Prólogo



Você nunca amou ninguém.
Essa frase batucava dentro da minha cabeça. Eu encarava quieta a colcha da minha cama e Gina pareceu não perceber meu estado alfa. Ela ainda se encarava no espelho, tentando dar um jeito na maquiagem manchada.
-Você acha que dá para perceber? – ela perguntou, me encarando. Seus olhos estavam menos vermelhos, e seus cabelos disfarçavam bastante.
-Dificilmente. Acho que o Harry não vai ver. Ele já é míope por natureza. 
-Ótimo. – Gina colocou um pouco mais de base. – Seria pior ainda se ele visse o estado em que eu fiquei. Graças a deu que eu vim aqui para a sua casa, se não teria que me encontrar com ele de novo!
Nunca amou ninguém, nunca amou ninguém... Argh!
-Hermione?! Você está me escutando? – Gina exclamou.
-A sim, talvez você devesse botar mais pó, para garantir. – comecei a falar, chutando o que ela tinha me perguntando.
Seus olhos se encheram de lágrimas.
-Ahh, eu fiz alguma coisa? – perguntei tenebrosa. Gina estava muito sensível hoje.
-Por que eu fui me apaixonar por um idiota? – ela me perguntou de novo, do mesmo jeito de que tínhamos começado a conversa.
-Gina, você tem certeza de que não tem como deixar de amar esse imbecil? – perguntei irritada. Já não era a primeira vez que Harry tinha chateado a Gina.
-Eu já disse que não tem como! É uma coisa que não se pode controlar! – ela exclamou.
-Mas tente! Aos poucos você...
-NÃO TEM COMO!!! VOCÊ NÃO SABE COMO É, VOCÊ NUNCA GOSTOU DE NINGUÉM! NUNCA AMOU OUTRA PESSOA!! – Gina gritou, chorando mais ainda e estragando todo o seu trabalho de vinte minutos. 
Aquela maldita frase de novo. Do jeito que ela fala parece que eu tenho um coração de pedra.
-Ok Gina, eu só estava tentando ajudar! – eu disse, começando a me irritar também. Eu tentava consolar a minha amiga de bom grado e ela chega gritando comigo! 
-Desculpa. – ela murmurou respirando fundo. – Devo estar de TPM.
-Bem, acho que isso já está bem óbvio. – falou Luna, surgindo pela porta do meu quarto. Ela se jogou no meu pufe e eu lhe roubei o copo de Coca, tomando um gole. 
Estava tendo um churrasco no andar de baixo. Os nossos pais são bem amigos, e sempre quando têm essas reuniãozinhas nós roubamos alguma coisa para comer, beber e então nos trancafiamos no meu quarto, para botar o papo do final de semana em dia. 
-Ainda falando do Harry? – a Luna perguntou e eu acenei com a cabeça.
E então aquela frase veio novamente à minha cabeça. Você é que tem sorte, nunca amou ninguém, nunca precisou sofrer desse jeito. Ainda não entendi direito porque essa frase me afetou tanto. Quer dizer, eu realmente nunca gostei de ninguém, mas nunca tinha me importado com isso, até agora.
-Então o Neville me deu um beijo no rosto! – Luna exclamou e Gina deu um grito agudo de felicidade. – Quer dizer, isso deve ser bom, não é? Foi na frente de todo mundo, com aquele jeitinho quieto. - ok, acho que eu tinha perdido um papo importante da conversa, mas não estava muito interessada nisso.
Luna, ela sempre está apaixonada por alguém, mas raramente fica com a pessoa. É daquelas super românticas e sonhadoras, estava afim do Neville há duas semanas. O que, para ela, era realmente um tempo muito longo para estar interessada por uma pessoa. Sua facilidade em se encantar por garotos às vezes me deixava impressionada.
Elas continuaram a trocar informações sobre os seus amores e eu fiquei as encarando, sem realmente prestar atenção. Estava me sentindo excluída. Sem nada do gênero para falar. Quer dizer, eu era um caso raro. Nunca gostei de ninguém, e ainda nunca tinha beijado. Só se contasse com a vez que fui agarrada por um colega quando tinha nove anos, essas crianças...


Quase fiquei com um menino uma vez, mas desisti. Quero ficar com que eu goste, e nunca me importei realmente com esse detalhe. Não tenho pressa para enfiar a língua na garganta de alguém. 
Tomei mais um gole de Coca e encarei os olhos das minhas amigas. Aquele brilho de felicidade esquisito parecia querer saltar de seus olhos. Essa coisa estranha que sempre tem em quem está apaixonada. Aquela felicidade apenas aos saber que o garoto lhe dirigiu um olhar durante a aula, a excitação de saber que ele também gosta de você, ou até o ato de ele te tocar. 
Nunca senti nada disso, e isso me deixava frustrada. Como será que você se sente? O único garoto que já gostou de mim foi um idiota. Melhores amigos até o momento em que ele começou a me perseguir pelo colégio. Pobre coitado, talvez se ele não fosse tão grudento eu até teria me apaixonado por ele. Não duvido nada.
Voltei para o presente e encarei minha coleção de DVDs e livros. Todos de romances. Como eu podia gostar tanto de uma coisa, se eu nunca tinha sentido isso? A curiosidade começou a me corroer por dentro. Queria tanto amar... Não no sentido de irmãos, claro, vocês me entenderam. Ter um romance, mesmo que eu sofresse com isso. Ver aquela pessoa sorrir para você e seu coração acelerar, a pessoa te tocar a mão, mesmo que seja para te ajudar a pegar o seu estojo durante a aula que tinha caído no chão, e sentir uma corrente elétrica seguir para os seus dedos.
Pela primeira vez eu quis me apaixonar. Tanto faz se eu iria sofrer ou não. Eu apenas queria saber o que as pessoas sentiam.
Escutei a risada estrondosa do meu pai do andar de baixo, e logo depois a Sra. Wright e a Sra. Lovegood apareceram, chamando as meninas para ir embora.
Nos despedimos, mas amanhã a gente se veria de novo, afinal, era domingo. Arrumei-me para deitar, depois que todo mundo foi embora, e fiquei pensando na minha missão: Se apaixonar por alguém. Não tenho nem idéia de como vou fazer isso, mas vai ter que dar. 
Repassei todas as informações que eu recebia das minhas amigas. Que elas sempre sofriam que de quem elas gostavam não retribuía etc. Percebi que era muito mais difícil fazer alguém se apaixonar por você. Isso seria um problema, um grande problema.
Não tenho muitos amigos. Na verdade, tenho apenas as duas. Sendo muito quieta e estudiosa, no passado já havia sido alvo de vários tipos de brincadeiras maldosas. Na verdade, se parasse para pensar, tais brincadeiras persistiam, mas agora eu já não chorava antes de dormir. Tímida, baixinha, com os cabelos armados e os dentes da frente levemente grandes. Dificilmente conseguiria ser o alvo de desejo de alguém.


Virei para o outro lado, rolando na cama, apertando o edredom, estampado com desenhos de fitas K7 e óculos de aros grossos, entre os dedos. Pensando naquele garoto de cabelos esquisitos e calças de moletom, adormeci, pensando esperançosa que, se algum dia eu havia feito ele se apaixonar por mim, talvez conseguisse fazer o mesmo com outros.

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