Capítulo 5 - Último Adeus

Capítulo 5 - Último Adeus



Rony se encarou no espelho. Estava de terno negro, e ajustava a gravata. Não adiantava chorar, ela não voltaria. Olhou para os seus próprios olhos, parecia outro homem ali. Alguém, com certeza, infeliz. Ele não se reconhecia. Cadê a felicidade, o ar brincalhão dele, o brilho nos olhos? Haviam sumido, completamente.


Caminhou para fora do quarto. Seus olhos já não estavam mais vermelhos, viu os gêmeos no sofá da sala. Eles não choravam, mas estavam em uma profunda tristeza. Rony os encarou, e eles não trocaram nenhuma palavra.


-Vamos. – murmurou Sra. Weasley fungando um pouco. Seus olhos ainda estavam vermelhos. – Gina já está descendo.


Entraram no carro, Sr Weasley não pode ir. Logo chegaram ao lugar onde seria o funeral. Rony mantinha sua máscara, tentando esconder seu sofrimento.


O lugar não tinha muita gente. Estava todo enfeitado com rosas brancas, e a Sra. Granger chorava no ombro do ex. Harry abraçava Luna, que estava soluçando. Eles se separaram quando viram quem tinha chegado.


-Harry... – falou Gina com voz fraca abraçando o namorado. Não demorou muito e ela começou a soluçar. Harry dava tapas em suas costas, sua expressão de tristeza.


-Rony, eu sinto muito. – falou Luna abraçando o ruivo. Esse se tornou frio e apenas acenou com a cabeça, mal retribuindo o abraço.


A Sra. Weasley foi falar com os pais de Hermione, e os gêmeos chegaram perto do caixão, no centro. Rony conseguiu ver pelo canto do olho, lágrimas silenciosas escorrerem pelos olhos dos dois.


Gina de mãos dadas com Harry caminhou até o caixão aberto. Rony não ousou olhar para aquela direção, com medo do que poderia ver. Gina voltou para o lado da Sra. Weasley depois de se despedir de Hermione e começou a chorar novamente.


-Cara. – Harry havia ido falar com Rony. – Sinto muito por isso.


Rony o encarou nos olhos, sério.


-Também sinto.


Harry estranhou o jeito frio do amigo no enterro da melhor amiga dele, mas ainda assim lhe deu palmadinhas nas costas e foi se juntar a Gina.


-Ronald. – começou a falar Sra.Granger. Ela ainda chorava. – Obrigada.


Rony ficou chocado com as palavras da mulher, que agora o abraçava.


-Você a fez feliz. E nem eu teria conseguido fazer isso. Você fez os últimos dias da minha filha ser os melhores da vida dela. Obrigada por cuidar da minha Hermione. – a mulher soluçou e se separou dele de novo. O sofrimento estava estampado em sua face.


Rony respirou fundo, depois de se separar da mãe de Hermione, e encarou o caixão. Era a vez dele. Caminhou devagar até lá, sentindo todos os olhares nas suas costas. Ele espiou para dentro.


 


O choque foi grande e eu me senti tonto. Pior do que você estar morta era você estar morta, mas parecer estar dormindo.


 


Rony sentiu sua máscara cair ao fitar sua melhor amiga ali. Teve certeza de que agora todos poderiam ver seu sofrimento. Odiava isso, odiava demonstrar seus sentimentos para os outros. Mas isso no momento não importava.


-Mione... – sussurrou, sentindo uma dor no peito.  


Rony lhe segurou a mão, estava muito fria. Com o dedão começou a fazer círculos nas costas da mão dela, e então foi que notou que estava usando a sua pulseira da amizade. A pulseira que ele havia dado para ela. Algumas lágrimas formaram em seus olhos e ele se segurou para que elas não caíssem.


Porque ele não contou? Porque ele quis esperar? Porque ele nunca a disse que a amava? Rony nunca tinha se arrependido tanto na sua vida. Soltou a mão de Hermione e roçou as pontas dos dedos em seus lábios pálidos.


Ela podia ter sido a sua Hermione. Apenas sua. Ele afastou alguns cachos que caiam eu seu rosto com os dedos.


