Capítulo 3
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A pior palavra do mundo não poderia me definir. Não. Definitivamente a pior palavra soaria como um elogio, comparada a forma que agi com a Weasley. Minhas frustrações e mágoas nada tinham a ver com ela. Apesar de ser uma intrometida, isso não me dava o direito de dizer todas aquelas palavras absurdas. E no final, quando esperava que gritasse, me batesse ou azarasse, ela conseguiu ser educada e saiu como se nada tivesse acontecido. É, devo mesmo ser um monstro. Talvez o pior monstro de todos. Daqueles que não se importam em magoar a pessoa que mais ama. Pois sim, foi só quando vi aqueles olhos azuis se encherem de tristeza e raiva que tive total certeza de que meu sentimento por Rose Weasley ia além de uma simples paixonite recém descoberta. Foi só quando senti vontade de abraçá-la e protegê-la que compreendi o tamanho do meu sentimento. Mas agora já era tarde. Nem todas as desculpas do mundo fariam com que ela voltasse atrás com sua opinião em relação ao meu respeito.
Fechei meus olhos e respirei mais uma vez antes de seguir para dentro da mansão e enfrentar o jantar. Se eu tivesse alguma sorte – coisa que já considerava impossível – poderia sair de lá e me isolar novamente. Não estava disposto a enfrentar a pior parte da noite. Todas aquelas histórias de natal e a troca de presentes me faziam vagar por um passado que estava enterrado.
Sem poder adiar mais, voltei para casa. Na sala de jantar as conversas e risadas estavam tão presentes quanto os convidados. Usei a melhor máscara de tranquilidade que consegui encontrar, e entrei. De longe pude sentir o olhar rápido da Rose, mas preferi não encará-la. Ela já devia estar furiosa o suficiente.
Meu pai se aproximou de mim, e passou a mão pelos meus ombros. Quando saí a primeira vez da mansão, ele sabia o motivo e não tentou impedir. Mesmo não dizendo uma palavra, o Sr. Draco Malfoy, assim como minha mãe, sabe perfeitamente quando algo me incomodava.
- Está tudo bem? – ele perguntou em voz baixa.
- Não, mas vai ficar! – respondi sincero.
- Aguente só mais um pouco. – ele disse e foi para seu lugar à mesa.
Depois do jantar, todos voltaram à sala para conversar mais um pouco antes de começarem com a brincadeira estúpida do “amigo secreto”. Pra ser sincero, não fazia idéia de quem havia tirado. Minha mãe quem sorteou, e disse a ela que comprasse os presentes e apenas me avisasse no dia quem era. Respeitando minha vontade, e provavelmente temendo que me recusasse a participar da brincadeira, fez o que pedi.
- Filho, venha aqui um instante! – minha mãe me chamou, e caminhei até ela tranquilamente – Tome, este é seu presente.
- Certo! – eu peguei o grande pacote sem muita vontade – E, a título de curiosidade, quem foi que eu tirei?
- A menina Weasley! – tudo bem, é normal se confundir. Provavelmente minha mãe quis dizer “Potter”.
- Mãe, aquela ali... – apontei discretamente em direção à Lilian – é filha do Sr. Potter!
- Oh querido, eu sei. Mas não foi ela quem você tirou e sim a filha da Hermione! – era tudo que eu realmente precisava. Se não bastasse tudo que havia acontecido, eu ainda precisava entregar o presente à menina. Quando digo que Merlin se diverte acabando com minha vida, ninguém acredita. – Algum problema filho? – devo ter feito uma cara de desesperado, para minha mãe me encarar de uma forma tão preocupada.
- Não mãe. Tá tudo bem. Vamos logo distribuir os presentes! – tentava manter minha voz imparcial. Pior do que isso não iria ficar, então não adiantava fazer tempestade.
A troca de presentes não demorou para começar. Meus primos e seus amigos pestes praticamente se jogavam em cima uns dos outros para poderem receber logo seus presentes ou se chantagearem para descobrir quem havia tirado quem.
