Sofrimento Sigiloso



A manhã estava mais brilhante e mais vivamente feliz que o normal. Eu acordei disposta de meu sonho maravilhoso em que eu ia caminhando de mãos dadas com um dos mais desejados de minha escola. Eu fiquei por alguns momentos me deliciando com as imagens que eu criei e sacudindo a cabeça uma vez, levantei-me.
 Havia se passado dez anos desde a última briga entre seus pais. Em compensação, Sirius Black sumiu depois disso e nunca mais aparecera nem entrara em contato. Eu sofria muito ainda pelo sumiço de meu pai.
 Neste meio tempo, eu havia me tornado crescida além de um impermeável detalhe: Eu era bruxa.
 Já estava no meu terceiro ano na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts – Uma escola, que como o próprio nome já diz, acolhe jovens bruxos para ensiná-los as práticas e teorias da magia.
 Eu me sentia maravilhada apenas em estar perto de algo mágico. Minha mãe, que revelara ser bruxa logo que eu recebi minha carta-convite para participar da escola, sempre me apoiou ajudava bastante em minhas atividades de férias.
 Eu costumava dizer que Hogwarts era uma escola como qualquer outra trouxa, tirando o fato que era rodeado de coisas que nem a física explicaria. Eu tinha meus amigos, professores (esquisitos ou severos), esportes, grupos e inimigos.
 Eu passei a mão pelos meus cabelos até estar no seu banheiro mirando a garota do espelho.
 Apesar de meu rosto amassado e minha cara de sonolenta, podia-se perceber a beleza que eu tinha. Meus olhos repuxados nos cantos eram em um cinza profundo e claro. Meus lábios faziam a mais perfeita curva apenas um pouco maior no lábio inferior. Minha pele parecia uma seda em cor perolada e minhas bochechas eram como duas rosas. Meus cabelos – agora embolados e confusos – eram lisos escorridos e negros como pinche normalmente.
 Ela não mudara muito desde seu primeiro ano em Hogwarts tirando os traços mais femininos que se apossara em que meu rosto tornara-se mais oval e seu corpo mais sinuoso.
— Uh droga, eu estou um caco. — chiei enquanto lavava meu rosto e boca. — Imagina que coisa linda ver Cedrico deste jeito... Ótimo primeiro dia escolar, Nivan.
 Cedrico Diggory era o sonho de consumo que eu tinha todas as noites desde que eu o vi no meu segundo ano escolar quando ele pegou meus materiais do chão quando uns desordeiros derrubaram. Ele era popular, engraçado e muito, muito bonito. Eu me via perdida quando tinha aqueles olhos verdes postado em mim, ou quando ele lançava seu sorriso brilhante e perfeito. Ele era perfeito demais.


 Depois de cuidar de mim mesma, eu desci as escadas para tomar meu café na cozinha.
 A casa nº 12 era uma das casas mais confortáveis do vilarejo. Tinha toda a arquitetura baseada em cabanas construídas no Alaska com muita madeira e cores quentes. Era espaçoso com cinco quartos e um jardim encantador na entrada da casa. A cozinha era perfeitamente mobiliada e de cores opacas para não entrar em contradição com o tema da casa. Uma mesa média de jantar estava posicionada no centro da cozinha com algumas cadeiras ao redor. Um homem estava sentado lá. Poderia dizer que ele teria seus quarenta anos pelo grisalho em algumas partes de seus cabelos castanhos e as rugas nos cantos de seus olhos. Suas sobrancelhas grossas estavam quase juntas levando seus olhos negros à escuridão enquanto olhava um jornal.
— Bom dia, Nivan. — cumprimentou-a Damião, o mais novo namorado de Marie.
— B’dia. — eu resmunguei em resposta. Sentando-me na mesa e puxando uma torrada do prato de Damião. Ele sorriu e revirou os olhos colocando o jornal de lado. Eu vi a foto de um garoto magricela, com olhos verdes e cabelos negros despenteados se mexer. — Vendo jornais bruxos de novo, Damião? — questionei rindo.
 Damião não era um bruxo, mesmo assim era fascinado por magia. Às vezes Marie executava alguns feitiços diante dele e ele praticamente guinchava de êxtase. É, ele guinchava.
Ele deu de ombros. — Eu não tenho muita coisa para fazer. Eu adoro ler sobre o mundo dos bruxos.
— Onde está Marie? — perguntei olhando a cozinha notando sua falta.
— Ela está descendo. Ela dormiu até tarde hoje. — ele abriu o jornal novamente.
— Dormiu até tarde? Nossa hoje realmente é um dia de milagres. — comentei dando um sorriso de escárnio. Minha mãe jamais passava da hora. Mas hoje ela quebrara este tabu.
 Nesta hora, uma figura comprida e magra entrou na cozinha sentando ao meu lado com uma cara de sono. Era Joanne, minha meia-irmã bipolar e extremamente impulsiva. Seu rosto era uma réplica exata de Damião. Tirando o fato de que ela era bem mais magra e seus olhos eram dourados.
— Parece que nem tudo está anormal hoje. Joanne ainda está de mal humor. — comentei maldosamente enquanto bebia um copo de leite.
Ela me lançou um olhar mortífero. — Cuide de sua vida. — ela assobiou com sua voz grossa por causa do sono.
Bon jour mon amour’s... — cumprimentou-nos Marie entrando na cozinha vestida de seu habitual vestido. Qualquer homem que olhasse para Marie – ou até mulher – entraria em choque. Seu rosto tinha a mais perfeita simetria com um nariz reto. Seus olhos eram o mais profundo azul e eram bastante expressivos muito bem posicionados no alto de suas maçãs coradas. Seu cabelo era deslumbrante. Eram como cascatas douradas que desciam em ondas sinuosas assim como seu corpo invejável. Era uma mulher que definitivamente pararia o trânsito.
 Eu me lembrava de quando nos arrumávamos para alguma festa e eu emburrava sempre que eu via os cabelos perfeitos de minha mãe.
“O que foi minha princesa?” ela perguntava. O francês era dominante na casa até antes da chegada de Damião e a ida de meu pai. Neste intervalo de tempo.
“Por que você tem um cabelo tão perfeito e o meu parece que foi lambido ou alguma coisa assim?” eu gemia. Ela suspirava.
“Pare com isso Niv. Seu cabelo é o cabelo mais perfeito que eu já vi.” Ela contrapôs voltando a pentear os meus.
“Você não vê muito bem o seu então.” eu resmunguei.
 Ela riu.

