A menina e a sombra da moça.



“Deixo tudo assim. 
    Não me importo em ver a idade em mim, 
    Ouço o que convém. 
    Eu gosto é do gasto”.
    
    Ela era apenas uma criança e não sabia como crescer, na verdade, não queria, não se importava... Era como se seu mundo estivesse envolvido por uma imensa e incrível névoa gigante, de onde ela só sairia se existisse uma saída visível, e para ela talvez não houvesse o visível.

    Era um dia de chuva, não havia alunos perambulando aos arredores do castelo.
    A chuva era fina e gélida, mas Luna estava sentada sob aquela antiga árvore observando o lago.

    A pequena loirinha cursava seu primeiro ano em Hogwarts, não tinha amigos, não tinha grandes planos. Ela sabia que ali apenas podia contar com sua inteligência e imaginação. Os outros a achavam esquisita, a olhavam como se fosse a última bruxa da face da terra e ela sabia.

    Já havia se passado uma hora desde que ela estava ali sentada em frente ao lago, embora fosse uma tarde de sábado, não havia nada de interessante para se fazer dentro do castelo.

    Enquanto a menina se distraia arremessando algumas pedrinhas na água, uma ruiva baixinha se aproximou.

    - Eu posso me sentar ao seu lado? – indagou a ruiva.

    Luna olhou para ela, como se a estudasse, a fitou por alguns segundos.

    - Posso? - a ruiva insistiu.

    A loira confirmou com a cabeça, imediatamente e a outra menina se sentou.

    - Luna Lovegood, não é?

    - Uhum.

    - Prazer Luna, eu sou Gina.

    - Weasley?

    - Isso, Gina Weasley.

    - Meu pai disse que vocês moram perto da nossa colina.    

    - É, acho que é perto.

    Silêncio. Luna continuava compenetrada no lago.

    - Sabe, concordo que você achou um bom lugar aqui embaixo dessa árvore, onde a chuva não te alcança - disse Gina olhando para a pequena Luna -, mas ainda assim, está um tempo bem frio para estar fora do castelo...

    Luna não esboçou reação alguma. Gina continuou a olhá-la como se esperasse alguma resposta.

    - Eu gosto desse tempo, mas se ele estiver te incomodando, você pode voltar para o castelo - a garota falou de repente.

    - Não, na verdade, por mim está tudo bem, estou agasalhada... mas você está sem moletom, é um pouco preocupante.

    Luna a encarou. Gina se sentiu um pouco envergonhada, aqueles grandes olhos azuis da menina pareciam prontos a invadi-la.

    - Desculpe... mas, preocupante? - perguntou Luna, mais uma vez de repente.
    
    - Sim... você pode pegar uma gripe.

    - E você se importa com isso? - ela continuava a encarar Gina.

    - Ora... se seremos amigas... é claro que vou me importar - respondeu Gina simplesmente.

    Luna abriu um leve sorriso e voltou a fitar o lago.

    - Você não deveria se isolar por causa das pessoas que não te entendem Luna.

    - Eu não me isolo. E também não ligo para ninguém.

    Gina suspirou.

    - Quer que eu busque um moletom para você?

    Luna certamente não entendia o repentino interesse de Gina por ela, mas não se incomodava. A garota era legal e desde que chegara a Hogwarts, há duas semanas atrás, Gina a olhava de forma gentil.

    - Eu gosto do vento frio na minha pele – disse Luna.

    - Hum... então... tem certeza de que está bem assim?

    - Tenho.

    Novamente silêncio. Luna continuava a encarar o lago e Gina deitou-se sobre a grama levemente úmida.

    - Quantos anos você tem Luna?

    - Onze.

    A garota levantou-se de repente perguntando:

    - O que você tanto olha para esse lago?

    - As gotas caindo na água. É lindo quando elas o tocam e se formam um só.

    Gina olhou para o lago. O observou por alguns segundos.

    - Pelo visto você acha isso muito interessante, não? – indagou a ruivinha.

    Luna confirmou com a cabeça. Mais uns segundos e ela falou:

    - Mas não é só isso... eu fico impressionada com a idade desse lago. Quando minha mãe estudou aqui ele já existia.

    - É... É antigo como tudo que há na natureza... certo?

    Novamente Luna confirmou com a cabeça sem tirar os olhos do lago.

    - Eu estou esperando os Arginórios. Eles sempre saem do lago em dias de chuva - disse Luna. Seu tom de voz sempre calmo e lento chegava a fazer Gina relaxar.

