O jantar




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.:. O JANTAR .:.
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Scorpius Malfoy se aproximava cautelosamente da casa. Apertou os dedos contra o vidro frio da garrafa e respirou fundo. Tentava a todo custo ficar calmo, mas a cada passo que dava; cada vez que se via mais próximo da casa; ficava mais nervoso. Ele tinha imaginado passar por essa noite há quatro anos, mas antes tarde do que nunca. E tudo que havia ensaiado para dizer parecia não ser bom o suficiente. Se bem que foram eles que convidaram, o que já é um bom primeiro passo, garantiu a si mesmo e sorriu ao relembrar a cena do dia anterior.


 


Scorpius checou o resultado dos exames mais uma vez antes de guardar o relatório de Samuel Sparington, seu mais novo paciente. O menino de apenas cinco anos havia se envenenado com alguma coisa misteriosa. Até agora nenhum antídoto estava fazendo efeito o suficiente para reverter os estragos do veneno, mas tudo indicava que finalmente haviam conseguido estacionar a evolução do caso. Foi até a garrafa sobre o balcão e encheu sua caneca com o líquido negro fumegante. Sentando-se no sofá do corredor para apreciar o movimento, passou a sorver com calma seu café.


Não havia passado nem ao menos um minuto desde que sentara quando viu que alguém parava a sua frente. Sobressaltou-se ao ver que era ninguém mais, ninguém menos que Hermione Weasley – a mãe de Rose. Ergueu-se rapidamente e a encarou assustado.


"Scorpius Malfoy, certo? Hermione Weasley." Disse ao estender a mão para ele.


"Sou eu e eu conheço a senhora."Ele apertou a mão da mulher a sua frente e depois ofereceu: "Café?"


"Não, obrigada. Não vou me alongar muito no assunto." Ela sorriu, mas ele não se convenceu de que seria uma conversa amigável. O que a mãe de Rose podia querer com ele? Só podia ser sobre o... quase namoro dos dois. Curioso, deixou que ela falasse. "Sei que você e minha filha andam se encontrando às escondidas." Um sorriso murcho surgiu no rosto de Scorpius. Ele sabia que só podia ser sobre isso... "O que não é algo nem um pouco razoável, principalmente considerando que vocês não tem mais quinze anos de idade." Scorpius concordava, mas o objetivo dele era tornar tudo público, enquanto os pais dela provavelmente queriam que tudo terminasse de uma vez. "Por isso gostaria de saber se você não gostaria de jantar em nossa casa amanhã."


Scorpius não acreditava nas palavras que ouvira. Por um momento não conseguiu responder devido à surpresa, mas logo a resposta que já tinha na ponta da língua há muito tempo saiu claramente com um sorriso. "Claro, Sra. Weasley. Será um prazer."


"Ótimo. Aqui está nosso endereço, caso não saibas ainda. Nos veremos amanhã às sete horas da noite."Scorpius não conseguiu desviar o olhar enquanto ela caminhava pelo corredor. Por mais repentino que tenha sido o convite, ele havia conseguido: finalmente conheceria o pai de Rose.


 


Encarou a porta por alguns segundos. Estendeu a mão para a campainha e riu de si mesmo ao notar que tremia. Quem poderia imaginar que ele, um Malfoy, estaria nervoso por conhecer a família da namorada?


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Rose cortava nervosamente os legumes para a salada. Cozinhar ao estilo trouxa normalmente era uma atividade que a acalmava, mas não estava surtindo efeito no momento. Ela passou o dia todo em estado de nervos, olhando a cada cinco minutos para o relógio. Estava pronta há mais de uma hora, andando de um lado para o outro quando sua mãe a colocou para ajudar na cozinha. "Vai dar tudo certo, filha. Agora fique calma e me dê essa faca antes que tu cortes teu dedo fora." Hermione disse para Rose quando ela cortou mais uma vez o dedo. "Posso saber qual é o problema?"


Rose entregou a faca para a mãe ao expressar sua principal preocupação. "E se ele não vier?"


"Então eu não vou ter que fazer de conta que a companhia é agradável." Ronald, pai de Rose, disse antes que Hermione tivesse chance de dizer alguma coisa.


"Pai! Tu prometeste!" disse Rose se virando para o pai com expressão de choque.


"Eu prometi que ia dar uma chance pra ele. Mais nada." Disse antes de provar um pouco da comida que estava no fogão.


"Não ligue pro teu pai, Rose. Ele vai se comportar devidamente." Hermione lançou um olhar ameaçador para Ronald. "Agora vai lá trocar tua blusa, respingou molho nela." Rose entendeu a deixa e seguiu para o quarto, mas não sem antes ouvir um 'vou me comportar se ele se comportar' do pai seguido por um tapa, provavelmente desferido por sua mãe.