Fiquei parado num canto, observando toda aquela brincadeira. Todos pareciam muito à vontade. Obviamente, minha mente trabalhava furiosa. Como eu iria descrever meu amigo – no caso amiga – secreto? “A minha amiga é ruiva e não faz tanto tempo que descontei nela minhas frustrações. Aeee, acertou quem disse Rose Weasley!” Não, definitivamente eu não podia dizer isso, embora fosse a mais pura verdade.
Estava tão distraído que nem percebi quando Sophie disse que havia me tirado. Precisei de um cutucão do pirralho ao lado pra acordar.
- Ah Sophie, me desculpe. Estava distraído! – eu disse, caminhando em direção ao centro da sala.
- Jura? Sabe que eu nem notei?! Te chamei cinco vezes só porque acho seu nome uma graça! – Sophie brincou e me entregou o presente – Feliz Natal, loiro antipático!
- Feliz Natal também, loira convencida! – eu ri e beijei sua testa. Me virei para encarar todas as pessoas da sala, com uma expressão desconcertante – Bom... Agora sou eu né?!
- Até que prove o contrário é você, e acho bom começar logo porque ainda não ganhei meu presente e já aviso que se ninguém nessa sala me tirou, vou começar a me sentir rejeitado! – Vincent brincou e todo mundo riu, pra variar.
Olhei novamente para os rostos a minha volta e respirei fundo. Como já havia constatado, pior do que isso não iria ficar, então era melhor acabar logo com esse sofrimento, entregar o presente para Weasley e sair dali antes que ela resolvesse me matar ou pior que isso, começasse a gritar.
- Certo... – pigarreei para tornar minha voz mais clara e audível – Sinceramente sou péssimo com essas coisas e é bom que saibam que se não fosse pela minha mãe, não participaria da brincadeira! – sorri, tentando parecer relaxado e passei a mão no cabelo – Enquanto todos trocavam presentes, pensei em mil e uma formas de descrever a pessoa que tirei, mas nenhuma delas foi boa o bastante. Quero dizer, não é que a pessoa seja impossível de ser descrita. Não. Na verdade, há um tempo julgaria muito fácil dizer exatamente quem é essa pessoa... Mas hoje, quando preciso de algo que me faça parecer menos idiota ao tentar falar sobre ela, nada me vem a cabeça, e...
- Scorpius, você ta tentando descrever alguém ou elaborando um pedido de casamento pro seu amigo secreto? – Vincent brincou novamente e dessa vez o agradeci. Se não fosse a interferência do meu amigo, acabaria falando demais e isso não seria nada bom.
- Tem razão Vin! Isso ta ficando melodramático já! – disse, dando uma risada – Certo, de forma curta e extremamente rápida, posso dizer que meu amigo secreto considera a biblioteca como um segundo lar e tenho a ligeira impressão que se pudesse, se mudaria para lá.
- ROSE! – todos gritaram ao mesmo tempo e fiquei aliviado ao ver que todos os pares de olhos se voltaram para Rose. Ao menos não precisaria descrevê-la novamente.
Com certa graça, vi seu rosto assumir uma tonalidade rosada, enquanto ela se aproximava de mim. Ela sorria, embora seus olhos não acompanhassem a linha de seu sorriso. Estavam tristes e distantes. Pareciam querer gritar algo.
- Feliz Natal de novo! – eu disse, entregando o presente para ela.
- Obrigada! – ela disse gentilmente, ainda com um sorriso nos lábios. Segurou o pacote em suas mãos e sacudiu, tentando adivinhar o que havia ali – Hum... O que é?
- Bom... – fui pego de surpresa. Não fazia idéia do que minha mãe havia comprado para ela. – Por que não abre?
- Porque preciso ter certeza de que isso não vai explodir quando eu tirar a fita! – ela brincou, e arrancou risadinhas da maioria do pessoal da sala. Definitivamente, esperava que ela estivesse me odiando, e não tentando ser simpática.
- HÁ-HÁ, você é muito engraçada! – tentei manter o humor e me virei pra minha mãe – Ô mãe, o que você comprou pra ela? Aparentemente a Weasley acha que meu presente vai explodir. Talvez ela estivesse certa se fosse eu quem tivesse comprado, mas como foi a senhora, não tenho certeza!
