Único



Estou sentada na beira de um penhasco, vejo as ondas quebrando sem piedades nas pedras, o mar em seu azul esverdeado com uma ponta laranja pronta para desaparecer e deixar o céu claro ser invadido pelas trevas. Trevas... O dicionário define: 1. Escuridão absoluta. 2. V. noite 3. Fig. Ignorância, estupidez. As pessoas definem como algo ruim ou uma pessoa perversa. Ele era definido assim. Mas ele não era perverso, ele não era ruim, eu me arrependo de tê-lo levado.
Lembro de cada detalhe de sua vida: Sua infância teve início depois da guerra, sua mente inocente não sabia como as pessoas o julgava. Mas ele não tinha culpa... Não tinha culpa dos erros de seus parentes. Seu pai, Draco Malfoy, havia realmente se arrependido depois da guerra e ele tentava se ajustar e convencer as pessoas disso.
O pequeno Malfoy teve uma educação diferente do que seu pai obteve com o avô Lucius, sua mãe era uns dos “símbolos” do fim do sangue-puro na família. Astória Malfoy era uma mestiça da casa Corvinal, é claro que isso não impediu Draco de se apaixonar... Essa história até serviu para dois apaixonados, mas isso só mais para frente.
Lembro-me bem de sua estadia em Hogwarts... Caiu na Sonserina (como muitos preveriam), mas eu também lembro bem que não era esse o destino do menino, segundo o chapéu, é claro:
“Hmm... Um Malfoy? Tem certeza? Sua cabeça é bem diferente de seus antepassados, principalmente de seu avô... Parece que Draco criou um filho bem corajoso!”
“Não, por favor, Sonserina.”
“Apesar de ser astuto você não pertence aquela casa... Mas que assim seja... SONSERINA!”
Acho que apenas eu notei a cara de alívio do pequeno Malfoy. Mais do que nunca me fascinei com aquele projeto de loiro... Esse apelido... Como eu poderia esquecer? Aquelas brigas históricas de Weasleys e Malfoys! A garota não tinha culpa de conviver com um Sonserino, afinal, por um motivo que todos desconhecem seu primo Alvo Severus Potter virou melhor amigo da Barbie. Esse foi um dos motivos para ele, em seu segundo ano, pedir ao chapéu uma nova seleção. Caiu na Grifinória.
Daquele dia eu lembro mais do que qualquer outra pessoa... Draco no começo foi contra a estadia do filho, mas aceitou sem se irritar muito. Ele teve uma pequena ajuda de uma loira mestiça, só ela consegue acalma-lo... Só ela conseguiu acalma-lo quando o seu “filho rebelde-sem-causa” (apelido dado pelo pai no momento) anunciou que estava nada mais nada menos do que namorando a Rose Weasley, isso foi em seu sexto ano e, é claro, que seu pai não ficou sabendo que ele já namorava a ruiva a um ano.
O pior foi quando aquele mesmo loiro anunciou a todos os estudantes de Hogwarts e seus pais em meia formatura que estava pedindo a mão de Rose em casamento. Não me emociono fácil, mas tenho que admitir que soltar um monte de corujas brancas carregando rosas e soltando-as em meio salão principal, subir em unicórnio em roupa de príncipe e falar “Eu sou o seu final feliz, quer se casar comigo?” e entregar um anel de brilhantes foi realmente lindo.
Lembra da história do Draco, lembra da pequena ajudinha? Pois é, é aí que ela entra! Ver um Draco possesso em sua formatura não é lá muito agradável, mas ver Astória brigando com o marido por estar prejudicando a felicidade do filho e lembra-lo da história deles, foi HILÁRIO... Viu? Até a morte sabe apreciar um momento.
O casamento estava lindo, a vida deles foi linda... Tiveram quatro filhos. Thomas, o mais velho (simplesmente a cara do pai! A única diferença foi não adotar os olhos frios, mas sim olhos azuis escuros de Rose), Karen e Kate, as gêmeas (totalmente iguais! A única diferença foi que a cor de cabelo, cada uma um pai. Seus parentes dizem ser as novas “Fred e Jorge” na forma feminina) e Murilo, o mais novo. Ah, Murilo... Seu rosto delicado como anjo possuía olhos com uma mistura única do azul frio e do azul quente, seu cabelo do ruivo e do loiro, todo ele era uma mistura de Weasley e Malfoy. Seu jeito doce cativava, seu sarcasmo divertia e seu sorriso me encantou.
31 de Dezembro fui informada que trabalharia no ano-novo. Odiava isso, odiava tirar a vida das pessoas e um dia que se comemora a virada do ano velho e o começo de um totalmente novo. Era meio que desumano fazer as pessoas começarem o ano com uma pessoa indo, para não voltar.
