Capítulo 1



Natal. Festas de Fim de Ano. Espírito Natalino. Época de paz e fraternidade, amor e bondade... Há aqueles que se sentem muito bem durante essa época. Mas há também os que se sentem deslocados e tristes, por não acreditarem que nenhuma das promessas de felicidade e harmonia sejam verdadeiras ou simplesmente por não verem sentido em todas as brincadeiras e festividades.

Mas para aqueles que não crêem, digo que durante essa época, algumas coisas incríveis podem acontecer... Coisas semelhantes a milagres.





***





Malfoy’s Mansion
24 de dezembro
Narrado por
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Se tem uma coisa pior do que visita em família, é uma visita em família combinada com festas de fim de ano. Não há nada mais irritante do que ter seus parentes, amigos dos seus parentes e amigos dos amigos, correndo pela sua casa, sorrindo e te cumprimentando como se fossem íntimos. E o pior de toda essa palhaça é ter que fingir que adoro isso e corresponder a cada piada sem graça ou a cada comentário idiota, com um sorriso no rosto e uma resposta simpática. Mandaria todos de volta para o inferno mesmo se pudesse.

Mas, infelizmente, as coisas não são tão fáceis e eu não posso dar fim a todo esse circo que fora armado à minha volta. Se ao menos eu pudesse fugir ou voltar pra escola... Lá eu poderia me esconder em meu quarto e só sair quando todos parassem de desejar “Feliz Natal” e começassem a se preocupar com trabalhos, provas e treinos de quadribol.

É. Talvez eu tenha algum problema de socialização. Talvez eu não consiga me dar bem com pessoas mais novas ou mais velhas... Ou então eu não tenha nascido para me dar bem com ninguém, e esse é o fim da história.

Até na escola onde, talvez, eu pudesse me relacionar com as pessoas de melhor forma, as coisas não eram tão fáceis. A maioria das pessoas fala comigo e puxam meu saco, por causa do meu sobrenome... Como se a palavra “Malfoy”, sozinha, pudesse intimidar alguém; O restante fala comigo porque sou um respeitável Capitão de Quadribol, e muito bom aluno. Ou seja, falam comigo pela popularidade. Até as meninas só correm atrás de mim a todo instante porque alguém disse a elas que um par de olhos azuis acinzentados e cabelos loiros platinados faz parte de uma nova onda sexy do momento, então, é bastante normal me ver cercado do que meu melhor amigo chama de “fãs”.

Entretanto, não são todas as meninas que vivem atrás de mim. Ah não... Há uma que se recusa a falar comigo desde que tínhamos 11 anos. No início pensei que tudo fosse por alguma rivalidade entre nossas famílias, mas depois de ver nossos pais comparecendo as mesmas festas, jantares e tudo mais, e conversarem tranquilamente e muitas vezes irem à casa uns dos outros, percebi que era algo pessoal. Rose Weasley não gosta de mim por nenhum motivo justificável e isso é tudo. Todas as vezes que pergunto, recebo a mesma resposta em troca:

“Você é arrogante, metido, irônico e insensível...”

Aff, quanto blá blá blá. Ela nunca me dá uma resposta concreta do verdadeiro motivo por me odiar, e eu não sei por que me dou o trabalho de querer demonstrar que está errada. Que apesar de parecer, eu não sou esse monstro que ela teima em retratar. Mas ela não permite isso. Vive sempre na defensiva, como seu eu pudesse atacá-la e machucá-la. Definitivamente, Rose Weasley é a exceção a regra da minha vida. E não gosto disso. Definitivamente não gosto de não entender o que se passa.