Rose entrou no seu quarto, depois de saltar por cima do cachorro que dormia profundamente no corredor, e se olhou no espelho. "Porcaria..." Pegou a própria varinha e fez, da melhor forma possível, o feitiço que sua mãe teria feito na cozinha não fosse pela impertinência do seu pai. "Pelo menos Hugo não está em casa..." resmungou enquanto retocava a maquiagem. Deu um pulo quando a campainha tocou. "É ele!" Conteve o impulso de descer as escadas correndo e voltou a se olhar no espelho, encontrando – de acordo com ela – um enorme traço preto no rosto. "Porcaria!" Podia sentir as lágrimas surgindo em seus olhos quando sua mãe surgiu na porta do quarto, chamando-a para descer. "Eu não vou!" Ela sabia agora que esse jantar fora uma péssima idéia. Era melhor terminar antes que começasse. "Está tudo dando errado! Vai dar tudo errado!"


"Rose!" Hermione disse com firmeza pegando a filha pelos braços. "Olhe pra mim. Respire fundo. Tudo vai dar certo. Agora deixa eu arrumar essa tua maquiagem."


Enquanto a mãe atacava seu rosto com algodões e pincéis, Rose continuou lamentando. "Nada vai dar certo, mãe! Como que eu pude achar que isso ia dar certo? Ele vai sair daqui me odiando!"


"E nós não queremos que isso aconteça, não é? Então é melhor a gente descer logo porque ele está sozinho com teu pai na sala." A idéia de deixar seu pai sozinho numa sala com um Malfoy trouxe Rose de volta à realidade e ela seguiu a mãe para a sala.


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Scorpius sentiu seu coração acelerar quando a porta foi aberta. "Boa noite, Sra. Weasley." Ele agradecia mentalmente que não fora o pai de Rose quem abrira a porta.


"Boa noite, Scorpius." Respondeu a Sra. Weasley com um sorriso no rosto o que o tranquilizou levemente. "Entre por favor." Ela afastou a porta e Scorpius se viu pela primeira vez na sala de estar dos Weasley. Observava com leve surpresa o quão diferente a casa de Rose era da sua. Era muito sóbria e com grandes janelas para o jardim dos fundos. Não fossem por algumas fotografias que se moviam nos porta-retratos, poderia passar tranquilamente por uma casa trouxa. "Surpreso?" Ela provavelmente notara seu olhar de assombro.


"É, Sra. Weasley. Pode-se dizer que sim. É bem trouxa..." respondeu com um sorriso para ela.


"Se isso te incomoda é só dar meia volta e sair. A porta da rua é cortesia da casa." O pai de Rose entrou com os braços cruzados diante de si e com a cara fechada. Scorpius engoliu em seco: aquele não fora um bom começo.


"Ronald!" Scorpius ouviu a Sra. Weasley sibilar ao se aproximar do marido e murmurar num tom quase inaudível. "Você prometeu!"


"Acho que não me expressei bem, Sr. Weasley." Scorpius não iria se deixar abater por um mau começo. Não ele. Como um bom sonserino ele sabia o que queria – neste caso Rose – e faria o necessário para atingir seu objetivo. Nenhum obstáculo seria grande o suficiente. "Eu apenas me surpreendi. Todas as casas de bruxos em que já fui tem magia por todos os lados. A de vocês não. Eu sei que sua família é trouxa, Sra. Weasley, não foi minha intenção lhe ofender."


"Tu não nos ofendeu, Scorpius. Não se preocupe." Disse a Sra. Weasley interrompendo seu marido. Parece que ela também notou que ele iria repetir o convite anterior. Depois sorriu. "E se não te importas, prefiro que me chame de Hermione. Senhora faz eu me sentir velha."


"Prefiro que me chame de Sr. Weasley. Se não te importares, claro." Acrescentou o pai de Rose com um sorriso amarelo no rosto.


Scorpius sorriu em resposta e depois entregou a garrafa que trazia para o Sr. Weasley. "Trouxe em agradecimento pelo jantar."


"Vinho? Que original..." Scorpius não pôde deixar de notar o tom de escárnio das palavras dele. Mas antes que pudesse se defender de alguma forma, a Sra. Weasley interveio.


"Se bem me lembro tu levaste vinho para os meus pais quando foste pela primeira vez em minha casa." O Sr. Weasley tentou retrucar, mas sua esposa lançou-lhe um olhar significativo e pegou a garrafa. "Foi muito delicado de sua parte, Scorpius. Vou colocar na mesa para o jantar e chamar Rose. Sente-se. Eu já volto."


Scorpius sentou-se no sofá indicado murmurando um 'Com licença' com o Sr. Weasley sentado na poltrona em frente a ele. Esfregava a mão na calça, tentando se acalmar. O silêncio era insuportável, mas ele não sabia o que dizer e nem sabia se seria bom ser ele quem quebraria o silêncio. Então ficaram os dois sentados se olhando. O olhar do pai de Rose parecia lhe queimar, mas ele não desviava os olhos. Pelo que conhecia dos Weasley, aquilo significaria fraqueza – o que não deixaria de ser verdade. Após alguns minutos que mais pareceram décadas, ouviu passos na escada. Primeiro surgiu a Sra. Weasley com um sorriso encorajador e em seguida a razão e o alívio de todo aquele tormento. Rose estava encantadora, parecendo ainda mais um botão de flor com sua roupa esverdeada e seu cabelo preso displicentemente. No instante seguinte estava de pé e um sorriso involuntário surgiu em seu rosto enquanto via Rose se aproximar deles. Assim que ela parou em sua frente, resistiu a vontade de tomá-la em seus braços e beijou levemente a mão dela. Ela sorriu enquanto olhava nos olhos dele e ele sabia que se perderia naquele sorriso.


