-se um arquejo e uma mão se levantou lentamente.

-N-não. – Disse George. Carlinhos deitou-o no chão, pousando sua cabeça nas suas pernas.

-George, como você está meu filho? O que houve, conta pra mamãe! – Perguntou Molly, se aproximando. Ela estava aos prantos, desesperada. Se ajoelhou ao lado do filho e pegou uma de suas mãos. Ron notou que ele estava machucando a palma de suas mão suadas com a unha, fazendo sair um filete de sangue.

-E-eu... – Ele parecia sentir uma dor insuportável ao falar, dadas as suas caretas. – Tomei infusão de espinho de porco espinho com... – Ele não completou a frase, só respirou fundo.

Percy surgiu, cheirando um frasco. – Infusão de espinho e porco espinho com olhos de tronquilho. Dependendo da proporção isso é um veneno fatal. Mas quando não mata, é rapidamente eliminada do corpo.

-Você não sabia disso, meu filho?! – Perguntou Molly, com um toque de histeria na voz.

George olhou fundo nos olhos da sua mãe, e tossiu um pouco mais de sangue. Depois só acenou a cabeça, dizendo que sim.

Todos o olharam confusos, até que aos poucos a compreensão foi se apoderando do local. Fleur soltou um gritinho e se acomodou no peito de Bill, enquanto Gina começou a chorar baixinho. Percy apertou Ron contra ele, apesar de que era ele quem mais precisava de ajuda no momento, pois estava branco, quase transparente.

-Ele... Tentou suicídio.

Ron já tinha concluído aquilo sem a brilhante constatação de Percy, mas ele não pode crer no que a lógica lhe dizia. Todo o sangue saiu do rosto de Ron e foi para os pés. George, que um dia fora o espírito dos Weasley, a encarnação da felicidade, tentando por um fim em sua própria vida? Agora que Fred se fora, Ron podia imaginar algo que ele não conseguiria imaginar há alguns anos: Uma vida sem um pingo de felicidade, cor.

George tocou no buraco que um dia fora sua orelha direita – que fora dilacerada por um feitiço de Snape – e sussurrou:

-Você sempre disse que eu não tinha futuro, mamãe. Mas você nunca me fez acreditar que eu era um imprestável, mas agora eu não vejo outra definição para o que eu sou. Imprestável. Inválido. Eu não consegui me matar, veja só. – Disse, com uma risada fraca.

-Cale a boca, George! – Disse Molly, seca. – Você não é um inválido, tampouco um imprestável. Sempre, sempre tive orgulho de você. Sempre soube que você e seu irmão eram brilhantes, eu só questionava a maneira como vocês empregavam sua inteligência.

-Então me explica por que... Por que dói tanto me olhar?

Molly começou a chorar como nunca. – Por que eu não suporto ver Fred ao invés de você.

-Você nunca imaginou... – Começou George, agora chorando também. – Que eu vejo Fred toda a vez que eu olho no espelho? Toda a vez que eu abro a boca eu ouço Fred falando. Eu comecei a me privar de rir, por que me sinto culpado por Fred não estar rindo comigo. – Carlinhos agora também chorava, e fazia carinho na cabeça do irmão.

-Oh! Que péssima mãe eu tenho sido. Me perdoe George. Me perdoe Ginny, Ron, Carlinhos e Bill. Me perdoe Fred... – Dito isso ela abraçou George com mais força do que nunca. Bill também se aproximou e passou uma mão em torno do pescoço de George, e a outra no pescoço de Molly. Arthur, que já se debulhara em lágrimas o quanto pudera, receoso, se abaixou ao lado de Molly que se jogou em seu peito. Ron e Ginny correram ao mesmo tempo para o Lado de George, e Percy logo ao seu encalço.

Todos , todos choravam agora. Os oito Weasley agora estavam reunidos, em harmonia novamente. Movidos por um sentimento, por mais triste que ele fosse. Eles eram uma família de novo.

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