.: Capítulo 2 :.



- 2 -
Um simples beijo




Harry acordara tarde naquela manhã. Há muito tempo não dispunha de uma noite tranqüila e inteiramente de sono. Sorriu de olhos fechados, espreguiçando-se cuidadosamente, temendo acordar a moça que dormira atada a si durante toda a noite. Suspirou virando-se de lado, e para sua surpresa a cama estava vazia. Não havia nenhum sinal de Hermione.

Com a ausência da amiga, o perfume dela invadiu-lhe os sentidos, e Harry o aspirou com vontade. Tinha até saudades do cheiro de Hermione. Disso não tinha dúvida alguma. Sorriu ainda mais, sentando-se na cama.

Imaginou que a morena saíra bem cedinho com medo de uma inspeção relâmpago. E a julgar pela intensidade dos raios de sol que entravam pelas cortinas, a manhã já transcendia rápida. Levantou-se e seguiu para o banheiro, trocou de roupa, e desceu as escadas.

A casa estava enormemente presa num silêncio exacerbado. O pai deveria estar no ministério, e o paradeiro de Lílian e Hermione era total desconhecido. Passou pela sala, e adentrou na cozinha. O seu café da manhã, ainda estava disposto sobre a mesa de quatro lugares. Sentou-se em seu espaço de costume, o qual seria de frente para Hermione se ela estivesse ali.

Sem mais esperar seu estômago reclamar mais uma vez, comeu tudo que lhe fora privado nas dependências da academia. Lá não havia as delícias que a mãe preparava sempre. Nada de bolos, ou panquecas. Geléia então seria um luxo ostentável para eles. Bebeu o suco de laranja num gole só, estava com muita sede, e aquele suco natural da fruta, era divino.

Deixou seu corpo descansar no encosto da cadeira, relaxado, literalmente em casa. Terminava de comer, quando escutou algumas vozes vindas da sala. Conhecia ambas as vozes com exatidão. Agarrou uma maçã na fruteira, e levantou-se. Passou a caminhar lentamente, mordendo a fruta, apreciando o sabor dela.

- Mãe? – chamou ele, pronto para entrar na sala.

Como ninguém respondera, Harry achara que aquilo era um sinal positivo a sua ida até lá. Calmamente, ele entrou no cômodo, mas logo aquela calmaria toda se evaporara, saíra de cena rapidamente. Parou de chofre, quando seus olhos pousaram sobre Hermione. A maçã dentro da boca parecera muito mais sólida do que qualquer pedregulho existente, e ele engasgara-se com tamanha surpresa. Tossiu, chamando a atenção para si.

Lílian voltou-se para ele, preocupada, deixando a moça a resmungar por conta de um alfinete que a espetava. Envergonhada, Hermione virou-se para ele, que a fitava com extrema cobiça. Aquela cor vinho escuro caía perfeitamente sobre a pele um tanto alva da repórter, realçava-lhe o brilho natural que tinha. Sem contar que seus olhos estavam mais claros e vivos, prendendo o olhar de Harry.

O estilo do vestido de Hermione não tinha muitas pretensões, ele conseguia por si só, tornar-se elegante. Aliando apenas um tecido simples emoldurado perfeitamente ao seu corpo esbelto. Como ponto forte, o efeito plissado valorizava a região do busto, e esvoaçava a saia longa. Outro chamariz ficava por conta do trabalho de lástex do corpo, ganhando ares românticos com a fita de cetim que envolvia a cintura fina da moça.

O rapaz sentiu algo assumir conta de seu peito, e engoliu contra vontade a maçã que passara rasgando em sua garganta. Ainda tossiu mais uma vez, antes que a morena se virasse de costas. Enrubescida. Afinal não era sempre que vestia algo assim tão formal, e queria que fosse uma surpresa no dia da formatura.

- Estou tão feia com esse vestido, que o Harry até se engasgou. – resmungou ela, cruzando os braços. – Eu disse que não queria essa cor, e esse modelo é muito chamativo!
- Não seja boba, minha filha. Você está tão linda, deve ser por isso que ele se engasgou... – comentou Lílian, e o filho coçou a nuca, desajeitamente. Enquanto Hermione escondia um sorriso.
- Não precisa falar como se eu não estivesse aqui, mamãe. – sussurrou Harry. – Você não está feia, Mione. Está linda! Muito linda...
- Verdade? – perguntou, fitando-o agora.
- Eu nunca minto pra você... – retorquiu, sorrindo sem jeito.
- Vou usá-lo na sua formatura.
- Sim, e vai ser a moça mais bonita de toda a festa! – falou Lílian, orgulhosa, tanto por Hermione quanto pelo vestido, o qual ela própria criara. – Não acha, querido? – emendou a pergunta, e ele assentiu.
- Agora quem está sendo exagerada, é a senhora... Haverá outras tantas, muito mais bonitas que eu, que sabem andar elegantemente em cima de um salto alto. Eu ainda tenho que treinar, ou passarei a festa toda sentada! – reclamou ela, sentando-se no sofá, e retirando as sandálias. – Já estão, inclusive, me incomodando...