Vincent costuma dizer que tanta cisma é amor não correspondido, mas no geral o mando tomar conta da própria vida e viver seu adorado romance com sua amada Sophie, e me deixar em paz. Veja lá se eu, Scorpius Hyperion Malfoy, podendo ter todas as garotas que quero, vou logo escolher a que não me suporta. Afinal de contas, o que Rose Weasley tem demais? Não é porque ela tem longos cabelos ruivos, que insistem em cair pelo seu rosto delicado, enquanto ela tenta deixá-los presos, que eu me sinta atraído! E também não tem nada a ver com seu belo par de olhos azuis vivos. Quero dizer, é apenas uma cor, não?! E definitivamente, a forma como ela age, as manias que tem não chamariam minha atenção por nada. O que uma erguida na sobrancelha direita quando está preocupada tem demais? E sua mania irritante de sempre mexer nos cabelos, enquanto tá sentada à minha frente? Tá legal, ela faz isso sempre, mas quando está sentada à minha frente na aula de Poções, tenho a ligeira impressão que faz isso pra me irritar, pois sabe perfeitamente que jogando os cabelos, seus fios acabam batendo em mim e sou obrigado a sentir aquele cheiro floral. E sua incrível paixão por filhotes, flores, ou qualquer ser da natureza que, segundo ela, seja fofo e respire? Será que alguém já disse a ela que seus olhos brilham como faróis acesos, quando vê uma simples borboleta voar, ou quando avista um arco-íris se formar no céu? Será que alguém já a informou, de como ela fica parecendo uma criança, com aquele sorriso bobo enquanto vê a neve ou a chuva cair? Será que alguém, além de mim, já reparou em todos esses detalhes?

- Scorpius, posso falar com você?

- Caso não tenha percebido, Pierre, você já falou! – eu sei que fui grosseiro, ainda mais se considerar a idade de 8 anos do meu primo, mas ele me interrompeu no meio das minhas constatações, e isso me irritou bastante.

- Hum... Eu posso ir brincar com seu cachorro? Tia Astoria pediu para perguntá-lo antes!

- Pode! – revirei meus olhos. Com certeza minha mãe havia dito isso para se livrar de todos os pedidos insistentes dessas crianças. Com sorte meu cão o engoliria.

- Posso levá-lo pra passear no jardim e escorregar na neve? – a voz irritante do Pierre estava começando a me tirar do sério. Coloquei as mãos nas têmporas e massageei devagar. Não podia descontar nele um problema que eu acabara de descobrir.

- Pode!

- Eu posso também...

- Pierre, faz o seguinte! Leva o cachorro, o papagaio, o gato, minha vassoura, enfim, leva tudo o que você quiser pra brincar está bem? Destrua meu quarto, se for preciso, mas agora me deixe em paz! Eu preciso pensar, coisa que aparentemente você não sabe o que é! – eu disse tudo entre os dentes e só então fui ver a expressão assustada do meu primo – Se divirta e Feliz Natal! – eu disse e sorri. Ele sorriu de volta, então significa que estava perdoado.

Mal meu primo se afastou e minha mente começou a trabalhar como um turbilhão. Será que por trás de tantas observações, havia realmente algo que eu não conseguia enxergar? Eu nunca me dei conta do quanto sabia sobre Rose Weasley, até começar a elencar todas suas características. Quando foi que reparei o cheiro de seu cabelo ou o brilho em seus olhos? Devo ter passado muito tempo a encarando... Será que é por isso que ela não vai com a minha cara? Bom, até eu mesmo não iria com a minha própria cara se ficasse me encarando o tempo inteiro, analisando cada movimento meu. Uau, essa frase foi filosófica e estranha.

Vincent não pode estar certo. Definitivamente, não posso estar apaixonado por Rose Weasley! Ela me odeia, isso é um fato comprovado. Imagina como seria uma declaração, caso isso seja verdade?! Ela me mandaria pro inferno, antes que eu dissesse “te amo”. Por Merlin, estou realmente confuso. Como foi que pulei da fase do “supostamente apaixonado” para a fase da declaração terminada com a frase “te amo”? Esse ambiente cercado de pessoas falsamente contentes e esse espírito natalino devem ter mexido com minha sanidade. Precisava espairecer.

Pra minha sorte, meu pai vinha descendo às escadas, então aproveitei para correr em sua direção e inventar uma desculpa qualquer para escapar dessa casa.

- Pai, eu volto logo ok?! – anunciei, enquanto convocava meu casaco e cachecol, com o auxílio da varinha.

- Aonde vai, Scorpius? Não pode simplesmente desaparecer quando a casa está cheia de visitas! – visitas que ele detesta tanto quanto eu, é importante ressaltar.

- Preciso pensar um pouco, e essa gritaria não me ajuda! – respondi mal humorado – É sério, como você aguenta tudo isso?