Ela poderia te amar, mas não ter contado por medo, como você fez.


Ele sentiu a lágrima finalmente cair e antes que se controlasse seu lábios já estavam colados nos dela.


Rony ouviu exclamações em toda a sua volta, mas não ligou. Ele finalmente se rendeu, e sentiu as próprias lágrimas rolarem pelo seu rosto. Suas mãos seguraram o rosto dela e ele descolou os lábios para encará-la.


-Por favor, acorde... Por favor, eu não sei o que irei fazer se você não acordar. – eu sussurrava sentindo o desespero lhe tomar. – Por favor, você é minha melhor amiga, eu preciso de você. – ele a beijou novamente, sentindo os seus soluços fazerem seu corpo tremer contra o dela. - Pelo amor de deus, eu te amo Hermione, eu preciso te falar isso, acorde. – Ele pressionou sua boca contra a dela novamente, sentindo o gosto doce com que sonhou durante anos.


E então ele se separou de novo, só que dessa vez a segurou pelos ombros e a abraçou, enterrando seu rosto no corpo frio da amiga.


-E... Eu... Te... Amo Hermione. Po... Por favor, acorde... – Rony sentiu varias mãos quentes em seus ombros, afastando ele de Hermione. Ele se deixou ser levado, completamente sem forças. Seus olhos, embaçados, o impediu de conseguir ver quem havia separado as suas mãos de Hermione. Quando se deu por si ele tinha sido arrastado para um canto e Harry o abraçava de um jeito firme.


-Calma cara. Se controle. – Harry murmurava dando fortes batidas nas costas do amigo.


Rony se afastou dele e se se encostou à parede, as mãos cobrindo o rosto. Todos observavam seu desespero sem saber o que fazer o que pensar. Rony já não se importava com a vergonha. Só a queria de volta, pelo menos por um dia.


E então, depois de vários minutos de silêncio, o pai de Hermione chegou perto de Rony. Os dois se encararam, Rony com os olhos vermelhos, já sem chorar.


-Você realmente gostava dela, não é? – ele falou. O pai de Hermione estava incrivelmente triste.


-Se duvidar, mais do que você. – Rony murmurou, pensando em tudo que aquele homem tinha feito Hermione sofrer com sua mania de beber.


Os dois ficaram se encarando.


-Fico feliz de ela ter conhecido você. – ele disse por fim, sem sorrir, e se afastou, indo em direção ao caixão da filha.


-Ronald. – Sra. Granger ainda chorava. – Você poderia, por favor, me acompanhar até em casa? Tenho algo para lhe dar.


 


A sua mãe me deu carona para casa, e seu pai ficou mais tempo, para arrumar as coisas para o enterro. Achei melhor não assisti-lo, eu não ia conseguir agüentar.


Meus olhos ainda estavam inchados quando eu cheguei à sua casa. A Sra. Granger falou para eu ficar no carro enquanto pegava uma coisa. Quando voltou carregava um presente embrulhado.


 


-É para você, achei nas coisas da Mione enquanto escolha uma roupa para... – ela engoliu em seco. – Tinha um bilhete em cima dizendo que queria que entregassem para você.


 


Aceitei o presente e caminhei o quarteirão para chegar em minha casa.


Os meses se passaram, e eu não me atrevi a abrir o seu presente. Tentei seguir minha vida normalmente, sem muito sucesso. Acabava sempre te esperando ir lá em casa quando seus pais brigavam. Sentia como se você sempre estivesse ao meu lado.


Harry, Gina e Luna me ajudaram muito, mas nunca conseguiram preencher o vazio que você deixou. Finalmente tive coragem de abrir o seu presente, e senti meu peito apertar e meus olhos arderem ao ver o seu notebook e me lembrar de quando você me perguntou o que eu te falaria se você morresse amanhã.


Eu o abri e notei uma carta dentro dele. A peguei e comecei a ler, aquela dor no peito me sufocando.


 


Ron,


 


Sinto muito, mas muito mesmo não ter te contado nada. Não queria ver você sentir pena de mim, só me faria sentir pior do que já estava.