Lílian sorrira, e balançara a cabeça a esmo. Embora Hermione fosse uma mulher extremamente bela, ainda era insegura com sua aparência. Alegava sempre ser desajeitada, e pouco feminina. Fato este devido a sua infância e adolescência, a qual passara na sua maioria em companhia de garotos. No entanto, ela nem sabia que poderia causar um frisson onde passasse. Assim como aquele que Harry sentia nesse momento.

Ele se repreendia por sentir aquilo. Nunca olhara para ela desta forma. Apesar disso, não se surpreendia mais com seus sentimentos. Sempre a amara, contudo poderia estar começando a amar Hermione de uma maneira diferente.

E isso sim poderia assustá-lo.

Entre meio as suas constatações, imaginou que quantidade de olhares masculinos ela atrairia durante a festa. A qual já tinha destino certo. Este seria sempre ao lado dela. Continuamente sentia ciúmes, mas nada exagerado. E isso parecia também estar mudando. Sentou-se na poltrona, observando-a, massagear os pés. Outra vez aquele arrepio lhe perpassou todo o seu corpo.

Logo ela se levantara a pedido de Lílian, que ajustava algumas coisas no modelo. Visivelmente ela estava impaciente, pois a toda hora soltava suspiros longos. Harry esquecera-se do que havia sentido a pouco, na verdade, já se acostumava com aquilo. Perder-se-ia ali, admirando a morena. Ela parecia desconfortável.

Poderia ele estar olhando demais?

Desviou seus olhos, embora isso lhe custasse. Embarcou em seu próprio mundo de pensamentos. Escutava as duas conversando, Hermione, reclamava a cada segundo. E Lílian ralhava com ela. Um embate de teimosia. Depois nada mais.

- Harry?! Alô?! – exclamou a bruxa mais nova, postando-se a frente dele.
- Hum? – balbuciou o moreno, virando-se para ela.
- Em que estava pensando? – perguntou Hermione, com um sorriso travesso nos lábios.
- Em nada, por quê? Cadê minha mãe? – indagava, olhando para a sala vazia, exceto por eles.
- Mamãe foi lá em cima, chegou coruja do papai, você nem viu! – disse sentando-se no braço da poltrona. – Harry, posso te perguntar uma coisa?
- É seu trabalho, não é? Fazer perguntas... – brincou, ele recebendo um tapa leve na cabeça. – Pergunte.
- Você está apaixonado por alguém? Alguém do curso?

Ele a encarou; sua alma era tão transparente assim? Não que estivesse apaixonado, e por ela mesma, mas seus sentimentos sempre foram claros para Hermione. Poderia estar triste, curioso, ou amando, que ela então perceberia. Coisas que somente ela notava.

- Não, não estou apaixonado por ninguém do meu curso. – respondeu, encarando-a.
- Que bom, eu não simpatizei com nenhuma. Mas não negue que está apaixonado! Eu sei que está te conheço muito bem. – falou, entrelaçando a sua mão a dele.
- Como você consegue? – replicou, com uma pergunta.
- Intuição feminina, seu bobo. – respondeu ela, e o rapaz já alargara o sorriso de seus lábios.
- Hm, dando uma de Sibila Trelawney? – caçoou Harry, e a bruxa estreitou os olhos. – Justo você que sempre fora tão... Er, cética? Isso... Cética! – apontou em sua reflexão.
- Não é difícil deduzir que está apaixonado. Seu olhar vagueando por aí, seu momento “não estou neste planeta”. E o ponto crucial de tudo. Você vai terminar com a Gina, embora eu acredite que apenas quer se ver livre dela. Mas por qual motivo terminaria com ela, se não o de estar apaixonado por alguém e quer ser solteiro novamente?
- Quem sabe você esteja certa... – levantou-se, e inclinou-se próximo a ela. Aquele momento pareceu parar, e Hermione sentia-se um tanto zonza. A respiração de Harry a deixava desse jeito, assim como a voz dele, que se seguiu rouca. – Quem sabe, Mione...