Faltavam 10 segundos para a meia-noite, fui atrás do “felizardo”. Parei. Respirei fundo. Deixei uma lágrima solitária deslizar pelo meu rosto frio. Eu precisava fazer isso, não podia parar... Aquilo era mais que uma obrigação, era um instinto. Eu não podia falhar, não de novo.
Encostei meus finos dedos em seu ombro, ele me olhou. E antes de dar a chance de explicar a minha vinda, ele sorriu, sorriu como soubesse o que viria a seguir, sorriu como soubesse o que me torturava, sorriu como soubesse da despedida. A família se dirigiu ao lado do, já não tão mais pequeno, loiro, sem entender o que se passava.
A Sra. Malfoy foi à primeira perceber, despencou em lágrimas e soluços e foi amparada por Thomas que se mantia forte para acalmar a mãe. Em seus 27 anos, a cópia do pai olhava para o Sr. Malfoy firme com um abalo no rosto dizendo adeus. As gêmeas haviam se perdido, podiam ter 24 anos mas suas cabeças não estavam prontas para se despedir. Choravam consolando-se e acalmando uma a outra. Toda a família Weasley e Malfoy se despediu, todos se se orgulhavam daquele homem, todos o viam com um herói.
Eu permaneci distante apenas olhando o sofrimento, e queria fazer parte daquilo. De uma família que apoiava nos bons e maus momentos, como eu queria. Pulei em um estalo quando o loiro encostou a mão quente e humana em minha pele fria e morta, meu capuz caiu e revelou minha cara. Meus cabelos brancos e escorridos batiam no meu ombro, meu olho vermelho igual sangue arregalou. Coloquei o capuz de volta e vi os rostos assustados, ninguém imaginaria que a morte não passasse apenas que uma adolescente de 16 anos, apenas na aparência.
Eu não fui criada com esse rosto, a imaginação humana que me deu. Sempre dizem que a morte é uma criança e que com toda morte aprendemos algo, que ela no começo te deixa confusa, mas depois te consola. Aos poucos ganhei um rosto de uma adolescente, uma pessoa que ainda não sabe o quer da vida, uma pessoa confusa... Mas por dentro eu não passava de uma menina assustada.
Fui obrigada a dar as costas para acompanhar a pessoa que eu tanto fascinava na sua partida, olhei mais uma vez para traz e decorei cada rosto e cada expressão quando vi o dele. Ele não tinha resquício de lágrima e nem uma dor preenchida no rosto, não que ele não gostasse do pai, ele apenas me entendia. Murilo pos os olhos de 17 anos em mim e mostrou um pequeno sorriso de compreensão, ele sabia que eu não poderia salvar o pai, ele sabia que ter salvado a vida dele já tinha me custado caro. Deu um último abraço no pai e parou na minha frente, estava pronta para ele começar a gritar, mas isso não aconteceu. Ele apenas depositou um singelo beijo em minha bochecha e se juntou aos primos.
Atordoada, virei e acompanhei o loiro em sua ida sem volta, mas até nesses momentos eu fui fraca: olhei o tempo todo para trás, para ter certeza que não teria um jeito de deixá-lo ficar. Ele não, olhava apenas para o horizonte e seu nascer do sol e esperava que eu o mandasse. Fiz o que seus olhos frios pediam, ele me deu um sorriso honesto e foi. Pela primeira vez chorei igual um bebe.
Já se passou meses e ainda me lembro e ainda me lamento. Uma mão quente retirou meu capuz, virei imediatamente para verificar a figura atrevida. Murilo. Abri e fechei a boca várias vezes, não saiu nada. Ele também não me falou nada, sabia que eu gostava daquele cemitério, ele sabia o tanto que eu admirava o seu pai. Como? Nunca soube, mas ele sabia.
Virei-me e coloquei uma única rosa branca em cima do Túmulo ao lado. “Aqui jaz Scorpius Malfoy, ótimo pai, esposo amoroso e um herói para todos”. Mais uma lágrima caiu, desta vez sendo seca por uma mão humana. Murilo olhou-me com calma e me beijou. Beijou-me apaixonadamente sem se importar com a minha frieza ou o fato de eu ter tirado a vida de seu pai.
Ao final do beijo ele sorriu e começou a andar de volta ao seu caminho, eu não soube o que fazer, apenas acompanhe-lo até desaparecer atrás de uma árvore. Olhei cada passo dele, fui de novo uma covarde. Mas ele foi mais forte e nunca olhou para trás.

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