Forever




Forever

Stratovarius
Composição: Timo Tolkki



I stand alone in the darkness
The winter of my life came so fast


Um vento frio como os dedos da morte sussurrava por entre os galhos finos das árvores, dando à paisagem já escura uma sensação fantasmagórica e surreal. A luz prateada da lua atravessava as folhas das árvores cobertas de gelo e iluminava fracamente o bosque, deixando à vista apenas as suas silhuetas difusas que se assemelhavam a míticos guardiões verdes cobertos com pequenos flocos de gelo, movendo-se à força suave do vento.

O rapaz caminhava lentamente por entre este exército congelado, dando pouca atenção às árvores ou aos pequenos animais que o observavam com atenção. Um pequeno filhote de raposa branca levantou suas orelhas alertas ao ouvir o ruído grave da neve compactada sob os pés do estranho que chegava, e num salto silencioso correu de volta à toca da mãe. Uma coruja das neves piou agourenta escondida entre os galhos das árvores, dando pouca atenção ao rapaz e perscrutando o chão em busca de algum pequeno animal para saciar sua fome.

Mas o rapaz cujos cabelos negros eram emaranhados pelos dedos gelados do vento que soprava não dava a menor atenção a estas distrações ao seu redor, muito menos se preocupava de não estar sozinho em meio àquelas árvores, caminhando sem rumo perdido em seus pensamentos.

Tinha as mãos colocadas nos bolsos do sobretudo de lã azul que o cobria e girava entre os dedos da mão direita um objeto fino e pontiagudo que comprara aos doze anos de idade numa loja escura e que, apesar de tudo o que lhe acontecera até aquele momento nos últimos cinco anos de sua vida, em certos momentos ainda custava a acreditar em sua existência. Era difícil acreditar em todas as pessoas maravilhosas que havia conhecido durante esses seis anos, e mais difícil ainda quando pensava nas que haviam deixado seu lado para sempre, suas vidas ceifadas com a indiferença de uma criança cruel que retira do chão as flores silvestres apenas para vê-las secar e apodrecer.

Ceifadas pelo mesmo homem que já havia tantas vezes tentado tirar sua vida, e que já mostrara que não descansaria enquanto conseguisse sucesso nessa empreitada. O bruxo das trevas mais poderoso de todos os tempos, e cujos outros bruxos tremiam à mera menção de seu nome. Lorde Voldemort.


Memories go back to childhood
To days I still recall


Ele lembrou-se do álbum de fotos que guardava escondido num velho baú aos pés de sua cama no quarto que ocupava na escola, e da imagem mágica de seus pais acenando para ele da enorme quantidade de fotos que seu amigo guarda-caça havia lhe conseguido.

Por vezes ficava horas apenas folheando as fotos que mostravam seus pais com os amigos, acenando felizes em diversos locais diferentes. Algumas fotos de seu casamento, outras de viagens feitas por eles em tempos mais felizes. As festas de seus amigos, as peças que James insistia em pregar nos amigos mais próximos, mas que sempre acabavam em risadas e boas lembranças para eles. Em algumas fotos, podia-se ver um pequeno bebê nos braços dos dois, tão radiantes que pareciam querer explodir de felicidade. Beijavam o garoto e o acariciavam de uma forma que Harry jamais sentiria novamente na vida, e por mais que se esforçasse em noites a fio que passara em silêncio no quarto enquanto os amigos dormiam, era uma sensação que não conseguira se lembrar.

Tudo o que se lembrava dos pais era os gritos seus gritos e do desespero quando Voldemor invadira sua casa no meio da noite, em busca do pequeno Harry para assassiná-lo. Seus pais haviam ficado entre ele e o terrível bruxo, mas haviam perdido suas vidas para protegê-lo. O resto da história sempre fora meio confuso para o rapaz, mas não importava. O vazio que sentia pela falta dos pais nunca fora completamente preenchido até encontrar Sirius Black, um velho amigo de seu pai, e que fora por pouco tempo a única família que lhe restara. Chegara até mesmo a considerar mudar-se para sua casa, onde viveriam juntos e finalmente se livraria dos terríveis tios que se esforçavam para tornar sua vida cada vez mais insuportável.