Sorriu maroto antes de deixá-la na sala. Sua atitude fora deveras imprudente, e digna de um atrevimento maior. No entanto, o sorriso bobo que passou a inundar os lábios da morena, fora intrigante, e recompensador.

Talvez não estivesse tão confuso assim de seus sentimentos. Eles estavam claros. Pelo menos assim julgava.




Diante ao seu computador moderno, Lílian, reeditava o que havia escrito há pouco. Aquele mimo trouxa, fora presente de Hermione, sabia o quanto a mãe estava atrasada em seu livro por conta da máquina de escrever, visto que a pena de repetição rápida fora descartada por uns momentos. Às vezes a ruiva cansava-se do apetrecho trouxa, e recorria à pena, mas eram em parcas ocasiões.

Gostava ela mesma de dar forma às palavras. Retirou os óculos, o qual usava para não forçar demais suas vistas, e o colocou em cima da mesa.

Espreguiçou-se, estava ali, assim absorta, por tempo demais. De onde estava, via com clareza tudo que acontecia na sala. Aquela tarde era como as que outrora a antecederam.

Uma tarde totalmente em família.

Hermione tinha o dia de folga, coincidência e tanto com o retorno de Harry. Ela, porém tinha todas as tardes livres, desde que deixara sua carreira de auror. Para dedicar-se a literatura, em seu livro em especial. Seus olhos caíram sobre os dois jovens sentados juntos no sofá. O rapaz tinha a atenção presa na TV, e a moça em um livro qualquer provavelmente uma de suas paixões, Runas Antigas. Mas ambos em sintonia.

O moreno acariciava os cabelos de Hermione, que permanecia quieta, apoiada a ele. Um sorriso sincero brotou nos lábios da Senhora Potter; estava começando a ter saudades de vê-los assim.

Todavia aquele sentimento de certeza a tomava quando admirava aos dois. Uma amizade tão bonita, que fora crescendo em pouco tempo, e que não demorara a tornar-se algo sem limites. Não duvidava jamais da intensidade dos sentimentos de Harry por Hermione, e do que ela sentia por ele também.

O carinho mútuo surgira quando se olharam pela primeira vez. E sem medo de tal, demonstravam isso até hoje.

- Inicio do Flash Back -

“Harry havia despertado a alguns minutos daquela manhã clara. Descia as escadas com um enorme sorriso nos lábios. Seu pijama verde, apenas reavivava mais o tom semelhante de seus olhinhos. Todos os dias daquela semana que se passara, o menino não perdera as esperanças.

A pequena, não falara depois que chegara a sua casa, provavelmente estranhava o ambiente e tinha saudades dos pais. Mantinha-se quieta, e tristonha. Às vezes chorava. E mesmo com todo aquele silêncio, Harry não desistia de arrancar um sorriso, ao menos uma palavra da menina.

Entrou na cozinha, e encontrou a mãe, terminando de arrumar a mesa para o café da manhã. Ela lhe sorriu, e apontou para a sala, onde Hermione estava sentada, encolhida no sofá. Ao seu lado um pequeno livrinho de historinhas, jazia intocável.

Harry seguiu para lá, espevitado. Parou em frente a ela, que o olhou no momento em que ele sorrira. Naquele instante ficaram se olhando. E Hermione, apesar de sua tristeza, não tivera como ser indiferente àquele sorriso alegre.

- Oi... – falou Harry. – Hoje você vai parar de ficar triste? Minha mãe disse que seu nome começa com a mesma letra do meu. Isso é legal! – falou Harry sentando-se ao lado dela. Sentou-se e começou a agitar suas pernas para frente. Num vai e vem incessante. – E falou também que você consegue ler, é verdade?- emendou, coçando o nariz.
- H-e-r-m-i-o-n-e... Hermione... – murmurou a menina orgulhosa de sua esperteza. Empinou o queixo, e fitou-o. – Quer que eu leia pra você?
- É história de menina? – replicou o garotinho, franzindo o pequeno nariz.
- As historinhas são pra todas as pessoas... E não vou ler mais pra você!Os meninos são bobões!
- Agente pode brincar, lá fora! – um sorriso iluminou as faces traquinas de Harry, que ignorara o que ela dissera.
- Não gosto de ir lá fora. Eu tenho medo de sair, e quando eu voltar não ter mais casa. Nem ninguém pra cuidar de mim.
- Eu vou cuidar de você pra sempre! – afirmou o menino segurando a mãozinha dela.

