Apenas uma Noite para Tudo Mud



Capítulo 1

Apenas uma noite para tudo mudar

‘Mais uma invasão de sentimentos, mais uma torrente de lágrimas, e meu ser se torna algo facilmente invadido pela face e o sorriso de uma pessoa, que eu jamais pensaria poder estar aqui...

Estando aqui, ela faz loucuras comigo, torna-me presa fácil.

Estando aqui, ela faz-me experimentar por momentos, muitos sentimentos...

Ciúmes, desejos ocultos e agora revelados e rebeldes, que lutam contra todo o frio que há no peito.

Tais sentimentos, passam a me habitar, a residir em meu coração junto com a repulsa que sinto pela mesma pessoa.

Odeio-a, por que ela me faz sentir amor, e odeio acima de tudo as pessoas que estão à sua volta, pois lhe teem de um modo que não posso ter.

Tenho medo de me aproximar, me aproximando para causar medo.

Amando-a e a odiando ao longe.

Desejando seu corpo e a praguejando.

O amor que há em mim, sendo repelido pelo orgulho, maldito!

Agora pode ser tarde, tarde para lutar...

Mas não para vencer!

Granger, você ainda vai ser minha’







Fitou por mais um tempo o pergaminho fino a sua frente. Chegou a pegá-lo e o depositar dentro de um envelope que lacrou com cera de vela derretida, pegando um pequeno carimbo que pressionou contra a massa quente e derretida na cor negra, até que o senso lhe permitiu afastar o carimbo. Pegou o envelope e o ergueu à altura dos lábios, puxando antes o fôlego, soprou para que a cera endurecesse. Com um feitiço simples fez o envelope tornar-se algo precioso, que somente a pessoa destinada poderia ler, sendo a cera então só para tornar aquilo mais formal.

Sorriu ao ver o resultado, apoiando a correspondência sobre a mesa de madeira velha - porém ainda muito nova - , molhou a ponta da pena no tinteiro de tinta dourada e reluzente, e a correu pela face do envelope, lhe escrevendo o nome da destinatária, e as suas costas nada, somente um A.S (Admirador Secreto). Voltou a fitar o envelope, o medo o invadindo, então, enfiou-o dentro de umas das gavetas que haviam em sua escrivaninha, amarrotando junto com outras tantas cartas que também não tivera coragem de enviar.

Apoiou os cotovelos na mesa, a cabeça buscando o apoio das mãos, estas adentrando por seus cabelos, levando-os consigo para trás. Bateram na porta, ergueu a cabeça para esta, por um segundo passou-lhe um arrepio pelo corpo, dera pra acontecer isso toda vez que algo acontecia de repente. Seus olhos correram por toda a sala de estar, vasculhando-a centímetro por centímetro. Arrependeu-se de não ter ascendido às outras velas enquanto era cedo. Levantou-se da cadeira, ouvindo pela segunda vez baterem à porta. Apressou o passo, a maçaneta estava tremendamente gelada, lá fora chovia muito. Girou-a a abrindo, e contornada por grossos pingos de chuva e relâmpagos que cortavam o céu, estava uma jovem. Os cabelos ensopados caindo-lhe pelos ombros, tornando-se moldura para os seios, à mostra pela camisa de primeiros três botões abertos. A pouca luz dentro do cômodo não o deixou ver sua face, mas não recordou de já a ter visto.

- Com licença, me desculpe o transtorno – a intrusa foi adentrando a casa sem pedir autorização, ensopando o tapete de pele negra que se encontrava logo na entrada. – A alguma coisa errada, por que eu não consigo aparatar aqui, nos terrenos à volta – ela virou-se, dando as costas para a luz, seu rosto ficando nas trevas mais uma vez.

Virou-se, estivera olhando o vazio que era à entrada de sua porta, ainda indignado e surpreso com a audácia da jovem. Pelo menos uma coisa sabia agora: o solo de sua casa, da propriedade em que fora de seus pais, não havia sido violado por uma trouxa de sangue-imundo.

Se ela falara em aparatar, era por que era bruxa.

Enquanto se virava empurrou a porta, que fechou com um baque surdo. As mãos indo para dentro dos bolsos.

- Os terrenos e a casa receberam feitiço contra aparatação – entoou o e, tentando parecer feliz com o estrago que ela fazia em seu tapete.

- Malfoy? – a voz soou assustada, a pessoa deu um passo para trás, como se tivesse medo dele, mas na verdade fora somente para deixar que o feixe de luz da vela atingisse a face do dono da mansão. A pele alva e os cabelos louros entrando em seu foco de visão. Era, era sim Draco Malfoy. Engoliu, algo que desceu muito seco, arranhando sua garganta e caindo com estrondo em seu interior: medo.