    - Arginórios... – repetiu Gina com ar de dúvida - e o que são?

    Luna suspirou, em seguida fitou Gina.

    - São como peixes de um metro e possuem asas azuis. Ontem eu vi um. Por isso estou aqui esperando.

    Gina soltou uma gargalhada, mas tentou prendê-la.

    - O que foi...? - Luna perguntou, ainda olhava para Gina e seus olhos transmitiam curiosidade, como se a ruiva não pudesse estranhar a existência de Arginórios.

    - Desculpa Luna, mas eu nunca ouvi falar nessas criaturas, muito menos aqui no lago de Hogwarts - respondeu Gina finalmente, após conseguir conter sua gargalhada.

    - Hum...- A pequena loirinha voltou a fitar o lago. - Mas existem... minha mãe me contou mais sobre eles hoje.

    Gina a olhou com um ar apreensivo, mas Luna não percebeu.

    - Sua mãe te falou hoje? - Gina certamente não estava entendendo, ela sabia que a mãe da menina havia morrido há dois anos.

    - Falou sim - Luna respondeu deitando-se na grama úmida. Agora ela olhava para o céu como se existisse um ponto fixo nele. - Ela está ali - a menina apontou para uma nuvem bem dispersa no céu fechado. Gina também olhou.

    - Ela está naquela nuvem?    

    - Ela é aquela nuvem. Pena estar tão longe... tão gasta... mas assim como aquela nuvem está no céu mesmo chuvoso, ela está na minha vida, mesmo nublada.

    Gina a olhou e viu um pequeno sorriso no canto da boca da garota.

    Ali entendeu que Luna era muito mais que qualquer um pudesse imaginar...


                ----------x----------

    “Sei do incômodo e ela tem razão
    Quando vem dizer que eu preciso sim
    De todo o cuidado.
    E se eu fosse o primeiro
    A voltar pra mudar o que eu fiz.
    Quem então agora eu seria?
    Ah tanto faz! E o que não foi não é,
    Eu sei que ainda vou voltar... Mas, eu quem será?”.


    Ela corria desordenadamente por entre as árvores que existiam na relva aos arredores de sua casa, ela corria atrás de Rimbus, seu coelhinho. Nos dias anteriores tinha chovido e no chão havia muitas poças d’água como conseqüência. Luna estava se sujando cada vez mais, Rimbus era muito esperto e a deixava completamente tonta, ela caia, rolava, se arrastava atrás dele. Os dois certamente estavam se divertindo muito, mas em certo momento, Luna distraída tropeçou em um galho seco caindo de frente em uma poça, aquela se encontrava em uma descida um pouco íngreme, o que levou a menina a deslizar rápida e violentamente. Uns segundos e a pequena Luna já estava estatelada de cabeça em uma grande árvore, inconsciente.



    
    - Por que você não estava de olho nela Xenofilius?! Eu não entendo você! Ela tem apenas nove anos!

     Luna abriu os olhos, havia acordado de um susto com a doce voz da sua mãe, dessa vez, transformada em gritos estridentes. 

     - Abbie me escuta! Eu não podia estar com os olhos grudados nela vinte e quatro horas por dia, ela vive para lá e para cá brincando com o coelho...  O  que você queria que eu fizesse?

     Agora podia ouvir também a grave voz de seu pai, não tão alterada quanto à de sua mãe, mas ainda assim, alta. Luna notou que estava deitada em seu quarto, havia algumas feridas em seus braços e pernas, e sua cabeça estava com um curativo razoavelmente grande na testa. É claro, ela se lembrara do incidente naquele exato momento.

     - Como assim o que eu queria que você fizesse?! Que a vigiasse, sabe como ela apronta, ela é frágil, ela precisa de todo cuidado, é apenas meu bebê...

     Luna ouviu por fim a voz de sua mãe falar essas palavras, voltando à calma e doçura de sempre. Em seguida ela entrou no quarto e olhou a menina que estava a observar a porta, atenta aos gritos que de lá vinham.

     - Minha pequena... então você já acordou? - Abbie falou enquanto se dirigia a cama de Luna e se sentava ao seu lado.

     - Sim mamãe... não precisa discutir com o papai, a culpa foi minha... 

     - Esquece isso minha querida, tudo bem? Você só precisa relaxar para que o Ditamno do seu pai termine o efeito nos cortes. Você já está quase boa.