Hermione mordeu o lábio, sentia as lágrimas novamente invadirem seus olhos. Fungou, e Harry a abraçou, circundando seus braços pequenos em volta dela. Queria passar toda a sua “segurança” a ela. E parecia que sua tentativa fora certeira. Aos poucos Hermione começava a adquirir confiança em seus gestos firmes, e sua capacidade de encantar as pessoas, fora mais uma vez comprovada.

Lílian terminara de ajeitar tudo e rumava para a sala, a fim de chamar as duas crianças. Alegrou-se por ver aquela cena, e felicitou-se por caminhar em demasiado silêncio. Seria cruel destruir tal imagem. Sorriu largamente, quando o filho passara a secar as lágrimas de Hermione com as mãos. Que embora pequenas, transmitiam um amor grandioso.

- Agente brinca lá fora depois, quando você não tiver mais medo, ta bom? – disse e Hermione assentiu, enxugando ela mesma suas lágrimas restantes”.


- Fim do Flash Back -

Passar-se-iam anos, e Lílian nunca seria capaz de esquecer-se de tal lembrança; do mesmo modo que não se esqueceria das muitas outras que guardava tanto na mente, quanto na penseira em seu quarto. Eram momentos que marcaram de maneira significativa a sua vida.

- Hermione, eu estou assistindo TV... Pode parar de mexer no meu cabelo? – resmungou Harry, tirando a mãe de sua pausa reflexiva.
- Eu gosto de mexer no seu cabelo, é tão liso e macio. Não seja chato! – respondeu a morena. – Eu não reclamo quando você me desconcentra fazendo o mesmo com os meus cachos.

Ele sorriu, revirando os olhos. Enquanto sentia que a amiga bagunçava ainda mais sua cabeleira negra. Fazendo aversão a sua reclamação.

- Eu devo amá-lo muito para aturar você, sabia? – brincou ela, beijando a bochecha de Harry.
- É mesmo, é? – rebateu, no mesmo tom.
- Uhum, mas sei que está tenso por conta do que vai fazer daqui a pouco... – disse Hermione, passando o dedo pelo nariz dele.
- Tinha mesmo que me lembrar disso? – indagou, chateado.
- Eu sou a voz da sua consciência, eu tinha que lembrá-lo, sim!
- Certo, já que me lembrou, eu vou tomar um banho antes de ir. – falou, e levantou-se. Hermione o fitou.
- Faça isso, fique lindo e cheiroso, não que você não seja, mas... Er... Digo, ela vai morrer por ver o que está perdendo! – terminou e sorriu exageradamente.
- Está bem. – concordou também sorrindo.
- Ah, Harry? – chamou quando ele dera as costas a ela, fazendo menção de subir as escadas. – Use aquela sua camisa vermelha, você fica um arraso nela! E... Acabe com a Gina!
- Você deveria ter ido para a Sonserina...




Harry respirava compassadamente, como se neste gesto pudesse controlar sua ansiedade. Não gostava mais de Gina, era uma verdade, - chegava até a cogitar de que tudo que viveram não passou de um “simples gostar”, uma forte atração, que fora se apagando com o tempo, - mas não podia deixar de sentir-se nervoso. Terminar um namoro não era tão fácil quanto imaginava.

Não, tendo Ginevra Weasley como namorada.

A encarava e parecia que as palavras se amedrontavam em sua garganta, mantendo-se estáticas, presas. Já havia passado as mãos pelos cabelos, as enfiara agora no bolso da calça, tudo isso num experimento de esconder a aflição.

Sorriu sem jeito pela milésima vez, desde que ficaram sozinhos na cozinha da Toca. E desde a última interrupção de Rony, - que entrara ali alegando estar com sede, - tais coisas faziam Harry perder o fio de seu discurso mental.

Cujo mesmo repassara com Hermione, numa espécie de encenação, mas agora não era tão divertido. E não estava diante da amiga, e sim da “futura ex namorada”, o qual temperamento era bem explosivo. Talvez Rony tivesse entrado no cômodo temendo algo, e constatando com seus próprios olhos a segurança do amigo.

Gina achava estranho o comportamento do rapaz desde que chegara. E queria que no fundo fossem os meses separados que pesassem nas atitudes de Harry. Pareciam mesmo era estar diante de estranhos. Aquela faísca abrasadora nem se mostrara presente.

