Confusões no Ministério - Um W



Virou-se na cama, seu braço caindo para fora da mesma. O clarão bateu em seus olhos, tornando aquele breu de sua mente vazia, algo avermelhado e dolorido. Voltou a virar-se, deparando-se com um corpo semi-nu, abraçou-o, sentindo o morno de sua pele. Abriu os olhos e voltou a fechá-los, preguiçosamente. O pouco que viu foi um ambiente muito bem iluminado. O barulho que vinha lá de fora era de passarinhos cantando. Aquilo era romântico demais. Riu baixo da ironia que sua vida havia se transformado.

Ela, Hermione Jane Granger, na mesma cama que Draco Malfoy, dormindo abraçadinhos como um casal de namorados... Draco? Abriu os olhos para ver se ele dormia. E como ficava meigo dormindo. O peito erguendo-se e tornando a se abaixar, os lábios afastados, permitindo-o respirar livremente. Seu nariz estava inchado e adquirira uma tonalidade arroxeada que se contrastava com a palidez de sua face. Mas não era uma palidez de doença, não... Sua pele era realmente alva. De leves traços felizes.

Apoiou o cotovelo sobre a cama, a palma da mão para cima, a amparar sua cabeça, de cabelos bagunçados e amassados. Passou o dedo levemente pelas bolsas debaixo de seus olhos, estes estavam também, um pouco inchados, talvez fosse por que ele havia chorado muito naquela noite que havia passado. Mas nem mesmo isso, nem nada mais o deixava feio diante de seus olhos.

Ali, deitado, estava o primeiro homem de sua vida. Sempre sonhara em como haveria de ser sua primeira vez. Não fora como imaginara que seria, mas certamente fora inesquecível como todos aqueles momentos ao lado dele. Nunca imaginara que um dia estaria, por assim dizer, apaixonada pelo Malfoy. Malfoy...? O que diriam seus amigos assim que soubessem, e se é que iriam ficar sabendo disso. Isso lhe trouxe uma vaga lembrança do mundo que ainda existia fora daquelas paredes, além daquele terreno... Seus olhos procuraram desesperadamente um relógio. Encontrou-o dentro de uma das gavetas do criado mudo. O ponteiro menor indicava o doze, na parte superior do circulo, o maior estava ali por perto, na casa dos minutos... Marcava dois. Meio dia e dois... Deitou o corpo novamente sobre a cama.

Quando a lembrança de que tinha que ir trabalhar chegou a sua mente, saltou da cama desesperada. Essa, a cama, mexeu-se, fazendo-o despertar do sono. E fitá-la sem nada entender.

- O que foi? – perguntou sonolento olhando vagamente para a janela e o clarão, seus olhos fechando-se, ficara cego por minutos. Voltou a olhá-la. – Aconteceu alguma coisa? – sentou-se bocejando longamente.

- Tenho de ir trabalhar... – respondeu tão rouca quanto ele. Pigarreou tentando limpar a garganta, em vão. – Sabe onde estão minhas roupas? – caminhava de um lado a outro do quarto, como uma barata tonta.

- Espera que eu vou pegá-las – empurrou o lençol que cobria as pernas com os pés. Sentou-se e saiu da cama, ainda descalço. Saiu do quarto coçando a barriga,

Hermione sentou-se na ponta da cama. Aquilo tudo não fora um sonho bom... Desabou sobre o amontoado de panos.




Caminhando com certa pressa, Draco desceu as escadas que levavam ao Hall da Mansão. Passou pela sala, sem notar que sua coruja havia voltado com um pacote e que sua correspondência estava toda caída próxima à lareira. Chegou a sala de jantar, avaliou a mesa arrumada para o café da manhã e não resistiu à aquele pequeno sonho, coberto de açúcar de confeiteiro. Foi comendo um para a cozinha atrás do Elfo que cuidava da casa, encontrando-o com a barriga encostada à mesa de madeira polida, sobre a qual, uma cesta de verduras frescas, uma tabua de cortar e a própria faca.

- Oh, meu Senhor Draco Malfoy – o elfo abandonou a alface que era desfolhada e se dirigiu ao seu dono, secando as mãos num avental branco, que usava sobre uma camisa manchada de muitas cores, que ele usava como roupa. – O café já está servido meu senhor, aprendi a fazer o chá como o meu senhor gosta.

- Sim, sim Bonnet... – na verdade não se importava mais se o seu chá estava doce ou amargo, se se mantinha quente, ou esfriara com o passar do tempo em que fora feito – Pegue a roupa da senhorita Granger... – ordenou com a voz mansa.