     - Tudo bem... desculpe ter caído tão feio, mas só estava brincando com o Rimbus... Onde ele está?

     - Ele está bem. Pode ficar tranqüila minha vida.


                          ---x---

     Alguns dias se passaram e Luna procurava sua mãe pela sua inusitada casa, quando finalmente a achou no jardim. Aproximou-se devagar. A Senhora Lovegood estava brincando com alguns passarinhos que habitavam o local.

     - Mamãe... está ocupada?

     A Senhora Lovegood a fitou com o olhar doce de sempre, doce assim como sua voz.

     - Não minha vida, estou conversando com os pássaros Búlgaros que você e seu pai me deram de Natal.

     - Eles são lindos não é mamãe?

    - São sim minha querida, e serão muito úteis também. Estou preparando uma nova poção muito poderosa, e pelas minhas contas, duas penas de cada um desses pássaros é a chave para dar certo.

    - Hum... e a senhora que está inventando esta poção?

    - Isso mesmo minha vida, assim como quase tudo que faço - a mãe lhe respondeu sorrindo e em seguida voltando a brincar com os passarinhos.

    Luna esperou cerca de dois minutos e perguntou:

    - E tem certeza de que vai dar certo?

    A mãe a olhou curiosa, como se fosse a pergunta mais improvável  a ser feita.

    - Claro... - ela respondeu com certo peso na voz.




    Algumas horas mais tarde daquele mesmo dia, Luna por algum motivo andava apreensiva, queria ver sua mãe, mas ela estava ocupada na sala de feitiços. Seu pai já havia lhe dito para não atrapalhar aquela nova experiência, já havia lhe dito para esperar sua mãe sair da sala para poder ter a atenção que necessitava. Ela claramente não gostava de ser interrompida, nem mesmo por sua querida Luna.

    Mas a pequena loirinha não conseguiu esperar, ela foi caminhando sorrateiramente pelos estreitos corredores até o porão, onde se encontrava a sala de feitiços. Luna observou a porta e ao encostar na maçaneta percebeu que a sala não estava trancada, ela abriu vagarosamente a porta, e pela fresta observou sua mãe com toda a atenção contida a um frasco razoavelmente grande à sua frente. A Senhora Lovegood naquele momento pegara as quatro penas que separara dos dois pássaros Búlgaros e com toda uma expectativa as jogou no frasco. Imediatamente as penas foram absorvidas e uma explosão sem tamanho ocupou o local. Luna naquele momento via sua mãe desintegrar-se à sua frente.




    A pequena loirinha da Corvinal sentou-se assustada na cama, o suor frio descia por seu rosto pálido. Havia tido um sonho com sua falecida mãe, um sonho infelizmente, real.

    Era um dia de domingo muito bonito, Luna se levantou da cama e caminhou até a janela do dormitório, as outras meninas já não se encontravam ali, provavelmente já se passara do meio dia. Luna gostava de dormir e entreter-se no mundo dos sonhos, mas o que já há um bom tempo não acontecia havia ocorrido aquela noite, um pesadelo.

    A garota se arrumou e dirigiu-se até a sala do professor Flitwick – o diretor de sua casa. Ao chegar à porta, bateu prontamente. A porta abriu-se instantaneamente.

    O professor estava sentado atrás da mesa, escrevendo em um vasto pergaminho. Quando a porta se abriu, observou Luna.

    - Pois não Lovegood? - perguntou com sua vozinha esganiçada.

    Quando Luna se aproximou, notou que o pequeno professor estava sentado sobre uma pilha de livros na cadeira.

    - Desculpe interromper... mas eu gostaria de falar com o professor Dumbledore e não sei aonde o encontrar. Será que o Senhor poderia me levar até ele?

    - E eu poderia saber o que a senhorita deseja falar com o professor Dumbledore?

    A garota deu um leve suspiro.

    - Eu tive um sonho com minha mãe e queria fazer uma pergunta a ele, apenas isso - respondeu simplesmente.

    O diretor da Corvinal a olhou com certa surpresa e após uns segundos falou prontamente:

    - Está bem... eu te levarei até a sala do professor Dumbledore.

    Caminharam por alguns minutos, passaram por escadas e diversos corredores. Finalmente chegaram ao fim de um corredor e a sua frente havia uma gárgula de pedra muito feia.
 
    - Gota de limão - disse Flitwick e na mesma hora a estátua afastou-se para o lado. A parede a seguir se abriu em dois e Luna observou uma escada em caracol atrás da parede. 