Rose ergueu uma das sobrancelhas e me encarou de forma avaliativa. Sem desviar o olhar do meu, ela retirou a fita da caixa e abriu seu presente. Um tanto surpresa, descobriu que havia ali um livro de um de seus autores favoritos, que ainda não estava nas lojas.
- Eu não acredito! – ela exclamou fascinada – Devo agradecer a você ou sua mãe?
- Teoricamente a minha mãe, pois foi ela quem comprou. Na prática a mim, já que fui eu quem te tirou! – expliquei dando de ombros, e então fui pego de surpresa.
Sem avisar, Rose se pôs na ponta dos pés e beijou meu rosto, como se fôssemos grandes amigos. Das duas, uma estava correta: ou o espírito natalino realmente existe, ou a Weasley abusou do vinho. Sinceramente eu apostava na segunda opção.
- Obrigada, na prática, Malfoy. Adorei o presente! – ela disse assim que se afastou de mim – E na teoria, obrigada Astoria. Realmente sou muito grata pela surpresa! – ela se virou e encarou minha mãe.
Fiquei parado no meio da sala feito um idiota. O mais perto que a Weasley havia chegado de mim, foi no 5º ano, quando me encheu de tapas por ter assustado seu irmão.
- De nada! – eu respondi e saí, ainda atordoado.
O que se passou depois dessa cena constrangedora e inesperada não posso dizer. Não prestei a mínima atenção no que as pessoas falavam. A única coisa que fiz foi tentar entender o que havia acontecido ali. Rose Weasley havia sorrido pra mim, quando seus olhos eram enigmáticos. Depois ela simplesmente sorriu – de forma sincera, eu acho – e beijou meu rosto. Será que tive alguma alucinação causada pelo excesso de cogumelos no ravióli? Ou será que tanto tempo com a cabeça encostada na escultura com neve congelou meus únicos neurônios loiros ativos? Sinceramente, devo estar enlouquecendo.
- Então crianças, que tal honrarmos as tradições e começarmos a contar histórias de natal? – a voz de Victor, marido da minha tia Daphne me fez despertar daquele transe. Estava ouvindo bem ou ele realmente queria assumir um lugar que não era o dele?
- Desculpe, mas eu ouvi bem? – perguntei dando alguns passos em direção ao meu ‘tio’.
- Algum problema, Scorpius? – ele me perguntou, empinando aquele nariz nojento – Até onde eu saiba, contar histórias de natal não são proibidas.
- E até onde eu lembre, o único que costumava fazer isso não está entre nós! – disse e minha voz soou ameaçadora até para mim. – Não ouse a fazer isso, Victor!
- E por que não? Isso é uma festa, e acho que as crianças podem se divertir ouvindo histórias!
- Histórias essas que não são suas! – esbravejei. Meu pai correu pro meu lado, quando dei um passo maior, encurtando a distância entre meu tio e eu.
- Scorpius está tudo bem!
- Não, não está! – eu gritei. Meu comportamento foi literalmente infantil, pode-se dizer, mas não me importava. Aquele homem não se tornaria o novo animador das festas de natal, nem que pra isso eu precisasse imobilizá-lo – Já não basta tentar ser querido, agora quer também bancar o herói das festas?
- Menino, escute bem. Lionel não está mais aqui, então é melhor você superar isso antes que estrague tudo.
Senti meus olhos faiscarem e sem dizer mais nenhuma palavra, saí da sala em passos duros e firmes. Não vi nem ouvi ninguém, apenas empurrei as pessoas a minha frente e num segundo, já havia ganhado a escuridão dos jardins da mansão.
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Realmente não sei o que me deu, e muito menos sei de onde tirei coragem pra falar com Scorpius e beijar seu rosto. Acho que aquela história de que quando estamos com raiva fazemos coisas inexplicáveis é verdade.