A principio, o elfo ficou imóvel, pela primeira vez seu Senhor o havia pedido passivamente algo. O havia visto crescer, e no entanto o único carinho que ele havia lhe dirigido, fora um chute, quando ainda tinha seus quatros anos de idade. O chute fora à única agressão que não doera tanto, que não o fizera ir chorar ou castigar-se por nutrir sentimentos por aquele a quem tinha de obedecer. – Sim meu senhor, Bonnet vai pegar a roupa da senhorita Hermione Granger, para o senhor Draco...

- Vá de pressa, seu inútil... – empurrou o elfo pela cabeça, fazendo-o dar uns passos a mais em direção à porta dos fundos. Observou o pequeno ser mágico retirar-se do aposento. Seus olhos indo para a panela de pressão que assobiava, soltando fumaça do bico. Inspirou, sentindo o cheiro de carne branca no ar. – Bom – murmurou pra si mesmo. Seus olhos repousaram sobre a mesa, a cesta de verduras.

- Aqui esta meu Senhor, as vestes – Bonnet entregou-lhe as roupas, dobradas e passadas. Muito limpas e perfumadas.

Draco virou-se para sair, mas se voltou par o Elfo. – A propósito Bonnet, o que está fazendo naquela panela? – apontou com a cabeça para a panela que ardia sobre o fogão de lenha.

- É galinha meu senhor... – o elfo também olhou.

- Ótimo! – Draco sorriu. Saiu apressado, tentando ignorar os sonhos que estavam sobre uma bandeja à mesa. Subiu os degraus, dois por dois. Chegando ao patamar e rumando para o quarto. Adentrou esse, encontrando-a de frente ao espelho do banheiro. Os cabelos estavam molhados e a camisa que usava também tinha vestígio de pingos de água nas costas – Aqui, suas roupas – estendeu a pequena torre de pano que trazia nos braços. Seus olhos no reflexo dela do espelho. Inalava agora o gostoso cheiro de sabonete. Ela havia se banhado.

- Aproveitei para tomar um banho rápido. Vou direto daqui pra biblioteca – pegou as vestes estendidas. Um pequeno sorriso de agradecimento.

- Então essa pressa toda é para ir receber ordens de uma velha? –voltou para o quarto, jogando-se como criança sobre a cama bagunçada.

- Sabe, Malfoy - colocou as roupas sobre a cômoda, pegando primeiramente a calça e vestindo-a. – Existe gente que precisa trabalhar nesse mundinho... – tirou a camisa dele, apanhando a blusinha à qual estivera usando quando chegara ali.

- Não venha me dizer isto, logo terei de estar no Ministério, já devem ter decidido se me aceitam ou não naquele... – pigarreou tentando fazer a voz voltar, não conseguira. – Lugar – terminou a frase com um sorriso meio fraco nos lábios.

- Vai trabalhar? – puxava a calça para cima, fechando-a no zíper e depois o botão.

- De alguma forma tenho que manter minha fortuna não é? Já que agora me tiraram quase sessenta por cento do que era de direito, meu – enfiava as pernas debaixo do edredom, podendo ainda sentir o calor que seus corpos haviam deixado sobre a cama. – Aliás – ergueu-se de repente. – Irei com você, é caminho... – foi seguindo para fora do quarto, intenção de ir para o próprio, parou a porta. – Aproveita a espera, e toma café, há sonhos maravilhosos lá embaixo – sumiu ao seguir pelo corredor até seu quarto.

Hermione sorriu para o nada, sabia que aquela ‘coisa’ de ficar sorrindo bobamente aconteceria sempre agora, coisa difícil de explicar esse negócio de paixão. Ela chega devagar sem que percebamos e de súbito, torna-se avassaladora e cheia de perigos... Perigo... Havia transado com Malfoy sem proteção alguma... Devia dar um jeito de tomar remédio ainda aquele dia, de modo que o rapaz não visse isso. Seria o caso de tomá-lo antes de ir para a Aula Preparatória de Aurores...

Penteou os cabelos com uma escova que achara por ali e seguiu para a sala de jantar, onde estava sendo servido o café da manhã. Aquela era comida para uma família inteira, mas não questionaria aquilo com ele.

Draco apareceu trajando vestes formais, a calça social era preta, a camisa branca, sua capa tinha um tom esverdeado, percebido somente pelo forro. Os cabelos estavam penteados e sem gel, molhados. Sentou-se pegando uma xícara e o bule que fumegava, pairando sobre uma superfície redonda e de ferro.