- Para ser sincero, minha maior vontade é expulsar todos daqui com uma azaração e dizer para nunca mais voltarem. Mas tenho a ligeira impressão que se fizer isso, sua mãe me colocará para dormir no sofá até o próximo natal. Então minha tarefa é apenas fingir e sorrir, como se realmente me importasse com suas vidinhas patéticas. – é por essas e por outras, que as pessoas costumam dizer que sou bem parecido com meu pai.

- Já chegaram todos para festa de hoje à noite, ou falta mais alguém aparecer e dizer é amigo do avô do tio do neto do sobrinho do marido da irmã da minha mãe?

- Você está convivendo muito com o Vincent! – meu pai comentou, devido a minha tentativa de ter senso de humor – Mas não. Os agregados e amigos dos agregados já estão por aqui. Ou melhor, quase todos, já que as famílias do Harry e do Rony chegarão na hora do jantar. E creio que eles serão os únicos sensatos no meio desses loucos. – meu pai franziu o cenho ao pensar no odioso jantar.

- Espera! Quando o senhor diz “famílias do Harry e do Rony”, quer dizer TODOS eles? Incluindo os filhos e tudo mais? – pergunta idiota a se fazer, mas estava desesperado.

- Sim, por quê? – meu pai ergueu as sobrancelhas, me encarando como se fosse um louco, mas preciso admitir que parecia um naquele momento.

- Não, por nada! – menti. Sou um bom mentiroso, no geral, mas tenho certeza que essa mentira não colou pro meu pai – Bom pai, o papo ta bom, mas é melhor eu ir colocar minhas idéias em ordem, antes que à noite chegue e eu tenha que bancar o senhor simpático.

Sem esperar resposta, saí pela porta da frente e aparatei. O que menos precisava hoje era encarar Rose Weasley, quando acabei de descobrir que posso estar apaixonado por ela.



***





A Toca
24 de dezembro
Narrado por
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Natal. Existe época mais feliz que essa? Simplesmente adoro as festas de fim de ano. Todas as comidas, as bebidas, os enfeites... Tudo parece que fica mais bonito quando todos estão envolvidos pelo espírito natalino. É como se todos fossem preenchidos por um sentimento feliz, e se sentissem bem em sorrir uns para os outros. Definitivamente, o Natal transmite paz e harmonia para todas as pessoas.

É tão divertido ter a casa cheia de enfeites e pessoas. Todos sempre estão dispostos a ajudar no que for preciso. Seja para dar alguma opinião, seja para colocar a mão na massa, não importa! O que realmente interessa, é que o Natal une as pessoas e isso nos faz sentir mais vivos.

A casa dos meus avós já não cabe nem mais um alfinete, entretanto, a cada instante, mais pessoas chegam, e isso não parece afetar em nada nos preparativos para ceia de hoje à noite. Pelas minhas contas, já passam de 20 pessoas espalhadas pelos jardins e cômodos d’A Toca.

Meu primo Alvo costuma dizer que eu tenho facilidade em lidar com as pessoas. Isso é bem provável, já que estou sempre conversando com todos e sorrindo. Enfim, acho que simpatia é um dom de família ou coisa do tipo. A questão é que sempre procuro manter um humor razoável e na maioria das vezes, estou disposta ajudar quem precisa.

Meu irmão Hugo, vai mais fundo que meu primo, e costuma dizer que ninguém é capaz de me fazer perder as estribeiras em pouco tempo. Bom, isso até seria verdade, se não houvesse um único ser no mundo capaz de tal proeza. Sinceramente? Hogwarts seria perfeita sem aquele loiro, sonserino, metido a besta, arrogante... Aff, com tantas pessoas no mundo, porque justamente o Malfoy tinha que estudar em Hogwarts? Sei lá, os pais dele não podiam simplesmente mandá-lo para Durmestrang ou ensiná-lo em casa? Se fizessem isso, com certeza poupariam minha paciência e evitariam muitas discussões nos corredores.