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Rose podia ouvir os próprios passos ecoando na escada. Seu pai e Scorpius estavam em silêncio, mas ela não sabia se isso era algo bom ou ruim. Ela esperava que seria melhor que se eles estivessem gritando um com o outro. Mas ela tinha nutrido uma esperança ridícula de que quando encontrasse os dois já teriam virado grandes amigos... Mais alguns passos e ela o viu. Lindo, como sempre, e usando a camisa que ela havia ajudado ele a escolher. Conteve seu impulso de correr até ele e se aproximou com calma. Ela sorriu quando ele pegou a mão dela e tocou levemente com seus lábios. Ficou olhando o brilho azul daqueles olhos até que um pigarro alto fez os dois desviarem o olhar.


"E então. O quão terrível foi o meu pai até agora?" Rose disse enquanto revirava os olhos. Por mais que eles tenham simplesmente rido da pergunta dela, ela sabia que seu pai não poderia ter sido educado em todos os momentos. Seria pedir demais... Mas não pressionou o assunto. Sua mãe logo chamou a todos para a cozinha e sabia que comer melhoraria o humor de seu pai. Sua mãe e Scorpius conversavam educadamente, sobre o trabalho dos dois, sobre Hogwarts e até mesmo sobre quadribol. Mas nada disso fez com que seu pai entrasse na conversa. Rose passou o jantar observando seu pai: ele ficara em silêncio, observando Scorpius o tempo todo, e mal tocara na comida – o que era um péssimo sinal por si só; não soubesse ela que ele estava tentando avaliar seu namorado, ela acharia que ele estaria morrendo. Mas no fim da conversa sobre quadribol, seu pai passou a dar garfadas generosas e ela respirou aliviada. Assim que engoliu a comida ele ergueu os olhos e defendeu os Canhões de Chudley e ela sorriu. Mesmo ele não tendo falado mais nada, era um começo.


Terminado o jantar, eles voltaram para a sala enquanto sua mãe lançava feitiços para organizar a cozinha. Rose sentou no sofá ao lado de Scorpius e ele segurou sua mão entre as dele. O calor dele a acalmava, e apesar de ter tudo transcorrido perfeitamente até agora, sabia que ainda não havia terminado. Ficaram em silêncio até que o celular de Scorpius tocou. "Desculpem, mas eu preciso atender. Pode ser algo do hospital." Disse depois de olhar quem ligava. "Monica? Na verdade eu estou um pouco ocupado... Estou jantando na casa da Rose. Algum problema?" Uma pequena pausa e ele voltou a responder. "Certo, até amanhã então." Ele desligou o telefone e guardou novamente no bolso murmurando um 'desculpe' novamente.


"Você é mesmo cheio de surpresas, Scorpius. Eu nunca imaginaria ver um Malfoy usando um celular!" disse Hermione ao entrar na sala.


"Minha mãe acha que ajuda a gente se misturar na multidão... E é bem útil quando precisamos falar com pessoas que vivem entre os trouxas." sorriu em resposta.


"Olhe aqui, Malfoy." Ronald se ajeitou na poltrona e apoiou os cotovelos sobre os joelhos. "Tu podes continuar se fazendo de bom moço, mas isso não muda o fato de que eu não gosto de ti."


"Pai!" Rose não se conteve e o interrompeu. Tentou se levantar mas Scorpius puxou-a novamente para se sentar.


"Deixe ele falar, Rose. A gente veio aqui pra ouvir a opinião dele, não foi?" No entanto ele continuou segurando a mão dela e a acariciava com o polegar, enquanto voltava a prestar atenção no pai de Rose.


"Continuando. Eu não gosto de ti e não gosto desse namoro de vocês." Ele fez uma pausa e se levantou da poltrona. "Mas infelizmente não cabe a mim decidir isso. E tens muita sorte de eu não conseguir dizer não para a Rose... Só não ache que estou feliz com isso e se minha filha voltar outra vez da tua casa chorando, podes ter certeza que Hermione não vai conseguir me segurar de novo. Eu vou pessoalmente me certificar que o responsável se arrependa amargamente."


Rose viu em choque seu pai sair da sala e entrar em seu escritório. Assim que se recuperou ela se ergueu do sofá e correu até lá, onde encontrou o pai olhando pela janela. "Pai..." chamou baixinho. Assim que ele se virou, Rose se jogou nos braços dele e o abraçou com força, suspirando em seu ouvido. "Obrigada!"


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N.A.: Bem galerinha, lá vai mais um bonus de "Hugo e Monica". Quem ainda não leu, devia ler, só não digo que é uma ótima história porque senão me acusam de não ser modesta... Hehehe. E espero que tenham gostado! E que deixem aquele comentário esperto! Beijos!

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