- Tentei dar um jeito nesse nariz – contou apanhando agora o lenço e colocando-o ao lado de seu prato, onde seu elfo lhe servia a metade de uma fruta alaranjada e aparentemente suculenta. – Não consegui – olhou-a com um meio sorriso, seu nariz permanecia com o tom arroxeado só que agora estava tornando-se bem mais nítido o inchaço. Virou-se para o elfo – Bonnet vá aos jardins e procure a minha varinha e a varinha da Senhorita Granger, ande rápido, pois temos pressa.. – e apanhando uma colher de chá que estivera ao lado de seu prato, experimentou da fruta.

- Havia me esquecido das varinhas – Hermione também pegou sua colher para experimentar da mesma fruta que o elfo à havia servido. Era doce, e de massa que se desmanchava na boca.

Foi o melhor café da manhã que comera depois de deixar Hogwarts. Após o café, seguiram pela estrada que levava ao vilarejo abaixo do monte em que ficava a Mansão dos Malfoy; usavam para isso, um automóvel totalmente bruxo, pois não havia um chofer ao volante, para dirigir, o carro descia magicamente a colina. A principio Hermione teve medo, mas depois que Draco puxou assunto, nem mais prestou atenção que o carro estava em movimento... Uma viagem muito agradável, diga-se de passagem. Conversaram um pouco sobre o tal serviço dela naquela biblioteca, sobre o julgamento que logo aconteceria... E marcaram de se encontrar a noite, depois do curso dela.




Nunca aquela biblioteca pareceu estar tão sobrecarregada de pessoas e livros; o ato de subir e descer escadas e anotar empréstimos e devoluções de livros tornou-se cansativo naquela tarde. Sentou-se de fronte ao balcão para atender aquela Senhora que aparentava ser nova demais para sua idade, estava trazendo consigo três livros encapados e com o mesmo título e volume. Analisou-os para ver se de fato, não estariam com o nome errado em sua carterinha.

- Minha Senhora... – coçou a cabeça com a parte traseira da caneta, onde se encontrava a tampa da mesma. – A senhora está pegando três livros idênticos, não estaria enganada? – repousou os braços sobre o balcão de vidro, esse protegendo avisos e códigos em baixo.

- Estou levando para meus alunos lerem... – contou a simpática velhinha, colocando sobre a mesa, sua enorme bolsa florida, juntamente com um guarda chuva que lembrava muito uma onça pintada. – Sabe, trabalharemos esse escritor, agora que eles já aprenderam a ler – procurava a carteira em meio as suas coisas, trazidas no interior da bolsa.

- Tudo bem – sorriu. Adorava professores particulares, sempre vinham a biblioteca, e eram mais preocupados com seus alunos que os outros. Como sabia que aquela era uma professora particular? Que tipo de professora aluga somente três livros para seus alunos?

Atendeu àquela senhora e foi se trocar para deixar o trabalho. Já começava a escurecer quando entrou na rua da casa onde morava com os pais, àquela hora, ainda havia crianças brincando pelos jardins e calçadas. A noite começava a cair, tingindo o céu de um azul-marino-acinzentado. Não existiam nuvens, por isso deduziu que não choveria, mas a noite seria fria e longa. Bateu a porta, e enquanto esperava que alguém viesse atender, cumprimentou seus vizinhos com um sorriso extrovertido. A luz branca - daquelas que são vendidas para economizar-mos energia – banhou seu ser quando a porta foi aperta. E logo a figura de sua mãe apareceu por detrás da porta, um lenço na cabeça encobria os bóbis que usava para formar cachos nos cabelos, seu semblante tenso, tornou-se iluminado ao fitar a filha

à sua frente. E Hermione sentiu os braços da mãe envolve-la, como se há séculos não a visse.

- Graças a Deus você chegou... Nunca mais faça isso – afastou-se.

- Tudo bem mãe, eu estou viva – mais uma vez aquele sorriso cheio de dentes resplandeceu em seus lábios. – Mas estou um pouco atrasada... Tenho curso hoje – foi entrando e tirando o casaco que usava, com o emblema da biblioteca à qual trabalhava.

- O Harry ligou para você – Jane, mãe de Hermione, fechou a porta e voltou para a poltrona, onde uma toalha , agulha e linhas à esperavam para continuar o bordado.

Hermione ia entrando no quarto, mas voltou ao ouvir a menção do nome de seu amigo, a mão ficando no batente da porta. – E... Ele falou o que queria? – segurava o casaco na outra mão.

- Disse algo sobre Rony estar de volta... Creio que seja isso – não desviou as vistas do bordado, a agulha afundando-se no tecido com certa maciez.