- Sim – a voz dele arrastou-se um pouco mais, enquanto olhava para ela, tentando fugir os olhos claros do brilho morto da vela. – Me conhece da onde? Quem é você? – foi mais insciente do que pretendia ser. Mas afinal de contas, havia uma pessoa ali – e o pior -, uma mulher que o conhecia e no entanto mantinha a face escondida nas sombras. De fato conhecia aquela voz de algum lugar, e o modo como ela falara seu sobrenome o fez ter uma vaga lembrança, mas essa não lhe permitiu enxergar a pessoa a sua frente, como a parte escura de sua sala de estar.

- Ahn – a pessoa engasgou e tossiu. – É melhor eu sair logo daqui, bem que senti o cheiro de merda... – tentou dar um passo à frente, mas uma varinha foi encostada em seu peito, afundando milímetros em seus seios. Parou onde estava subindo as vistas para a face a sua frente. O rapaz não parecia aprovar suas palavras e suas atitudes, o que já era de se esperar. Ouviu-o sibilar algo no silêncio que invadia seus ouvidos. O clarão segou-a por segundos, levou as mãos aos olhos os protegendo do jato de luz que vinha da varinha dele.

Draco recuou com a surpresa. Que ironia o destino lhe aprontara, estivera a pouco escrevendo uma carta para Hermione Granger e ela se encontrava ali, parada a sua frente. Indefesa e com frio até a alma. Sua vontade agora era de despi-la e esquentá-la...

Pensamentos sacanas para um momento de plena decisão.

- O que faz aqui? – perguntou com seu tom de quem está extremamente enojado, como que se tivesse visto alguém vomitar ou até ele mesmo ter comido algo estragado. Recuou um pouco mais, mantendo a luz na face dela, mas não diretamente em seus olhos, queria demonstrar nojo, não cegá-la.

- Eu estava tentando sair! – avançou, mas ele jogou a mão para frente, apontando a varinha numa ameaça que ela não sabia, mas ele não cumpriria. Ergueu os braços, como um trouxa faria se lhe apontassem um revolver.

- Antes disso Granger... O que fazia aqui, pelos arredores? – insistiu, de certa forma, gostava quando ela fazia aquela feição, e ele entendia muito bem o que queria dizer. “E agora? O que eu faço? Que merda!”. E esse pensamento lhe fez sorrir vagamente, voltou logo ao seu semblante severo, mesmo sendo oculto pela luz que vinha de sua varinha, não era seguro demonstrar sentimentos, mesmo a forma como ela se encontrava parada, pernas afastadas e braços erguidas, só ajudando para os pensamentos insanos voltarem. De repente a via deitada em sua cama, os braços amarradas por fitas à mesma, somente com uma lingerie, como vira algumas fotos numa das revistas que eram proibidas para menores e não ocultas por seu pai. Sorriu novamente com a comparação e esse sorriso safado foi ostentado em sua face, ela não o conseguiria ver mesmo.

- Conheço uma pessoa que mora aqui. Decidi caminhar um pouco, havia gostado da vista que tinha para a cidade lá embaixo. O tempo fechou, começou a chover, decidi pedir abrigo. Foi à única morada que encontrei depois de andar horas – e isso a fez lembrar que estava perdida, talvez até andando em círculos. – Mas não se preocupe Malfoy – baixou os braços. – Vou sair agora mesmo – pensou que se redimindo ele abaixaria a droga da varinha e a deixaria sair. Mas estava enganada, ele permaneceu lhe apontando a varinha e não se moveu por alguns minutos. Tentou fitar sua face, mas a luz ainda a cegava um pouco.

Draco fitava-a se perguntando mentalmente quem morava ali pelas arredores que ela conhecia. Mas não ficou quebrando a cabeça, não perderia tempo com aquilo, e outro motivo para não se insistir na pergunta, eram as fotos de tal revista proibida que ainda estavam muito nítidas em sua cabeça, impossibilitando-o de lembrar de qualquer outra coisa.

Piscou, seus olhos encontrando a garota perdida a sua frente. Umedeceu os lábios, pensando se deixaria ou não ela ir embora. Era uma grande oportunidade para lhe dizer tudo que vinha guardando em forma de cartas dentro de uma das três gavetas de sua mesa de estudo. Mas a idéia de que ela certamente riria dele o atordoou. Baixou a varinha e com força abriu a porta para que ela saísse. Como a sangue-ruim ousara em pisar no solo sagrado dos Malfoy’s? Como ele permitira aquilo? Se remoeria de remorso pro resto da vida, ou pelo menos enquanto lembrasse daquela imunda da Granger.

