Prólogo



- Prólogo -




A noite sombria não assumira nenhum brilho no céu; As nuvens carregadas cobriam a sua imensidão negra quase que por completo. As árvores balançavam-se numa dança assustadora, batendo seus galhos secos e intrínsecos, na janela; Os ventos frios arrastavam e puxavam suas folhas, arrancando-as com extrema facilidade.
Lílian ajeitou seu pequeno filho na cama, cobrindo-o carinhosamente num mesmo ritual diário. Harry era um menino corajoso. Qualquer outra criança de cinco anos permaneceria de olhos bem abertos com medo do barulho desconhecido e das formas espantosas que se formavam pelas sombras nas paredes além da cortina. No entanto, ele dormia tranquilamente, nem ligando para os assombros noturnos, muito menos para a chuva que desabaria no tardar da noite.
A mulher ruiva sorrira, acariciando em seguida os cabelos espetados do garotinho. Ele sorriu também em seu sono, e virou-se na cama, afundando-se mais nas cobertas grossas. Um vento mais forte assolara mais um açoite de galhos, o qual fizera a mulher dispersar seus pensamentos.
Seu filho tão confortável ali, desfrutando de um sono tranqüilo. Ele nem era a imagem que tinha em mente da garotinha que procuravam. Imaginava-a solitária em algum canto das ruínas de seu lar. Amedrontada, sem cuidados por longos dois dias. Suspirou pesadamente.
Se seus instintos não a enganavam, hoje encontrariam e trariam a menina para ser cuidada. E ela mesma trataria disso.
- Lily... Temos que ir agora. – irrompeu Tiago dentro do quarto. Seu tom de voz era baixo. Não queria ser ouvido pelo filho, acordando-o.
Ela assentiu, fitou mais uma vez ao filho adormecido e levantou-se, suas vestes negras não atenuavam sua aparência determinada. Afastou-se da cama, silenciosa, e saíra do quarto.
O ministro colocara todos os seus subordinados atrás daquela criança. No entanto, não apenas eles procuravam-na, o “outro lado” também se mantinha concentrado nas buscas, pessoas cruéis, muito capazes de destruir ainda mais a vida daquela pequena menina; Tudo apenas para que um único homem tivesse o poder em suas mãos.
E pensar que a garotinha tinha a idade de seu filho, e não contava com mais nada.
Era assustadora a forma com que a vida tratava as duas crianças, e Lilian, por mais que tentasse, não conseguia entender a ligação existente entre eles. Se ainda procuravam pela garota, era única e exclusivamente por insistência do filho. Na verdade, insistência de seus sonhos. Todos os aurores do ministério, e até mesmo os membros da Ordem da Fênix, julgavam morta a filha de Logan e Elizabeth Granger, mas Harry, em toda sua persistência, dizia sonhar com a menina.
E, de fato, ele o fazia.
Muito antes do acontecido. Muito antes de Logan Granger ter desaparecido há meses atrás, e as vésperas encontrá-lo morto, uma família começava a ser dissolvida com o “rapto” do historiador trouxa. E com ele se fora toda a sua pesquisa, todos os seus achados.
Aparataram nos arredores do povoado de Norfolk, no leste da Inglaterra, Tiago e Lílian, mais alguns membros da Ordem. O coração da mulher estava a mil, batia tão depressa que ela não se lembrara quando ele o fizera pela última vez. Aquela visão desoladora era triste, o melancólico das casas destruídas juntava-se com a temeridade da noite.
Tiago fitava a esposa, solidário ao que ela sentia. Também se compadecia da menina, mas ao contrário de Lilian, ele se mantinha hesitante em misturar as coisas; Já sabendo que a mulher tomara de todo o sofrimento da garota Granger, para si.
E a decisão que ela tomara na noite anterior, fora crucial.
Entraram nos escombros do que fora a bela casa no final da rua. O silêncio tomava tudo por ali, apenas eles e suas respirações sorrateiras. Se o sonho que Harry tivera na noite anterior fosse correto, a menina estaria ali, escondida em algum lugar.
Separaram-se.
Franco Longbottom seguira para os arredores juntamente com Remo e Tonks, já Tiago e a esposa ficaram ali mesmo no que restara da casa dos Granger. Algumas paredes ainda permaneciam de pé, o papel pregado nelas transmitia um mínimo de alegria. Alegria qual mãe e filha desfrutavam antes do ataque.