Mas o padrinho Sirius também se fora, sua vida ceifada pelos aliados de Voldemort durante uma batalha a dois anos atrás no Ministério da Magia. Mais uma vez, o bruxo das trevas havia lhe dado uma punhalada direto no coração, havia destruído o que restara de bom em sua vida, sem descanso em sua cruzada para acabar com tudo o que lhe restava.

E agora Voldemort havia lhe tirado o tutor Dumbledore, que durante seis anos o acompanhara e o protegera em Hogwarts, guiando-o pelo caminho certo enquanto lutava para impedir que o vilão conseguisse novamente todo o poder e influência que já tivera anteriormente. Harry jamais cogitara a hipótese da morte do tutor, o mais poderoso de todos os bruxos que já conhecera, e o único capaz de enfrentar Voldemort em pé de igualdade.

Mas Dumbledore havia sido morto, e com ele toda a esperança do rapaz. Agora estava por conta própria, já não podia ter a ajuda de ninguém para guiá-lo pelo caminho certo. Tinha os amigos, mas não queria arriscar a vida deles de forma alguma, era algo que precisava fazer sozinho.


Oh how happy I was then
There was no sorrow
There was no pain


— O que há com você, Harry? — perguntou uma suave voz feminina por trás do rapaz — Porque está aqui sozinho?

O rapaz parou sua marcha pelo bosque e fechou seus olhos lentamente, suspirando fundo, sentindo a tristeza inundá-lo como uma enchente inunda um rio tranquilo e ameaça destruir a barragem construída com tanto cuidado para contê-lo. Ele voltou-se para a fonte da voz suave e encarou a moça que o observava com olhos tristes.

Para ele, não havia outra mulher que se equiparasse à sua beleza ou à sua ternura. Seus cabelos vermelhos agitavam suavemente ao sabor do vento gelado, jogando-se rebeldes contra seus tristes olhos castanhos-claros. Seu rosto de traços suaves parecia delicadamente esculpido por exímio artesão, dando-lhe finos contornos na pele macia, a qual desejava ardentemente tocar com carícias. Os lábios artisticamente desenhados numa linha fina convidavam a um beijo carinhoso e apaixonado, sentindo a maciez de veludo e o sabor de paixão que fazia transbordar seu coração. A lembrança deste beijo e da mescla de amor e paixão que sentia por ela, o rapaz guardava no coração como um tesouro mais precioso que a vida.

Harry ainda se lembrava dos poucos momentos que haviam passado juntos durante aquele ano, de como descobrira o que sentia pela garota nestes últimos meses e como havia se enganado desde o princípio, achando que o que ela sentia por ele houvesse desaparecido quando não dera bola aos seus sentimentos. Tanto tempo havia se passado, tempo que poderia ter aproveitado junto a ela, que poderiam ter sido felizes. Mas agora tudo havia acabado.


Walking through the green fields
Sunshine in my eyes


— Gina, eu... — começou o rapaz.

Ela se aproximou dele e passou os braços ao se redor, abraçando-o com força. O rapaz sentia o peito da garota contrair-se em soluços rápidos e o rosto molhado de lágrimas que se acomodava gentilmente em seu pescoço. Seu coração apertou-se ainda mais e a correnteza de tristeza ultrapassou a barreira que havia levantado, deixando umas poucas lágrimas rolarem de seus olhos verdes.

— Não diga, por favor — disse a garota entre uma torrente de lágrimas que aumentava cada vez mais — não diga que vai embora, que vai me deixar!

— É preciso – disse ele, as palavras parecendo veneno em sua boca — Não há mais ninguém que possa fazê-lo, só eu.

A garota levantou o rosto para o rapaz que amava, fitando-o com os olhos castanhos marejados de lágrimas. O rapaz podia ver a luz da lua refletida em suas lágrimas e os olhos dela refletiam seu próprio rosto entristecido.

— Então me leve junto, Harry — disse ela, em tom de súplica — Podemos fazer isso juntos, você pode me levar com você e...