Mordeu o lábio inferior... Rony havia voltado da França, estava de volta! Entrou no quarto pulando, as lembranças da noite que passara, sendo perdidas em meio à noticia que sua mãe havia lhe transmitido. Rony estava de volta!

Tomou seu banho cantarolando a plenos pulmões, uma música que estava nas primeiras posições de mais tocadas de uma das rádios de Londres. Não era cantora profissional, talvez por isso desafinasse tantas vezes e saísse do ritmo milésimas vezes. Mas para si, estava cantando bem demais... Ergueu a face fechando os olhos para que a água não caísse ali diretamente. Podia sentir cada gota morna escorrendo por sua pele já totalmente molhada. O frasco de xampu lhe serviu como sendo o microfone, fazia seu próprio e único show naquele banho. As batidas na porta, a fez escorregar na espuma que escorria para o ralo; era sua mãe avisando que banho não é pra ficar brincando. Havia, era verdade, ficado constrangida consigo mesmo, quando percebeu a altura que gritava a letra da música.

Vestiu-se e despedindo-se da mãe deixou a casa. Pegando um ônibus, teve de dividir o banco ao lado com um rapaz, que vestia-se com roupas grandes demais para si, e tinha um jeito espaçoso de se sentar. Virou a face para o lado do vidro, podendo contemplar as luzes dos restaurantes e hotéis que haviam ali. Gostava tanto de andar por Londres durante a noite. Ver as pessoas se divertindo lhe dava uma felicidade idiota. Sorriu para o nada, desfocando a rua lá fora, viu um reflexo no vidro, olhos curiosos e uma expressão de interesse. Seu coração saltou, virando-se pode ver que era apenas seu vizinho de poltrona.

- Boa Noite Senhorita – disse ele, dando uma olhada nada discreta para seu decote, o chiclete em sua boca passeando de um lado para o outro, enquanto o cínico dava um sorrisinho maldoso.

Hermione virou-lhe a face, não estava sendo educada, mas se o respondesse seria pior, o cara entenderia como uma brecha para conversar. Deu sinal e levantou-se para deixar o ônibus. Quando saia, viu a piscada que o rapaz lhe deu. A porta ia se fechando, mas deu tempo para lhe mostrar o dedo do meio. Atravessou a rua rindo, sentia-se tão leve e espontânea.

O Ministério estava com pouca movimentação durante a noite, em poucos departamentos ainda havia gente trabalhando. Tomou o elevador e seguiu para o andar do departamento de aurores. Seguiu reto até uma porta de madeira talhada, essa se encontrava fechada. Fechando o punho, bateu o dedo na porta, depois, girando a maçaneta adentrou na sala. Os olhos e as atenções das pessoas que estavam ali, voltaram-se para ela. Acenou cumprimentando a todos de um modo geral. Seus olhos caíram ao fundo da sala, de onde Harry acenava quase que freneticamente. Fechou a porta e dirigiu-se ao fundo da sala.

- Onde ele está? – perguntou sentando-se à cadeira que tinha grudada em si uma forma de mesa ao lado, onde Hermione colocou a mochila, virando-se em seguida para o amigo.

- Oi Hermione, eu estou bem sim e você? – ironizou ele com um pequeno sorriso no canto dos lábios, as bochechas tornando-se salientes e róseas, tendo um contraste perfeito com os olhos verdes.

- Ah – olhou para baixo e logo o fitava de novo. – Desculpe-me – sorriu, ficando mais rubra que ele. – Está tudo bem? O que tem feito? – cruzou as pernas, enfiando uma das mãos entre as coxas, na tentativa de esquentar esta.

- Tudo bem – riu brevemente. – Rony chegou de viajem... Pelo visto sua mãe lhe deu o recado... Ele virá ao fim do curso te ver, estava me contando o quanto está sendo difícil o treino e tudo o mais. Perguntou na mesma hora sobre você, e já queria ir a sua casa, assim que chegou, mas era muito tarde da noite e achei que já poderia estar dormindo.

- E devia estar mesmo – olhou para lousa, tinha o pressentimento de que estava esquecendo-se de algo, algo que parecia ter grande importância. Talvez um acontecimento recente, ou algo que sua mãe lhe recomendara... Não, não se lembrava do que poderia ser.