Scorpius Malfoy parece ter nascido especialmente para transformar minha vida numa verdadeira loucura. Ninguém consegue me irritar em questão de segundos como ele faz. E depois ainda vem com um papinho esfarrapado de que nunca dou uma chance dele demonstrar que não é o “monstro” que eu penso. Por favor, não preciso que ele me mostre nada. É só olhar para aquele nariz empinado que eu sei toda verdade. Sempre cheio de si, deve se achar o rei quando as meninas se reúnem à sua volta para venerá-lo. Não sei o que elas têm na cabeça! Afinal de contas, Scorpius Hyperion Malfoy, não é lá grandes coisas. O fato dele ser alto e ter o corpo bem definido pelo Quadribol, não o torna o ser perfeito que elas retratam. Talvez toda essa “babação” em cima dele seja porque junto ao corpo perfeito, ele também tenha um lindo rosto, do tipo de ator de cinema trouxa, e também um cabelo loiro platinado, que balança suavemente conforme a brisa o toca. Ou então, a culpa de toda essa atenção seja dos olhos. Ah, com certeza grande parte de sua fama se deve graças aquela íris azul acinzentada, que transmite certo mistério e charme. Mas, tire tudo isso e o que sobra? Nada! Essa é a questão. O Malfoy pode ser até um cara “bonitinho”... Ok, preciso admitir ele é lindo, mas isso não o transforma na melhor pessoa do mundo ou coisa do tipo.

Não falo com ele desde que tínhamos 11 anos. Lembro-me das palavras do meu pai, quando informou que eu devia ser melhor que ele em todos os exames. E de fato eu sou! Modéstia a parte, a maior vantagem de ser filha de Hermione Weasley é ter herdado sua inteligência. Mas voltando ao assunto, minha birra com o Malfoy não tem nada a ver com brigas entre nossas famílias. Ficou bem claro para mim, nas primeiras férias de Natal que tivemos na escola - quando percebi que passaria as festas de fim de ano aturando aquele loiro sem graça, aqui na casa dos meus avós - que nossos pais haviam resolvido todos os problemas do passado e decidiram ser bons amigos. Acho que minha implicância com ele, é justamente por que vivemos em realidades diferentes. Não temos nada em comum. Ele detesta tudo que eu amo. Ele não segue os mesmos ideais que eu. Ele veste verde e prata, enquanto eu vermelho e dourado. Ok, estou fracassando quanto ao fato de explicar minha raiva por ele.

- Vocês têm certeza que não preferem ficar aqui? – com quem será que a vovó está falando? Até onde sei ninguém tem a menor pretensão de passar o Natal longe daqui.

- Mamãe, nós já explicamos que prometemos aos Malfoy que esse ano iríamos jantar lá! – papai respondeu e logo em seguida apareceu à porta da cozinha, acompanhado pela mamãe. Definitivamente o som “Malfoy” combinado com a palavra “Jantar” era algo que não me fazia sentir bem.

- Eles podem vir pra cá também! – vovó insistiu e de repente, minha ficha caiu. Eu, Rose Weasley, serei obrigada a ir até a casa do meu “inimigo” comemorar um dos meus feriados favoritos. Não, isso só pode ser alguma praga.

- Não faça drama dona Molly! – tia Gina apareceu – Prometemos que amanhã aparecemos no almoço!

Meu coração parece que vai saltar pela boca de tanta raiva. Sinceramente, se fosse para passar o natal ao lado do Scorpius, porque não me deixaram trancada na escola? Garanto que os elfos adorariam servir bolinhos e pernil para mim! Calma Rose, respira. Afinal de contas, nem tudo está perdido, não é?! Já tenho 17 anos, e se eu quiser, posso dizer que não vou à festa e ponto final. Meus pais não podem me obrigar a ficar num lugar que não gosto. Quero dizer, não tenho nada contra ao Sr. e Sra. Malfoy. Pelo contrário, os dois são pessoas admiráveis! O único problema é o filho deles.

- Eu acho... – comecei a dizer, mas fui interrompida pela mamãe.

- Você acha uma ótima idéia partirmos logo para escolhermos o vestido para hoje à noite? – ela me perguntou animadamente.

- Bom... Não! – engoli em seco – Na verdade, vendo a vovó triste porque nós não estaremos aqui com ela, coisa que sinceramente acho um erro já que nessas festas devemos estar ao lado da nossa família, eu ia sugerir que me deixassem ficar aqui.