Confesso que quando meus lábios encostaram a pele de Scorpius, senti um arrepio subir pela minha espinha. Precisei me esforçar muito para manter meu equilíbrio e minha razão, mas pra minha sorte, tive êxito na tentativa.
Depois que passamos pela troca de presentes, o cunhado da Sra. Malfoy nos chamou para ouvirmos histórias de natal. Fiquei feliz com a idéia, afinal, todos esses contos são bem divertidos e cheios de lições que podemos levar por toda a vida.
Entretanto, fui pega de surpresa quando Scorpius reagiu de forma agressiva à tentativa do seu tio, de animar a festa. Fiquei perdida diante daquela situação. Nunca vi o Malfoy tão furioso e afetado como ficou naquele instante. Claramente havia algo mais ali do que uma simples raiva pela data comemorativa. Percebi também que diante do nome “Lionel”, seus olhos emitiram um brilho diferente. Era uma mistura de fúria e tristeza. Eu só não conseguia decifrar ao certo a origem desses sentimentos.
Ouvi alguns murmúrios na sala, quando Malfoy saiu em passos rápidos. Não pude deixar de observar a troca de olhares do Sr. e da Sra. Malfoy.
- Não é melhor alguém ir atrás dele? – Daphne, a irmã da Sra. Malfoy, sugeriu, enquanto lançava olhares de repreensão ao seu marido.
- Não! – o Sr. Malfoy disse, como se aquilo encerrasse o assunto – É melhor deixá-lo só. Tudo isso já o desgastou demais.
Então, como se tudo tivesse sido esquecido, a sala voltou a se encher com uma conversa e todos ignoraram o que havia acabado de acontecer. Todos, menos eu, é claro. Curiosidade sempre foi meu mal, e inventando uma falsa dor de cabeça e que precisava respirar ar puro, saí para os jardins com a promessa de que não iria atrás do Scorpius.
É claro que minha promessa era falsa. O Malfoy podia ser a pessoa mais detestável do planeta, mas ainda sim era meu dever como pessoa ir ajudá-lo. Isso se ele precisasse realmente de ajuda.
Sem nem mesmo me dar conta de onde ia, comecei a caminhar pelo enorme jardim da Mansão dos Malfoy. Parecia não ter fim. Quanto mais eu andava e me afastava da casa, mais escuro e grandioso o jardim se tornava. Precisava lembrá-los de colocar luzes do lado de fora. “Certo, não entre em pânico!”, repeti mentalmente algumas vezes, quando escutei barulhos estranhos, provavelmente produzidos pela minha cabeça alucinada que tem pavor de escuro. Minha varinha acesa parecia não iluminar suficiente, e, agora que já estava bem distante da mansão, sentia calafrios percorrem meu corpo. Aonde eu tinha me metido?
- Malfoy? – chamei timidamente. Ninguém me respondeu. Provavelmente ele já estava dentro de seu quarto, aquecido por uma lareira, enquanto eu estava do lado de fora o procurando feito idiota.
Dei mais alguns passos em direção à escuridão e parei novamente. Limpei a garganta, que já estava mais do que seca, e tentei chamar um pouco mais alto.
- Scorpius? – o chamei pelo primeiro nome. Ele não estava ali, era óbvio, então podia me arriscar.
- Não sabia que entre os milagres do natal, estava o fato de você começar a me chamar pelo primeiro nome. – Ok, retiro o que eu disse. Ele estava ali sim, a poucos metros de mim.
Saltei, é claro, quando sua voz ecoou naquela escuridão. Mas meu coração não estava acelerado pelo susto, e sim pela presença dele. Ergui a varinha um pouco mais e encontrei o local que estava. Havia um banco no centro daquele nada, coberto de neve, e o Malfoy estava ali, deitado, olhando pro céu, com uma expressão pensativa. Me aproximei lentamente, para poder encará-lo e ele não pareceu se preocupar com minha presença ali.
- Então... – eu comecei a falar, mas minha frase ficou presa na garganta, quando os olhos de Scorpius prenderam os meus num olhar penetrante. Nunca havia reparado o quanto seu olhar era expressivo.
