Desentendimentos



Perder o carro foi uma das piores coisas que poderia ter acontecido a Harry e Gina, e o fato de estarem perdidos, só agravou a situação. Quem diria que aquela manhã poderia se transformar nesse desastre? O clima entre ambos não estava dos melhores, Gina estava com muita raiva e sequer olhava para Harry. Ele resolveu que a melhor opção seria voltar à cidade onde encontraram Elius e tentar encontrar uma pista. Ao chegar, se depararam com as mesmas pessoas hostis. Harry decidiu ser cauteloso dessa vez, já que estavam desarmados e sem condição nenhuma de escaparem com tanta facilidade. Havia um homem calvo limpando peças de motor, ao ver os garotos se aproximando pegou um cano, coisa que Harry não deixou de reparar. 


- Olha, não queremos te incomodar, acontece que precisamos saber sobre um homem chamado Elius. Se por acaso o senhor puder me ajudar. - Harry tomou cuidado de manter distância do homem.


Ele analisou atentamente Harry e Gina antes de responder.


- Elius? Elius? - falava pausadamente - Não me lembro de nenhum Elius. 


- O senhor tem certeza? Ele é um cara que fala engraçado e usa um turbante. Estava aqui hoje de manhã. - Gina falou. O homem pareceu se lembrar de algo.


- Sei, acho que reconheço essa pessoa. Só que não vão mais encontrá-lo por aqui, ele nem é daqui, chegou faz uns poucos dias. Me disseram que ele se mandou com uns turistas. – ele coçou a barriga ao falar.


- E o senhor não tem ideia de para onde ele possa ter ido? - Harry perguntou. 


- Não, era um forasteiro, e acho muito bom que tenha se mandado daqui, nós não gostamos nem um pouco de estranhos. – ele lançou aos garotos um olhar ameaçador. 


- Sei... Tudo bem, obrigado pela informação. – Harry puxou Gina pelo braço. 


Quanto mais cedo deixassem aquele lugar, melhor. Cada pessoa pelo qual eles passavam apontavam alguma coisa. Sair da cidade pareceu impossível e angustiante, porém conseguiram chegar ao fim daquele hostil lugar.


        


 


 


Gina continuava muito fechada, Harry até queria puxar alguma conversa, porém a situação o impedia, sabia que ela estava com raiva e se sentia terrivelmente culpado. Andaram por horas e aquele sol não ajudava muito, estavam com fome, sede e bastante cansados. Gina continuava com o seu silêncio, algumas vezes se virava para encarar Harry, não dizia nada, mas seus olhos eram bem reveladores. Harry não suportando mais falou:


- Gina eu sinto muito mesmo.  


Como se seus temores se confirmassem ela sacudiu a cabeça e disse: 


- Sente muito? - falou em tom de descrença – Engraçado eu também sinto muitíssimo, acho que nunca senti tanto em minha vida. – ela cuspia suas palavras venenosas.


- Ei, não precisa agir assim. Eu não tinha ideia que uma coisa dessas poderia acontecer. - ele estava exasperado, só faltava isso, Gina o culpar por tudo.


- E não é que agora você acertou. Isso não estava nos planos perfeitos de Harry. Da próxima, entrega o carro pra ele logo com chave e tudo. 


- Você não deve ter ideia de como está sendo injusta, por que não me impediu já que é tão esperta? 


- Isso mesmo, passa a bola. PERFEITO! Eu estou completamente perdida, o carro dos meus irmãos foi roubado, daqui a dois dias tenho um encontro com meu ídolo, o qual não poderei ir. - ela estava se descontrolando cada vez mais. Não importava até onde fosse contando que descarregue sua raiva. 


- Oh Oh, chegamos ao ponto não é Ginevra? Tudo se resume ao seu “encontro perfeito com aquele panaca”. – ele enfatizou as últimas palavras imitando uma voz de uma menininha. 


- Não me chame de Ginevra, e essa não é a única causa da minha raiva. 


- Engraçado, você não ligou quando aquele idiota no hotel te chamou de nome exótico. – Harry desdenhava cada vez mais e assim como Gina não se importava com as consequências de suas afiadas palavras. 


- E desde quando nós chegamos ao Erick? Achei que ainda estávamos no Toby. 


- Quem se importa em como chegamos, a questão é você está fazendo uma tempestade por causa desse cantor idiota. 


- Cantor idiota? Quem é você pra falar em idiotice? 


- Então eu que faço idiotices agora? Responde a uma perguntinha Gina, de quem foi a brilhante ideia de viajar quase meio país atrás de alguém que vai te esquecer no dia seguinte? Já que pra ele você é apenas mais uma fã maluca. - Harry estava espumando de raiva, ele não percebia suas palavras, simplesmente saíam.


- Como assim maluca? Você está esquecendo fatos muito importantes. Primeiro: eu não pedi pra você vir comigo.


- Se não fosse por mim, você nem chegaria perto. – Harry interrompeu a garota. 


- E você acha que eu desistiria fácil? - ela fechou os punhos – E segundo: eu posso ter viajado meio mundo pra encontrar ele, mas pelo menos eu assumo que estou atrás do que quero, ao contrário de você que... 


Gina deixou a frase morrer, percebeu que havia chegado a um ponto muito pessoal e que revelava sobre a sua descoberta, Harry não tinha ideia de que ela lera a carta de Cho. Eles ficaram se encarando por um tempo, ambos com a respiração rápida. Harry a olhava confuso. 