Papai e mamãe se olharam. Isso é um bom sinal. Provavelmente estão pensando na questão de me deixar ficar.

- Bom filha, se você quer realmente ficar, nós...

- Não, não, não! – vovó interrompeu meu pai. Ai céus, pela quantidade de não, acho que isso não foi uma interrupção legal – Querida, agradeço por querer ficar aqui comigo, mas é como você disse, Natal é uma época para que passe ao lado de sua família. Então nada mais justo que você vá com seus pais e irmão para o jantar na casa dos Malfoy.

Pra que fui fazer esse discurso familiar barato? Sem pensar, cavei minha própria cova! Aff, detesto, detesto, DETESTO, meus discursos sentimentalistas.

- Vovó, eu...

- Não querida! Vá com seus pais. Amanhã os vejo aqui no almoço!

- Bom... Se a senhora insiste. – eu sorri. Um sorriso falso e forçado, mas ainda sim tentei transparecer calma.

Voltei para meu lugar embaixo da árvore, que agora era ocupado também por Alvo. Se eu não o conhecesse tão bem, talvez não soubesse que ele estava gargalhando internamente pela minha situação catastrófica. A minha sorte é que ele também estaria lá, ou seja, teria algum apoio moral, embora meu primo seja amigo do meu inimigo.

- Gostei do discurso familiar! Tudo isso foi realmente porque você não quer ficar longe daqui, ou será que foi uma tentativa frustrada de se manter longe do Scorpius? – Alvo me encarou com aquelas duas esmeraldas brilhantes que ele chama de olhos. Aff, to começando a repensar os motivos pelos quais nunca azarei ninguém da família.

- Isso não tem nada a ver com o Scorpius ok?! O Universo não gira ao redor dele, e eu não tenho porque fugir de uma pessoa que não representa nada pra mim!

- É verdade! Você não tem que fugir do cara só porque gosta dele!

- Exatamente e... ESPERA AÍ! Quem foi que mentiu pra você dizendo que eu gosto dele? – minha voz está um pouco mais alta e histérica do que deveria estar. Ou melhor, até onde saiba, ela nem deveria estar assim.

- Ninguém. Você quem acabou de confirmar!

- Não confirmei nada! Pare de me confundir. – eu disse emburrada. Mas na verdade estava preocupada. Alvo geralmente acerta nas suposições. Acertou sobre Vincent e Sophie, sobre Lily e Hugo, e é claro, sobre ele e Alice. Agora será que ele estava certo sobre mim e... AH NÃO! DEFINITIVAMENTE NÃO! É mais fácil o zelador Filch dizer que ama os alunos do que eu me apaixonar pelo Scorpius.

Ele, ele, ele é tão... Superficial, patético, irritante, altamente irônico e egocêntrico. O que eu tenho a ver com uma pessoa assim? Nada nele me chama atenção. Quero dizer, porque eu iria reparar em qualquer coisa nele? Por que eu iria reparar, por exemplo, em como seus olhos se enchem de expectativas na véspera de um jogo de quadribol? Ou em como ele sorri e exibe seus lindos dentes brancos e perfeitos? Para que eu repararia na forma que ele se veste, e como a cor preta realça a cor da sua pele e seus olhos? Por que eu iria reparar que ele não gosta de suco de abóbora, mas só toma para seguir uma dieta saudável? Ou então que ele sempre costuma comer duas fatias de torta de limão de sobremesa?... Por que eu estou mentindo para mim mesma, quando a resposta ficou tão clara em minha mente?

- Aonde você vai? – Alvo me perguntou, quando, inconscientemente, me levantei e comecei a me afastar.

- Eu... Eu não sei! – fui sincera, afinal de contas, diante de tantas coisas acontecendo, não tinha motivos para tentar mentir.

- Rose, tá tudo bem?

- Tá sim! Acho que eu só preciso... Eu só preciso pensar.

Vi Alvo me lançar um olhar que diz: “eu te avisei!”, mas simplesmente ignorei e saí. Se tinha uma coisa que precisava fazer naquele momento, essa coisa era ficar sozinha. Havia constatado muitas coisas naquele pequeno instante de reflexão, então era hora de analisá-las melhor, antes que eu enlouquecesse.






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