- Er... O gato comeu sua língua? – perguntou Gina quebrando o silêncio. O rapaz notara uma mescla de impaciência e irritação na voz da ruiva.
- Desculpe, mas o Sr. Twinks é meio velho pra isso. – brincou, intentando parecer descontraído. Entretanto a situação pesava, inclusive na seriedade da moça. Ela nem sequer esboçara um sorriso. “Hermione riria disso”, emendou em pensamento.
- Certo Harry, o que está acontecendo com você? Você nem sequer me beijou ao chegar?! – reclamou irritada. – O que anda acontecendo conosco?
- Isso é o que venho pensando muito ultimamente, Gina. – murmurou ele, suspirando fundo. A hora estava chegando, e embora tivessem apenas tocado no inicio de tudo, estava estritamente inquieto.

Ela o encarou. A tensão enrijeceu seus músculos faciais, obrigando-a a ostentar uma leve careta de contrariedade. Entendia a gravidade do que ele queria lhe dizer, via isso pela sobriedade de seus atos, frios, calculados; E também pelo seu olhar.

Suspirou fundo, “preparada” para o que fosse ouvir.

- Gina...?
- Sim?

Seus olhos castanhos fixaram-se num ponto além de Harry. Por um momento ficaram inertes, e o moreno tivera uma sensação ruim, ao analisar o tom cobre intenso que se formara nos olhos da ruiva. Muitas das vezes comparara os olhos dela com os de Hermione, e comparações a parte, no momento de fúria; as duas tinham o mesmo ar ferino nos olhos.

Embora raras vezes visse tal coisa em Hermione, não ao menos quando esta estivesse diante de Gina. Fora essas ocasiões, os olhos da morena oscilavam gentis, ternos, arrogantes, e astutos.

- Eu não sei como direi o que pretendo. Na verdade, eu nem sei por onde começar e você não está ajudando, Gina. – falou o moreno, agoniado.

Pensava em Hermione. Ela era a coragem onde se agarrara para vencer tantas dificuldades, e agora nesta etapa, ela, - sua lembrança risonha, - era de suma importância.

- Que tal tentar pelo começo, sei que é clichê, mas funciona. – disse ríspida, e Harry sorrira rapidamente.
- Ótimo, uma boa dica. – replicou irônico. – Bem, você deve ter percebido o quanto estamos distantes um do outro. Tanto por conta do impasse do Quadribol, quanto pela Academia de aurores...
- E Hermione! Não se esqueça dela, e da barreira sólida que representa entre nós dois. – aquele tom ofensivo e sarcástico estava começando a enfurecer ao moreno. E pedia aos céus não perder a calma.
Respirou fundo, fazendo uma breve pausa, e continuou:
- Muitas coisas nos distanciam. Não temos os mesmo propósitos, os mesmos sonhos... Nada. Nada em comum, exceto aquela paixão. E isso não é o suficiente, e agora eu vejo que não foi uma boa idéia insistirmos em nosso relacionamento.

Gina rira cinicamente, encarando-o ferozmente.