Sentiu um frio consumir-lhe pensando na agonia daquela mulher, na sua frustração em não poder proteger a filha. “Covardes!”, bradou em seu íntimo. Nem dera a ela a chance de se defender, arrancando-lhe a vida como num sopro.
Seus olhos verdes carregados de fúria percorreram o local mais uma vez. E novamente sentiu-se mal por estar ali. O cenário de uma atrocidade sempre lhe nauseava. Caminhou com cuidado, passou pelo sofá queimado, as coisas que sobraram ainda estavam totalmente reviradas, provavelmente o foram antes do incêndio que consumiu boa parte da habitação.
Escutaram um ruído. Algo não muito escandaloso, mas devido ao silêncio sepulcral, fora intenso o bastante para que os dois aurores escutassem. Lilian olhou para o marido, e sem a permissão que buscava nos olhos do mesmo, subiu as escadas. Estas rangerem com seu peso, e ela tivera que controlar a ansiedade.
Refreando a emoção, deixou a cautela apoderar-se de si. E se fossem àqueles que outrora vieram para destruir, teria de manter a calma. Falharam uma vez, e isso não era do feitio de Keegan. Empunhou sua varinha, e olhou de relance para trás de si. Tiago já estava a sua retaguarda e a postos caso por ventura, encontrassem além da menina, um perigo maior.
A porta, a primeira que havia depois da escada, estava entreaberta. Os dois aurores, postaram-se um de cada lado. A cumplicidade existente entre ambos dispensavam as palavras, apenas com um olhar Tiago cessara o ímpeto da mulher de entrar ali rapidamente. Cuidadosamente o moreno entrara primeiro, seus olhos astutos varreram o local, constatando que ele estava como o resto da casa, sem eminente presença de algo, ou alguém.
Lílian entrou, em seguida, mas ainda não largara a varinha. O cômodo fora possivelmente à suíte do casal. A cama denunciava tal coisa, um leito exageradamente grande para uma garotinha. Pisou com cuidado pelo chão, mas não fora o suficiente, pois forrando o solo, havia muitos cacos de vidro, das janelas, das coisas frágeis que guarneciam o quarto.
Respirou fundo, tentando dissipar aquele sentimento que não a deixava em paz. Aquela sensação outra vez lhe corroia, e julgara que somente pararia quando toda essa tragédia tivesse uma luz, uma partícula que fosse. Tiago seguiu para o outro lado, um pequeno cômodo anexado ao quarto. Estava um tanto escuro, jazido na penumbra.
Precavido e atento, o auror, transpôs-se mais no cômodo. Parecia-se com uma biblioteca. Na parede oposta ao homem, uma estante cobria toda ela, e os livros eram apenas papeis desconectados por todos os lados. Abaixou-se pegando o que fora um belo exemplar. Pelo visto as investigações sobre Logan Granger eram corretas. Ele estava na pista exata. Praticamente era como Artur Weasley, só que ao contrário. Totalmente fascinado por bruxos e sua magia.
Só não sabia ele que exporia tanto sua vida e a de sua família ao envolver-se com Keegan Bristol.
Um novo ruído parou seu fio de pensamento, levantou-se e deixou o livro de lado, Runas antigas. Estreitou seus olhos por debaixo dos óculos, e andou lentamente até uma espécie de armário de madeira grossa e escura. Era milimetricamente talhado, uma peça e tanto para qualquer colecionador.
Olhou para trás e nem sinal de Lílian, com sua curiosidade no limite, aproximou-se mais de onde ouvira o pequeno barulho. Quando dera mais um passo, seu coração pareceu parar dentro do peito, seus olhos colocaram-se sobre a figura pequena de uma menina.
Harry estava certo.
Ela estava encolhida, as mãozinhas em volta dos joelhos flexionados, a vozinha rouca murmurava alguma coisa. Tiago tivera vontade de nunca ter visto coisa semelhante.
- Lily... – murmurou ele, vendo que a garotinha nem tomara nota de sua presença.
Segundos depois, Lílian ia de encontro ao marido. Achou-o parado, olhando para o cantinho do cômodo, seus olhos brilhavam escuros. Surpreendeu-se por vê-los marejados. Os seus próprios olhos, porém foram sugados para aquela direção, e seu coração se encolheu quando a vira.
A pequena menina encolhida, fragilizada.