 Eu havia crescido e ainda ficava amuada quando eu não puxei essa coisa de cabelos em forma de cascata iguais aos dela.
— Que bom humor, Mar-mamãe — ela detestava que eu a chamasse pelo nome. Dizia ela que era respeito.
— Oh mon chérie! Eu tive un noite de deuses! – ela disse com um sorriso imenso enquanto colocava o avental na cintura.
— Ok, Marie. Não precisamos saber. — falou Joanne enfiando uma torrada dentro da boca de vez. Eu fiz uma careta de nojo para ela e ela retribuiu abrindo a boca e mostrando seu alimento mastigado. Eu fingi vomitar.
— Nivan? Você vai dormir no Caldeirão Furado? — perguntou Damião de repente muito vermelho.
— Eu acho que não. Mas vou passar muito tempo por lá. — comentei me levantando.
— Ok.
 Neste momento, o programa jornalístico de televisão predileto de Damião começou e ele aumentou o volume para ouvir. O jornal trouxa era tão desinteressante depois que você se descobria uma pessoa mágica...
—... revela que a copa de futebol será realizada no Brasil. Mas não é nada confirmado. E agora vamos com Theodore que está com o jogador de futebol brasileiro... — ia dizendo um rapaz sentado em uma bancada comprida. Seu cabelo muito bem arrumado, roupas bem alinhadas e arrumadas. Porém, sua aparência entrava em contradição com seus olhos; eles eram chatos, cansados e profundamente tediosos. Sua voz vacilou e eu pude ver a forma monótona em que ele falava.
 Eu sacudi a cabeça enquanto levava minha lousa para a pia interrompendo minha avaliação de expressão corporal fajuta.
 Antes que eu começasse a avaliar todos na cozinha (e descobrir coisas que eu não queria) eu me despedi e subir para o meu quarto.
 A graciosidade do meu quarto era algo que me encantava. Eu me sentia entrando em um livro de contos de fadas. A parede era forrada por um papel de parede em marfim coberto por desenhos de flores em um rosa bebê e algumas “seivas” em verde musgo que se estendia do chão e saía pela parede do quarto todo. A cama era com uma colcha em um dourado fraco, a armação era preta, feito com um aço forte e patenteado. Rosas esculpidas de metal se espalhavam em vinhas pelo alto poste e formavam um entrelaçado gracioso em cima. Uma janela ficava bem ao lado da cama, aberta como sempre. Um sol fraco entrava pelas cortinas de tecidos beges e iluminava partículas de poeira que flutuavam em minha cama.
 Eu havia decidido com Damião que ele me levaria até o Caldeirão Furado para que eu pudesse comprar meus novos materiais escolares. A expectativa de finalmente encontrar mágica me surpreendeu. Não que nessas férias eu não estive em contato ou próxima a ela, mas só a sensação de que eu finalmente poderia me entregar a um lugar em que não havia estranhos eu já me sentia bem.
 Eu realmente não sabia o porquê de eu nunca ter me matado por conta da minha vida em si.
 Eu considerei que o amor e compaixão por minha mãe e por Damião me evitavam passar uma lâmina por meus pulsos.
 Mas eu não podia ficar para sempre naquela minha forma que eu ficava na frente de minha mãe e qualquer outra pessoa. Meu sofrimento sigiloso...
 Eu levantei as pressas da minha cama para o meu banheiro e me debrucei sobre o vaso sanitário enquanto vomitava.
 Primeiro o mal estar físico. E depois a dor mental. Uma dor que eu nunca pensei que alguém fosse capaz de sentir. Uma dor que seria capaz de formar reações no corpo. Mesmo que o mal estar fosse dentro da minha cabeça...
 Deitei na minha cama novamente me cobrindo e abraçando os meus joelhos enquanto chorava silenciosamente e tremia. Esperando-a.
 Espadas em brasa me transpassavam naquele instante. Cortando-me em pedaços e deixando uma trilha de fogo por onde passava colocando meu corpo em retalhos carbonizados. Corroendo-me.
 Primeiro foi uma sensação terrível de desentendimento comigo mesma. Por que eu estava sofrendo aquilo? Qual o motivo daquela tortura brutal? Seria por causa da fuga de meu pai? Ou pelo fato de não ser tão cobiçada na escola? Seria por conta de Cedrico Diggory nunca ter olhado para mim? Eu sacudi a cabeça ainda tremendo. Uma paixãozinha não afetava tanto uma pessoa... Afetaria? Ou... Será por que eu não agüentava a minha vida? A questão de viver por causa de Damião e Marie? Mas... Por quê?
 Depois que eu já estava anestesiada, sem sentir aquelas dores lancinante pela espada invisível, eu senti o meu momento de desmaiar. Sempre acontecia. Primeiro o enjôo... Depois a inconsciência. Eu agradeci por ela ter vindo tão rapidamente e quase sorri para a escuridão que tomou minha mente me livrando de todo aquele sofrimento.

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