Bateu a porta quando ela passou ainda assustada ao seu lado. Ficou olhando para a madeira talhada a mão na sua frente,a porta falava com ele, lhe dando conselhos de ir atrás dela. Seria muita loucura. Mas afinal de contas, o solo sagrado já estava violado mesmo.

Lá fora um trovão ecoou, ao mesmo tempo em que um raio iluminou todo o céu. Hermione parou, o coração dera um salto e ela também, acabando por pisar em barro mole, lama. O pé pareceu afundar. Um barulho a fez olhar para trás, viu a figura de Draco Malfoy sair, vir na sua direção.

- Merda de pé! – com as duas mãos puxava-o, mas conforme o pé adentrou a terra o cobriu. – Vem logo... – choramingou já podendo ouvir os passos de Draco a pisar em possas e espatifá-las.

Trazia a varinha na mão, mirando para ela. E mais uma vez Hermione ergueu os braços, o pé atolado na lama. – Por favor não me mata! – implorou faltando somente se ajoelhar.

Ele usou a varinha novamente, mas foi para clarear o lugar. Apontou para baixo, o pé dela enterrado. Deixou-se levar pelo momento e riu, riu feito criança quando vê um adulto – na maioria das vezes o pai – se machucar. Riu tanto que seu corpo se curvou, os cabelos caindo sobre os olhos, molhados.

Aquilo foi estranho, esperava ser morta, não que ele risse de sua atual situação. E como se o riso dele a guiasse riu também. E quando o surto de idiotice passou, ele voltou à posição ereta, enquanto ela o fitava. “O pesadelo ainda não acabou” – pensou aterrorizada.

- Atolada Granger? – ele passou as mãos nos cabelos, jogando-os para trás, recebendo os pingos de chuva diretamente na face. – Acho que terei de chamar um daqueles automóveis trouxas para te remover com aqueles cabos... – riu mais um pouco.

- Estou sendo enterrada antes mesmo de morrer – suas palavras se soltaram antes mesmo que pudesse pensar. Tampou a boca com a mão.

- Ora, pare de idiotices garota burra – ele apontou a varinha para baixo – Nox! – a luz apagou-se – Accio sapato! – apontou para o elevado de lama.

Draco sabia o que fazer, sabia que tinha de tirar o pé dela de lá. Mas usara o modo errado.

O pé de Hermione desenterrou-se e numa velocidade inacreditável subiu no ar, a levando ao chão. Malfoy não teve tempo para pensar, o pé sujo de lama o acertou no nariz, o choque foi tanto que foi jogado para trás, caindo com o nariz sangrando. Quebrado ele não sabia se estava, só sabia que começava a ficar dormente com a chuva e o vento. Mirou a jovem, também sentada ao chão, seus olhos se encontraram. Foi tomado por um acesso de raiva, que sorrisinho era aquele nos lábios dela? Olhou para trás, não sabia onde a varinha estava. Então partiria pra agressão corporal mesmo.

Hermione percebeu o movimento brusco dele em tentar se levantar, tentou o mesmo, mas ele a puxou pela perna, derrubando-a ao chão com tudo. Bateu o queixo, mordendo a língua, quis chorar de dor, e foi o que fez. Sentindo as mãos dele, virarem seu corpo pra frente. Viu a vida passar diante dos olhos. Morreria.

Mas algo o fez brecar, talvez fosse o pânico nos olhos dela, ou a cor vermelha acentuada em seus lábios. Draco não tinha mais vontade de bater nela. Estava sobre ela, olhando-a tão de perto como já havia desejado e sonhado muitas vezes estar. Seus olhos marejaram em lágrimas. Mas que droga de emoção era aquela? “Que dor incomoda na garganta. Nunca havia percebido que ela era mais bonita do que eu pensava...”, inclinou um pouco a cabeça para o lado, a lágrima que escorreu de sua face se misturando com os pingos de chuva, só havia uma diferença, sua lágrima era quente. Pendeu a cabeça, encostando a face no pescoço dela, sujando a menina de sangue, aquecendo a pele dela com suas lágrimas. Os braços cederam sobre o peso da culpa. Culpa de xingá-la todos aqueles anos... Não merecia estar assim com ela.

Hermione o vira aproximar-se, e quando sentiu seu sangue em sua pele, suas lágrimas mornas, teve dó dele. Como conseguia sentir aquilo por um Malfoy, o mesmo que a pouco a feriu? Seu coração não lhe permitiu odiá-lo. Tocou os cabelos dele com as mãos, acariciando seu couro cabeludo. Descendo uma delas para as costas, alisando-o. Na verdade queria que ele se levantasse, afinal de contas, já estava ficando sem ar.