Não tiveram mais oportunidade de falar nada, o professor havia chego e por isso calaram-se. Um homem ríspido era esse que lhes treinavam para serem aurores, profissão que haviam escolhido ainda na escola. Profissão que Rony abandonou quando um olheiro o observou jogando no último jogo que houve, ainda em Hogwarts, e convidou a ele e Harry para uma vaga no time principal da Grã-Bretanha. Harry não aceitou, queria mais ação do que voar atrás de um pomo de ouro, ainda que tal profissão fosse lhe render mais fortuna e menos perigo, a vontade de lutar corria em suas veias. Rony demorou um pouco para aceitar tal convite e manteve-se com um pé atrás antes de viajar para a França, para terem um treinamento mais intenso. Não queria ir por que finalmente estava saindo com Hermione, na época, ela lhe dera força e coragem para ir, prometendo que o esperaria.

Tiveram mais teoria do que prática naquela noite de curso. Um auror aposentado fora lhes dar uma palestra sobre os perigos que rondam a profissão. Um auror que Hermione e Harry conheciam muito bem: Alastor Moody. Muitos estavam recolhidos em suas cadeiras, olhando embasbacados para aquele olho que girava fora de órbita, enquanto Harry e Hermione podiam à vontade acolher cada palavra dele.

Deixaram a sala por volta das dez horas da noite, ambos rindo e contando um ao outro o momento exato em que, frouxo, o olho de Moody soltou-se de seu rosto e rolou pela sala, parando apenas ao encontrar o pé de uma das alunas que não haviam apreciado tal artefato; gritando a menina o havia chutado...

- Não deveríamos estar rindo, coitado do Moody, ficou tão constrangido – Hermione secou os olhos, eles haviam expelido lágrimas, de tanto que a garota havia rido.

- Certo, não vamos rir – concordou Harry, tirando os óculos para desembaça-los e limpa-los em sua manga.

- Rir de que?

A voz veio de suas costas, pararam de rir. Hermione girou-se no calcanhar, conhecia aquela voz, aquele tom meio grave, voz grossa havia se tornado a dele. Seu campo de visão foi preenchido pela face respingada de sardas de Rony Weasley. Suas bochechas foram puxadas por dedos invisíveis, fazendo-a sorrir. O rosto queimava, e um nervosismo de ansiedade fazia seu estomago dar pulos como um cachorro feliz que vê seu dono voltar para casa. Poderia ouvir - se todos a sua volta se calassem - o coração murmurando o nome dele; contente gritando em seguida.

- Rony... – murmurou num fiasco de voz que custou muito a sair. Os lábios estavam secos, somente quando passou a língua sobre eles, pode senti-los com vontade de falar a ele. – Você... Você voltou! – sua voz saiu com bem mais pressa e num volume bem maior. Impulsionando os pés no chão, saltou em direção ao corpo dele. Seus braços envolvendo o pescoço do rapaz.

- Eu prometi que voltaria não é? – perguntou ele envolvendo-a na altura da cintura com os braços. Um abraço apertado, necessitado, encorajado pela saudade que um sentia do outro. – Estava me esperando? – acariciou os cabelos dela, sentindo o cheiro de plantas silvestres soltando-se de cada fio.

- Estava – sua voz saiu abafada, pois estava com o rosto metido no peito dele, inalando seu perfume francês e de aparência cara. Uma mão apertou seu coração, causando-lhe um incomodo que a fez afastar-se um pouco do corpo dele. Focalizou com firmeza o chão. Sentiu as mãos de Rony, grandes, puxarem sua face para cima, para que ele pudesse fita-la.

- Ta tudo bem? – mirou seus olhos castanhos esverdeados nos dela, para captar a menor suspeita de mentira.

- Foi apenas uma mal estar passageiro – sorriu, ainda um pouco pálida.

- Estou indo, vou deixa-los conversar... Matar a saudade... – Harry caminhava de costas – E sabem, também tenho um encontro está noite e – olhou no relógio no pulso – Estou atrasado – virou-se e afastou-se com passos apressados.

Ambos riram. Viraram-se um para o outro.

Rony ergueu a mão na altura da face dela, seus dedos tocando receosos a pele de Mione, receio de não ser aceito. – Eu senti tanta saudade de você... – começou tentando parecer o homem mais sensível do mundo. – E tive tanto medo – tomou fôlego, seus olhos, indo passear pelos lábios umedescidos e vermelhos como nunca os havia visto. – Tive medo de que encontrasse outra pessoa... De que quando eu voltasse, você me abandonasse...

Engoliu o excesso da saliva, pode senti-la descer e bater em seu estomago como uma pedra no fundo de um poço seco. Os batimentos em seu coração estavam desacelerados. Ficou mais atônita quando viu que ele se inclinava sobre si, quando ele fechou os olhos, e num gesto automático fez o mesmo. Os lábios de Rony estavam gélidos, talvez fosse pelo frio que estava fazendo lá fora. Sentiu sua mãos pousarem medrosas sobre suas costas. Estava nervosa, era como se fosse seu primeiro beijo, aquele em que desajeitada tentava fazer tudo certo, tudo com perfeição. Suas pernas amoleceram, e teve vontade de sair correndo. Afastou os lábios para que a língua dele fosse de encontro a sua, só então sentiu a intensidade da saudade que ele sentira. Seus lábios traduziam em beijos o que ele não conseguia expressar em palavras...