- Do que é que você está falando? 


- Nada, esquece. Eu só me enrolei e acabei inventando argumentos. – ela mordeu o lábio inferior. 


- Corta essa, o que você quis dizer com isso? - ele com certeza não se daria por vencido, Gina percebeu isso imediatamente. 


- Eu já disse esquece, confundi as coisas, só queria me defender e te atingir de algum modo. - de repente sua face transformou-se de raiva para tristeza. - Acho que essa viagem foi uma péssima ideia. 


- E qual sua solução? Quer voltar pra casa? – Harry se sentiu muito mal com a possibilidade. A última coisa que queria era voltar e ficar brigado com Gina. 


- Não. Ainda não estou preparada para encarar Fred e Jorge, eles adoram o carro. 


- Tem razão. A gente pode pegar uma carona até a próxima cidade, estou exausto e pensamos numa solução lá. 


- Certo. – ela respondeu desanimada. 


 


 


 


Conseguir alguém disposto a ajudar foi mais complicado ainda. As pessoas não paravam de forma alguma. O silêncio entre ambos piorava e muito a questão. Estavam envergonhados por causa da briga. Harry se lembrou da última vez que gritara com Gina, ele estava furioso e descontou em seus amigos só que ela foi a única que não se deixou levar por seu estado, o encarou sem receio algum. Ele estava orgulhoso demais para pedir desculpas pelo exagero, mas começou a sentir-se arrependido, queria conversar com ela, fazia muita falta seu sorriso. Uma mulher teve a boa vontade de ajudá-los, levando-os até seu destino. Estavam parecendo crianças desamparadas quando chegaram. Incrível como as coisas poderiam dar tão erradas, não bastava a infelicidade dos fatos, quando Gina estava atravessando uma rua para uma lanchonete, uma enorme bola acertou sua cabeça. Tamanha foi a força lançada, que fez a menina tombar no chão, Harry correu para socorrer. 


- Gina, está tudo bem? - ele se aproximou preocupado. Ela levou a mão à cabeça. 
- Não sei bem, estou meio tonta. Tem alguém jogando Quadribol por aqui? Parece que fui atingida por um balaço. - ela tentou se levantar. 


- Você levou uma bolada. – Harry avistou a bola e seus lançadores – Pode esperar só um segundo?


Pegando a bola foi até uns rapazes de físico muito exagerado. 


- Imagino que isso aqui é de vocês? - ele brincou com a bola na mão. 


- Isso ai nanico. Nossa bola. Devolva. – ordenou o maior deles. 


- Pois é. Estava pensando em devolver depois que pedirem desculpa para a minha amiga. – Harry não se deixou intimidar.


Eles olharam para Harry por um tempo e depois caíram na gargalhada. O menor deles resolveu se pronunciar. 


- Ele pensa que pode nos obrigar a fazer alguma coisa. – ele ria ainda mais – E se não quisermos? 


- É uma pena, gostaria de resolver isso de forma pacífica. 


- Vai tentar nos bater é? – um outro perguntou. 


- Não se vocês cooperarem. – Harry continuava impassível. 


- Você já está enchendo pentelho. – dizendo isso o maior deles deu um soco na cara de Harry. 


Todos saíram dali se acabando de rir. Harry voltou para onde Gina estava, ela notou que seu olho havia assumido uma cor roxa. 


- Harry, aquele gorila te bateu? Ah espera só eu me recuperar, vou quebrar aquela fuça dele. – ela mostrava o punho. Harry se sentou ao seu lado – Mas o que te deu na cabeça para enfrentar aqueles monstros? 


- Acho que esqueci que em brigas trouxas não tenho estatura suficiente. – ele deu uma risada. Gina também riu. 


- Vem, vamos ver o que resolvemos desse olho. - ela o puxou para dentro da lanchonete.


Lá eles conseguiram gelo para os machucados. 


- Foi um soco e tanto. 


- É mas, a marca da bola também ficou estranha. Tem certeza que você está legal? – ele passou a mão de leve no avermelhado. 


- Tenho, vou me recuperar. Mágica faz falta né? Quando puder eu dou um jeito. 


- Claro. Obrigado. - eles entraram em um breve silêncio. - Desculpa por hoje. Fui grosseiro, exagerei no que disse. Não queria te ofender. – Harry acariciou a mão de Gina. 


- Eu também lhe devo mil desculpas. Não é sua culpa se tudo isso aconteceu, eu devia era agradecer por você estar comigo. – ela retribuiu seu afeto – Eu estava meio frustrada. É chato quando seus planos vão para o ralo. 


- Tudo bem. Eu e minhas estúpidas ideias. 


- Então estamos ambos perdoados e resolvidos? - Gina perguntou alegre. 


- Não, falta uma coisa a dizer. O que eu disse sobre você ser apenas uma fã que ele esqueceria no dia seguinte é a mais pura mentira. Não dá para esquecer você tão fácil assim. Ele vai gostar muito de você. Tem de se considerar um cara de sorte por te ter gostando dele. - Dizendo isso ele beijou sua mão.


- Obrigada. 


- E não se preocupe, eu disse que você iria se encontrar com ele de qualquer jeito e é isso que vai acontecer. – ele finalizou. 


- Bom, já que vamos ser enforcados pelos meus irmãos, que eu tenha uma lembrança boa para levar para o túmulo.


Harry sorriu. Era muito bom ter o sorriso de Gina de volta.

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