    - Pode ir Senhorita Lovegood. Basta subir esta escada. - E a deixando entrar desapareceu em seguida pelo corredor.

    Luna mal pôs seus pés na escada e as paredes se fecharam novamente. Como uma escada rolante ela a levou para cima. Ao sair da escada Luna se viu em frente a uma porta de carvalho com uma aldrava em forma de grifo.

    A menina abriu a porta. Enquanto observava tudo com a maior cautela e admiração possível uma voz interrompeu seus pensamentos.

    - A que devo o prazer de sua visita Luna Lovegood? 

    A menina virou-se, e lá estava Alvo Dumbledore, parado ao pé de uma pequena escada de cimento.

    Ela não conseguiu responder.

    - Sente-se Lovegood - ele falou se aproximando e apontando a cadeira de frente a grande mesa de madeira.

    Luna se sentou e o professor também, na cadeira ao outro lado da mesa.

    - Então... ainda não respondeu criança...

    - É... eu gostaria de saber... - Ela parecia bastante nervosa ao tentar fazer a pergunta. - Se existe algum feitiço que volte o tempo. - Finalmente as palavras saíram de sua boca.

    Dumbledore a olhou com ternura por cima de seus óculos de meia lua.

    - Pequena Luna... me permite te contar uma coisa?

    - É claro...

    - Os homens sábios não procuram a felicidade no passado e sim na verdadeira glória que o poder do presente exerce sobre o futuro.

    Luna o olhava intrigada.

    - Eu entendo que o sonho com sua mãe tenha refrescado sua memória, mas não se pode deixar uma nostalgia te prender. Você é uma ótima criança, e tenho certeza, se tornará uma bruxa impecável.

    - Como o senhor sabe sobre o sonho?

    Ele apenas sorriu.

    - Seus olhos estavam com um brilho de esperança quando você entrou por essa porta, e se me permite dizer, nunca perca esse brilho de esperança, pois sua mãe estará para sempre dentro de você.

    Silêncio.

    - Está certo... desculpe-me interromper o senhor.

    - Não me interrompeu criança.

    Luna já ia se levantando e abrindo a pesada porta do local quando ouviu a voz de Dumbledore.

    - Lovegood... 

    Ela o olhou.

    - Fique com isso para você. - Na mão dele havia pendurado um amuleto prata, sem brilho algum.

    Ela caminhou até o professor e pegou o objeto.

    - E para que serve professor?

    - Arrisco dizer que vai te proteger quando estiver irritada ou triste, mas se existir um outro poder mais eficiente, você descobrirá com o tempo.

    Luna confirmou com a cabeça e saiu pela grande porta de carvalho.


                ----------x----------

    “Deixo tudo assim, não me acanho em ver
    vaidade em mim.
    Eu digo o que condiz.
    Eu gosto é do estrago.
    Sei do escândalo e eles têm razão.
    Quando vem dizer que eu não sei medir,
    nem tempo e nem medo.
    E se eu for o primeiro
    a prever e poder desistir do que for dar errado?”

    Gina e Luna estavam estudando História da Magia na biblioteca, estavam usando os últimos tempos vagos daquele sábado para terminar um relatório em dupla que o professor Binns havia passado para a próxima terça-feira.

    - Eu estou com um pouco de fome e o jantar já deve estar sendo servido Luna... Será que não poderíamos terminar amanhã?

    A menina a olhou.

    - Sim, podemos - respondeu já recolhendo todo o material.

    Elas não eram o que poderia se chamar de grandes amigas, mas Gina era a pessoa mais próxima de Luna no castelo, e Luna até que simpatizava com a garota, só não deixava isso transparecer muito, ainda mais por aqueles dias que Gina andava bem distante, triste, pálida e até mesmo meio chorosa.

    Ao chegarem no salão principal observaram que o jantar já havia sido servido há algum tempo, não havia muitos alunos, e apenas dois ou três professores no local. Cada uma sentou-se à mesa de sua respectiva casa e começaram a se servir.

    Luna estava quase acabando sua refeição quando um garoto loiro, magrela, de olhos fundos e rosto pálido se aproximou junto à seus inseparáveis “cães de guarda”.

    - E então Lovegood, como vai o mundo da Lua?! - o garoto mal terminara de falar e caiu na gargalhada, junto aos outros dois meninos e alguns estudantes da própria Corvinal.