— Não posso — disse ele, decidido, pegando as mãos dela gentilmente e segurando entre as suas — jamais me perdoaria se algo acontecesse com você.


I'm still there, everywhere
I'm the dust in the wind
I'm the star in the northern sky


— Não, não é justo — disse a garota entre lágrimas, segurando as mãos dele com força — Você não pode me deixar sozinha, como vou ficar sem você?

O rapaz segurou as mãos dela na sua e levou sua mão direita ao seu queixo, apoiando-o carinhosamente e olhando diretamente em seus olhos amendoados. Sentia o coração pesado mas a sua decisão, por mais terrível que fosse, já havia sido tomada.

— Por mais longe que eu esteja, minha querida, meu coração estará sempre aqui com você — disse o rapaz, sentindo o coração cada vez mais pesado com cada palavra — Não haverá um segundo em que não esteja pensando em você.

— Mas porquê? Porquê tem que ser desse, Harry? Será que você já não sofreu sozinho o bastante? Porque não me deixa seguir com você, juntos seremos mais fortes, poderemos vencê-lo!

O rapaz soltou a garota e afastou-se alguns passos olhando para as árvores, testemunhas silenciosas daquele momento tão triste e injusto. Ele evitou o olhar da amada enquanto pensava no terrível destino que poderia aguardá-la nas mãos de Voldemort caso a acompanhasse, e um calafrio terrível percorreu sua espinha. Ele afastou da mente a imagem de seus lindos olhos castanhos sem vida, fitando-o. Não podia suportar essa visão, enlouqueceria.

— No fundo — disse ele, por fim — eu sempre soube que seria assim, que eu teria que abandonar tudo para acabar com isso de uma vez por todas.

— Mas porquê, Harry? Me diga!

— Isso sempre foi entre eu e Voldemort — disse ele, encarando-a decidido — enquanto houver algo próximo de mim, enquanto existir algo que eu ame, ele o destruirá para chegar até mim, para me enfraquecer, para me destruir por dentro.

O rapaz aproximou-se dela novamente e segurou-a pela cintura enquanto seus lábios buscavam os dela como um homem sedento busca a fonte de água vital para sobreviver. Ele a abraçou com força e deixou que as lágrimas corressem de seus olhos dando vazão a toda tristeza que sentia.


I never stayed anywhere
I'm the wind in the trees


— Meu destino já está traçado — disse ele quando seus lábios se separaram — O que sinto por você não morrerá jamais, mesmo que meu corpo vire pó e meu pensamento seja como o vento, meu amor jamais acabará. Ele sempre estará esperando a hora de nosso re-encontro, para sempre.

Os dois apaixonados se abraçaram uma última vez ainda, aquecendo os corpos um do outro enquanto a luz da lua morria no horizonte e o céu clareava com os primeiros sinais da alvorada. O canto das árvores madrugadoras preencheu o vazio triste da floresta congelada e trouxe consigo o calor do sol e da esperança para o coração dos jovens.

— Nada tema, querida Gina — o rapaz, sorrindo — Assim que tudo estiver acabado, eu retornarei para você e poderemos, enfim, seguir nossas vidas juntos como ambos desejamos. E seremos felizes, você verá.

Com um último beijo de despedida, os jovens seguiram em direção ao castelo de Hogwarts, onde as carruagens já os esperavam para levá-los à estação de Hogsmead. Ninguém os veria juntos, ninguém desconfiaria do amor que sentiam um pelo outro e Gina estaria segura dos espiões do Lorde das Trevas, assim como sua família. Harry imaginava como seria a vida dos dois quando tudo acabasse, quando as Horcruxes finalmente fossem destruídas e Voldemort desaparecesse da vida deles para sempre, e pegou-se imaginando em uma família que construiria com Gina assim que voltasse.

Com um sorriso de satisfação ante a esta perspectiva, ele apertou a mão da amada uma última vez antes de embarcar na carruagem que o levaria pelo caminho do futuro.


Would you wait for me forever?
Will you wait for me forever?

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