Entreolharam-se parcamente aliviados. A ruiva tomara a frente, aproximando-se da garotinha. Os cabelos dela, castanhos, eram fartos, e estavam empoeirados e sujos. Assim como o pijaminha que ela vestia, um rosa que já não tinha mais sua característica vivaz.
Receosa, a auror abaixou-se para ficar a altura dela. A menina levantou seus olhos. Amendoados e tristes. Vazios e distantes. Lílian tivera vontade de apertá-la em seus braços, só não o fizera por medo de afastá-la mais. Olhou para Tiago, que se emudecera do nada. Imaginou que praguejava e amaldiçoava tanta crueldade, em sua mente.
Tornou a olhar a menina, que continuava sua cantiga. Bem baixinho. As marcas das lágrimas formaram um pequeno caminho no rostinho sujo. Lílian o afagara, e ela a olhara, estremecendo.
- Hermione? – chamou à ruiva. – Seu nome, não é? – perguntou, e a menina assentiu. – Eu sou Lílian, e aquele é meu marido, Tiago. Não precisa ter medo de nós. Apenas queremos o seu bem...
Hermione mordera o lábio. Hesitava. Sentia seu pequeno coraçãozinho alegre, não estava mais sozinha, mas sabia pela pouca e traumática experiência que tivera que não poderia confiar em estranhos. Mas aquela mulher de sorriso doce e olhos verdadeiros, inspirava-lhe confiança. Lembrava-lhe sua mãe...
Passou a mãozinha, pelo rosto, limpando-o e em seguida limpou-a no pijama.
- Cadê a minha mamãe? – perguntou, fracamente.
Lílian engoliu em seco. A pobrezinha nem tinha noção do que ocorrera ali, muito menos de que não voltaria a ver a mãe. As lágrimas tomaram seus olhos.
- Lamento querida, mas não sei onde sua mamãe está. – mentiu. Talvez fosse a melhor coisa por hora.
- Ela disse pra eu ficar aqui, e não sair... Então eu não vou sair até ela voltar e me buscar. – falou. Sua voz rouca e infantil era de encantar até o mais frio dos corações. Sua doçura era clara.
- Precisamos que venha conosco, Hermione... Vamos levá-la pra um lugar seguro, onde será cuidada com amor. – falou Lílian, tocando os cabelos da menina.
- Eu disse, não posso ir embora... E a minha mamãe? Porque ela não veio me buscar, ainda?
- Sua mãe não pode voltar meu bem, pediu que eu cuidasse de você. – respondeu à ruiva.
Não era de todo uma mentira. Quando Elizabeth viu sua filha ameaçada, buscou ajuda. A ajuda que o marido negara por estar desaparecido, e embora não fosse Lílian a ter jurado proteger a Hermione, agora ela o faria. Já se afeiçoara àquele anjinho.
- Ela pediu? – retrucou.
- Sim.
- Não quero mais ficar sozinha aqui... Eu tenho medo!
- Tudo bem... Está tudo bem agora.
Ao dizer isto, Lílian tomou Hermione nos braços, então a menina pudera enfim liberar tudo que estava preso dentro de si, os soluços dela eram intensos, e dolorosos. Tão pequena e já sofrera muito. Atou-se a auror, apertando-a como se daquele ato dependesse sua vida.
Logo saíram da casa, Lílian levava a menina em seus braços, Tiago sempre ao seu lado. Os outros que estavam lá também se juntaram a eles, felizes por seu propósito ter sido bem sucedido, por encontraram a menina bem, e antes de todos os outros. Aqueles que apenas fariam mal a ela.
Franco e Remo ficaram encarregados de repassarem tudo a Dumbledore, combinaram alguns pontos com Tiago, e aparatam em seu destino. Os cabelos antes sóbrios de Tonks se revelaram chamativos. Uma cor viva, que trouxe a curiosidade nos olhinhos tristes de Hermione. A mulher sorrira, fazendo uma careta após transformar seu nariz em um focinho de gato, a menina sorrira também, mas logo o vestígio de alegria sumira, e ela escondera seu rostinho.
Como assim decidiram, Tiago e Lilian iriam ficar com a custódia da menina, até que o destino dela fosse decidido permanentemente. Alegrava muito a ruiva poder ficar com ela, e a idéia de adotá-la não lhe saia mais da cabeça. Apenas ficava mais forte a cada segundo, sabia que o marido não se objetaria.