    Draco Malfoy, Crabbe e Goyle é claro, estavam ali prontos a zombarem da pequena Luna.

    A menina simplesmente os olhou e não esboçou qualquer reação. Alguns alunos de outras casas que estavam ainda sentados às outras mesas levaram seu olhar ao burburinho, inclusive Gina.

    - Você é surda? Eu falei com você Loony! - Draco continuava a perturbar a menina que ainda o olhava quieta.

    - Deixa ela em paz Draco! - ouviu-se uma voz estourar por entre os alunos.

    O menino loiro se virou e lá estava Gina Weasley bufando como se ele tivesse insultado sua mãe.

    - O que foi Weasley, não me diga que agora faz parte do incrível mundo da lua de Loony Lovegood? Ah... mas é claro, você é muito esquisita... Vive por ai quieta e pálida como se estivesse doente... – disse rindo-se – Deve ser tão pirada quanto! Ainda mais sendo uma Weasley!

    Gina arregalou os olhos e fechou o ar furioso. Ele se voltou novamente à Luna.

    - É Loony... você realmente não tem jeito, além de não saber ter amigos não mede o tempo...gostaria de saber se nesse seu mundo você encontra com sua queridinha mãe... sua mente deve ser estragada...- O garoto de repente ficou mais pálido do que o costume. Luna se levantou de um impulso o encarando sem pestanejar. Os alunos à volta da pequena confusão poderiam dizer que Luna obtinha um olhar assassino.

    Cinco segundos e Draco Malfoy começara a ficar vermelho e empolado, se coçava como se fosse arrancar sua pele.

    - O que você fez sua pirada?! Você me enfeitiçou! - e gritando saiu correndo pela porta do grande salão, Crabbe e Goyle logo atrás também bem desnorteados com a repentina vermelhidão do garoto.

    Alguns alunos riam, cochichavam, outros visivelmente a olhavam com temor, mas ainda assim eles foram se dispersando. Gina continuava no mesmo lugar de quando Malfoy havia a insultado. Se aproximou de Luna e com uma voz bem falhada falou:

    - Tem algo brilhando por dentro de sua blusa...

    A menina olhou para baixo e viu uma luz um pouco forte que brilhava por dentro de sua blusa, logo deduziu que fosse o medalhão, mas sem nada falar começou a correr em direção à torre mais alta do castelo.

    Já havia se passado vinte minutos desde que Luna estava ali sentada sobre a mureta admirando aquele lindo céu limpo. O medalhão à sua mão já não mais brilhava. 

    - Ta uma noite linda... - a pequena loira pôde ouvir a voz de Gina. Logo a fitou, ela estava à entrada da saleta.

    Luna esbanjou um meio sorriso.

    - Eu te segui, me desculpa – pediu  Gina.

    Luna suspirou como se consentisse.

    - Você está triste? – perguntou Gina.

    Luna voltou seu olhar ao céu.

    - Não... 

    - Aquele Malfoy é um imbecil... não ligue para ele - Gina falou se aproximando e ficando ao lado da menina. - Aqui é bem alto, não tem medo de cair? 

    - Lá em baixo está o lago, os Arginórios me protegeriam...

    - Entendi... - O clima parecia um pouco tenso, Gina nem sentira vontade de rir ao ouvir mais uma vez sobre Arginórios.

    - Por que você está tão abatida por esses tempos? - perguntou Luna de repente.

    Gina a olhou surpresa, certamente não esperava a pergunta da menina, era tão calada que nunca fazia perguntas, apenas a ouvia, sempre.

    - Não sei... realmente... – respondeu um pouco hesitante – deixe para lá...

    Luna confirmou com a cabeça.

    Silêncio, ele radicalmente pairava no ar aquela noite.

    - Você acha que minha mente é estragada? - Luna perguntou, mais uma vez de repente.

    - Não! Claro que não! Aquele imbecil não sabe o que fala, ele que é um estragado!

    - Minha mãe costumava dizer que eu não tenho medo, mas hoje eu descobri que realmente um imbecil como ele pode me deixar triste. Descobri quando esse amuleto brilhou. Acho que ele me protege quando fico brava ou triste.

    Gina olhou o objeto na mão da garota.

    - Isso é muito interessante... – disse Gina com olhar curioso. - O que aconteceu com Malfoy então foi obra desse amuleto?

    - Acredito que sim.

    Mais uma vez silêncio. E mais uma vez estranhamente Luna o quebrou.