Ele fungou levantando a cabeça, passou a face na manga da blusa, limpando o sangue de escorria do nariz. – Vou te dar abrigo essa noite... – nova fungada - Mas prometa que não contara a ninguém que estive chorando – voltou a por o peso do corpo nos braços.

- Não vou contar Malfoy – observou-o limpar na blusa mais uma vez o sangue. A face pálida dele permanecendo suja. Riu baixo.

- Que foi? – perguntou ele ficando sério.

- Ainda está sujo – ia com o dedo, mas o mesmo recuou temendo tocá-lo, mas voltou a avançar – isso em questão de milésimos - tocando a bochecha do louro, por esta estar molhada, seu dedo escorregou, parando no lábio superior dele, levando inconscientemente seus olhos para os mesmos. Tão rosados, finos e ao mesmo tempo carnudos. O dedo escorreu para o lábio inferior, também o manchando de roxo, já que o vermelho do sangue ficava assim naquela noite. Abriu a boca levemente, queria sentir aquela boca, esquecer-se-á completamente a quem pertencia e isso pouco importava, só queria senti-la.

Draco observou-a entreabrir a boca, os lábios se afastando. Um convite inesperado. A fumaça de pouca densidade soltando-se, demonstrando o quando ali estava quente e podia ser aconchegante. Foi inclinando-se, aproximando suas faces enquanto sentia o dedo dela escorregar mais uma vez, indo para sua bochecha novamente, os dedos tomando sua face, a palma da mão dela escorregando para sua nuca.

Os lábios se tocaram num atrito que os fez tremer levemente, como lábios virgens. Mione sentiu uma língua quentinha roçar em seus lábios gelados, o choque a fez estremecer numa pequena convulsão de desejo. Abriu mais a boca se permitindo ser invadida pela língua dele.

E foi com grande satisfação, o coração ainda pulsando feito louco no peito, que a penetrou.

O beijo mais calmo que já dera em alguém.

O beijo mais gostoso e cheio de mistério que já recebera na vida.

Línguas a se procurarem, a dançarem no ritmo que a chuva impunha, a chuva... A melodia que os embalava.

Hermione escorregou a mão pela lama, as palmas para cima, sentiu a palma dele encontrar a sua, assim como suas línguas, movimento simultâneo. Ele entrelaçou seus dedos, línguas roçando-se...

E quando perdiam já o fôlego, o beijo passava-se para simples e maravilhosas mordiscadas nos lábios.

Mione abriu os olhos lentamente, sua mão instintivamente subindo para o cocuruto dele. Viu a pele alva próxima a sua. Ele descia a face para o pescoço dela, beijos leves, chupadas. Passando a língua nos lábios, sentiu o gosto do sangue dele. Para outros poderia ser nojento, mas para ela, não passou de um detalhe inoportuno.

Draco ergueu levemente a cabeça para poder fitá-la, se certificar de que aquilo não era um sonho como das outras vezes. A chuva que caia sobre si, escorrendo por sua face, levando consigo o sangue que lhe escorria das narinas, sujando-a. Não disse uma palavra, nem a de mais complexo entendimento, ou a mais idiota e curta. Não se comprometeu em fazer promessas, ou lhe dirigir ofensas, não quis falar, não quis que de sua boca saísse nada, a não ser aquele sorriso. Não poderia conte-lo, nem mesmo se seus lábios ainda estivessem sobre os dela, o sorriso estaria lá. Uma mistura de cinismo e exclamações contidas entre os dentes, de felicidade. Não tinha necessidade, mas umidesceu os lábios, sentindo-os bem mais quentes e saborosos agora.

Hermione fitava-o num misto de curiosidade e medo, talvez também um pouco de vergonha, afinal de contas, aquela pessoa que estava a sua frente, com o corpo sobre o seu, que lhe dirigia um olhar de difícil entendimento, era a mesma que desprezava os de sangue-não-puros? O que havia acontecido com o velho e miserável Malfoy? Talvez... Não, não queria tirar suas conclusões num momento como esse, em que ele voltava a atenção de seus olhos – exclusivamente lindos e poucos avermelhados – para os seus lábios e inclinava-se mais uma vez para lhe tomar um novo beijo.

Inimaginável tal situação. Poderiam até dizer impossível. Mas o fato era: No momento estavam se amando... Ele a amava naquele instante, e ela era todinha dele. Entre um temporal e lama, entre suspiros e sangue. Entre o passado – aquilo tudo que já havia acontecido entre os dois. Eles já tinham uma história juntos – e o futuro – o que será quando levantarem e se olharem? – eles se desejavam naquele momento. E não importava o que tinha acontecido, o que iria acontecer, só importava que seus lábios não queriam se desgrudar. Suas mãos ainda estavam unidas e seus corpos tentavam encontrar o calor, um no outro.

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