- Foi ela... Foi ela que colocou tudo isso na sua cabeça! – exclamou batendo na mesa. – Eu tenho certeza que sim, aquela imunda!
- Não fale isso! – bradou ele, a raiva já dominava cada partícula sua. Ele não permitiria insultos a Hermione. Nunca permitiu, e não seria agora que o faria. – Ela não tem nada a ver com isso. – acrescentou firme, e austero.
- Como não? Há meses atrás, antes de você partir, estávamos muito bem. E agora do nada surgem milhares de problemas. Defeitos meus, incompatibilidade de sonhos... Isso é patético, e muito a cara da Granger! – esbravejou Gina.
- Já disse Hermione, não “encheu” minha cabeça. Eu tenho opiniões próprias, acaso ainda não tenha conhecimento! – comentou olhando para ela, Gina estremecera nunca o vira daquela maneira, nunca a tratara com tanta frieza. – Apenas enxerguei o óbvio. Que não temos um futuro juntos. E usei de meu tempo fora para descobrir isso.
- Não tente encobri-la. Hermione me odeia, faria de tudo para terminarmos. Até manipular você! – acusou, furiosa.
- Não quero falar da Mione, e sim de nós dois. E eu não posso mais continuar em algo falho, sem recompensas. Eu... Eu não te amo, Gina. – disse com pesar, ainda que devesse dizer isso. – Não quero usá-la, nem tomar de sua liberdade para encontrar alguém que possa amá-la.
- Oh, como você é nobre, devo aplaudi-lo por isso? – retorquiu amargamente.
- Faça o que quiser, só digo o que acho verdadeiro. Estamos perdendo tempo, nossas vidas correm enquanto estamos perdidos nessa frustração. Nessa ilusão!
- Tem outra na história, não tem?! – perguntou. Levantou-se, seus olhos refletindo ódio.
- E se tiver? – retrucou Harry, sabia que pisava em um campo minado, mas nunca se acovardara. Se tivesse que explodir, que fosse logo.
- Cretino! – vociferou entre dentes. Respirava pesadamente, sentindo tremer-se de raiva. – Vai me trocar por uma sangue-ruim?! Vai cometer incesto, Harryzinho?!
- Hermione não é minha irmã!
- E ainda tem coragem de dizer que não é por ela que faz isso... Canalha!
- Faço isso por mim, e nada mais. Não estamos felizes, nem ganhando um com o outro. – disse ele, baixando o tom de voz. – Nossas experiências se limitam ao sexo, e quero mais que isso.
- Maldito dia em que essa garota idiota apareceu em nossas vidas. Ela poderia ter morrido naquela ocasião!
- Já mandei parar de falar assim. Não vou permitir que a insulte, nem que deseje algo de ruim a Hermione.
- Não, eu não pararei... – contestou-o com um sorriso sardônico nos lábios pintados. – Se quiser terminar, maravilha! Só saiba de uma coisa, Harry! Você não será capaz de ser feliz com aquela maldita sangue-ruim. Nunca!
- Não preciso que me deseje felicidade, afinal, eu mesmo irei à busca dela. Só não queria que terminássemos assim.
- Entenda, não servimos como namorados, nem como amigos. Tudo que eu quero de você é distância. Odeio você... Odeio Hermione, e agora eu enxergo que foram feitos um para o outro. Tão idiotas! Passar “mal”, Harry Potter!




Hermione sentia-se um tanto apreensiva, desde que Harry voltara de sua “missão”. Ele se mantinha dentro do quarto, quieto. Preso nele mesmo. E esta atitude às vezes assustava a morena. Tinham várias coisas que compartilhavam, mas quando ele não o fazia, a bruxa afligia-se. E pensar que ele estava mal por ter terminado com Gina, era mais terrível ainda.

Ele não deveria estar triste com isso, assim o ciúme a fazia pensar. Tinha conhecimento de que Harry não amava a ruiva, mas então porque diabos, ele estaria daquele jeito?

Cansada das suposições que se formavam aos montes em sua cabeça, pegou o bilhete que recebera a pouco de Draco. Hoje era o dia em que se reuniam para jogar Quadribol na casa do loiro. E isto seria uma ótima desculpa para adentrar no retiro de Harry. Sorriu, e sem notar postou-se diante ao espelho.

Soltou os cabelos, arrumando-os. Seus longos cachos desceram aprumando-se nos ombros. Mordeu o lábio inferior, prendendo o sorriso. Gostara do que via em seu reflexo. Suas bochechas estavam coradas, e seus olhos, estranhamente, brilhavam.

Sentindo um friozinho na barriga saiu do quarto, apertando mais do que deveria ao bilhete. Passou pelo corredor, e postou-se a frente da porta do quarto do moreno. Tinha a liberdade de entrar sem bater, mas alguma coisa lhe dizia para ser diferente desta vez. Talvez ele nem quisesse visitas, e sabia o quanto Harry poderia ser impassível quando quisesse.

Bateu de leve na porta, e ele mandou entrar. Hermione passou por ela, e entrou no quarto. Sorriu fino, quando ele a encarou. O rapaz estava deitado na cama, largado. Harry sentou-se, e sorriu também.

- O que ainda está fazendo aí, Harry? – perguntou se aproximando da cama, onde se sentou na beirada.
- Estou deitado, vendo o tempo passar, é ótimo... Deveria experimentar. – respondeu, e ela riu.
- Não fique deprimido... Está triste porque terminou, não é? Se eu soubesse que ficaria assim eu nem teria encorajado. Sabe que não gosto de vê-lo triste, é como se eu também estivesse... Está arrependido? Por... Ter terminado seu namoro? – falava ela, sem ao menos tomar fôlego durante uma palavra e outra.

Ele apenas sorriu, deslocou-se para mais perto dela. E tocou o rosto de Hermione. A moça fechou os olhos, e pousou sua mão sobre a de Harry.