Draco tomou o elevador para chegar ao térreo e ao saguão do Ministério, já que Hermione não estava mais no departamento de treinamento de novos aurores, devia estar no saguão a sua espera. Como odiava aquele barulho de ferro que o elevador fazia, e todos aquele pequenos aviões enfeitiçados, rodeando em volta da luz e zumbindo alto. Saltou do elevador assim que esse chegou ao térreo, seus olhos correram por toda a extensão do grande salão de recepção, muitas pessoas deixavam o expediente e o Ministério, iam embora por lareira, tomavam a cabine telefônica para saírem ou simplesmente aparatavam por ali mesmo.

Por detrás do chafariz que fora restaurado depois do incidente há uns dois anos anteriores aquele, viu um cabelo que só poderia ser dela. Decidiu que lhe daria um susto. Caminhou pisando levemente no chão, sem querer fazer barulho, as mãos estendidas para o nada, enquanto contornava o chafariz, na intenção de pega-la de frente. Parou de súbito quando notou que ela não estava sozinha, deu um passo atrás, e por entre as pernas do homem esculpido e de um pequeno elfo, observou a pessoa que estava com Hermione; por ali podia ver apenas suas calças, então, driblando um pedaço ou outro de pedra, pode ver mechas ruivas e sardas. Não precisava ver mais nada, só havia um pessoa de cabelos ruivos, e sardas pela face que o irritava simplesmente como fato de respirar: Ronald Weasley, o pobretão Weasley. Driblou mais uma vez o chafariz, seu semblante sério não sendo percebido, e sua presença não sendo notada por nenhum dos dois. Viu o desajeitado inclinando-se sobre ela e lhe dando um leve beijo na boca. Seu sangue lhe subiu à cabeça, quem ele pensava que era para beijar a Tão-Só-Sua-Granger?

No mesmo instante seus pés o guiaram para onde eles estavam. Parou entre um e outro, ao lado dos dois. Viu o olhar perdido do ruivo, o surpreso e tão logo assustado de Hermione...

... O que Malfoy estava fazendo ali? Hermione respirou fundo, junto com o ar, vindo o que havia esquecido por conta da volta de Rony; dormira com Malfoy na noite anterior, marcara de se encontrar com ele depois do curso. Mas pela cara, ele assistira cada acontecimento que havia se passado ali. Parecia prestes a apanhar a varinha e matar um. Engoliu em seco, Rony à fitava confuso.

- O que está fazendo aí parado Malfoy? Por acaso achou bonito? – riu com certo deboche o ruivo, ainda segurando a mão de Hermione. Era de fato, bem mais alto e tinha bem mais corpo e músculo que Draco. Medidas adquiridas pelo esporte que praticava: Quadribol. – Ou veio só me pedir um autografo...? – novo riso, olhou para Hermione, mas ela continuava a fitar Malfoy, séria.

- Pare de ser ridículo Weasley – Draco olhou-o, seus dentes ficando a mostra como os de um cachorro raivoso. Voltou-se para Hermione. – Pensei que... – respirou fundo, algo o sufocava – Que... – não conseguiria falar, tamanha era sua decepção e raiva. Passou a mão no nariz fungando, fazendo o possível e o impossível para segurar a vontade de chorar.

- Me desculpa – pediu ela com a voz rouca, mantinha o contato visual com ele, querendo lhe falar assim o que não podia pronunciar com a boca. Sentiu a mão de Rony puxando-a para trás, como se Malfoy a tivesse atacado.

- O que ta acontecendo aqui hein? – perguntou o ruivo começando a ficar nervoso, seus olhos transpassaram de um à outro.

Draco ergueu os olhos para ele. – Por que não pergunta à sua namoradinha? – se a voz não queria sair antes, agora ela havia explodido em sua boca, quase gritou, era o que queria fazer. Gritar e contar a todos o que aquela ali havia feito consigo. Virou-se para Hermione – Sabe o que você é? Uma sangue ruim maldita! – avançou um passo, doido para infligir dor àquela carne que já havia desejado.

A mão de Weasley acertou seu peito, e largando o braço de Hermione, ele apertou sua camisa à altura do colarin, erguendo Malfoy do chão, deixando a face do mesmo na altura da sua. – Repete o que falou seu aguado desgraçado, repete que eu te esfolo isso que você chama de cara...

