Por que tem que ser assim?

Por que tem que ser assim?



Chegara o dia em que ela teria que partir. Uma forte angustia tomava conta da morena, mas, por que se sentia tão mal? Ele era apenas mais um paquera da adolescência, um amor de verão, e ela tinha consciência disso. Nem mesmo a exuberante vista para o mar lhe acalmara a alma, estava inquieta, debruçada na varanda da enorme suíte em que passara os últimos dias.
O sol da manhã realçava ainda mais sua beleza, enquanto a brisa balançava seus longos cabelos cacheados.
-Emma, pegue suas malas, nós temos que ir – sua mãe gritou já abrindo a porta, a garota obedeceu.
-Eu tenho que falar com ele, eu tenho que arriscar! É minha última chance... – murmurou para si mesma enquanto fechava a porta da suíte. O peso das bagagens era mínimo, comparado a força que ela exercia para manter o coração num ritmo considerado tranquilo. Olhou para o fim do corredor, onde se encontrava a suíte do rapaz, rapaz que ela nem sabia o nome, idade, endereço, ou qualquer informação precisa, sabia apenas, que ele mexia com ela como ninguém nunca houvera mexido antes. Entrou no elevador e deixou as bagagens caírem no chão, como se escorregassem de suas mãos.
-O que você tem, filha? – sua mãe tentou.
-Nada – mentiu.
-Tem certeza? – o pai perguntou enquanto franzia uma sobrancelha.
-É, eu tenho – respondeu pegando as malas e saindo do elevador, em segundos estava no enorme saguão da colônia de férias.
-Nós vamos fechar a conta, nos espere aqui – a mãe comunicou, ela assentiu sem dar muita atenção. Seus olhos inquietos procuravam por um certo moreno de olhos claros. Pessoas indo e vindo com bagagens por todo o lado, ninguém parava um instante sequer, ninguém sorria. Todos estavam apressados, com passos ligeiros e por vezes incertos, enquanto o celular ganhava importância entre os hóspedes do local.
Ele certamente não estava lá, como toda manhã. Apenas uma coisa era certa para a morena: eu ele havia ido embora, ou ainda desceria. A primeira alternativa não poderia ser real, não depois das infinitas trocas de olhares dos dois jovens. Apostou na segunda, por mais irreal que aquilo lhe parecera, não se importou de jogar o peso das bagagens no chão e sentar-se.
Seus olhos estavam fixos no elevador, pessoas desciam a toda hora, com malas e mais malas, os minutos pareciam eternidades, ela não parava de olhar o relógio. Já eram quase dez horas da manhã, onde ele havia se metido? Cada vez mais o coração da morena se despedaçava, mais angustiada ela tornava-se. Mais o golpe de misericórdia foi quando avistou seus pais vindo em sua direção. Ela teria que ir embora, teria que abandonar o lugar onde passou os melhores dias de sua vida, abandonar as lembranças, abandonar ele. Levantou-se, e mais uma vez olhou ao redor, nada, nem um vestígio.
-Vamos indo, temos uma longa viagem pela frente – seu pai comunicou colocando a mão no ombro da adolescente.
-Vamos lá – disse antes de sair na frente dos dois, puxando uma mala de rodinhas.
-O que deu nela? – o pai perguntou.
-Não sei, deve ser coisa da idade, logo passa – a mãe respondeu antes de sair andando, seguida pelo pai da garota. Em menos de dois segundos, a porta do elevador se abriu, revelando um jovem incrivelmente atraente. Os fios negros contrastavam-lhe a pele branca, levemente bronzeada, e caiam sobre seus olhos azuis, intensos como o céu.
-Mais onde ela está? – perguntou-se em pensamento que foi logo interrompido por um chamado.
-Daniel! – ouviu chamar. A mãe lhe chamara da recepção, ele se aproximou.
-Sim? – atendeu.
-Me faça o favor de ajudar seu irmão a levar essas malas pro carro enquanto eu fecho a conta – pediu, ele assentiu enquanto observava o local, obviamente, a procura da garota.
Sua pele chegara até a ser vermelha, tamanha a velocidade com que o sangue pulsava pelo corpo. Chegou à porta da colônia, quando de súbito, aquelas doces feições se encontram num banco traseiro de um veiculo prata, vestida de preto, como se estivesse de luto. Ela sorri e sente o coração disparar, tentando reconciliar a vontade de correr e a ansiedade de um beijo... Aquele esperado pelos dois. Ele pára. Nem percebe quando a alça da mochila cai de seu ombro, ou quando alguém chega e esbarra em si. Tentou dar um passo, conseguiu. Fitaram-se quase que hipnotizados por alguns poucos segundos.
O pai da garota ligou o carro, ele não podia mais fazer nada. Mais por Deus! Ela estava bem na sua frente, a ponto de partir, tinha que fazer algo, qualquer coisa!
-Daniel, poxa! Me ajuda – o irmão resmungou, ele apenas desviou o olhar. Ela abriria a porta, e correndo, se jogaria nos braços dele, como planejara na última semana. Mas, quando se deu conta, ele não estava mais lá. E antes mesmo de conseguir ver onde ele estava, seu carro partiu.


Continua...

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