- Não estou triste por isso, Hermione... – murmurou ele.
- Então me conta o que te entristece, porque se for por causa do “dementador ruivo”, eu vou acabar com ela agorinha mesmo!
- Não precisa tanto, não é por ela... Juro. – falou beijando a mão de Hermione. – Foi por conta de umas coisas que ela disse ao seu respeito... Algo do que eu não gostei nada!

Hermione suspirou tristemente. No entanto, aliviada por Harry não estar abatido por conta de Gina. E por mais que ele quisesse, não conseguia esconder o vestígio de contrariedade e desgosto de seus olhos.

- Eu não ligo para o que ela diz então você também não deveria levar tão a sério. – sussurrou.
- Não me acostumo de ouvir as pessoas maltratarem você com palavras afrontosas. Não deveria habituar-se a isso, Hermione. – falou terminando sua frase, de forma carinhosa.

Ela baixou os olhos. Nunca se habituaria a isso de qualquer forma. Tivera tanto o que agüentar na escola por conta de sua origem trouxa. Orgulhava-se de tal, e nunca fizera caso por conta disso. Nunca negara de onde provinha, e sempre tivera Harry para apoiá-la.

A morena ficara de cabeça baixa por alguns segundos, os quais foram torturantes para Harry, pois ele sabia que ela ficara sentida com o que Gina dissera, e mesmo não ouvindo as palavras que a ruiva proferira, ela imaginava o quão eram depreciativas. Amaldiçoava-se por ter mencionado isso, a conhecia tão bem, e tinha conhecimento de que ela se entristeceria facilmente.

- Mione... – sussurrou ele, forçando-a a fita-lo. Harry sentiu uma pontada em seu coração quando vira os olhos dela, lacrimosos e magoados.

Grossas e silenciosas lágrimas caiam dos olhos da moça. Se pudesse sofreria no lugar dela, só para não ter que presenciar algo assim. Acariciou o queixo dela com a ponta do polegar, Hermione tentara sorrir, mas um soluço a impediu. O rapaz sentia que ela tremia incansavelmente. A protegeu em seus braços. Fortes, cheios de ternura.

Afastaram-se um pouco. E ele a fitou intensamente, como naquela tarde a qual a vira no vestido feito por Lílian. Hermione estremecera diante dele, diante de sua firmeza de gestos. Era tão decidido. Muito até, quando ele sem pestanejar ia se aproximando; Aproximando até estar rente o bastante para colar seus lábios nos dela.

A surpresa não a afastara, e a curiosidade a levava para mais perto. A sensação de tê-lo assim, tocando sua boca, era inexplicável. Incompreensível.

Tanto ou mais que o aumento dos batimentos de seu coração, - o qual pulsava interminavelmente rápido, - e das borboletas em revoada no estomago.

O gosto dela era tão bom, algo como uma mistura cítrica e adocicada. Um sabor único, nunca experimentado por ele. A textura macia, como algo delicado. Tinha medo de fazer qualquer coisa brusca, que pudesse maltratar tamanha brandura. Embora tenha sido apenas um singelo toque de lábios, aquela experiência tinha desprendido sensações indescritíveis em ambos.

Harry abriu os olhos, ainda não tinha vontade de desprender-se dela. Era tão boa a percepção de entrega que havia ali. Aquilo somente aumentava sua afeição por Hermione, indiscutivelmente aumentava seu amor. Ela também abrira os olhos, e assim como o rapaz não tinha intento de se mover, e estragar aquele contato surpreendente.

- Desculpe... – murmurou ele, os lábios parcialmente unidos.

Ela sorriu, sentindo suas bochechas esquentarem, agora que tinha noção do que havia colaborado. Pois se não quisesse tal beijo, não teria concordado, e teria se afastado dele. Mas não. Uma força maior a levara até ele. Como um imã de magnetismo muito poderoso.

Os olhos dela agora cintilavam por uma coisa boa. Ele enxergava isso nas nuances claras, e luzentes.