- O que faz aqui? – ele me perguntou tranquilamente. Definitivamente não estava afetado com minha presença, ou se estava, sabia fingir muito bem.
- Bom, como você sumiu da festa daquele jeito, eu pensei...
- Pensou que eu era uma pobre alma sofredora e que você podia servir de consolo. – ele disse e pude ver seus olhos cinzentos revirarem. – Estou muito bem, Rose, não precisa se dar ao trabalho de bancar a boazinha comigo.
- Desde quando me chama de Rose? – de todas as perguntas que passaram por minha cabeça, a menos imbecil fora essa.
- Achei que tivéssemos acabado com as formalidades, quando você me chamou de Scorpius! – pude ver sua sobrancelha se erguer em escárnio. Dessa vez ele me pegou.
- Certo... – me balancei na ponta dos pés, encarando o nada por alguns instantes, enquanto sentia o olhar dele sobre mim, tentando entender o que uma louca ruiva estava fazendo ali. Sinceramente, nem eu mesma sabia o motivo de não ter me virado e ido embora quando ele anunciou que estava perfeitamente tranqüilo.
- Ok, pelo visto você não vai sair daqui, então é melhor se sentar antes que acabe caindo de tanto se balançar! – ele disse num tom zombeteiro, e dei graças a Merlin pela escuridão, pois minhas bochechas assumiram uma tonalidade mais vermelha que meu cabelo.
- Vou me sentar aonde? – perguntei assustada e ele riu.
- Bom, você tem várias opções. Pode se sentar na neve, mas creio que isso vai deixar você encharcada e congelada. Pode se sentar aqui no banco, ou se preferir... – ele me encarou de uma forma brincalhona, e rapidamente abaixei a cabeça. Novamente ele riu.
- Eu estou bem de pé! – minha voz não saiu nem um pouco firme, como eu pretendia que fosse.
Ignorando completamente minha falsa afirmativa, Scorpius se sentou e deixou um grande espaço para que eu pudesse me sentar também. Como hesitei por alguns instantes, ele revirou os olhos e disse monotonamente:
- Vamos lá, pode se sentar, não vou engolir você! Ainda não me tornei o lobo mau das histórias.
Com um grande suspiro, me sentei ao seu lado. Queria dizer mil e uma coisas, perguntar outras mil, mas não sabia por onde começar. Sem dúvidas, ele me chamaria de intrometida por querer saber o motivo que saiu daquela forma da festa ou por querer saber quem é “Lionel”. Mas precisava arriscar, ou aquela dúvida me corroeria por um longo tempo.
- Malfoy...
- Pode chamar de Scorpius! – ele me corrigiu educadamente.
- Certo... Scorpius, não quero parecer metida, mas... – hesitei por um momento, e então falei tudo como um jato – Quem é Lionel? Percebi que enquanto você discutia com seu tio, ficou mexido com esse nome e só então decidiu vir pra cá pra fora, e...
- Hei, se acalma! Se continuar falando assim vai ficar roxa e sem ar! – ele zombou. Parte de mim ficou contente em ver que ele não se aborreceu quando perguntei a quem pertencia o nome que o fez ficar irritado – Vamos colocar ordem nessa bagunça! O que você quer saber primeiro?
“Eu quero saber como você consegue ser tão lindo, mesmo estando tudo tão escuro e como consegue fazer meu coração bater tão rápido, sem nem mesmo encostar em mim.”, pensei e logo sacudi a cabeça, na intenção de espantar essas idéias antes que eu as falasse.
- Por que você saiu daquele jeito? – minha voz saiu num sussurro.
- Você deveria me perguntar o motivo deu não gostar do natal primeiro. – ele disse, usando o mesmo tom de voz que eu.
- Isso tem a ver com o fato de você sair da festa, completamente furioso?
- Totalmente!
- Então ta bom! – eu disse e me sentei com uma postura melhor no banco – Por que você não gosta do natal?
Ele refletiu durante alguns instantes, até que finalmente me encarou. Percebi, ao olhar em seus olhos, que aquele assunto o machucava.