As narinas tremiam, os lábios tremiam, seu corpo todo estava em uma convulsão de raiva. – Sangue-Ruim-Maldita... – falou entre os dentes, tendo pouca respiração para dar espaço entre uma palavra e outra. – Meretriz! – olhava ainda para Granger, sem se importar se estava ou não, prestes a ser morto.

O saguão estava silencioso, tudo que podiam escutar era o pedido do segurança para que Rony soltasse o outro.

Fechando o punho Rony acertou-o na face do outro, o anel que carregava no dedo provocando um corte sobre o supercílio do olho direito de Draco, que caindo ao chão ainda deslizou por uns dois metros no chão recém encerado do salão, parando ao se chocar com as pernas de um dos que parara de fazer o que estava fazendo para assistir a tal discussão.

- Rony! – Hermione tentou ir ajudar Malfoy, mas o ruivo à segurou. – Vamos embora – saiu puxando-a.

- Deixe-me ajuda-lo senhor Malfoy... – o guardinha que media as varinhas veio ajuda-lo.

Não negou a ajuda do homem, mas seus olhos ainda estavam no casal que abandonava o Ministério. As pessoas o olhavam, e sem querer ficar remoendo a sua dor ali, não quis ficar mais do que o tempo necessário para lhe fazer um curativo na face.

Aparatou no mesmo instante em que o homem lhe desejou boa noite. Desaparatou ao pé da colina que levava para sua casa, o automóvel estava por ali, o esperando para levá-lo até a mansão dos Malfoy. Essa iluminada em seu interior por velas postas em cada móvel e pela lareira na sala acessa pelo elfo.

A primeira coisa que fez foi ir até a gaveta à qual guardava as cartas secretas nunca enviadas, uma por uma, foi jogando-as ao fogo, as chamas queimando suas palavras, querendo que não só as palavras fossem queimadas naquele momento, mas que seu amor também se dizimasse como aqueles pergaminhos. Abriu o primeiro pergaminho que estava em sua mão, como ia queimando os que estavam por baixo primeiro, os mais antigos e ainda ingênuos... Aquela carta que estava em sua mão, havia sido escrita na noite anterior... Rasgou o envelope, jogando-o ao fogo... Olhou para a primeira frase que conseguiu focalizar por detrás daquelas lágrimas inoportunas...

“Estando aqui, ela faz loucuras comigo, torna-me presa fácil.

Estando aqui, ela faz-me experimentar por momentos, muitos sentimentos...”

Respirou fundo, amassando a carta por entre dedos e palma da mão. Jogou-a com vontade contra as cinzas das outras cartas, fazendo uma pequena poeira rodopiar, antes de o pergaminho se consumir por inteiro. Passou a mão no nariz, fungando mais uma vez, aquela região ardia e queimava, seu olho latejava. Dor suportável. Ergueu-se e tomando as escadas com vontade chegou ao próprio quarto, despiu-se sem pressa e foi tomar banho, sua alma já fora lavada pelas lágrimas, agora era seu físico que precisava de tal limpeza...




Jogou a capa sobre a cama, junto com as outras roupas que havia largado ali mais cedo – na pressa de se despir, jogava as vestes em qualquer lugar, desta vez sobre a cama. Puxou a cadeira de rodinhas e estofado que antes era negro e naquele dia já desgastado – e desbotado - na cor cinza; largou-se sobre a cadeira, escutando e ignorando o rangido que soou do material já velho do móvel. Seus olhos foram para o teto do quarto, enquanto girava com a cadeira, impulsionando com os pés para que tal coisa acontecesse. As lembranças que haviam fugido de sua cabeça outrora, agora nítidas, em forma de peso... Consciência pesada... Marcara com Malfoy depois do curso; mas Rony havia voltado; dormira com Malfoy na noite anterior; prometera a Rony espera-lo...

Respirando fundo fechou os olhos, esperando que o caminho perdido fosse encontrado em meio àquela escuridão que se transformara seus pensamentos... E quando algo nítido surgia, podia ser definido por dois corpos... Seu corpo, corpo do Malfoy... Os sons... Gemidos... Levantou-se de súbito, como se o estofado da cadeira estivesse em chamas; na realidade o que estava em chamas era seu desejo... Desejava Malfoy. Desejava Rony. Desejava morrer. Fora injusta demais com os dois, e aquilo tinha que ter uma solução. Estaria Malfoy com muito ódio a ponto de não a perdoar jamais? Qual seria a reação de Rony? Se dirigindo até o guarda-roupa, acertou a cabeça na porta do mesmo, como se ali, naquele impacto, pudesse fazer suas idéias se porem em ordem. Tudo que conseguiu foi que a lateral de sua testa ficasse a latejar. Precisava desculpar-se com Draco, não queria ficar mal com ele. Afinal, por que se importava tanto com o que Malfoy sentia ou deixava de sentir por si ultimamente?