- Me fez parar de chorar... – sussurrou, e desta vez ele sorrira. Estavam ainda muito próximos, sentindo o calor do corpo um do outro. – Pra que pedir desculpas?
- É, pra que? – apenas disse, rindo nervoso.
- Adoro quando fica nervoso. – falou Hermione, beijando o rosto de Harry. Um beijo molhado e demorado. – Er... Vamos ainda jogar Quadribol? – perguntou naturalmente. Como se, se beijassem todos os dias.
- Se não se importa eu prefiro ficar aqui, não creio que serei um bom competidor nesse momento. – comentou, afastando-se um pouco dela. Pois tinha medo de tentar algo maior, mais audacioso.
- Ah, Harry... Não vai ter a mesma graça! – resmungou a morena. – O que eu vou fazer sem o meu apanhador?!
- Draco é um bom apanhador... – respondeu ele, escorando-se na cabeceira da cama.
- Ele vai ficar no outro time! – argumentou Hermione, levantou-se e parou perto dele. – Anda logo seu preguiçoso, levanta dessa cama, e vamos jogar Quadribol! Não vou falar outra vez... – emendou ela, firme e parecendo realmente séria. – Vou escrever para o Draco, e mandarei Edwiges levar o recado. Cinco minutos é tudo que tem para se aprontar... – sorriu antes de sair avoada pela porta sem dar chance de resposta a Harry.

Ele riu arqueando uma de suas sobrancelhas grossas e negras, e comprimiu os lábios. Memorizando o gosto que já os havia marcado. Nunca sentira algo tão forte ao beijar uma garota. Nunca ninguém fora mais especial e marcante que Hermione, e por Merlim, tinha que tentar esquecer isso, senão ficaria maluco.





N/A: Bem capítulo extra grande, tamanha GG kkkk! Ai gente, mesmo com cólicas estou aqui para postar, ser mulher não é fácil, realmente não... kkk, mas enfim, espero que gostem desse super capítulo, e vou lhes dizendo, que o terceiro está MARA! Foram tantas coisas nesse capitulo que nem sei por onde começar...
Mas o momento auge fora o rompimento, essa Gina é uma vaca mesmo! Bem feito pra ela, e o momento mais top, foi o beijinho, embora bem casto (mas beijo é beijo), foi lindão. Esse Harry dá vontade de seqüestrar, assim como a Betina já insinuou várias fazer em fazer. Kkkkkk.
Bem é só isso, me perdoem a falta de criatividade, mas to meio debilitada.
Obrigada a todos os leitores, eu adoro todos vocês! *-* Os comentários que recebi são tão... tão... tão... MARA! (eu sei, vou parar de usar este jargão). Gracias, Thanks, Obrigada! Continuem comentando, e em breve solto uma chantagem pelo capitulo três que como disse no começo da minha notinha está divino, foi o melhor que escrevi de toda a fic... *-* (Digamos que tem mais beijinho...)
E aí vai um beijinhos para todos.


N/B: Esse capítulo tem uma importância a mais para mim. Não só por que ele contém esse momento muito guti entre o Harry e a Hermione (Foi lindo, não é?), mas ele também é o último capítulo que beto, ao menos, por hora. Eu estou me despedindo da minha “profissão” de beta, pessoal (*limpa a lágrima*). Infelizmente, não deu para conciliar isso ao fato que eu também tenho que escrever minhas próprias fics esse ano. :x. Para quem não sabe, eu estou no terceiro ano do ensino médio. Ano do vestibular. Ano do estudar e estudar. E já vai ser muito difícil arrumar tempo para escrever, imagina betar com eficiência e ajudar as autoras nos capítulos?! Fui obrigada a escolher entre só betar ou só escrever. E bom, minha escolha já ficou bem clara.
Estou deixando “na mão” essa fic, a qual amo por demais, e muitas outras (é The sound of the heart pra sempre!). E isso me corta o coração, mas eu não posso me transformar em cem Betinas-eu-louca-Black, nem tenho um vira-tempo. Infelizmente. :x
Mas uma vez, peço desculpas a Jess (te adoro, amiga!) por isso. Mas... eu volto no meio do ano, depois parto de novo, e volto só em 2010.
E enquanto isso não chega, eu só posso dizer: vou morrer de saudades de todos vocês! (será que alguém vai sentir minha falta? *ponderando*)
Agora eu me vou, de volto ao limbo, de onde eu já quero sair (*chora*)
Mordidas no pescoço daqueles mais..er.. saidinhos.
Beijocas estreladas para todos os meus anjinhos sonhadores
Xerôs e abraços de urso para todos os amam Harry-sou-lindo-e-gostoso-Potter
Bons amassos para aqueles que têm uma verdade adoração por Draco Malfoy
E, por fim, mas não menos importante,...
Beijinhos barulhentos da tia que os ama muito!
Betina-quero-ser-alguém-na-vida- Black.

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