- Olha, não precisa falar sobre isso se não quiser! – eu disse e quando fiz menção de me levantar, Scorpius segurou minha mão.
- Está tudo bem. Acho que posso falar com você sobre isso. – ele disse gentilmente e me soltou – O natal me traz lembranças tristes... Lembranças que eu guardo a sete chaves para que não me machuquem.
- Elas têm a ver com esse Lionel?
- Sim!
- E quem é Lionel? – perguntei, sem conseguir esconder a curiosidade em minha voz.
- Lionel era meu avô. Morreu quando eu tinha 10 anos... Dias antes do natal! – a voz entristecida de Scorpius fez meu coração se apertar numa dor enorme. E o mais incrível era que doía por ele. Por saber que ele estava triste e que sempre ficaria assim nessa época do ano.
Sem mesmo perceber, ergui minha mão e acariciei seu rosto, tentando consolá-lo.
- Eu sinto muito... – foi a única coisa que consegui dizer, embora pensasse em outras mil. – Você era muito apegado a ele?
- Muito! Acho que fui o que mais sentiu, depois da minha mãe, é claro! – ele explicou – Ele costumava vir a todas as festas de natal. Sempre brincávamos juntos, ele adorava fazer grandes bonecos de neve. Fazia tudo a forma trouxa, para não me deixar com vontade de roubar a varinha do meu pai e fazer alguma magia, mesmo sem saber como usar! – ele sorriu com a lembrança e não pude deixar de rir também – Todas as noites, depois do amigo secreto, ele contava histórias de natal e alegrava a festa... Ele era meu melhor amigo.
Novamente senti uma onda de dor e tristeza passar por mim. O sofrimento de Scorpius me machucava como se fosse eu mesma quem estivesse sofrendo. Sentia-me envergonhada por fazer suposições a seu respeito, antes de saber o verdadeiro motivo dele ser tão frio nas festas de fim de ano.
- Eu gostaria de poder sumir nessa época sabe? – ele desabafou – Poder me esconder. Sei que fazem 7 anos, mas mesmo assim ainda dói. Parte de mim ainda espera que ele apareça e comece a nos fazer rir, e que me diga para deixar de ser travesso e não enlouquecer meus pais.
Mesmo naquela escuridão do jardim, pude ver uma única lágrima escorrer pelo rosto pálido de Scorpius. Ele estava sofrendo mais do que queria demonstrar. Sem me conter, me aproximei ainda mais dele e passei os braços por seus ombros, o abraçando.
- Seu avô não ia querer que você se escondesse assim! – disse, afagando seus cabelos, enquanto ele repousava a cabeça no meu ombro – É injusto com você, sofrer dessa forma.
- Injusto foi ele ter morrido...
- Não! Essas coisas acontecem com todos, Scorpius. Você não pode se culpar ou se martirizar assim pelo resto da vida. Seu avô não ia querer te ver assim, irritado e sofrendo. Ele gostaria que você fosse feliz e que se lembrasse dessa época com alegria. Você não devia se lembrar do seu avô com tristeza. Afinal de contas, quantas vezes sorriram juntos? Diversas! Você deve se lembrar dele com alegria.
- Eu sei... – ele disse e ergueu a cabeça para me encarar – Só não sei se consigo. – Scorpius baixou os olhos. Não sei se por vergonha ou tristeza. Rapidamente toquei seu rosto para que me encarasse novamente e isso funcionou.
- É claro que consegue! – incentivei – Hei, você é Scorpius Malfoy, se esqueceu? – brinquei e ele sorriu – E caso você sinta dificuldades, bom... Eu...
- Você...? – ele me incentivou e continuou me encarando intensamente.
- Eu posso estar por perto pra te ajudar! – dessa vez fui eu quem deviou o olhar. Fiquei envergonhada demais, ao admitir que queria ficar perto dele.