Sim, eu já sabia que iria morrer quando lhe perguntei aquilo. A curiosidade acabou me dominando, me desculpe. Eu ai contar, mas perdi a coragem.


Eu já estava há meses mal, tonturas, vômitos, entre outras coisas. Achei melhor consultar um médico, e ele pediu para eu fazer um exame. O resultado é que eu tinha um tumor, e que ele não podia ser operado.


Como eu já tinha 19 anos e era maior de idade, escondi a verdade de meus pais sem problemas, alegando ter sido apenas um mal estar e que o médico tinha receitado bastante repouso. Como eles estavam em crise no relacionamento, foi ainda mais fácil. De acordo com o médico eu ainda teria alguns meses de vida.


No começou eu fiquei bem mal, e você claro, percebeu. Lembro-me direitinho você perguntando, preocupado, o que eu tinha. Não lhe falei, era melhor guardar meu sofrimento apenas para mim mesma, e impedir que mais alguém fique no estado que eu estava. Na época eu também estava mal por aquele nojento do Draco Malfoy, eu lhe contei e você ficou irado.


Logo eu me acostumei com a idéia, e voltei a viver normalmente. Não me preocupava muito com os meus pais, eles eram fortes, iam conseguir superar mais cedo ou mais tarde, mas você Ron...


Eu passava dias e noites em claro, preocupada. Só de pensar que logo eu te deixaria sozinho, meu único amigo, a única pessoa que eu sei que me apoiaria, sempre. A única pessoa que me amava, de verdade. E foi você mesmo que me fez ter certeza disso.


Eu ainda queria ter sabido o que você falaria para mim se soubesse a verdade, mas não se preocupe que eu tenho certeza que você não pediria meu notebook. Mas como um último presente, quis dar para você, o bem material mais importante que tenho.


Eu só queria que você soubesse o quanto foi importante para mim, desde aquele dia em que você foi falar comigo enquanto eu chorava sozinha no meu aniversario de quinze anos.


Não Rony, eu não lhe contei sobre isso porque não confiava em ti, eu não lhe contei porque o amava, e não queria vê-lo sofrer.


Eu te amo Ron, nunca duvide disso.


 


                                               Beijos de sua amiga eterna, Mione


 


Aquela sua carta fez todo o meu sofrimento voltar. Como eu havia sido estúpido, eu tive a chance de lhe contar tudo o que sentia e a perdi.


Mas não sei por que, algo em sua carta me fortaleceu, e me fez parar de chorar toda vez que pensava em você. Ao invés disso eu sorria ao me lembrar do quanto eu te amava.


O que eu diria se soubesse que você morreria amanhã?


Tudo o que agora eu escrevi nessa carta. Escreveria em como eu me apaixonei por você desde que a vi sozinha sentada na mesa, o quanto nossa amizade era forte, tão forte que quando você se foi eu não sabia o que fazer. Fiquei sem comer durante semanas, fiquei com muita raiva de tudo e de todos, inclusive de você por me deixar. Fiquei depressivo, e cheguei até a pensar em suicídio.


Mas então eu me lembrei de você, do seu sorriso, das suas palavras. Não, você nunca iria querer que eu ficasse assim por sua causa. Ia querer que eu seguisse em frente, e que me lembrasse de você com carinho e saudade.


Foi isso que eu fiz, até hoje eu penso em você, e creio nunca ter amado ninguém assim antes.


Sinto muito por nunca ter te contado o quão realmente importante você era. E o quão sua presença foi significativa para mim. Você fez a diferença em minha vida. Você viveu pouco tempo ao meu lado, mas tempo o suficiente para se tornar inesquecível.


E a última coisa:


Sinto muito por não ter te falado que eu a amava muito mais do que uma simples amiga.


Eu te amo, e prometo nunca deixar de amar.


 


                                                                                  Ron, seu melhor amigo


 


Rony suspirou colocando a carta em cima do túmulo de mármore branco e saiu pelos portões enferrujados do cemitério, secando sua última lágrima.


 

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