Despediram-se de Tonks, a qual se juntaria aos outros, e aparataram em casa. A habitação dos Potter encontrava-se em total calmaria. Nina a babá de Harry, estava adormecida no sofá, com seu gato gordo enroscado no tapete. A senhora emitia um ruído bem maior que o ronronar do Sr. Twinks, o gato.
Tiago revirou os olhos diante à cena, e Lílian sorriu fino.
- Parece que ela também dormiu... – murmurou ele, referindo-se a Hermione.
- Sim, ficou quietinha de repente. Vou dar um banho nela, e ela tem que comer algo... Deve estar faminta.
- Certo, eu preparo algo. Acordo a Nina pra te ajudar, isso se eu conseguir... – brincou, beijando a testa da mulher, que sorriu subindo as escadas.
Após banhar Hermione e vesti-la num pijama que a Harry ficava pequeno, Lilian a levou para cozinha, onde já desperta a menina comeu bolo com avidez e tomara leite com igual vontade. Ela não dissera uma palavra, apenas olhava aos dois com os olhos ternos, cheios de gratidão; Atenta a tudo que eles falavam.
Quando terminara de comer, seus olhinhos pesavam novamente; coçou-os com as mãos.
- Acho que está na hora de dormir. – disse Tiago, sorrindo. Assim como ela já havia conquistado ao coração de Lílian, também o fazia com o seu.
A mulher novamente a pegou nos braços. Hermione parecia mais solta com sua presença, embora Tiago fosse simpático, de certo modo a inibia. Nina descera, e dissera que ajeitara a cama de Harry para mais uma ocupante. Mesmo que Tiago não tivesse aprovado a idéia, a auror insistia dizendo que a menina se sentiria mais segura com a presença do filho, e também não queria deixá-la sozinha num ambiente desconhecido.
Entraram no quarto de Harry, todo decorado em vermelho e com diversos motivos de Quadribol. Tiago acendera a luz, fato que não fizera o filho nem se mover. Continuava a dormir pesadamente. A chuva que apenas era uma ameaça, agora caia livremente.
Lilian caminhou levando Hermione, e sentou-se na cama. O marido havia puxado as cobertas e ela depositou a moreninha na cama, cobrindo-a. Sorriu, acariciando os cabelos dela, agora limpos e tratados. Eram tão bonitos, assim como suas faces. Tudo bem desenhado. Seria uma moça belíssima quando atingisse certa idade.
Passaram minutos a observar as duas crianças adormecidas. Ambos sorrindo. Tiago de pé, tinha a mão sobre o ombro da esposa. Harry remexeu-se na cama, e segundos mais tarde abrira seus olhos, revelando um verde intenso. Fitou aos pais, sentando-se na cama.
Olhou para a menina ao seu lado, e um sorriso sapeca habitou seus lábios.
- Mamãe?
- Sim, querido? – respondeu Lilian ao chamado.
- É ela? A menininha dos meus sonhos? – perguntou, olhando de Tiago para a mãe.
- É ela, Harry, a menina dos seus sonhos.
- Será que ela vai querer ser minha amiga quando acordar? Ela pode brincar comigo! Eu vou jogar quadribol com ela... – falou o menino, bocejando.
- Claro que ela vai querer ser sua amiga, e juntos viveram muitas coisas.
Ele sorriu, e deitou-se novamente. Com seu rosto virado para Hermione, os pais viram um carinho refletido neles. Um carinho nunca visto ali. Aos poucos Harry fora adormecendo, mas antes disso, entrelaçara sua mão a da menina. Tiago olhou para Lilian, e ambos riram baixo.
Deixaram o quarto, afinal tiveram uma noite cheia também. Hermione a salvo tranqüilizava aos dois, e agora a vida encarregaria de curar as dores dela. E a menina teria em quem se apoiar, pois encontrara uma família em meio à escuridão.




N/A: Bem, mais uma fic nova, eu sei que devem estar pensando que sou meio louca, mas e daí? kkkk... Tenho mil fics mesmo, mas nao pude resistir a essa ideia que me veio de súbito como sempre, espero que vocês gostem dessa história. Aquela capinha sem graça, em breve será trocada quando eu enfim tiver meu pc, e o photoshop de novo! Avisando, a fic é UA, com magia.
Comentem muito, e aguardo comentarios. Já estou no segundo capitulo dessa fic... *momento chantagem inconsciente*
Beijos amados.

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