- Eu gostaria muito que ficasse por perto... Sempre! – não tinha percebido que Scorpius havia se aproximado tanto de mim novamente, até que sussurrou em meu ouvido. Senti arrepios correrem pelo meu corpo, e lentamente virei meu rosto para encará-lo. E ele estava ali, há centímetros do meu rosto, me encarando de forma profunda, como se estivesse lendo minha alma. Ele se aproximou mais de mim, encerrando por completo a pouca distância que ainda nos separava. Lentamente retirou uma mecha de cabelo que caía por meu rosto e colocou atrás da minha orelha.
Eu sabia que devia dizer alguma coisa. Devia concordar com sua afirmativa ou algo parecido, mas não conseguia. Eu simplesmente estava hipnotizada com toda aquela situação. Meu coração batia rápido e forte contra meu peito, e sentia que a qualquer momento ele saltaria pela minha boca.
Scorpius tocou meu pescoço com a ponta de seus dedos frios. Senti uma corrente elétrica passar pelo meu corpo, mas nada comparado a sensação de quando seus lábios tocaram meu pescoço e depois de poucos segundos, encontraram os meus lábios. Senti que poderia voar quando lentamente nos entregávamos aquele beijo quente e carinhoso.
Como pude ser tão lenta para perceber que tudo que tinha contra Scorpius era um alerta gritando que eu queria ficar perto dele? Que toda raiva que sentia quando o via cercado de garotas, era um ciúme que tentava negar? Só quando senti beijo doce e ardente que notei o quanto o queria. Só quando senti seu toque em minha nuca, seus dedos brincando com meu cabelo que entendi o motivo de nunca ter achado nada de tão especial nos beijos dos meus outros namorados. Estava claro agora para mim que era por ele que meu coração esperava por esse tempo todo, e agora Scorpius estava ali, comigo.
Pouco a pouco o nosso beijo ficou mais lento, até que finalmente nos afastamos. A testa dele ficou unida a minha por um tempo, e mantive meus olhos fechados. Parte de mim tinha medo de que se os abrisse, perceberia que estava sonhando e que aquilo tudo não era real.
- Rose... – fui forçada a abrir os olhos quando ouvi a voz dele. Eu não seria tão criativa a ponto de imaginá-lo comigo e reproduzir perfeitamente o som de sua voz.
- Sim? – respondi no mesmo tom baixo que ele usou para falar comigo.
- Você acreditaria em mim se dissesse que te amo? – Scorpius acariciou meu rosto enquanto falava. Eu sorri. – Acreditaria em mim se eu dissesse que hoje, só hoje eu percebi que você era a garota que eu precisava? A garota que eu esperei durante tanto tempo? A garota que...
Rapidamente coloquei meu dedo sobre os lábios de Scorpius, impedindo que ele continuasse e sorri.
- Eu acredito.
- Mesmo? – ele perguntou, enquanto segurava minha mão e entrelaçava os dedos nos meus.
- Uhum... Acredito em tudo isso porque também te amo e também só hoje percebi a importância e o significado que você tem em minha vida!
Por mais triste e dolorosa que uma situação possa parecer, sempre há um jeito de melhorar. E quando menos esperamos, algo acontece para nos ajudar a superar os problemas e obstáculos.
Scorpius voltou para festa, sorrindo e ao contrário do que todos pensavam, ele se desculpou e começou a contar uma de suas histórias favoritas de Natal. Seu avô havia lhe contado muitas e ele achara por bem compartilhá-las com seus primos mais novos, que não tiveram a oportunidade de conhecê-lo tão bem quanto ele tivera.
Rose também voltou. E para surpresa de alguns e admiração de outros, sentou-se ao lado do seu mais novo – e isso pode soar bastante irônico para aqueles que julgavam ser algo impossível – namorado, e ficou de mãos dadas com ele, o apoiando para que continuasse e não se deixasse abater por uma onda de tristeza.
Naquela noite, aquele jardim não foi palco apenas de uma confissão de dois jovens apaixonados. Aquele jardim, escuro e aparentemente triste, foi palco do mais puro e verdadeiro Milagre do Natal.
N/A: Fic simples. Uma inspiração bobinha que surgiu no Natal, mas como viajei, só tive tempo pra postar hj.
Espero que gostem ^^
XoXo,
Mily.
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