    - Minha mãe também costumava dizer que eu era a vida dela, então eu penso... - Pausa. - Se eu era a vida dela e ela morreu, então eu morri junto.

    - Não, claro que não, você esta aqui Luna, viva...

    - Ninguém poderia entender que meu mundo é particular. E por isso mesmo me julgam de maneira errada, a verdade é que ninguém sabe de nada.

    Gina a olhava atentamente.

    - Se aquele menino tem razão, eu gosto desse estrago, eu gosto de ter os meus sonhos, pois ninguém invade.


                ----------x----------

    “Ah, ora, se não sou eu quem mais vai decidir
    o que é bom pra mim?
    Dispenso a previsão.
    Ah, se o que eu sou é também
    O que eu escolhi ser aceito a condição
    Vou levando assim.
    Que o acaso é amigo do meu coração
    Quando falo comigo, quando eu sei ouvir...”

    Todos estavam indo de volta para casa. Luna se encontrava em uma das últimas cabines do expresso de Hogwarts, sozinha.
 
    Faltavam apenas uns dez minutos para a chegada na estação de King’s Cross em Londres quando a pequena loira ouviu um barulho parecido com um pigarro vir da entrada da cabine. Era Gina.

    - Posso me sentar? – perguntou a ruiva.

    - É claro.

    - Eu estava com Harry, Hemione, Rony, Fred e Jorge na cabine 21 brincando de snap explosivo - disse Gina enquanto observava Luna se distrair com um doce de abóbora que tentava repartir igualmente em dois. 

    - Legal. 
 
    A ruiva desistiu de contar mais sobre a animação na outra cabine para a menina e agora fitava atentamente a paisagem. Depois de muito se esforçar Luna conseguiu repartir o doce, olhou para a menina com um breve sorriso no rosto, mas esta apenas olhava para fora da cabine do trem, como se não existisse mais ninguém ali dentro. Certamente era uma atitude muito inesperada para a caçula dos Weasley.

    - Você está triste Gina?

    A menina a olhou.

    - Na verdade, um pouco.

    - Quer o outro pedaço do meu doce de abóbora...? - Luna perguntou já mordiscando o seu pedaço. - E por que? - indagou com a boca um pouco cheia da guloseima.

    - Não Luna... obrigada.

    Luna estendeu a mão com o outro pedaço do doce na direção de Gina ignorando totalmente a resposta da menina. A pequena ruiva o pegou e logo em seguida Luna novamente perguntou:

    - Mas por que está triste?

    - Não sei ao certo, acho que pelas coisas que aconteceram, também tenho a impressão de que estão me evitando... embora eu tenha certeza de que é apenas impressão... Eu não gostaria mais que coisas ruins como as que aconteceram se repitam novamente comigo.

    Luna mastigava compenetrada seu doce. Demorou um tempo até falar:

    - Ninguém realmente sabe o que aconteceu lá em baixo na câmara secreta, você no fim pode até mesmo ser admirada. Esteve em um mesmo local com um basilisco! É certamente uma criatura apavorante... embora eu tenha certeza que Arginór...

    Gina interrompeu a menina.

    - Arginórios seriam eficientes contra eles. Eu sei, você já comentou isso - a garota falou dando uma breve risada. - Você parece feliz em voltar pra casa.

    - Sim, estou - Luna falou com um atencioso sorriso nos lábios, e um brilho incomum nos olhos que Gina agora percebera, estavam quase escuros de tão cinza. 

    A ruiva voltou a fitar a paisagem.

    - Gina - a ruiva a olhou novamente. - Ninguém deve se guiar por previsões de futuro e muito menos condições de amizade... tudo está no incondicional, o verdadeiro amor e importância está apenas no incondicional. Nenhuma falsidade é merecedora da tristeza de alguém. Quem realmente te importa com certeza sabe que você só estava sendo usada. Daqui a alguns dias todos esses alunos tolos que acreditam em qualquer coisa já terão esquecido que um dia você matou galinhas guiada por um diário velho.
    
    Gina continuava a olhar a pequena garota, tão zombada... Loony... E como poderia ser aquela garota dona de palavras tão sinceras e verdadeiras? Ela sabia que poderia, desde o primeiro contato ao acaso que tivera com a loirinha de olhar arregalado e voz confortante.

    - Luna - a ruiva sorriu unicamente. - Eu tenho certeza de que sentirei saudades de você durante as férias.

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