“E te amo Hermione. Mesmo não sabendo o que é o amor...”

A lembrança de tal confissão fez as lágrimas juntarem-se aos pés de seus olhos e descerem como que por tobogãs, por sua face reclinada para frente. Recostou a bochecha na madeira do guarda-roupa, as palmas das mãos entrando em contado direto com a porta revestida de pequenos adesivos, recordação de etiquetas de roupas que havia comprado, ou recortes de revistas.

”...mesmo sabendo que sou pra você o que sou pras outras pessoas”

O choro repreendido fez seu peito estufar-se cheio de ar, então o soltou como um longo suspiro, as lágrimas fazendo caminho, borrando o lápis preto de olho que havia passado. Seus seios saltaram do peito, quando soluçou baixo. Ele a amava e havia demonstrado tal amor... Rony voltara na crença de encontra-la intacta e ainda totalmente sua... Como pudera beijar outro enquanto o esperava? Como pudera esquecer-se de Malfoy...? Rony jamais lhe disse que a amava, Malfoy dissera, e perdera a conta de quantas vezes o ouviu dizer isso... Seria realmente amor? Não falara somente da boca pra fora? Rony também a devia amar, pois voltara como prometera... Draco estava ferido...

Bateram à porta, levou as mãos à face, como aquela adolescente que não quer que a mãe saiba que esteve chorando. As lágrimas borraram sua maquiagem e na tentativa de seca-las, ficou com os olhos manchados de negro, mais parecia que havia brigado na rua. Foi atender quem quer que fosse à porta. Girando a maçaneta à abriu e dando de cara com a mãe, perguntou o que essa queria.

Os olhos da Senhora Granger arregalaram-se ao se deparar com a face inchada e os olhos borrados de negros da filha. – Está tudo bem meu anjo? Chegou e se trancou no quarto... – com a palma da mão à tocar a face da filha, lhe fez um carinho.

Diante da mãe não conseguiria mentir, ainda mais se lágrimas estivessem beirando seus olhos na parte inferior. Balançou a cabeça lentamente para os lados, no que queria dizer não. Fungando e olhando para cima, abriu a boca para falar, mas as palavras não se soltaram com tanta facilidade de sua boca. – O que eu faço em mãe? – passou a língua sobre os lábios, sentindo o gosto salgado de lágrima - gosto comparado ao de soro caseiro.

- Comece por chorar minha filha... – abraçou sua criança, envolvendo-a em seus braços frágeis pela idade, mas ainda fortes e consoladores. – Eu queria tanto que ainda fosse a minha pequena menina, para que eu pudesse te pegar no colo e cuidar desse machucado. Mas você cresceu, e cultiva dores que a mamãe não poder ver... Que a mamãe não pode tratar...

Seu corpo contorceu-se quando tentou segurar aquele soluço, então tremeu ao despejar aquelas lágrimas sobre o chale de tricô que a mãe usava. Podia sentir as mãos da mãe a deslizarem por suas costas, apertando levemente, acariciando. E lembrou-se de quando era menor, de quando caia e se machucava. E de quando sua mãe a ninava quando não conseguia dormir por si só. Grande mulher era sua mãe, não de estatura, mas de sentimento... Fora difícil para ela, deixar que sua única filha fosse estudar tão longe, coisas tão estranhas que eram as magias naquela época... Mas mesmo assim, lhe dera força para ser a melhor... Como nunca pudera agradecer por tudo? Pela própria vida até...

- Obrigado mãe... – pronunciou, e essa saiu um tanto pastosa. Sentia um gosto estranho na boca. Sentia-se bem melhor agora, afastou-se do corpo da mãe e lhe sorriu, algo retribuído, e aquele sorriso que recebeu de volta, a fez ter certeza do que iria fazer, mas só o faria, no outro dia...




N.A:.

Oiêz! Vacilei em demorar a atualizar, mas foi por culpa de bloqueio, vou voltar com tudo já que tenho planejado o que vai acontecer e os nomes dos capítulos... Aqui... Para vc's verem como eu corri atrás estão... 5.793 palavras... contadas com as tags... mas mesmo assim muitas... Agora leiam! E... NÃO DEIXEM DE COMENTAR! fui^^

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